Em destaque – XXI

Imagem: Marcio Costa
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENICIO VIERO SCHMIDT*

Comentários sobre acontecimentos recentes

O cenário agora é protagonizado pelas eleições municipais do segundo turno no próximo domingo, especialmente nos grandes centros, como Fortaleza, Recife, Belém, Porto Alegre, São Paulo e Rio. Essas cidades são objetos da atenção redobrada de todas as forças políticas. Os efeitos de uma eleição municipal são sempre os mesmos em relação às eleições que virão para os legislativos e para os executivos em todos os estados do Brasil e na União em 2022. O resultado da eleição municipal é uma variável relevante na predição de resultados e tendências do eleitorado para os próximos pleitos, ou seja, para 2022.

As novidades do primeiro turno foram o desempenho da centro-direita que parece reviver e a presença de uma oposição muito forte aos chamados exageros da linguagem contra-identitária do bolsonarismo em quase todo o Brasil. Isso não chega a confluir numa tendência de oposição nítida ao Governo Federal, mas significa, antes de mais nada, um grande desgaste, sobretudo quando se leva em conta que o governo ainda tem dois anos pela frente. Vamos ver o que acontece.

A questão racial, alçada ao primeiro plano com o assassinato de um negro no supermercado Carrefour em Porto Alegre, tornou-se relevante no processo de substituição do atual prefeito da capital gaúcha. Trata-se de um evento inesperado, mas da mesma espécie de acontecimentos passados que decidiram o resultado de eleições, como, por exemplo, a relação entre o assassinato de três trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional e a eleição poucos dias depois de Luiza Erundina para prefeita de São Paulo. Evidentemente, a situação não é a mesma, mas espera-se que efeitos pertinentes dessa débâcle moral venham a acontecer.

A paralisia do Congresso Nacional afeta principalmente a questão fiscal, na medida em que a dívida pública interna do governo cresce e o déficit operacional se amplia. As tentativas de Paulo Guedes e sua equipe de tomar iniciativas no sentido de promover as “grandes reformas” – que segundo eles aproveitaria a situação para diminuir os déficits e os emperramentos do Governo Federal – não têm obtido êxitos.

Cabe lembrar ainda que, no âmbito da questão fiscal, tramita no Congresso Nacional a lei complementar de número 101 que trata das relações tributárias entre os estados e a União. Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Ceará são os estados mais afetados, pois estão profundamente endividados em relação à União. O desenlace desse trâmite – por enquanto paralisado – pode sinalizar o que será determinado no bojo da própria reforma tributária que certamente virá em 2021.

Por último, convém destacar a grande movimentação de Rodrigo Maia, incentivada pelos resultados de seu partido nas eleições municipais, no sentido de capitalizar e catalisar o apoio das oposições e do centrão no Parlamento para a eleição do próximo Presidente da Câmara. Cargo que pode vir a ser ocupado por ele próprio, dependendo de uma decisão do STF agendada para o dia 4 de dezembro.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Um estudo do caso Ailton Krenak1974__Identidade ignorada 21/07/2024 Por MARIA SILVIA CINTRA MARTINS: Prefiro sonhar com Krenak o parentesco com a natureza e com as pedras do que embarcar na naturalização do genocídio
  • Clarice Lispector no cinemacultura a paixão segundo g.h. 22/07/2024 Por LUCIANA MOLINA: Comentário sobre três adaptações cinematográficas da obra de Clarice Lispector
  • O princípio de autodestruiçãoLeonardo Boff 25/07/2024 Por LEONARDO BOFF: Qual ciência é boa para a transformação mundial?
  • Filosofia da práxis como poiésiscultura lenora de barros 24/07/2024 Por GENILDO FERREIRA DA SILVA & JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUZA: Fazer filosofia é, para o Poética, fazer filosofia contemporânea, crítica e temática
  • Que horas são no relógio de guerra da OTAN?José Luís Fiori 17/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada
  • Apagão digitalSergio Amadeu da Silveira 22/07/2024 Por SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA: A catástrofe algorítmica e a nuvem do “apagão”
  • A disputa de Taiwan e a inovação tecnológica na ChinaChina Flag 20/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: A China já é hoje a líder mundial em 37 das 44 tecnologias consideradas mais importantes para o desenvolvimento econômico e militar do futuro
  • A produção ensaística de Ailton Krenakcultura gotas transp 11/07/2024 Por FILIPE DE FREITAS GONÇALVES: Ao radicalizar sua crítica ao capitalismo, Krenak esquece de que o que está levando o mundo a seu fim é o sistema econômico e social em que vivemos e não nossa separação da natureza
  • A radicalidade da vida estéticacultura 04 20/07/2024 Por AMANDA DE ALMEIDA ROMÃO: O sentido da vida para Contardo Calligaris
  • A questão agrária no Brasil — segundo Octávio IanniJose-Raimundo-Trindade2 19/07/2024 Por JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE: As contribuições de Ianni podem auxiliar a reformular o debate agrário brasileiro, sendo que as obras do autor nos apontam os eixos para se repensar a estrutura fundiária brasileira

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES