Por MARCELO BUZETTO*
Cuba sempre pagou um altíssimo preço por desafiar a maior potência imperialista do mundo
A República de Cuba tem sido continuamente atacada, agredida, sabotada e vitimada por um ilegal e cruel bloqueio econômico, desde 1962. Todos os governos dos EUA mantiveram esse bloqueio ilegal. A ONU, nos últimos 29 anos, através de votação na Assembleia Geral, condenou o bloqueio e exigiu o seu fim. Cuba venceu todas essas votações. Mas os governos dos EUA não se submetem às decisões da Assembleia Geral da ONU.
O governo de Joe Biden liberou 20 milhões de dólares para financiar organizações, pessoas e atos que queiram “defender a liberdade e os direitos humanos em Cuba “. Na verdade, um programa para financiar a discórdia, a desunião e a desestabilização econômica e política dessa heroica nação latino-americana.
Cuba sempre pagou um altíssimo preço por desafiar a maior potência imperialista do mundo. Cerca de 150 quilômetros separam Cuba dos EUA.
Uma tentativa de transição para o socialismo bem do lado dos EUA. A burguesia estadunidense entrou em pânico. Era um péssimo exemplo.
Cuba surpreendeu o mundo. Criou verdadeiros instrumentos de poder popular, multiplicou ações de solidariedade internacional, ajudando povos da África, da América Latina e da Ásia a consolidar sua independência ou a lutar contra ditaduras e injustiças.
Cuba deu apoio para a Argélia logo após dia independência, em 1962. Foi solidária com todos os países africanos que se libertaram do colonialismo, especialmente com Angola, enviando médicos, professores e soldados.
Cuba recebeu armas do Vietnã, após 1975, e as fez chegar à El Salvador, para o povo lutar contra as torturas, os esquadrões da morte e uma das ditaduras mais sangrentas da América Central.
Cuba acolheu perseguidos, exilados, refugiados e ex-presos políticos de todo o mundo, pessoas que só puderam ter uma casa, um emprego e uma vida tranquila e com paz quando chegaram à ilha caribenha.
Cuba é a representação mais completa e fiel da expressão “Pátria é humanidade!”.
Cuba tem os melhores indicadores sociais da América. Investiu muito em educação, saúde, cultura, esporte, lazer para o seu povo.
A transição para o socialismo é um processo desafiador e acompanhado de dificuldades e contradições. Em seu interior convivem, com maior ou menor intensidade, diferentes forças sociais e políticas, com interesses distintos, até mesmo antagônicos.
Nos anos 50 e 60 a esquerda revolucionária latino-americana marcou um encontro, com a Revolução. Mas só Cuba chegou lá, no local combinado. E Cuba está, desde 1959, firme no mesmo local, esperando a chegada das outras nações, de outros povos da região.
Houve tentativas na Bolívia, no Chile, na Nicarágua, etc, diferentes caminhos para chegar ao local do encontro com a Revolução.
Na Colômbia, desde 1964, tem ocorrido um gigantesco (mas não muito reconhecido) esforço.
Na Venezuela, desde 1999, surgiu um outro caminho, ainda marcado por muitas incertezas, pois é uma complexa tentativa de transição para o socialismo sem uma Revolução Social (??????). Mas a Venezuela conseguiu, até agora, enfrentar e vencer os ataques dos EUA, mas, também, está pagando um alto preço. Bloqueio econômico, sequestro de dinheiro e de reservas de ouro do governo em bancos nos EUA e da Inglaterra/União Europeia, tentativas de golpe de Estado e ações terroristas contra o governo democrático e popular de Nicolás Maduro, inclusive tentativa de assassinato do presidente.
Cuba vive um momento difícil, mesmo tendo dado, mais uma vez, um exemplo de solidariedade e cooperação humanitária durante a pandemia do Covid19.
Médicos cubanos continuaram levando saúde, esperança e dignidade para todo o planeta, apesar da ampliação do bloqueio econômico durante a gestão de Donald Trump.
É preciso compreender o contexto que estimulou setores populares de Cuba a irem para as ruas. Ao que tudo indica, ainda são segmentos minoritários da população. Mas existe descontentamento com com as restrições impostas pelo bloqueio e por problemas internos, contradições internas, queda na renda devido ao fechamento do país, numa situação onde o turismo ainda se apresenta como um setor indispensável para o desenvolvimento econômico. Contradições internas, como o estímulo às atividades por conta própria, à iniciativa privada, aos pequenos negócios, algo que conhecemos aqui como “empreendedorismo”. .
Onde se criam condições para o processo de acumulação do capital, é inevitável que a relação social capital se reproduza sempre de maneira ampliada e incontrolável.
Pequenos negócios acabam estimulando a formação de uma pequena burguesia que tende a se preocupar mais com a acumulação ampliada de seu capital do que em lutar contra o bloqueio econômico imposto ou pelo Socialismo.
É preciso analisar o processo cubano através das suas múltiplas determinações.
Nem todos que foram para as ruas em Cuba, gritar contra o governo, são contra a Revolução Cubana ou o Socialismo. O cerco imperialista contra Cuba e as ações de sabotagem dos EUA são responsáveis pela falta de eletricidade, pelas restrições econômicas e pela queda na renda da população. Mas o governo cubano precisa encontrar os meios mais apropriados para explicar às massas populares essas e outras questões, como já fez no passado.
O debate sobre os estímulos materiais e os estímulos morais, tão presente no processo de elevação do nível de consciência política das massas no período 1959-1979, precisa ser retomado, sendo atualizado e se adaptando aos novos tempos e à nova situação. Não é simples nem é fácil debater capitalismo e socialismo com uma geração de jovens que não vivenciaram o que era Cuba antes de 1959. Também não é simples a batalha de ideias nas redes sociais atuais.
Os mecanismos de poder popular, as organizações de massa e o Partido Comunista de Cuba também sabem da necessidade de melhorar cada vez mais sua relação com a classe trabalhadora e as massas populares, criando ou fortalecendo espaços de participação política mais ativa.
A burocratização, a ausência de uma direção política efetivamente coletiva e a concentração de poder e decisão nas mãos de uma minoria dirigente pode resultar em perda da energia revolucionária necessária para inovar, renovar ou retificar determinadas atitudes e ações, visando o aprofundamento do processo revolucionário, com a discussão e resolução coletivas dos problemas existentes. Tais problemas podem ocorrer em qualquer processo de transformação ou em qualquer organização.
Resolver problemas através do método da direção política coletiva tem sido o caminho da vitória e superioridade de Cuba diante de seus inimigos.
Cuba enfrentará dificuldades internas e um certo isolamento regional ainda por algum tempo.
Mas também Vietnã e República Democrática Popular da Coréia enfrentaram situações semelhantes, e sobreviveram. Como foi possível?
Temos certeza que o povo cubano e sua vanguarda política saberão identificar os problemas, as dificuldades e mesmo os erros e falhas existentes no último período, e continuarão no caminho da construção da primeira e única (até o momento) Revolução Socialista vitoriosa na América Latina.
A esquerda latino-americana tem uma grande dívida com Cuba. Quem sabe nos encontremos logo mais com os cubanos e cubanas. Eles continuam nos esperando, desde 1959. Talvez o Brasil chegue um pouco mais tarde. Mas novas revoluções populares, democráticas e antiimperialistas seriam bem vindas no próximo período, pois assim poderiam retribuir a solidariedade de Cuba para com os povos de “Nuestra América “.
uem luta por justiça e contra as desigualdades sociais sempre encontrará em Cuba um exemplo, uma referência, pois lá vem sendo construída uma nova sociedade inspirada nos melhores sentimentos e valores humanos. Cuba é – e seguirá sendo – nossa referência, apesar de tudo, apesar de todos. Em Cuba cabe toda a humanidade!
*Marcelo Buzetto é membro da direção estadual do MST-SP.