As Universidades Públicas brasileiras não realizam pesquisa?

Imagem: Elyeser Szturm
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por Nelson Cardoso Amaral*

As Universidades Federais brasileiras, um conjunto de 63 instituições, presentes em todos os estados da federação e no Distrito Federal, possuem 1.120.804 estudantes de graduação [1] e 153.244 de pós-graduação stricto sensu (mestrado ou doutorado) [2]. Essas instituições estão, desde a posse de Jair Bolsonaro, sob o intenso ataque por parte das equipes que assumiram a Presidência da República e o Ministério da Educação.

Sob a “acusação” de que essas Universidades são dominadas por pessoas com pensamentos mais “à esquerda”, esse grupo – ultraconservador nos costumes e ultraliberal na economia – desenvolve uma campanha pública visando minar a grande credibilidade que as Universidades Federais e algumas estaduais (de SP, RJ, etc.) ainda desfrutam perante a opinião pública. A população brasileira passou a ser bombardeada ininterruptamente por mensagens que apresentam, entre outros pontos, essas instituições como fontes de desperdício do dinheiro público.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, em 08 de abril de 2019, o próprio Bolsonaro, afirmou: “Poucas universidades têm pesquisa e, dessas poucas, a grande parte está na iniciativa privada” [3].

Essa afirmação distorce o fato de que no Brasil as Universidades públicas e, em especial as Universidades Federais, sempre foram as principais responsáveis pela produção de conhecimentos, de ciência, de tecnologia e de inovação.

Esse perfil, constituído ao longo da história, pode ser visualizado examinando-se a Tabela 01 que mostra o quantitativo de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado ou doutorado) existentes em cada um dos estados e no DF, nos âmbitos federal, estadual, municipal e privado. Para facilitar, separou-se, no âmbito federal, os programas existentes nas Universidades Federais daqueles presentes em outras instituições federais que ofertam a pós-graduação stricto sensu (Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, Centros Federais de Educação Tecnológica, Escola Nacional de Ciências Estatísticas, Instituto Militar de Engenharia e Instituto Tecnológico da Aeronáutica).

Esses dados comprovam que é o conjunto das Universidades Federais, instaladas em todos os estados brasileiros e DF, que promove em seus 2.180 programas de pós-graduação stricto sensu pesquisa e extensão na dimensão suficiente para, entre outras coisas, diminuir as assimetrias regionais e a desigualdade brasileira.

Na região Norte as Universidades Federais são responsáveis por 88% dos programas de pós-graduação stricto sensu; no Nordeste, por 75%; no Centro-Oeste, por 72%, no Sudeste, por 54%, e na região Sul, por 46%. Ressalte-se que a única Região em que as Universidades Federais não ultrapassam os 50% é na região Sul.

*Nelson Cardoso Amaral é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Referências:

[1] BRASIL.CAPES. Sistema de Informações Georreferenciadas – GEOCAPES. Disponível em: <https://geocapes.gov.br/geocapes/>.

[2] BRASIL.INEP. Censo da Educação Superior – 2017. Disponível em: <www.inep.gov.br>.

[3] Entrevista do Presidente da República à Jovem Pan, no día 08/04/2019. Disponível em: <unicamp.br/unicamp/ju/artigos/luiz-marques/ciencia-versus-bolsonaro>.

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • A massificação do audiovisualcinema central 11/11/2024 Por MICHEL GOULART DA SILVA: O cinema é uma arte que possui uma base industrial, cujo desenvolvimento de produção e distribuição associa-se à dinâmica econômica internacional e sua expansão por meio das relações capitalistas
  • Ainda estou aqui — habeas corpus de Rubens Paivacultura ainda estou aqui 2 12/11/2024 Por RICARDO EVANDRO S. MARTINS: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • O porto de Chancayporto de chankay 14/11/2024 Por ZHOU QING: Quanto maior o ritmo das relações econômicas e comerciais da China com a América Latina e quanto maior a escala dos projetos dessas relações, maiores as preocupações e a vigilância dos EUA
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Ainda estou aquicultura ainda estou aqui 09/11/2024 Por ERIK CHICONELLI GOMES: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Não existe alternativa?lâmpadas 23/06/2023 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Austeridade, política e ideologia do novo arcabouço fiscal

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES