O fantasma russo e o novo macarthismo midiático

Imagem: Inga Seliverstova
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Por MATT TAIBBI*

Uma farsa no Twitter usada pela mídia americana para atacar a Rússia

Fraudes históricas na mídia, como as cometidas por Stephen Glass e Jayson Blair, prejudicaram a reputação do New Republic e do New York Times, respectivamente, quando tais meios veicularam em suas páginas, ao longo de anos, notícias inventadas. Graças aos arquivos do Twitter, podemos agora dar as boas-vindas a um novo membro desse clube infame de fraudadores: o painel Hamilton 68 [agora renomeado Hamilton 2.0].

Se analisarmos apenas pelo volume, a ferramenta, tão frequentemente usada e mencionada, que gerou centenas de manchetes fraudulentas e segmentos de notícias na televisão, pode se tornar o maior caso de fabulação midiática da história americana. Praticamente todas as principais empresas de notícias dos Estados Unidos estão implicadas, incluindo NBC, CBS, ABC, PBS, CNN, MSNBC, The New York Times e Washington Post. A revista independente Mother Jones, sozinha, montou pelo menos 14 histórias baseadas nas “pesquisas” do painel. Mesmo sites de checagem de fatos, como Politifact e Snopes, citaram o painel Hamilton como fonte.

O Hamilton 68 foi e é um “painel” digital, projetado para ser usado por jornalistas e acadêmicos com a finalidade de auferir a atividade de “desinformação russa”. Foi ideia do ex-agente do FBI (e atual “especialista em desinformação” da rede de TV a cabo MSNBC) Clint Watts, apoiada pelos think tanks neoconservadores German Marshall Fund e Alliance for Securing Democracy (ASD), onde o painel está instalado. O comitê consultivo deste último, inclui o ex-chefe interino da CIA, Michael Morell, o ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, Michael McFaul, o ex-presidente da organização eleitoral “Hillary for America” (da candidata Hillary Clinton), John Podesta, além do ex-editor da revista neoconservadora Weekly Standard (a “bíblia do neoconservadorismo”), Bill Kristol.

Os arquivos do Twitter expõem o Hamilton 68 como uma farsa. O ingrediente secreto no método analítico do painel Hamilton é uma lista de 644 contas supostamente vinculadas a “atividades online de ingerência russa”. Essa lista sempre ficou escondida do público, mas o Twitter acabou em posição privilegiada para recriar a amostra do Hamilton, analisando suas solicitações de API (Application Program Interface), que foi como eles realizaram a primeira “engenharia reversa” da lista do Hamilton, no final de 2017.

A empresa estava tão preocupada com a proliferação de notícias ligadas ao Hamilton 68 que também solicitou uma análise judicial. Observe que a segunda página abaixo lista muitos dos diferentes tipos de técnicas de shadowban (“banimento sutil”) que existem no Twitter já desde 2017, reforçando a notícia sobre “listas negras secretas do Twitter”, levantada por Bari Weiss no mês passado. Ali se podem ver categorias que variam de “lista negra de tendências” a “lista negra de pesquisa” e “alto teor NSFW” (conteúdo impróprio para visualização em locais públicos ou trabalho). O Twitter estava verificando quantas contas da Hamilton seriam spam (disseminadoras de propaganda), falsas ou assemelhadas a bots (robôs). É de se notar que, das 644 contas, apenas 36 estavam registradas na Rússia, e muitas delas eram associadas ao canal de notícias (do governo russo) RT (Russia Today).

Examinando mais a fundo, os executivos do Twitter ficaram chocados. As contas que Hamilton 68 alegou estarem vinculadas a “atividades de influência russa online” não apenas eram predominantemente em inglês (86%), mas principalmente de “pessoas legítimas”, principalmente de residentes nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha.

Compreendendo, de imediato, que o Twitter poderia acabar implicado em crime de injúria moral, os analistas da empresa anotaram em seus registros que esses titulares de contas “precisam saber que foram unilateralmente rotulados como fantoches russos, sem provas ou direito a defesa”. Outros comentários em e-mails internos da empresa afirmam:

‒ “essas contas não são evidentemente russas nem evidentemente bots”;

‒ “não há evidências para apoiar a suposição de que o painel seja um recurso de acompanhamento (a finger on the pulse) das operações russas de desinformação”;

‒ “trata-se de forte evidência de uma campanha de influência em massa”.

O diretor de Confiabilidade e Segurança, Yoel Roth, chegou a declarar: “talvez devamos considerar isso tudo [as “notícias” do Hamilton 68] apenas como idiotice”.

Os dois fundadores do painel Hamilton 68, o ex-conselheiro da equipe de segurança das informações do senador Marco Rubio (extrema direita da Flórida), Jamie Fly, e a conselheira de política exterior da ex-candidata Hillary Clinton, Laura Rosenberger, disseram à revista Politico que não poderiam revelar as contas porque “os russos simplesmente as fechariam”. Ok. Só que uma olhada na lista desvendada pelo Twitter, e que só agora vem à luz, revela o verdadeiro motivo pelo qual eles não podiam torná-la pública.

E não se resume a um problema de equívoco de método científico. Trata-se simplesmente de uma farsa. Em vez de rastrear como a “Rússia” influenciou as atitudes americanas, Hamilton 68 simplesmente coletou um punhado de relatos, em sua maioria reais, principalmente de norte-americanos, e descreveu suas conversas orgânicas como intrigas russas. Como disse Roth, “praticamente toda conclusão obtida [pelo painel] toma conversas em círculos conservadores no Twitter e os acusa de serem russos”.

Havia três classes principais de contas na lista usada pelo painel Hamilton: uma fina camada de russos óbvios (por exemplo: https://twitter.com/RT_America, a rede internacional de notícias subvencionada pelo governo russo); depois o pacote maior constituído por pessoas reais de países ocidentais; seguido por uma porção (algo entre um quinto e um terço) de “usuários efêmeros”, “praticamente inativos”, e contas de disseminação de propaganda (spamers) que não acumulavam seguidores e “não têm alcance mais amplo na plataforma”. Os executivos do Twitter observaram que as contas zumbis não estavam reverberando as contas reais. Em vez de, digamos, um grupo de contas russas impulsionando as mensagens dos trumpistas, era o contrário: um monte de contas reais de trumpistas fazendo considerações que a Hamilton considerava conveniente imputá-las aos russos.

“A seleção de contas é bizarra e aparentemente bastante arbitrária”, escreveu Yoel Roth. “Eles parecem ter uma forte preferência por contas pró-Trump (que eles usam para afirmar que a Rússia está expressando uma preferência por Trump, mesmo que não haja boas evidências de que qualquer um deles seja russo)”.

Até os executivos do Twitter ficaram surpresos ao ler quem estava listado. Os nomes variavam de figuras conhecidas da mídia, como o escritor conservador David Horowitz e o empresário midiático de direita Dennis Michael Lynch, a progressistas, como o editor do portal de opinião Consortium News, Joe Lauria. É crucial entender que a lista capturou não apenas os apoiadores de Donald Trump, mas também uma série de dissidentes políticos, incluindo esquerdistas, anarquistas e humoristas.

Escreveu o diretor de Política do Twitter, Nick Pickles, ao ver o nome do humorista britânico @Holbornlolz: “Um comerciante falido. Eu o sigo e não diria que ele é pró-Rússia… nem me lembro dele twittando sobre a Rússia”.

Essas pessoas nunca souberam que foram usadas durante anos para gerar centenas, senão milhares de manchetes da mídia sobre a suposta infiltração de bots russos nas discussões online: seja sobre as audiências do juiz indicado à Suprema Corte, Brett Kavanaugh; seja sobre a campanha da ex-deputada democrata, nativa-samoana do Havaí, Tulsi Gabbard; seja sobre o caso #ReleaseTheMemo, a campanha dos trumpistas que exigia a divulgação do relatório “censurado” do FBI sobre a “ingerência russa”; seja sobre o tiroteio em Parkland; seja sobre a eleição de Donald Trump; seja sobre as hashtags #WalkAway e #IStandWithLaura; seja sobre ataques de mísseis norte-americanos à Síria; seja sobre a campanha de Bernie Sanders; seja sobre o movimento Brexit, para afastar os eleitores negros dos democratas; seja sobre os apelos para a demissão do conselheiro de Segurança Nacional, Herbert Raymond McMaster; seja sobre os “ataques” à investigação do procurador especial Robert Mueller; além de inúmeras outras questões.

Na semana passada, comecei a contatar as pessoas da lista. As reações oscilaram entre a fúria cega (“filhos da puta!”) e o choque (“eu sou apenas uma dessas aves migratórias de 73 anos que agora está na Flórida”).

“Infelizmente, não estou surpreso. Estou irritado, por sermos mais uma vez falsamente acusados de espalhar ‘desinformação russa’, dessa vez no Twitter” — disse Joe Lauria, do Consortium News. “Organizações como Hamilton 68 estão no mercado para impor uma narrativa oficial, o que significa extirpar fatos inconvenientes, que eles chamam de ‘desinformação’”.

“Escrevi um livro sobre a Constituição dos Estados Unidos”, diz Dave Shestokas, advogado de Chicago. “Como eu fui parar numa lista dessas é inacreditável para mim”.

“Estou listado como um bot estrangeiro?” perguntou o empresário Dennis Michael Lynch. “Como um orgulhoso cidadão contribuinte, caridoso pai de família e filho honesto de um fuzileiro naval dos Estados Unidos condecorado por bravura com um Coração Púrpura, eu estou magoado. Mereço mais que isso. Todos nós merecemos!”.

Quando criança, Sonia Monsour viveu a guerra civil no Líbano, em uma cidade tomada por uma milícia cristã. Seu pai a aconselhou a se desfazer de alguns livros de esquerda que guardavam em casa, para que suas crenças políticas não fossem usadas contra ela. Ao ser informada de que estava na lista Hamilton 68, ela relembrou aquela história de infância. Ela se mudou para o Ocidente para fugir desse tipo de problema. “Não é de se supor que, num mundo livre, sejamos observados, nos mais diversos níveis, pelo que dizemos online”, disse ela.

O cidadão do Estado do Oregon, Jacob Levich (@cordeliers) foi uma das poucas pessoas na lista que sabia o que era o painel Hamilton 68. “Lembro que era algum tipo de ONG assustadora, envolvida na identificação de contas consideradas subversivas”, disse ele. Informado de que estava na lista deles, disse: “Posso dizer que não há absolutamente qualquer sentido de que eu esteja sujeito a algum tipo de influência russa”. Levich continuou: “Quando eu era criança, meu pai me contou sobre a lista negra macarthista. (…) Quando criança, nunca teria me ocorrido que isso poderia voltar, com tanto vigor e extensão, e de uma forma concebida para minar os direitos que prezamos”.

A história de Jacob Levich aponta para o cerne do que há de mais sinistro na campanha promovida pelo painel Hamilton 68. Isso é macarthismo digital, tomando pessoas com opiniões dissidentes ou não convencionais e acusando-as em massa de “atividades antiamericanas”. A reviravolta irônica no retorno do macarthismo, na versão Hamilton, é que, em vez de visar os “esquerdistas” (ainda que haja várias contas autoproclamadas como de esquerda na lista), a maior parte das contas reais é de conservadores, com nicks como ULTRA MAGA Dog Mom (em referência ao slogan trumpista Make America Great Again) e @ClassyLadyForDJT (em referência a Donald John Trump).

Mesmo no Twitter, onde basicamente não havia conservadores declarados no registro de e-mail, pôde-se reconhecer que o painel Hamilton 68 (e pelo menos dois outros institutos de pesquisa que usam metodologia similar) simplesmente tomou conversas orgânicas entre trumpistas e caracterizou-as como intrigas russas.

A plataforma “acusa falsamente um monte de contas legítimas de direita de serem bots russos”, como observou Yoel Roth. Ela buscava “fazer valer a partir de tendências partidárias, a proposição de que qualquer conteúdo de direita é necessariamente propagado por bots russos”.

E isso tudo também se torna um escândalo acadêmico, na medida em que Harvard, Princeton, a Temple University da Filadélfia, a New York University, a George Washington University, entre outras, promoveram o painel Hamilton 68 como fonte confiável.

Talvez o mais embaraçoso seja o fato de que várias autoridades eleitas tenham promovido a plataforma. A senadora Dianne Feinstein (democrata), o senador James Lankford (republicano), o senador Richard Blumenthal (democrata), o deputado Adam Schiff (democrata) e o ex-governador e senador Mark Warner (democrata) estão entre os infratores.

O ex-agente Clint Watts, que claramente sabia como interpretar o melodrama do seu papel, chegou a fazer advertências lúgubres ao Comitê de Inteligência do Senado, incitando-o a “seguir o rastro de cadáveres”, caso quisesse chegar ao fundo do problema da ingerência russa.

Ainda que seja fácil perceber o quanto possa ser enervante ser posto em uma lista como essa – um combatente veterano com quem falei teve que sair da sala e respirar fundo antes de voltar ao telefone –, o dano mais extenso de uma manipulação como essa recai sobre a sociedade, que fica à mercê de uma orquestração quase diária do tipo “os bots russos estão chegando”. Suas histórias ainda estão impactando severamente a cultura e a política norte-americanas, além de terem desempenhado papel significativo nas corridas eleitorais de 2018 e 2020, demolindo impiedosamente campanhas como as de Bernie Sanders, de Donald Trump e de Tulsi Gabbard, enquanto impulsionavam nomes como Joe Biden (frequentemente descrito pelo painel como um “alvo” de bots russos).

Depois de qualquer controvérsia online, seja a saga do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, seja o debate sobre o controle de armas depois de um tiroteio em massa, os repórteres rapidamente corriam para afirmar que “robôs russos” estavam tentando “semear a divisão”, muitas vezes baseando-se nas “análises” do Hamilton ou de algum dispositivo desse tipo, para sustentar suas proposições.

Pior ainda, o painel Hamilton foi pioneiro em um novo formato de notícias falsas, que repórteres de organizações como Mother Jones, Washington Post, CNN e MSNBC engoliram por dois motivos. Primeiro: eles tendiam a ser politicamente simpáticos com as conclusões do painel (o Daily Beast não precisou de qualquer estímulo para afirmar que bots russos estavam promovendo manifestações relâmpago a favor de Trump “em 17 cidades”). Segundo: era um conteúdo imediatamente à mão.

Aqui está o que os trolls russos estão promovendo hoje”, anunciava um artigo de Kevin Drum no Mother Jones, como que sugerindo que, na era Ham68, os repórteres poderiam escalar até as manchetes de forma tão rápida quanto um café instantâneo.

No início de 2018 – talvez depois de uma conversa com o Twitter, na qual os executivos da empresa ponderaram sobre o lado positivo de “educar Clint” –, Watts, o ex-agente do FBI, chegou a questionar publicamente sua própria metodologia, afirmando: “Não estou convencido sobre essa coisa de bot”. Não muito tempo depois, outra figura-chave associada ao painel Hamilton 68, Jonathan Morgan, da “empresa de segurança cibernética” New Knowledge, acabou desmascarado ao forjar a história de uma operação de ingerência russa na corrida para o Senado do Alabama. Ele usou táticas semelhantes às do Hamilton, para criar conversas on-line simulando que o republicano Roy Moore teria suporte de bots russos. Foi pego, e sofreu o ultraje de ter o que chamou de “pequeno experimento” descrito, já agora pelo New York Times, como uma “operação de falsa bandeira”.

Mesmo depois que esse “experimento” tenha vindo à luz, e mesmo depois de Watts ter expressado suas dúvidas sobre a “coisa do bot”, a enxurrada de notícias ao estilo “lá vêm os bots” continuou. As empresas jornalísticas caíram de amores por um novo truque: um instituto de pesquisa reivindicava a presença de bots, os repórteres lançavam essa aparição sobre alvos odiados como Tulsi Gabbard ou o ex-deputado e empresário criador da rede social trumpista (Truth Social) Devin Nunes, e então as manchetes fluíam. O golpe precisava de apenas três elementos: 1. as credenciais de alguém como o “ex-agente do FBI” Clint Watts; 2. a ausência de qualquer coisa parecida com checagem de fatos; e 3. o silêncio de empresas como o Twitter.

No que respeita ao terceiro ponto, o Twitter não é inocente. Embora pessoas como Yoel Roth pretendessem ser duras com os fabulistas – “minha recomendação, nesse estágio, é um ultimato: ou você divulga a lista ou nós a divulgamos”, chegou ele a escrever –, em última análise, pessoas outras, com trânsito pelas “portas giratórias” de Washington, como a futura porta-voz da Casa Branca e do Conselho de Segurança Nacional, Emily Horne, por então ainda executiva do Twitter, aconselharam cautela: “temos que ter cuidado com o quanto reprimimos as publicações da ASD [Alliance for Securing Democracy, o think tank neoconservador que promove o painel Hamilton]”, escreveu ela.

Carlos Monje, também então executivo do Twitter e futuro consultor sênior do secretário de Transporte Pete Buttigieg, no governo Joe Biden, concordou: “Também fiquei muito frustrado por não impugnar publicamente o Hamilton 68 de forma mais severa, mas entendo que temos que jogar um jogo mais longo aqui”, vaticinou Monje.

Mesmo que o Twitter tivesse reprimido a ação do painel Hamilton, pouco importaria. Da forma como aconteceu, mesmo quando os porta-vozes da empresa instavam os repórteres a não levarem muito a sério os “dados” produzidos pelo Hamilton, eles não o faziam; assim como os senadores Dianne Feinstein e Richard Blumenthal não o fizeram quando o Twitter tentou avisá-los de que as histórias em torno dos “robôs russos” eram falsas. Emily Horne escreveu várias vezes que não teve sorte em desviar os jornalistas dessas manchetes sobre hackers. “Os repórteres estão irritadiços” – escreveu ela, acrescentando: “é como gritar no vazio”.

Solicitei comentários de uma grande variedade de atores – do think tank Alliance for Securing Democracy, Clint Watts, Michael McFaul, John Podesta e Bill Kristol a editores e diretores jornalísticos da MSNBC, Politico, Mother Jones, Washington Post, Politifact e outros. Ninguém respondeu. Eles vão, todos, fingir que isso não aconteceu. Os poucos jornalistas que chegaram a entender a dimensão da coisa, de Glenn Greenwald e Max Blumenthal ou Miriam Elder e Charlie Wurzel do Buzzfeed, a sites como o Moon of Alabama, podem cantar vitória. Todas as demais agências de notícias que publicaram aquelas histórias fantasiosas precisam confessar o que fizeram.

O conto do painel Hamilton 68 não tem um análogo claro na história da mídia, o que pode dar aos articulistas da mídia convencional uma desculpa para não cobri-lo. Estarão seguramente sob forte pressão para evitar tratar desse escândalo, já que quase todos trabalham para empresas responsáveis por espalhar massivamente as idiotices do painel Hamilton.

Essa é uma das histórias mais significativas do Twitter Files. Cada uma dessas histórias explica algo novo sobre como empresas como o Twitter perderam a independência. Nos Estados Unidos, a porta foi aberta para agências como o FBI e o DHS (Department of Homeland Security: Departamento de Segurança da Pátria) pressionarem pela “moderação de conteúdo”, depois que o Congresso admoestou o Twitter, o Facebook e o Google sobre a “ingerência” russa, um fenômeno que precisava ser visto como uma ameaça permanente, que exigia uma vigilância redobrada.

“Acredito, mesmo, que os Estados Unidos estão sob ataque”, foi como reagiu a cofundadora do Hamilton 68, Laura Rosenberger, depois de ver os tweets de cidadãos como Sonya Monsour, David Horowitz e @holbornlolz.

A história do Hamilton 68 mostra como funciona o fantasma da permanente “ingerência russa”. O truque de mágica foi gerado por uma confluência de interesses: entre think tanks, mídia e governo. Antes, só podíamos especular. Agora, sabemos que a “ameaça russa” era, pelo menos neste caso, apenas um punhado de americanos comuns, fantasiados de modo a parecer uma “ameaça vermelha”. O jornalista fraudador Jayson Blair tinha uma imaginação infernal, mas nem ele poderia bolar um esquema tão obsceno. Que vergonha para todos os meios de comunicação que não renunciaram a essas histórias!

“Farsantes como o Hamilton 68 não precisam concordar conosco”, diz Joe Lauria, do Consortium News. “Mas eles deveriam nos deixar em paz”.

*Matt Taibbi é jornalista. É autor, entre outros livros,de Hate Inc.: Why Today’s Media Makes Us Despise One Another (Or books).

Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel.

Publicado originalmente em Raccket News/Substack.

 

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