Por RODRIGO DE FARIA*
As ruas não podem deixar que o Mundo seja dominado pela violência e pelo ódio dos que sufocaram Goerge Floyd, que suplicava pela sua vida. A ele só restou dizer “não posso respirar” enquanto olhávamos para ele, jogado na sarjeta pelas mãos do “Estado”
O Mundo parou de respirar. A poluição urbana não nos deixa (mais) respirar, sufocando a todos, os que vivem nas grandes metrópoles mundiais e os que vivem em cidades médias e pequenas. A contaminação do ar, de rios, mares e mananciais, resultante das produções extensivas industriais e agroexportadoras, estão sufocando o planeta.
O Mundo parou de respirar. O consumismo não nos deixa (mais) respirar, levando junto nossas economias domésticas com o que é desnecessário para viver. A violência não nos deixa (mais) respirar, seja na cidade ou no campo, vidas humanas são silenciadas. A hipocrisia neoliberal não nos deixa (mais) respirar, seu alimento é a destruição dos serviços públicos, pois os neoliberais não querem o Estado Mínimo, eles querem o Estado só para eles.
O Mundo parou de respirar. O trabalho escravo não nos deixa (mais) respirar, ele se estrutura na espoliação dos corpos dos trabalhadores e das trabalhadoras, estejam na China ou no Brasil. A educação não nos deixa (mais) respirar, as escolas estão sem janelas e suas paredes trazem marcas dos tiros que matam nas comunidades pobres.
O Mundo parou de respirar. A violência doméstica não nos deixa (mais) respirar, suas vítimas, mulheres e crianças, são estatísticas que se perdem pelo medo de denunciar. A violência sexual não nos deixa (mais) respirar, o estupro como instrumento resulta na criminalização das mulheres, não dos criminosos.
O Mundo parou de respirar. O racismo não nos deixa (mais) respirar, ele sufoca até a morte, seja com estrangulamentos ou palavras. O fascismo não nos deixa (mais) respirar, acreditávamos que ele não existisse mais, no entanto, eles sempre estiveram em todos os lugares.
O Mundo parou de respirar. Estamos todos sem ar, estamos todos com dor, angustiados e com insônia. Na Estrutural ou no Vidigal, no Leblon ou na Asa Sul, no Bois de Boulogen ou no El Retiro, em Berlin ou Nova Iorque, em Paraisópolis ou em Minneapolis, estamos sendo sufocados pela violência e pelo ódio.
O Mundo parou de respirar. Essa violência e esse ódio querem que o Mundo pare de respirar, sempre sonharam com o dia em que todos os George Floyd parariam de respirar, sufocando-os, um por um. No Brasil, esse ódio e essa violência, estão destruindo o pouco que foi vislumbrado em 1988. No Brasil, esse ódio e essa violência, estão matando o que imaginávamos ser uma democracia. Porém, o Mundo não pode parar (mais) de respirar, ele precisa encontrar o ar límpido que ainda existe em cada canto das cidades, em cada gesto humanitário.
O Mundo precisa continuar respirando, só assim poderemos salvar todos os outros George Floyd e todas as democracias. O oxigênio que tanto necessitamos está nas ruas de todas as cidades. As ruas das cidades devem ser o instrumento de luta contra a violência, contra o racismo, contra a escravidão, contra a poluição, contra o consumismo, contra tudo o que representa a negação da vida, da nossa vida. A democracia, com todos os seus problemas, é a única garantia que o Mundo tem para ocupar as ruas, defendendo, agora, a memória de George Floyd e a própria Democracia.
As ruas não podem deixar que o Mundo seja dominado pela violência e pelo ódio dos que sufocaram Goerge Floyd, que suplicava pela sua vida enquanto olhávamos para ele, jogado na sarjeta pelas mãos do “Estado Violência”. A ele só restou dizer “não posso respirar”. A Democracia no Brasil também está jogada na sarjeta, sufocada pelas mãos dos que sonham com o autoritarismo, os mesmos que já defenderam torturadores. Ao Brasil resta ainda o Oxigênio das Ruas, a Democracia não pode parar de respirar.
*Rodrigo de Faria é professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB.