Carlos Rodrigues Brandão (1940-2023)

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Por DÉBORA MAZZA*

Carlos sempre soube temperar sagrado e profano, palavra e silêncio, agito e calmaria

Vindo de longe como o vento, e de onde?
Trouxe o meu corpo, mera alegoria
E mais o espelho opaco que esconde
Metade, a máscara de barro de meu rosto
Metade o que sobrou do que me invento
Com um tanto de malva e sal grosso
E alguns retalhos de acaso e de folia.

Sem nada, sou um rico, e saltimbanco
Armo lona de circo, faço festa
E, peregrino, quero zero na algibeira.
O que não tinha, agora tenho: tempo
E por isso escrevo isto lento…lento.
Tempo é o que peneiro na peneira,
E esse momento é tudo o que me resta.

O que eu fui, o que eu fiz é agora o invento
De soletrar no caderno o esquecimento
Até restar limpa a lousa da memória,
Como no voo a ave esquece o ninho
Como de um barco a terra some aos poucos
Como quem fecha a casa e vai pelo caminho
E esquece a chave enquanto vai embora.

Esquecido de mim mesmo eu hoje, agora,
Já não sei mais saber o que eu sabia:
Se aquilo tudo houve em algum tempo.
E se tudo foi a minha trama, a história
Em que alguém acaso creia um dia
Ou se foi tudo sonho, mitos de memória
Estórias, canto, conto, sombra, fantasia
E é mais verdade assim, por isso mesmo
[…].
(BRANDÃO, 2013, p. 12-13)

Se minha memória não me trai, conheci Carlos Rodrigues Brandão primeiro pelos seus escritos. Era o ano de 1981, cursava o primeiro ano na Faculdade de Educação, da Unicamp, em uma turma de cerca de 60 aluno(a)s. Assistíamos aulas nos auditórios do ciclo básico, pois a faculdade não dispunha de prédio próprio. O livro O que é educação, da coleção Primeiros passos, lançado em 1981, nos chegou às mãos talvez nas aulas da professora Silvia Maria Manfredi. Nas disciplinas líamos sobre a escola, a sala de aula, as metodologias de ensino e aprendizagem, o trabalho do(a) professor(a), a estrutura e o funcionamento da escola, as políticas educacionais, os aparelhos ideológicos do Estado, as psicologias da cognição e do desenvolvimento.

No entanto, ficamos fascinados com a abordagem antropológica que o texto de Carlos Rodrigues Brandão nos trazia. Pensar que somos humanos não apenas porque somos racionais e vivemos em sociedade, mas principalmente porque somos seres aprendentes que constroem realidades materiais e imateriais que era preciso, portanto, pensar a educação mergulhada no universo da cultura e superar a perspectiva da pedagogia que confina a educação no campo dominado das instituições modernas de ensinar-aprender.

A visão antropológica nos fornecia explicações sobre as representações da alteridade e/ou as práticas do “outro” produzindo sentidos humanistas às nossas experiências no mundo, a partir das miudezas da vida cotidiana. Desta forma, o sentido da educação ultrapassava as fronteiras dicotômicas da escola formal e não formal, dos contextos institucionais e não institucionais, das relações entre professore(a)s e estudantes, gestores escolares e agentes administrativos e nos dilatava para as múltiplas interações estabelecidas corriqueiramente, marcadas por reciprocidades, disputas, reconhecimentos, estranhamentos, pertencimentos…

Como exemplo, Carlos Rodrigues Brandão descreve o tratado de paz que os estados de Virgínia e Maryland assinaram com os “Indígenas das Seis Nações”, nos Estados Unidos, e destaca o valor heurístico da educação selando as relações de boa vizinha. As lideranças políticas dos dois estados sugerem que os líderes indígenas escolham alguns de seus jovens para estudar nas escolas dos brancos, ao que os chefes respondem com uma carta, agradecendo, recusando e justificando: “Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa”.

“Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir a cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou conselheiros”.

“Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta, e embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores […] que nos enviem alguns dos seus jovens; que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens” (BRANDÃO, 2020, p. 26).

A perspectiva de inserir a educação no contexto da cultura nos provocou. Descobrimos que o autor era professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e assim, nos organizamos através do Centro Acadêmico de Pedagogia e da coordenação de curso, à época sob responsabilidade do professor Sergio Goldenberg, e convidamos Carlos Rodrigues Brandão para nos oferecer uma disciplina que não existia no nosso currículo: a visão Antropológica da Educação.

No ano de 1983, ele veio ao Ciclo Básico nos apresentar Bronislaw Malinowski, Claude Lévi-Strauss, Clifford Geertz e Marcel Mauss. Com ele compreendi que o trabalho de campo e a experiência etnográfica eram recursos controversos de aprender com a alteridade reconhecendo, no outro, sentidos e significados de humanidades vividas, sentidas, reflexionadas, compartilhadas e disputadas.

Assim, segui acompanhando o professor nas disciplinas de graduação, mestrado e doutorado ministradas no curso de Ciências Sociais e fui me aproximando de uma pessoa acolhedora que vivia com livro, caderno, caneta e à procura de manifestações culturais populares, sagradas e profanas, visando compreender o processo de constituição da nação e do povo brasileiro.

Marilena Felinto diz: “Admiro muito quem não escreve” […] “nós éramos em cinco irmãos na minha casa, quatro mulheres e um homem, e nenhum deles precisou escrever para elaborar trauma nenhum […] só eu me pus nesta ambivalência de uma escritora no limiar, dentro e fora da literatura, dentro e fora do jornalismo, dos círculos sociais […] uma outsider incorrigível” (Folha de S. Paulo, Ilustrada, 08 out. 2022.).

Talvez, esteja como Marilena Felinto, sentindo necessidade de escrever sobre Carlos Rodrigues Brandão para elaborar o trauma de sua morte. De todo modo, escrever era um hábito que atravessava a vida de Carlos. Ele escrevia cartas, bilhetes, diários, artigos, livros – a mão, em máquina de escrever e, depois, no computador – e talvez um de seus últimos trabalhos acadêmicos tenha sido o Prefácio ao meu livro, Paulo Feire, a cultura e a educação (MAZZA, 2022). Não conseguiu comparecer ao lançamento (27/04/2023) pois lutava contra a leucemia e estava muito debilitado. Seu prefácio foi publicado no site A Terra é Redonda, em 04/05/2023.

Talvez queira exorcizar minha dor registrando experiências que vive em alguns campos de pesquisa que Carlos Rodrigues Brandão desbravou nesse delírio de ir ao encontro do povo e das suas matrizes culturais e, de modo generoso e pedagógico, estendia suas excursões aos estudantes, pesquisadore(a)s e amigo(a)s. Era outubro de 1985, fomos a festa de São Benedito o padroeiro do(a)s afrodescendentes, cozinheiro(a)s e donas de casa. Era um domingo e as ruas ao redor da igreja matriz estavam tomadas por devotos, turistas e foliões, que vieram para acompanhar os ternos de Congada e Moçambique formados por cantadores, dançadores e tocadores, vestidos como reis, palhaços, bastiões que distribuíam bênçãos a terra, ao fruto do trabalho, aos vivos e aos ancestrais.

As apresentações contavam com cantos, violas, violões, cavaquinhos, pandeiros, bumbos, sanfonas, caixas e a bandeira de Santo(a)s protetores do povo. Era uma mistura de cores, cheiros, fitas, estandartes, danças, indumentárias, ritmos e versos. Carlos, assim como sua equipe, a seu conselho, muniamos de um sapiquá com máquina fotográfica, gravador, lápis, caneta e caderno e nos misturávamos com os populares nas calçadas e ruas acompanhando o festejo e conversando com os participantes. A ideia era compreender o lugar ocupado por aquela manifestação naquele sistema cultural.

Havia um palanque com as autoridades laicas do estado e sacras da igreja, os podres poderes como diria Caetano Veloso, e perto do fim da folia, um repentista parou na frente do palanque e começou a fazer versos com os nomes das autoridades ali representadas e saiu algo como:

Qual é Curió, vai canta o que pra nós?
Qual é Curió, vai canta o que pra nós?
Você diz que é deputado, mas eu sei que oce é major
Você diz que é deputado, mas eu sei que oce é major

A companhia foi ovacionada pelos presentes pois muitos sabiam que era uma referência direta ao deputado Sebastião Curió, nascido na cidade, presente no palanque, que participou do aparato repressivo da ditadura militar, responsável por torturas, assassinatos e ocultamentos de cadáveres. Foi um desconforto geral no palanque e Carlos Rodrigues Brandão vibrou de alegria e nos disse: “festa do povo é assim, por trás do aparente conformismo irrompe vulcões de resistências”. Quem diria que no meio de uma Congada teríamos uma aula de política?

Outra oportunidade de acompanhar as inserções de Carlos Rodrigues Brandão em campos de pesquisa foi em Catuçaba, um distrito de pequenos agricultores, próximo de São Luís do Paraitinga. Era novembro de 1986 e fomos participar das celebrações de finados. Chegamos dias antes do festejo para acompanhar todas as atividades que envolviam a comunidade na preparação da “festa dos mortos”. Éramos seis ou sete estudantes de pós-graduação acolhidos por algumas famílias – lembro-me de Andréia, Adriano, Cristina, Oscar e Renata. Eu fiquei na casa da Dona Cida e no Sr. José.

Nosso ponto de encontro era o salão da paróquia onde nos reuníamos para discutir textos, registros, depoimentos colhidos e compreensões alcançadas. Acompanhamos a caiação das sepulturas, a colheita de flores do campo, a decoração dos túmulos, o cortejo levando o altar da padroeira, a missa, as rezas, as cantigas, as velas etc. A ideia era levantar a função que aquela manifestação ocupava religando mundos materiais e imateriais, humanos e não humanos, símbolos, signos e significados. Muito aprendizado de pesquisa decorreu desses dias de festa popular.

Ainda outro campo, era fevereiro de 1987 e fomos acompanhar o festival de Marchinhas de São Luís do Paraitinga, cidade natal do músico e maestro Elpídio dos Santos (1909- 1970), compositor de trilhas sonoras de novelas que fizeram sucesso como Cabocla, Rei do Gado (Globo), Pantanal (TV Manchete/SBT), Meu pé de laranja lima (BAND), e marchinhas como Lá no pé da serra:

Fiz uma casinha branca lá no pé da serra pra nóis dois morar
Fica perto da barranca do rio Paraná
O lugar é uma beleza eu tenho certeza você vai gostar
Fiz um capela bem do lado da janela prá nós dois rezar
Quando for dia de festa você veste o seu vestido de algodão
Quebro o meu chapéu na testa para arrematar as prendas no leilão
Satisfeito vou levar você de braço dado atrás da procissão
Vou com meu terno riscado uma flôr do lado e meu chapéu na mão

O Sr. Elpídio já havia falecido quando passamos por lá, mas a banda Os Parangas, composta por membros da família, continuava alegrando as festas do vilarejo. Dona Cinira, a viúva, morava em um casarão no centro da cidade e tinha sempre as portas abertas para receber o professor da Unicamp e o(a)s estudantes que o acompanhavam. Era sempre uma relação, simples, direta e alegre.

Acho que em meados do mesmo ano, passamos uma semana na área rural de Itajubá, hospedados na chácara de Eneida, que ficava no início das terras altas que compõem a formação geológica da serra da Mantiqueira. Carlos brincava dizendo que não era a Eneida de Virgílio, mas a Eneida do Rubens. Caminhamos por aqueles maciços rochosos imaginando que talvez seguíamos a rota de Euclides da Cunha (1866- 1909) n’Os sertões, de Mário de Andrade (1893- 1945) nos Aspectos do Folclore Brasileiro ou de Guimarães Rosa (1908- 1967) no Grande sertão: Veredas. De fato, havia a companhia de Eneida, Rubens, dos pasteis de milho e carne e as músicas de Ivan Vilela e Priscila Stephan que, à época, tinham acabado de gravar o LP Hortelã e cantavam lindamente: “o mar de Minas não é no mar. O mar de Minas é no céu. Para o mundo olhar para cima e navegar. Sem nunca ter um porto aonde chegar”.

Depois vieram as pesquisas sobre comunidades rurais e agricultura familiar no entorno de Pocinhos do Rio Verde. Lá Carlos Rodrigues Brandão alugou do Marcão, o dono do Hotel Ipê, a casinha no. 6 que virou um ponto de encontro de orientado(a)s, amigos e aluno(a)s. Em janeiro de 1988 Carlos Rodrigues Brandão fez uma longa viagem de férias com Maria Alice, André e Luciana e soube que estava procurando um lugar tranquilo para me recolher e redigir a versão final de minha dissertação de mestrado. Carlos Rodrigues Brandão generosamente me confiou a chave da casinha e disse: “Os moradores da frente se chamam Sr. Elias e Dona Rosa, qualquer problema pode acioná-los”. Assim se deu, fiquei uns quarenta dias sozinha e conclui o texto final da pesquisa.

Em início de 1990 acompanhamos a festa da comunidade de famílias italianas oriundas do Vêneto que se fixaram em Quiririm, distrito de Taubaté que contava, à época, com uma associação própria, a Societá Beneficente Unione de Quiririm. Através dos contatos de Carlos ficamos na casa de Meire e Rogério e experienciamos outros marcadores de manifestações culturais populares. Carlos Rodrigues Brandão se adaptava facilmente aos hábitos e costumes simples das comunidades que ele pesquisava e seu gosto facilmente se derramava para a pinga artesanal, o vinho de produção caseira, o arroz com feijão, o frango com quiabo, o angu com queijo…comidas típicas da roça. Nas rodoviárias comia coxinha e não passava mal, dizia que tinha estomago de avestruz.

Depois veio a Rosa dos Ventos, a casa construída em Pocinhos do Rio Verde, MG, entre árvores, montanhas e olhos d´aguas que brotavam da terra que ele adquiriu para servir como ponto de encontro, estudos, pesquisas e hospedagem. Recebeu muita gente grande e pequena, conhecida e desconhecida como Aldenor, Ana Clara, Analisa, Ana Maria, Carolina, João Bá, Joel, Lidinha, Guilherme, Maria José, Mariana, Raquel, Roderico, Rubem Alves, Tita, para citar apenas algumas. Lembro-me de Carlos orientando a pesquisa de Jadir enquanto carregavam pedras para fazer a capela da Rosa.

Várias vezes fui a Poços de Caldas, com as crianças e passávamos pela casa de Carlos, Tita, Joel e Mazé. Sempre havia uma prosa boa e um café com broa e pão de queijo.

Em novembro de 2010, Carlos Rodrigues Brandão enviou uma carta-email “às pessoas amigas de perto e de longe” compartilhando as alegrias vividas nos 15 anos de existência da Rosa dos Ventos e destacando: os grupos, os encontros e os cursos de Economia Solidária, as trilhas e as caminhadas nas montanhas e cachoeiras, os mutirões de artes e ofícios no Jardim das Ervas e no Canto das Águas, os saraus de Mãos da Terra e Folia de Reis, as vivências de silêncio e meditação e, finalmente, o projeto de construção do Cine Paradiso. Convidava a todo(a)s para visitarem o endereço www.sitiorosadosventos.com.br e lembrava: “nem sempre o site funciona”.

Esses eram os desejos expressos de Carlos Rodrigues Brandão. Com o passar do tempo, as crianças cresceram, Carlos se aposentou da Unicamp, atuou em outros estados e outras universidades, nós envelhecemos e os encontros foram rareando.

Há cerca de quatro anos Carlos Rodrigues Brandão lutava bravamente contra uma leucemia e acabou se fixando em Campinas visando facilitar o tratamento e as idas constantes a médicos, hospitais e clínicas. Maria Alice, André, Luciana, José e Denise foram guerreiros incansáveis na disponibilidade e disposição para cuidar dele, mas no meio deste caminho ele contraiu o vírus da Covid e não resistiu, falecendo em 12 de julho de 2023.

Assim, nos despedimos deste personagem inquieto, inventivo, agregador; professor, pesquisador, escritor e poeta chamado Carlos Rodrigues Brandão, que atravessou a vida de milhares de pessoas no Brasil, na América Latina e na Europa. Muita gente querida passou pelo salão da Adunicamp e pelo Crematório “Bom Pastor” no cemitério Campos dos Amarais para despedir-se dele. Os rituais de seu passamento foram regados à Folia da Companhia Reis Ases do Brasil, acompanhada pelo violão de Fernando Guimarães e André Luiz, pela cantoria do Mestre Sebastião Victor Rosa, o Tião Mineiro, pela viola caipira de João Arruda e pela caixa de Alik Wunder.

A bandeira do divino foi carregada por Maria Alice, pelo filho André, pela filha Luciana e pelo neto Pablo. No velório foi servido pão de queijo, água, café, suco de laranja e uma cachaça guardada por Carlos há 50 anos para ser bebida em um momento especial. Esse dia chegou!

Encerro esta narrativa de superação com alguns trechos da carta-email escrita por Carlos há poucos meses.

“Gente amiga de perto e de longe,

Depois de responder com breves mensagens […] resolvi escrever uma carta coletiva (velho costume meu) com mais detalhes.

Voltei de mais uma jornada no hospital, inclusive com dias na UTI. Estou em casa […] entre exames, consultas e fisioterapia.

A leucemia está sob controle, e os últimos hemogramas têm sido muito bons. Mas sigo com um feroz tratamento de quimioterapia de imunoterapia. Claro, aos 83 anos estou com o coração enfraquecido (só o físico) e também o pulmão.

Perdi 22 quilos, o gosto pela comida (mas não pela vida), e estou muito enfraquecido. Em casa estou entre a cadeira de rodas e o andador. […] Uma caminhada de 20 metros em casa me cansa […] Eu, que escalei o Dedo de Deus, participei da equipe da conquista do Paredão Baden-Powen, no Irmão Maior do Leblon, e fiz o Caminho de Santiago. […]. Estou velho, magro e feio. Mas vivo ainda! […]. De repente me vejo sendo cuidado. Dependo de outras pessoas para quase tudo. […] E a minha gratidão a pessoas que vão da Dra. Gislaine até Maria Alice, André e Luciana, é sem limites.

Depois do agito de 2021, com as inacabáveis lives ao redor do Centenário de Paulo Freire, eis que doente, vivo dias tranquilos. E os aproveito para fazer o que sempre foi minha maior alegria: ler e escrever. Leio e releio livros de autores que sempre me tocaram, entre a poesia, a espiritualidade e a antropologia. Estou lendo toda a obra de Pierre Teilhard de Chardin, que me acompanha desde 1962. Ouço música, desde a clássica […] até modas de viola.

E escrevo desmesuradamente […] abri o leque dos meus desejos e imaginários, e entre a poesia e a antropologia, me vejo […] como quem “alça voos do espírito”. […]

Alguns escritos de 2020 para cá foram incorporados a livros coletivos. Outros são “livros solo” que com alegria anuncio a vocês. […] meu livro de memórias entre estudante e professor: Eu professor- pequeno inventário de memórias […] meu pequenino livro de poemas para jovens: Ontem, Agora, Nunca! […] Artesãos do Absurdo- dilemas do humano em escaladas de alta montanha no Himalaia […] outro livro de poesia para jovens: Céu de Passarinhos […] O Primata que aprende – como a educação começou a acontecer no mundo, e […] Por uma Pedagogia Peregrina. E enquanto eu viver e a “mão e a cuca” funcionarem, seguirei a minha sina de leito e escrevinhador inveterado.

Este é o momento de juntar as mãos, curvar um pouco o corpo e dizer a todos e todas: Gratidão.

Um abraço amigo

Carlos Brandão”.

Esta foi uma carta derradeira, mas dentro de mim guardo um Carlos que sempre soube temperar sagrado e profano, palavra e silêncio, agito e calmaria.

*Débora Mazza é professora do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Educação da Unicamp. Autora, entre outros livros, de Paulo Freire, a cultura e a educação (Unicamp).

Referências


BRANDÃO, Carlos R. Caixa de correio- poesia reunida 1966-2013. Belo Horizonte: Gráfica O Lutador, 2013.

BRANDÃO, Carlos. O que é educação. Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2020.


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