O dilema do Irã

Imagem: AA Dil
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUÍS FELIPE MIGUEL*

Caso não responda ao ataque israelense, o Irã pode se ver desmoralizado. Caso entre em guerra, corre o risco de uma séria derrota.

Diante da indiferença do mundo, o genocídio prossegue em Gaza.

Dá vontade de perguntar: quantas crianças palestinas precisaram ser mortas até que o mundo se comova?

O que será necessário para que, enfim, uma vida palestina seja reconhecida como uma vida humana?

Líderes sionistas, integrantes do governo de Benjamin Netanyahu, exaltam militares que torturam e estupram prisioneiros palestinos como heróis. Outros defendem abertamente o extermínio de toda a população de Gaza.

Mas nada disso é suficiente para que Israel deixe de ser reconhecido como o bom parceiro do Ocidente liberal, “a única democracia do Oriente Médio”.

Um Estado oficialmente racista, que priva a maior parte da população de qualquer direito, encarcera crianças, tortura prisioneiros, usa o assassinato de opositores como política: que tipo de democracia é isso?

Agora, Israel tenta iniciar uma guerra na região. (Sim, iniciar: o que está ocorrendo em Gaza, um exército poderoso contra uma população desarmada, não é uma guerra, é um massacre).

Há duas semanas, Israel bombardeou o Iêmen. Na última terça, bombardeou Beirute. Na quarta, foi a vez de Teerã – o objetivo foi assassinar Ismail Haniyeh, líder do Hamas.

Ele estava na cidade para um evento oficial, a posse do novo presidente iraniano. Israel detonou uma bomba em uma residência oficial do governo. Tudo isso aumenta a gravidade da agressão. A morte de Ismail Haniyeh também torna ainda mais distante um acordo de paz em Gaza.

Uma guerra serve ao grande objetivo de Benjamin Netanyahu: manter-se no poder.

E, com a guerra, Israel vai tentar se colocar como vítima e reeditar a velha narrativa de pobre Estado cercado de potências hostis.

Na verdade, Israel é a potência agressora. Graças ao auxílio militar bilionário dos Estados Unidos, que é o grande cúmplice do genocídio do povo palestino, tem recursos tanto ofensivos quanto defensivos muito superiores a qualquer outro país da região, incluindo o Irã.

Caso não responda ao ataque israelense, o Irã pode se ver desmoralizado. Caso entre em guerra, corre o risco de uma séria derrota.

Para conter Israel, é necessário construir um amplo repúdio da comunidade internacional – o que é difícil, dado o peso do lobby sionista na política dos Estados Unidos. Ainda assim, é preciso insistir nessa direção.

O Brasil pode dar mais um passo, passando da condenação verbal ao rompimento de todos os acordos comerciais e, enfim, das relações diplomáticas com o Estado genocida de Israel.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica). [https://amzn.to/45NRwS2]

Publicado originalmente nas redes sociais do autor.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A Terceira Guerra Mundialmíssel atacms 26/11/2024 Por RUBEN BAUER NAVEIRA: A Rússia irá retaliar o uso de mísseis sofisticados da OTAN contra seu território, e os americanos não têm dúvidas quanto a isso
  • A Europa prepara-se para a guerraguerra trincheira 27/11/2024 Por FLÁVIO AGUIAR: Sempre que a Europa preparou-se para guerra, ela acabou acontecendo, com as consequências trágicas que conhecemos
  • Os caminhos do bolsonarismocéu 28/11/2024 Por RONALDO TAMBERLINI PAGOTTO: O protagonismo do Judiciário esvazia as ruas. A força da extrema direita tem apoio internacional, recursos abundantes e canais de comunicação de grande impacto
  • O acontecimento da literaturacultura equívoco 26/11/2024 Por TERRY EAGLETON: Prefácio do livro recém editado
  • Os espectros da filosofia russaBurlarki cultura 23/11/2024 Por ARI MARCELO SOLON: Considerações sobre o livro “Alexandre Kojève and the Specters of Russian Philosophy”, de Trevor Wilson
  • Aziz Ab’SaberOlgaria Matos 2024 29/11/2024 Por OLGÁRIA MATOS: Palestra no seminário em homenagem ao centenário do geocientista
  • Não existe alternativa?lâmpadas 23/06/2023 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Austeridade, política e ideologia do novo arcabouço fiscal
  • O premiado Ainda estou aquicultura ainda estou aqui ii 27/11/2024 Por JULIO CESAR TELES: Não é apenas um filme que soube usar recursos visuais, fontes de época ou retratar um momento traumático da história brasileira; é um filme necessário, que assume a função de memória e resistência
  • Não é a economia, estúpidoPaulo Capel Narvai 30/11/2024 Por PAULO CAPEL NARVAI: Nessa “festa da faca” de cortar e cortar sempre mais, e mais fundo, não bastaria algo como uns R$ 100 bilhões ou R$ 150 bilhões. Não bastaria, pois ao mercado nunca basta
  • Guerra na Ucrânia — a escada da escaladaANDREW KORYBKO 26/11/2024 Por ANDREW KORYBKO: Putin viu-se confrontado com a opção de escalar ou de continuar sua política de paciência estratégica, e escolheu a primeira opção

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES