O segundo círculo — centro e periferia em tempos de guerra

Vassily Startsev. Sem título, 2011
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Por ANDRÉ SINGER, BERNARDO RICUPERO, CICERO ARAUJO & FERNANDO RUGITSKY*

Introdução dos organizadores ao livro recém-lançado

Margens estreitas no inferno global

O inferno dantesco possui a forma de um cone invertido, cujos nove andares descendentes vão, a cada passo, ficando menores e mais aterradores. A imagem vem a calhar. O crash financeiro de 2008 abriu os portões demoníacos, e, sobretudo depois da eleição de Donald Trump em 2016, vagamos pelo limbo, caracterizado pelo descarrilamento do capitalismo e da democracia.1 Nos últimos anos, o interregno ingressou em nova fase, descendo um pavimento.

Nele, a deriva reinante parece ter-se aprofundado, como efeito da bipartição global que se estrutura em torno do conflito entre Estados Unidos e China. Tal como Dante quando adentra o segundo círculo, pensamos que a presente polarização aumenta os flagelos e, em linguagem contemporânea, diminui as chances de saída pacífica. A hipótese será exposta a seguir, de forma a oferecer um pano de fundo para as diversas análises elaboradas nos capítulos desta coletânea.

A polaridade foi explicitada pelo G-7 em maio de 2023 na simbólica cidade de Hiroshima. Quando o conclave entre EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Japão decidiu reduzir a “‘excessiva dependência’ da China em cadeias de fornecimento críticas”,2 a dura reação de Pequim deixou claro o significado da decisão ocidental (considerando-se o Japão como braço asiático do Ocidente). O governo Xi Jinping denunciou a intenção de isolar e enfraquecer o seu país, chamou o embaixador em Tóquio e baniu das fronteiras chinesas a Micron, única empresa norte-americana a fabricar chips do tipo Dram (Dynamic Random-Access Memory).3

Segundo Nouriel Roubini, relações que estavam frias tornaram-se glaciais.4 Se 2008 causava a fenda que levava Pequim a lentamente se afastar de Washington,5 a cúpula de Hiroshima atestava a disputa como hegemônica.

Significativamente, três meses após o encontro do G-7, por iniciativa da China, eram incluídos quatro membros no grupo dos Brics (Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos), o antigo Império do Meio candidatando-se a liderar o Sul Global.6 A Casa Branca unificava os ricos, e Xi retrucava pretendendo vocalizar os pobres. Para nós, que habitamos a periferia, a divisão mundial ficava clara, implicando uma rearrumação das condições em que transcorre o interregno.

Em primeiro lugar, com o retorno das trincheiras internacionais, a política encarnada no que tem de pior — a contagem da capacidade bélica em cada trincheira — retoma o comando. O avanço das forças destrutivas dá o tom da dança. Basta ver o rearmamento da Alemanha e do Japão, uma clara mudança no padrão que prevaleceu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Entrevistado para este livro em junho de 2023, o sociólogo Wolfgang Streeck ressaltou que “40% dos gastos militares globais são feitos nos Estados Unidos”, e lá “existem essas enormes burocracias militares, com pessoas pensando, livremente, sobre como usá-los”.7 No outro polo, o regime chinês promove desde 2012 um endurecimento repressivo, com evidente teor de ordem unida contra o inimigo externo.8

Em segundo lugar, alguma coisa, ainda nebulosa, que remete aos tempos da Guerra Fria voltou a crispar o ambiente. Olhando em retrospectiva, vale lembrar que, quando a nação da Grande Muralha decidiu, no início da década de 1960, sair da sombra soviética e assumir o papel de “farol” do socialismo realmente existente, já refletia o impulso incontível, que a própria revolução de 1949 ensejou, de um dos Estados Nacionais mais populosos do planeta destacar-se no cenário geopolítico.9 Meio século depois, a China talvez tenha substituído a Rússia no ringue em que decidirá contra os EUA quem vai comandar a saída, quando houver, do interregno.

Pode-se argumentar que o modo de produção chinês é também capitalista, o que retira o conteúdo ideológico do conflito. No entanto, não é o que propagandeia a República Popular, que se define como “economia de mercado socialista” e, contraditoriamente, usa da centralização e da planificação estatal para tirar proveito da ordem neoliberal, contrapondo o seu modelo híbrido ao que prevalece no Ocidente. O Tio Sam, em contrapartida, gosta de se apresentar como defensor da democracia contra tiranos que usam punho de ferro para sufocar as liberdades dos povos.

A cobertura ideológica, portanto, serve aos dois contendores, com a espiral armamentista unificando os povos em torno dos respectivos governantes. Na prática, representa uma solução para os impasses criados pelos conflitos internos e pelas contradições econômicas. Tanto nos EUA como na China, os tambores da guerra encobrem o sofrimento das classes subalternas.

Assim, o retorno da política, que poderia ser considerado auspicioso, ao assumir a forma de acirramento geopolítico, estreita as alternativas disponíveis. Em particular, a opção efetivamente democrática, ângulo privilegiado pelas autoras e pelos autores reunidos(as) nesta coletânea, vê-se apertada entre condicionantes que empurram cada país ou bloco de países para a “ordem unida”.

A militarização das relações internacionais começa a ter efeitos perniciosos sobre as liberdades domésticas. Além da restrição dos direitos políticos e da repressão na Alemanha e nos Estados Unidos, para dar dois exemplos notáveis, a escalada israelo-palestina, somada aos vigorosos protestos estudantis em território norte-americano, divide as bases do Partido Democrata nos Estados Unidos e poderá custar-lhe a continuidade na Casa Branca.10 Uma eventual vitória de Donald Trump em novembro dará novo impulso à extrema-direita, reforçando a onda de autocratização planetária notada pelo projeto “Variedades da Democracia” (“Varieties of Democracy” — V-Dem).11

Os elos entre regressão autoritária e bipolarização são, todavia, mais complexos. Se o afastamento entre EUA e China veio à tona em 2008, a rivalidade ampliou-se com a hostilidade comercial e tecnológica a partir de Trump. É que a crise do capitalismo e da democracia, em curso no Ocidente desde a eclosão financeira, abriu espaço para a ascensão da extrema-direita, que aposta seu futuro no “choque de civilizações”. O duplo descarrilamento desembocou, assim, na bipartição do mundo que, por sua vez, requalifica o interregno.

O avanço da extrema direita, vale lembrar, foi o resultado de um terremoto cujo epicentro está nos países ricos. A partir da crise financeira, emergiu um descontentamento que se espalhou até a periferia, gerando, com o auxílio da mobilização digital, uma onda de protestos no início da década de 2010: a Primavera Árabe, o Movimento dos Indignados na Espanha, o “Occupy Wall Street”nos Estados Unidos,os protestos do Parque Gezi na Turquia etc. Em poucos anos, a pressão de baixo forçou a renovação da esquerda. Do Syriza a Bernie Sanders, passando pelo Podemos, por Jean-Luc Mélenchon e por Jeremy Corbyn, todos ascenderam de posições até ali marginais.12

Significativamente, no mesmo ano em que Donald Trump foi eleito presidente, o único senador que se autodeclarava socialista nos EUA — e que permanecera isolado durante seus mais de dez anos na Câmara Alta — desafiou quase com sucesso, nas primárias do Partido Democrata, a secretária de Estado Hilary Clinton, convertida, ao longo dos anos, numa espécie de símbolo do agora chamado “neoliberalismo progressista”.

Mas veio o balde de água fria. Incapaz de construir blocos eleitorais sólidos ou de superar obstáculos interpostos pelas elites, o sopro de ar fresco da esquerda não logrou implementar uma direção alternativa. As esperanças mobilizadas por Tsipras, Iglesias e Corbyn parecem, vistas de hoje, ter sido pouco mais que miragem. Por motivos diversos, não conseguiram reunir força suficiente para viabilizar uma saída para a crise democrática. Ao fim e ao cabo, o único caso desviante é fornecido pela nação mais poderosa do planeta, os Estados Unidos, onde um mandatário de centro adotou medidas oriundas da esquerda do Partido Democrata, resultando em um modelo novo, que será analisado adiante.

Na sequência do fracasso da esquerda, o outro polo do espectro ideológico foi ocupado pela extrema direita.13 Em alguns casos, velhos partidos de centro-direita foram reduzidos à irrelevância e abriram espaço para novas agremiações, com discursos e práticas ao mesmo tempo autoritários e voltados contra o establishment. Em outros, agremiações conservadoras tradicionais realizaram notável guinada, arrastando consigo os termos do debate público. Não está claro, a esta altura, se há um conjunto coerente de políticas de extrema-direita e, por trás delas, forças sociais capazes de sustentá-lo.

Seja como for, o desequilíbrio da renovação, com o pêndulo enviesado para a destra e os experimentos à esquerda mostrando-se fugazes, pode ser interpretado estruturalmente. A reconfiguração do capitalismo com o deslocamento de parte expressiva da produção de mercadorias para a Ásia, desde os anos 1980, fragmentou as classes trabalhadoras do centro desenvolvido e enfraqueceu as suas organizações. No vácuo que se seguiu, com empregos industriais e densidade sindical cadentes, criaram-se oportunidades para produzir cizânia entre as camadas populares. Abria-se, assim, uma avenida para que o sofrimento social fosse canalizado contra falsos adversários.14

Na Europa, especialmente, o processo foi ao paroxismo quando a Primavera Árabe se converteu em guerras civis que levaram ao chão as estruturas estatais implicadas, resultando numa tragédia humanitária e migratória. Ao chegar na outra margem do Mediterrâneo, destampou uma histeria xenofóbica, bem ao gosto da extrema direita em ascensão.

Se o deslocamento conservador ocidental criava as condições para a bipolarização, a China não assistia a tudo passivamente. Segundo Margareth Pearson e coautores, o governo chinês, por volta de 2013, começou a aumentar a intervenção do Estado-partido na governança das empresas, sobretudo das de tecnologia, estabelecendo linhas vermelhas que os atores econômicos não poderiam cruzar.15 Como se sabe, tecnologia e armamento andam juntos, e os Estados Unidos entenderam a mudança como ameaça securitária, começando a tomar medidas que contribuíram para pôr fim à globalização.

Nos bastidores da atual batalha dos chips entre Joe Biden e Xi Jinping estão os respectivos aparatos militares nacionais, sabendo-se que a potência de cada força armada passa hoje por semicondutores.16 Em suma, a corrida armamentista, cujo fim definitivo se esperava com a dissolução da União Soviética, foi reiniciada.

No Ocidente, o acirramento da disputa geopolítica e a escalada militar alimentam o sectarismo nacionalista, contribuindo para soldar a unidade interna defensiva. Na terra da Cidade Proibida, o endurecimento de Xi Jinping tirou do horizonte próximo qualquer chance de democratização. Em toda parte, a mobilização pacifista defronta-se com repressão estatal desinibida, além da dificuldade de cativar apoio popular expressivo. Por fim, convém não menosprezar os efeitos que essa reviravolta causa sobre os conflitos internos na periferia em geral.

Durante as primeiras décadas da velha Guerra Fria, abriu-se espaço para concessões, por parte das grandes potências, ao então Terceiro Mundo. Mas os latino-americanos sabem que alternativas que puseram em xeque os privilégios dos capitais do Norte foram violentamente contidas, muitas vezes por golpes militares. Na região, a guerra fria assumiu predominantemente a forma de guerra suja. Em uma etapa de bipolarização militarizada, seria de espantar se a intransigência dos programas de ajuste do Fundo Monetário Internacional viesse a ser combinada com retrocesso autoritário?

Mesmo na ausência de bloqueios de fora, os desafios para as economias latino-americanas atenuarem a condição de dependência são enormes. Vinte anos atrás, no auge dos movimentos críticos à globalização, as condições materiais para blindar as nações da ciranda financeira global talvez fossem maiores. Hoje, no entanto, com a produção de mercadorias fragmentada entre inúmeros países e as classes trabalhadoras enredadas nos circuitos globais de consumo e dívida, abrir uma trilha paralela de desenvolvimento, à margem dos fluxos financeiros e comerciais predominantes, parece mais difícil.

Mesmo que a globalização neoliberal esteja chegando ao fim, ela deixou como legado o aprofundamento da dependência latino-americana — tanto no que se refere à vulnerabilidade externa e tecnológica quanto ao estreitamento do vínculo das classes capitalistas domésticas com os interesses hegemônicos no centro do sistema.

Fica aqui, no entanto, o registro de uma situação ambígua. Por mais estreita que seja a possibilidade, há que não descartar o encontro de saídas favoráveis à periferia. O acirramento do conflito geopolítico deve intensificar a disputa por zonas de influência, o que pode abrir à América Latina brechas para renegociar os termos de inserção no circuito mundial produtor de mercadorias. Para o Brasil, em vista da posição destacada como potência regional e do pragmatismo de sua política externa, pode surgir margem de manobra, no sentido de costurar alianças tópicas — sem ferir o compromisso com a democracia, a paz e o multilateralismo — que ofereçam novos horizontes econômicos.

Tempos de guerra

Os cientistas políticos (e um sociólogo) e os economistas aqui reunidos iniciaram seu trabalho quando os russos atravessaram a fronteira ucraniana, em fevereiro de 2022, e o terminaram sob o horror da catástrofe humanitária causada pelo Estado de Israel em Gaza. Debateram e escreveram a respeito dos temas a seguir sob a nítida percepção de que algo se contraía no espaço mundial. Pela primeira vez, desde a configuração que emergiu da queda do Muro de Berlim, uma potência decadente — mas ainda detentora do segundo maior arsenal nuclear do planeta — realizou um desafio aberto, insofismável, ao establishment, através do recurso extremo da força armada contra um país europeu. A audácia de Moscou, sustentada de certa maneira por Pequim, não pode ser desvinculada da bipolarização.

A gravidade da espiral bélica nos obriga a uma breve reflexão a respeito. Detenhamo-nos, primeiramente, na situação da ex-União Soviética. Vencido na Guerra Fria, o antigo superpower viu a população diminuir, com o território reduzido em cerca de 25%. Perdera o controle sobre os antigos “satélites” do Leste Europeu e, em vista da intervenção da OTAN no final dos anos 1990, a influência sobre os Bálcãs. No plano interno, a economia havia piorado nos anos imediatamente posteriores à dissolução da União Soviética, graças à terapia de choque recomendada por economistas ultraliberais, com o PIB caindo à metade e efeitos óbvios no padrão de vida da população. A derrocada econômica somava-se a uma profunda ferida do orgulho nacional, tocando as cordas daquilo que Lênin chamava de “chauvinismo grão-russo”.

A história, porém, não chegara ao fim. Na aurora dos anos 2000, Boris Yeltsin terminava melancolicamente o mandato presidencial, com a fama de preferir os confortos da garrafa ao exercício do poder, tendo como sucessor um ex-agente da KGB, antes seu principal ministro e, como o planeta aos poucos iria descobrir, com vício bem diverso. Hábil na costura de acordos entre os novos magnatas da economia e das Forças Armadas, Putin iniciava a ascensão a chefe inconteste do Estado russo. Segurando as alavancas do Poder Executivo com mão de ferro, a brutalidade com que reprimia os opositores — prisões arbitrárias, assassinatos, envenenamentos, “acidentes” fatais etc. — logo se refletiu na política externa.

Prova-o o invariável tratamento manu militari dado aos países do Cáucaso. É certo, por outro lado, que o desmedido avanço da Otan sobre o Leste Europeu nos últimos anos só fez atiçar o antigo desejo russo, por ele encarnado, de restabelecer a autoridade perdida naquela região. Daí para a guerra aberta contra o Ocidente, via Ucrânia, faltava apenas a aliança com a China, formalizada no início de 2022.

Essa guerra europeia logo dividiria o palco com outra, dessa vez no Oriente Médio. O conflito em Gaza, embora de origens mais remotas, reforçava a divergência entre EUA e China e a militarização do espaço partido. O cruel e sanguinário atentado realizado pelo Hamas em outubro de 2023, matando mais de 1.200 cidadãos israelenses e estrangeiros, a maior parte civis, entre os quais se contavam crianças, além da captura de 200 reféns, desencadeou uma reação absurda da parte de Israel, não por acaso governado pela extrema direita. O Estado israelita ceifou até agora mais de 40 mil vidas palestinas, segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.17 Somado às baixas na Ucrânia, o morticínio das duas frentes já abateu algo entre 150 mil e 200 mil pessoas.18

Diante do panorama desolador, respeitada a natural diversidade intelectual, disciplinar e metodológica que caracteriza o Grupo de Pesquisa Pensamento e Política no Brasil, associado ao Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic-USP), buscou-se localizar pontos nevrálgicos da situação, tarefa à qual se somaram colegas de outras instituições, aos quais agradecemos a significativa colaboração. Além de traçarem os contornos gerais do quadro contemporâneo, os artigos dão ênfase às consequências que trazem para as democracias latino-americanas (Parte 2) e aos instrumentos teóricos forjados na região para entender o complexo entrelaçamento entre política e economia, geopolítica e luta de classes (Parte 3), cuja compreensão torna-se cada vez mais urgente.

O volume abre com a tentativa de estabelecer balizas teóricas para a compreensão do rumo oferecido pelo governo Biden aos EUA a partir de 2021. Escrito pelos cientistas políticos André Singer e Hugo Fanton, o capítulo 1 levanta a hipótese de que a Casa Branca tenha se esforçado por construir o que os autores chamam, utilizando terminologia de inspiração gramsciana, de “novo americanismo”. Consiste em modelo inédito, que envolve reindustrialização com transição energética, apontando para a reconstrução da antiga classe trabalhadora, criando as bases de um Estado que, se não é de bem-estar social, procura dar conta das reivindicações mais imediatas das camadas médias e populares. Trata-se, segundo Riley e Brenner, de um “neoprogressivismo”, orientação distinta da que dominava o Partido Democrata até Barack Obama.19

No mencionado encontro do G-7, o programa norte-americano foi ampliado para os aliados da OCDE, isto é, o clube dos ricos. Se a convocação dos aliados dará certo ou não, só o tempo dirá. Seja como for, o novo americanismo não possui o reformismo denso que marcou o New Deal. Segundo Hugo Fanton, um dos que viajaram aos EUA com apoio da Unicamp, visitando diversas cidades e realizando dezenas de entrevistas, o Plano Biden se caracteriza por três dimensões: expansionismo fiscal em favor da produção manufatureira em setores considerados estratégicos, atuação incisiva para conter o crescimento chinês e medidas de proteção laboral, com pleno emprego e estímulo à ação sindical.

No capítulo 2, em que apresenta a análise do trabalho de campo, Fanton, entretanto, busca mostrar que a política fiscal ficou aquém das reais necessidades; que a divisão interna do Partido Democrata resultou na desidratação da dimensão social do programa; que o peso da oposição trumpista, em aliança com setores conservadores do Partido Democrata, travou as tentativas de elevação tributária sobre o capital; e que o mercado financeiro conseguiu impor limites estruturais ao alcance do programa. Por outro lado, houve avanço na organização sindical, indicando uma abertura por onde poderia passar a reconstrução, de baixo para cima, de força opositora à extrema direita.

O capítulo 3, assinado pelos economistas Carlos Raul Etulain, professor da Unicamp e igualmente beneficiado pelo financiamento daquela instituição, e Jorge López Arévalo, professor da Universidade Autônoma de Chiapas (México), ressalta que a conduta anticíclica de Biden foi uma das “mais importantes da […] história e a maior do mundo”, abandonando a austeridade orçamentária. Retomou-se a orientação keynesiana, ao menos em termos de orientação fiscal. Houve, também, reforço do protecionismo, marcado pela adoção frequente de tarifas punitivas, restrições à importação e encomendas de conteúdo nacional. Em outras áreas, todavia, como é o caso da imigração, o programa não alterou a maré conservadora excludente, sem falar nas relações exteriores.

Se a viagem dos pesquisadores aos Estados Unidos identificou contradições relevantes, as postas ao Partido Comunista da China, desde que se separou dos EUA, tampouco são negligenciáveis. Ao produzir, a partir de si mesmo, uma classe burguesa independente, a conversão ao capitalismo não foi, nem é, acontecimento suave. Está repleto de tensões inéditas, em especial no mercado de trabalho e nas relações entre o campo e a cidade, como indica o capítulo 4, elaborado pelos economistas Isabela Nogueira e Iderley Colombini.

A decisão estratégica de saltar para a alta esfera do capitalismo desenvolvido fez da China o país que mais se beneficiou da globalização neoliberal, porém praticando, internamente, orientações que não se assemelhavam às receitas neoliberais. Exceto por um aspecto decisivo: disponibilizar a imensa força de trabalho para a acumulação, no início com predomínio de firmas estrangeiras, em seguida, e cada vez mais, de empreendimentos chineses.

As contradições localizadas pelos três capítulos no interior dos EUA e da China explicam, ao menos em parte, a movimentação dos dois gigantes no sentido da militarização. No capítulo 5, Wolfgang Streeck, professor emérito do Instituto Max Planck, em Colônia, em entrevista concedida em junho de 2023, afirma que estamos vendo uma nova etapa do interregno, “que eu chamaria, de forma provisória, de economia bipolar global: uma economia de guerra, dividida em duas metades, China e Estados Unidos”.20 Para ele, isso seria “inimaginável” meia década antes e poderá “se cristalizar como uma ordem estável por 30, 40 anos, como no pós-guerra”.

Mesmo que a hipótese não se confirme, há um bom número de evidências para dizer que o período unipolar terminou. No capítulo 6, que encerra a primeira parte do volume, o cientista político Sebastião Velasco e Cruz analisa fatores de médio e de longo prazo que levaram ao desfazimento da ordenação dirigida pelos EUA. A desastrada saída do Afeganistão (agosto de 2021), seguida pela Guerra da Ucrânia e a inefetividade da resposta norte-americana — embargo econômico, financiamento de Zelensky, estímulo à desestabilização de Putin —, e, por fim, o ataque do Hamas e o apoio à resposta de Israel confirmam, para Velasco e Cruz, o progressivo “fim da Pax Americana”.

Perspectivas latino-americanas

A segunda parte do livro procura mapear as opções latino-americanas no contexto bipartido. Os economistas Carlos Aguiar de Medeiros e Esther Majerowicz projetam, no capítulo 7, as chances de retomada do estímulo industrial na América do Sul e no Brasil. Após análise dos impulsos à manufatura nos EUA e na Europa, como reação aos desafios representados pela China e pelo agravamento do problema ambiental, os autores voltam-se para o caso sul-americano.

A ênfase é colocada em oportunidades nos setores energético e de transportes, bem como na Floresta Amazônica. Ainda que o compromisso sempre renovado, mas pouco promissor, com a austeridade fiscal represente evidente obstáculo, Medeiros e Majerowicz entendem que a intervenção do Estado seria capaz de reverter a fragilidade industrial revelada nas décadas recentes.

O capítulo 8, escrito pelos economistas Fernando Rugitsky e Pedro Mendes Loureiro, contudo, mostra as dificuldades de encontrar um modelo soberano de desenvolvimento por aqui. Os governos da chamada Maré Rosa, que se espalharam pela América do Sul nos anos 2000, beneficiaram-se do boom de commodities que temporariamente atenuou a vulnerabilidade externa de suas economias. Pela primeira vez desde os anos 1970, a América Latina cresceu mais rapidamente do que os países ricos.

Porém, o alívio teve vida curta. Quando os preços dos produtos exportados começaram a cair, na década seguinte, os custos do engate na locomotiva chinesa ficaram claros. As dificuldades materiais — recessão, pressão por austeridade, volatilidade cambial — somaram-se, em muitos casos, a um notável deslocamento político. As regiões responsáveis pela geração dos produtos primários de exportação, como o Centro-Oeste brasileiro (soja e gado) ou a Media Luna boliviana (gás natural), consolidaram-se como bases territoriais de blocos políticos que importaram para a América Latina as últimas tendências da extrema-direita vinda do Norte.

A economista Lena Lavinas e o sociólogo Guilherme Leite Gonçalves examinam, no capítulo 9, a situação brasileira por outro ângulo. Após hábil reconstituição das origens da financeirização em massa no Brasil, os autores descrevem a onda de sobre-expropriações que se seguiu ao alijamento do Partido dos Trabalhadores (PT) do Planalto, com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Em seguida, avaliam como o atual mandato de Lula é entrecortado por tensões, buscando reverter o desmonte herdado e, simultaneamente, dar continuidade a certa financeirização dos programas sociais. Se a segunda tendência prevalecer, não apenas o modelo constitucional terá sido erodido, mas a possibilidade mesma de sustentar um rumo alternativo ficará fragilizada pela expansão da dinâmica financeira.

Em outras palavras, a tenra planta democrática brasileira aguarda uma perspectiva econômica capaz de abrir horizontes a uma população ainda premida por necessidades básicas como renda, moradia, saúde, educação e segurança. Caso não aconteça, deve-se considerar a chance de que venhamos a assistir, em 2026, a uma disputa parecida com a de Trump e Kamala Harris, que hoje mantém suspensa a respiração dos que apostam na democracia.

Seria mais um caso de mimetismo da política nacional diante da sua homóloga norte-americana, como o analisado pelos cientistas políticos André Singer, Cicero Araujo e Leonardo Belinelli no capítulo 10. Eles mostram que as duas sociedades possuem muitas diferenças, mas também contam com semelhanças significativas. Ambas enfrentaram o problema da desindustrialização que, a seu modo, contribuiu para minar as bases da democracia lá e cá. Paralelamente, as igrejas evangélicas, boa parte delas originária dos Estados Unidos, garantem apoio a pautas conservadoras no Brasil. Em sentido mais profundo, cultural, o neossertanejo do interior verde-amarelo procura imitar o country norte- -americano, criando universo simbólico relativamente comum.

Pensamento crítico

Diante dos problemas postos nos capítulos precedentes, a retomada de um estilo de pensamento histórico-estrutural, cultivado na América Latina e tema da última seção desta coletânea, ganha especial interesse. O debate entre Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira e Florestan Fernandes, para o qual o cientista político Bernardo Ricupero chama atenção no capítulo 11, a respeito de até que ponto o golpe de 1964 poderia ser entendido como equivalendo a uma revolução burguesa, é um bom exemplo.

Para além das diferentes posições — Cardoso defendendo que o movimento politicamente reacionário teria consequências econômicas revolucionárias, Oliveira que corresponderia a uma contrarrevolução e Fernandes que a forma da revolução burguesa no Brasil e na periferia em geral seria de uma contrarrevolução —, vale a pena destacar como a discussão realizada há cerca de meio século se revela útil hoje.

Tal como no presente, Cardoso, Oliveira e Fernandes indicam que a política teria ganhado centralidade no tipo de capitalismo posto em marcha pela ditadura militar. Em outras palavras, não se deve pensar a economia como espaço no qual capitalistas e trabalhadores livremente estabelecem trocas, mas como dimensão na qual o recurso à força, próprio do Estado, é sempre decisivo. Se isso ficou evidente com o golpe que pôs fim à República de 1946, atualmente mesmo pensadores próximos da perspectiva do marxismo clássico, como Riley e Brenner, precisam reconhecer o imbricamento de política e economia, cunhando um termo como “capitalismo político”.21

Mas é possível dizer também que o pensamento brasileiro, mais do que fornecer um repertório de perguntas e respostas hipotéticas para tratarmos dos problemas que enfrentamos — como normalmente se imagina —, é constitutivo da maneira mesma como entendemos as questões. Esse é o exercício que faz o economista Alexandre de Freitas Barbosa no capítulo 12. Ao tratar os conceitos de “subdesenvolvimento” e “dependência” na longa duração, identifica um “estilo de análise” histórico-estrutural, cultivado por autores brasileiros durante quase meio século. Alexandre de Freitas Barbosa enxerga, em especial, uma problemática comum, que continuaria de Caio Prado Jr. a Florestan Fernandes e discípulos, passando por Celso Furtado e Ignácio Rangel.

Tais observações têm notável afinidade com as de Karl Mannheim. O sociólogo do conhecimento, ao recorrer às considerações de um historiador da arte, Johann Eishner, nota que “identificamos um trabalho sem data precisa ao traçar a presença nele de características do estilo de um período particular; em compensação, o nosso conhecimento do estilo desse período será aprofundado em outros pontos pela obra específica”.22 Portanto, nos dois campos, mais que o conteúdo, interessa identificar a forma, artística ou de pensar, subjacente a eles.

Percebe-se, desse modo, o estilo de pensamento presente nas diversas visões de mundo menos pelas respostas a variados problemas do que pela maneira como apresentam as indagações. Seria necessário trabalhar com um conjunto de autores para que se pudesse notar o “estilo” comum pressuposto em seus pensamentos. É precisamente o que ocorre com o “estilo histórico-estrutural”, capaz de enquadrar os dilemas do capitalismo praticado na periferia.

Resgatando uma maneira diferente de entender o fenômeno da dependência, dentre aquelas do estilo de pensamento discutidas aqui, a economista Leda Paulani, no capítulo 13, aponta em que sentido se poderia dizer que estamos ingressando em nova fase do processo, que ela chama de “dependência 4.0”. Ao oferecer leitura detalhada de uma vertente da teoria dependentista e revisá-la à luz das formulações contemporâneas sobre a financeirização, Paulani ilustra o potencial crítico de recuperar debates e categorias clássicas para investigar dilemas contemporâneos. Em sua interpretação, o caso brasileiro é exemplar da forma de subordinação da periferia a um capitalismo global dominado pelo rentismo.

Por fim, a cientista política Camila Goes, autora do capítulo 14 que encerra o volume, explora como Francisco de Oliveira procurou decifrar a maneira pela qual, no Brasil, o neoliberalismo fornece a chave para entender a hegemonia em sentido gramsciano. A presidência Fernando Henrique Cardoso poderia, segundo o sociólogo pernambucano, tanto ser interpretada como a realização de uma hegemonia burguesa como identificada com um “totalitarismo neoliberal”.

Radicalizando tal perspectiva, com a primeira eleição de Lula se teria chegado a uma situação de “hegemonia às avessas”, na qual a direção moral exercida pelas classes subalternas se combinaria com a dominação burguesa escancarada, tornando a categoria de Gramsci, talvez, ultrapassada. Em movimento complementar, entretanto, Góes indica a afinidade da análise de Oliveira sobre o que chamara de “era da indeterminação” com as interpretações de Boaventura de Sousa Santos, Chantal Mouffe, Nancy Fraser e Wolfgang Streeck da quadra atual, que explicam, numa inspiração gramsciana, em termos de “interregno”.

Alcances e limites

A despeito da abrangência do livro, temas relevantes ficaram fora do escopo alcançado pela coletânea. Entre eles, cabe destacar, dadas a gravidade e a urgência, o da pressão ecológica. Mesmo que mencionada aqui e ali, não logramos lhe dar um tratamento à parte, para o que necessitaremos, talvez, de arcabouço teórico mais amplo.

Entretanto, cremos haver trazido um diagnóstico geral para debate. De acordo com ele, estaríamos diante de um círculo de alternativas mais estreito que o da etapa anterior do interregno, incrementando a ameaça autoritária. O acirramento da disputa pela direção geopolítica, no plano internacional, assim como nos seus desdobramentos regionais, implica a intensificação da violência estatal, para fora e, potencialmente, para dentro, o que poderá vir a fazer parte do panorama trazido pela militarização.

Contudo, do ponto de vista da articulação produtiva do capitalismo, a “desglobalização”, que é consequência mais direta da briga geopolítica, pode abrir espaço para reverter, mesmo que parcialmente, o processo que está na origem do enfraquecimento da classe trabalhadora. Com a reversão, uma resistência acrescida surgiria. A tentativa dos EUA e da Europa de atrair de volta parte das cadeias de valor favorece espaços de negociação entre as classes, o que significaria a volta da política no sentido emancipador.

No caso dos EUA, em particular, a promoção de um mercado de trabalho aquecido pela administração democrata contribuiu para a retomada do conflito trabalhista, com greves e esforços heroicos de sindicalização, como nos casos das lojas Starbucks e dos galpões da Amazon. Todavia, longe de reverterem décadas de desmonte, tais lutas ilustram as brechas estreitas a que nos referimos no início. Em suma, deve-se considerar a tenacidade das forças que, das mais diversas maneiras, tanto no centro quanto na periferia, buscam conter o avanço do autoritarismo e do militarismo.

Até aqui, mesmo quando à frente de Estados, os líderes da extrema direita, salvo as exceções conhecidas, não conseguiram eliminar o jogo democrático. É cedo para dizer se os fatores elencados neste livro serão suficientes, no conjunto, para brecar a marcha regressiva e retirar as diversas sociedades do pântano em que se encontram. A porta da história tende a se fechar, mas permanece entreaberta. Como atravessá-la?

A pergunta remete à política não na forma cinzenta e militarizada que adquire na arena das grandes potências, mas, ao contrário, no sentido da reconexão dos de baixo com a perspectiva transformadora. As diversas interpretações coletadas nestas páginas não têm, claro, a pretensão de apontar soluções. Se trouxerem pistas de onde pode estar a “porta estreita”, já terão oferecido alguma contribuição para interromper o descenso infernal.23

*André Singer é professor titular do Departamento de Ciência Política da USP. Autor, entre outros livros, de O lulismo em crise (Companhia das Letras). [https://amzn.to/48jnmYB]

*Bernardo Ricupero é professor no departamento de ciência política da USP. Autor, entre outros livros, de Romantismo e a ideia de nação no Brasil (WMF Martins Fontes). [https://amzn.to/4gVZizw]

*Cicero Araujo é professor titular do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Autor, entre outros livros, de A Forma da República: da Constituição Mista ao Estado (Martins Fontes). [https://amzn.to/3ZXI2Up]

*Fernando Rugitsky é professor de economia na University of the West of England, em Bristol, e co-diretor do Bristol Research in Economics.

Referência


André Singer, Bernardo Ricupero, Cicero Araujo e Fernando Rugitsky (orgs.). O segundo círculo: centro e periferia em tempos de guerra. Campinas, Editora Unicamp, 2024, 464 págs. [https://amzn.to/3U38Df5]

Bibliografia


BAKER, P. & SANGER, D. “Biden sees coming ‘thaw’, even as he rallies allies against Beijing”. New York Times, 22/5/2023.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo, Brasiliense, 1994 [1940].

HOCHSCHILD, A. R. Strangers in their own land: Anger and mourning on the American Right. New York/London, The New Press, 2016.

KENNEDY, P. The Rise and Fall of the Great Powers. New York, Randon House, 1987.

LÜHRMANN, A. & LINDBERG, S. I. “A third wave of autocratization is here: what is new about it?”. Democratization, vol. 26, n. 7, 2019, pp. 1.095-1.113.

MANNHEIM, K. Conservatism: a contribution to the sociology of knowledge. London, Routledge, 1999.

MILLER, Ch. A guerra dos chips. Rio de Janeiro, Globo Livros, 2023.

PEARSON, M.; RITHMIRE, M. & TSAI, K. “China’s party-state capitalism and International backlash”. International Security, 47, n. 2, Fall 2022.

RAJAN, R. G. “The Gospel of Deglobalization: What’s the Cost of a Fractured World Economy?”. Foreign Affairs, Review Essay, January/February 2023. Disponível aqui..

RILEY, D. & BRENNER, R. “Nine thesis about the American politics”. New Left Review, November/December 2022.

ROUBINI, N. “Relações glaciais”. A Terra é redonda, 1/6/2023. Disponível aqui.

SCHOSSLER, A. “As principais decisões do G7 em Hiroshima”. DW, 22/5/2023.

SINGER, A.; ARAUJO, C. & RUGITSKY, F. (org.). O Brasil no inferno global:

capitalismo e democracia fora dos trilhos. São Paulo, FFLCH-USP, 2022.

TOOZE, A. Crashed: how a decade of financial crisis changed the world. New York, Viking, 2018.

YANG, W. “How Xi Jinpings 10 years in power changed China”. DW, 14/11/2022.

Notas


  1. Ver Singer; Araujo & Rugitsky, 2022.
  2. Schossler, 2023.
  3. Baker & Sanger, 2023.
  4. Roubini, 2023.
  5. Ver, a respeito, Tooze, 2018.
  6. Argentina e Arábia Saudita também tiveram suas candidaturas à incorporação aceitas, mas acabaram recuando posteriormente. No caso argentino, por decisão do governo de Javier Milei.
  7. Ver capítulo 5 deste livro.
  8. Yang, 2022.
  9. Cf. Kennedy, 1987, p. 397 e ss.
  10. Mais sobre a repressão aos protestos nos campi dos EUA, disponível aqui. Sobre o caso alemão, vale mencionar o banimento de Yannis Varoufakis, disponível aqui. A respeito do cancelamento da visita acadêmica de Nancy Fraser à Universidade de Colônia, disponível aqui.
  11. Cf. Lührmann & Lindberg, 2019.
  12. Disponível aqui.
  13. Disponível aqui.
  14. Hochschild, 2016.
  15. Pearson et al., 2022.
  16. Miller, 2023.
  17. Dados atualizados disponíveis em https://www.ochaopt.org/.
  18. No momento em que escrevemos (maio de 2024), estimativas apontam que as mortes de soldados na guerra na Ucrânia já devem ter ultrapassado a marca dos cem mil, e as mortes de civis são estimadas em mais de dez mil ucranianos. Para as mortes de civis, ver o último relatório da ONU a respeito, disponível neste link. Para as estimativas sobre as mortes de soldados, ver The Economist, disponível neste link; bem como a reportagem do The New York Times, disponível neste link.
  19. Riley & Brenner, 2022.
  20. Convém esclarecer que, de nossa parte, o uso das noções de interregno e bipolarização sugeridas por Streeck não guarda qualquer relação com recentes acontecimentos no plano da política partidária alemã. Ver, a respeito, este link.
  21. Riley & Brenner, 2022.
  22. Johann Eishner apud Mannheim, 1999, p. 43.
  23. Benjamin, 1994 [1940], p. 232: “Mas nem por isso o futuro se converteu para os judeus num tempo homogêneo e vazio. Pois nele cada segundo era a porta estreita pela qual podia penetrar o Messias”.

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