Por ANTONIO SIMPLICIO DE ALMEIDA NETO*
Tem efeitos deletérios na formação dos estudantes da educação básica no curto, médio e longo prazo
Não há nenhuma evidência científica ou prova empírica (no Brasil e exterior) de sua eficácia. Seu uso depende basicamente de crença, fé e/ou vaga convicção. Os principais pesquisadores do campo da Educação e do Currículo não recomendam e alertam para os perigos do uso ocasional ou contínuo.
Muitos curiosos das mais diferentes áreas (de economistas a administradores de empresa, de jornalistas a astrólogos) palpitam sobre seus supostos benefícios e vantagens para a educação básica. Nenhum educador-pesquisador sério e engajado do campo da Educação, no mundo (!), segue.
Tem efeitos deletérios na formação dos estudantes da educação básica no curto, médio e longo prazo. Tem efeitos colaterais graves na produção de materiais didáticos, no ensino superior e nos cursos de formação de professores. Só interessa aos reformadores-empresariais que faturam alto com seus negócios ampliados no ramo da educação.
Os arautos dessa droga a indicam vivamente para os estudantes oriundos das camadas da população com poucos recursos econômicos e pouco acesso aos capitais culturais das classes dominantes. Os apologistas dessas drogas não as aplicam aos seus familiares, filhos, netos, sobrinhos e enteados.
É comumente administrada em associação com outras drogas, dependendo da “trilha formativa” (sic) percorrida pelo estudante, quase sempre o “ensino profissionalizante” básico, destinado à classe trabalhadora.
Os benececeners, como são chamados os entusiastas dessa droga, preconizam sua aplicação a qualquer estudante de localidade do país, independentemente das características específicas da realidade regional, local e das escolas.
Tais negacionistas desconsideram os inúmeros estudos e as diversas pesquisas efetuadas no campo da Educação e do Currículo nos últimos 50 anos, no âmbito das principais universidades brasileiras.
Destina-se preferencialmente a professores pau-mandados, seguidores de receitas, prescrições e fórmulas mágicas pedagógicas. Destina-se à execução de processos externos de avaliação sistêmica associada aos códigos alfanuméricos.
Deve ser aplicada em associação com outras droga-disciplinas alienígenas, tais como Empreendedorismo e Projeto de Vida, sem objeto definido, e que podem ser trabalhadas por qualquer professor de qualquer formação, inclusive não-professores e sujeitos desqualificados.
É contraindicado para professores-pesquisadores, professores-intelectuais, professores criativos, professores intelectualmente autônomos. Pode causar estados de alienação momentânea ou danos cognitivos permanentes, sendo especialmente perigoso aos usuários desavisados.
Interações Medicamentosas Perigosas: o uso contínuo da BNCC associado a outras drogas como Plataformização do Ensino (vide SP e PR) e Escolas Cívico-Militares (vide PR, SP, BA, RS, RO, SC, MG, GO, MT, MS, PA, MA, TO, PI, PE) pode provocar danos irreversíveis ao cérebro e à capacidade cognitiva (e aos erários públicos!), assim como adoecimento psíquico docente.
PS 1: Independentemente das diferentes versões que circularam no mercado (vide BNCC de História), que provocaram grande celeuma entre especialistas sobre sua fórmula ideal, deve-se considerar que o princípio ativo sempre foi o mesmo: currículo avaliado.
OS 2: Não existe “BNCC que queremos”. BNCC é BNCC®, segue rigorosamente a fórmula original que independe da área, da versão ou das contendas do campo, pauta-se em rígidos mecanismos de controle de estudantes e de professores, lucros exorbitantes aos empresários do setor e achaque aos cofres públicos.[i]
*Antonio Simplicio de Almeida Neto é professor do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Autor, entre outros livros, de Representações utópicas no ensino de história (Ed. Unifesp) [https://amzn.to/4bYIdly]
Nota
[i] Uma primeira versão desse texto foi publicada no e-book (gratuito) Diálogos Poiéticos sobre história, ensino de história, memória e educação, autoria de ALMEIDA NETO, Antonio Simplicio de e MELLO, Paulo Eduardo Dias de. Porto Alegre/RS: Editora Fi, 2021.
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