Ode a Leão XIII, o Papa dos Papas

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por HECTOR BENOIT*

Leão XIII salvou Deus, e Deus deu no que deu: a igreja universal e todas essas igrejas novas que andam pelo mundo em crise econômica, ecológica, epidemiológica total

Ao Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa!

Vincenzo Gioacchino Raffaele Luigi Pecci Prosperi-Buzzi, nasceu em 1810 e morreu ainda como papa, o Papa Leão XIII, em Roma, no ano de 1903, com 93 anos, tendo sido considerado o papa de mais longa vida da Igreja Católica. Jesuíta, conhecia o latim, desde cedo, e já aos 11 anos escrevia poesias em latim.

Bem, não vou cansar os leitores sobre os detalhes de sua longa vida. Aos interessados, basta consultar o Google.

Vamos logo aos fatos mais relevantes para o Rio de Janeiro e para os destinos do cristianismo, hoje, repleto de novas igrejas ditas “cristãs” e “universais”. Curiosamente, para quem não sabe Grego, “katolou” em grego, literalmente, significa “segundo o todo”, esta palavra foi traduzida para o latim como “universal”, daí o próprio nome da Igreja CATÓLICA Apostólica Romana”, em outras palavras, que quer dizer que ela é ou se coloca como a igreja universal.

Mas, voltemos a Leão XIII. Ele, mesmo antes de ser papa, era preocupado com as instituições de caridade cristãs. Sempre criou fundações que apoiavam e abrigavam os pobres, meninos e meninas, mulheres e homens de baixa renda. Organizava sopas para os que não tinham aquilo que comer. Quando ocorriam inundações, terremotos e outras catástrofes ecológicas “naturais”, que atingiam os mais carentes do planeta Terra, lá aparecia Vincenzo para estender a mão e organizar o apoio aos necessitados.

O seu irmão, claro que com a sua colaboração, ajudou a organizar o concílio ecumênico de 08/12/1869, dirigido pelo Para Pio IX. Esse ficou conhecido como o “Concílio Vaticano I”.

A linha seguida por Vincenzo, futuro Leão XIII, era que se precisava modernizar a Igreja e a vincular aos problemas materiais, aqueles que afligiam os trabalhadores.

Resumindo: assim, foi subindo na hierarquia da Igreja e sendo, cada vez mais, amado pelos fiéis. Em 1878, morreu Pio IX, e Vincenzo, então, cardeal de Pecci, foi eleito na terceira votação o novo Papa, então foi que escolheu o seu nome: Leão XIII.

Eleito Papa, se dedicou a modernizar a Igreja, ainda que, como filósofo e grande teólogo que era, passou a exigir no interior dos padres, o estudo rigoroso de Santo Tomás de Aquino, o grande filósofo e teólogo medieval. Ora, seria o Leão um conservador? Queria voltar à Idade Média? Muito pelo contrário, era muito moderno em suas ações. Foi o primeiro papa “midiático”. Existe ainda um CD (consultável na Internet) em que aparece a voz dele rezando pela Ave Maria. Também foi filmado, foi filmado por uma câmera cinematográfica! Algo que tinha acabado de ser inventado! Leão XIII foi filmado e abençoou a câmera no próprio momento em que era filmado.

Fazendo uma pequena digressão. Escrevendo essas linhas, me lembrei daquilo, que um dia o Zé Celso Martinez, o grande teatrólogo do Oficina, comentou: “Quem derrubou a URSS, foi um ator, foi o Papa João Paulo II”.

Sim, lembram do João Paulo II, quando apoiou o Solidariedade (não este partideco do Paulinho da Força), mas, aquele sindicato polonês que muita gente na “esquerda brasileira” achava que era revolucionário. Alguns viam no Solidariedade a esperada “Revolução Política” da URSS. Deixemos essas coisas deprimentes para trás.

Voltemos a Leão XIII, ele foi muito mais hábil do que João Paulo II. Era um grande diplomata e elevou a Igreja Católica a uma condição de liderança mundial do cristianismo. Dialogava com todos os setores do cristianismo. Aproximou-se, com particular atenção, da Igreja Ortodoxa da Rússia (será que pressentia o perigo da juventude russa que já não acreditava mais em Deus?). Talvez. Teria lido Nietzsche que anunciava na segunda metade do século XIX: Deus está morto?!

Teria lido Marx? Quase com certeza! Percebia bem, Leão XIII, que um fantasma rondava o mundo, o fantasma mais perigoso… o ateísmo e outras coisas mais…

Negociou com a Igreja Ortodoxa Russa, com os Luteranos, com os Calvinistas, com os Presbiterianos e mostrou a todos eles que era necessário reconhecer que o capitalismo era meio perigoso, sua “ética” era suicida, era necessário não fazer tantas “injustiças”. Era preciso corrigir os excessos do capitalismo e fazer com que os trabalhadores voltassem a acreditar em Deus!

Bem, depois de Nietzsche e Marx, como ainda retornar às crenças da Idade Média, e da filosofia clássica do século XVII? Cogito ergo sum, sim, se Deus existe! E no mesmo movimento, caiam por água abaixo, o chamado “Primeiro Motor Imóvel” de Aristóteles (livro lambda da Metafísica). Mas, então, que poderia sobrar de qualquer metafísica e do próprio Santo Tomás de Aquino que ele insistia em recuperar como teólogo?

Sim, ele fez um malabarismo diplomático e conseguiu salvar e trazer de volta Deus.

Mas, Deus deu no que deu: a igreja universal e todas essas igrejas novas que andam pelo mundo em crise econômica, ecológica, epidemiológica total.

Acho que já escrevi demais!

Só pra terminar, como última mensagem aos cariocas e às lindas cariocas (desculpem-me pelo meu escorregão meio machista), lembro que no Brasão de Leão XIII, no seu escudo eclesiástico, entre outras simbologias, estão duas FLORES-DE-LIS que relembram a origem remota da sua família, aquela de Leão XIII, que remetem à prata e ao ouro, metais preciosos.

*Hector Benoit é professor de filosofia na Unicamp. Autor, entre outros livros, de Sócrates: o nascimento da razão negativa (Moderna).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
José Luís Fiori Michael Roberts Chico Alencar Michael Löwy Luiz Bernardo Pericás Marcos Silva Ricardo Musse Gilberto Maringoni Slavoj Žižek Chico Whitaker José Machado Moita Neto Paulo Capel Narvai Henri Acselrad Celso Frederico Afrânio Catani Anselm Jappe Airton Paschoa Érico Andrade Alexandre de Lima Castro Tranjan Mário Maestri Eleutério F. S. Prado Armando Boito Antonio Martins Boaventura de Sousa Santos Mariarosaria Fabris Bento Prado Jr. Ronald Rocha Ronald León Núñez Renato Dagnino Alexandre de Oliveira Torres Carrasco João Paulo Ayub Fonseca José Micaelson Lacerda Morais Alexandre Aragão de Albuquerque João Carlos Salles Otaviano Helene Rubens Pinto Lyra Rafael R. Ioris Milton Pinheiro José Dirceu Vinício Carrilho Martinez Eleonora Albano Luiz Renato Martins Carlos Tautz Samuel Kilsztajn Atilio A. Boron Sergio Amadeu da Silveira Vladimir Safatle Vanderlei Tenório Tales Ab'Sáber Valerio Arcary Caio Bugiato Bruno Fabricio Alcebino da Silva Marilena Chauí Luciano Nascimento Gabriel Cohn Everaldo de Oliveira Andrade Celso Favaretto Salem Nasser Thomas Piketty Dennis Oliveira Yuri Martins-Fontes Carla Teixeira Jean Pierre Chauvin Liszt Vieira João Lanari Bo Manuel Domingos Neto José Raimundo Trindade Jorge Branco Marcelo Módolo Gerson Almeida Lucas Fiaschetti Estevez Andrew Korybko Marcelo Guimarães Lima Sandra Bitencourt Valerio Arcary Henry Burnett Paulo Sérgio Pinheiro Tarso Genro Leonardo Avritzer Andrés del Río Daniel Costa André Márcio Neves Soares Gilberto Lopes Maria Rita Kehl Lincoln Secco Eugênio Trivinho Eliziário Andrade Walnice Nogueira Galvão Francisco Pereira de Farias Elias Jabbour Osvaldo Coggiola Eugênio Bucci Marcos Aurélio da Silva João Carlos Loebens Bruno Machado Paulo Nogueira Batista Jr José Geraldo Couto Flávio R. Kothe Luiz Werneck Vianna José Costa Júnior Jorge Luiz Souto Maior Plínio de Arruda Sampaio Jr. Flávio Aguiar Alexandre de Freitas Barbosa Kátia Gerab Baggio Michel Goulart da Silva Alysson Leandro Mascaro Manchetômetro Leda Maria Paulani Daniel Brazil Bernardo Ricupero Ladislau Dowbor Ricardo Antunes Juarez Guimarães Paulo Fernandes Silveira Dênis de Moraes Annateresa Fabris Claudio Katz Jean Marc Von Der Weid Luiz Eduardo Soares Marcus Ianoni Leonardo Sacramento João Sette Whitaker Ferreira Fernão Pessoa Ramos Berenice Bento Rodrigo de Faria Ari Marcelo Solon Benicio Viero Schmidt João Feres Júnior Ronaldo Tadeu de Souza Denilson Cordeiro Fábio Konder Comparato Marilia Pacheco Fiorillo Ricardo Fabbrini Matheus Silveira de Souza Leonardo Boff Daniel Afonso da Silva Heraldo Campos Luiz Carlos Bresser-Pereira Priscila Figueiredo Francisco de Oliveira Barros Júnior Marjorie C. Marona Francisco Fernandes Ladeira Luis Felipe Miguel Antonino Infranca João Adolfo Hansen Remy José Fontana Luiz Roberto Alves Tadeu Valadares Luís Fernando Vitagliano Paulo Martins Antônio Sales Rios Neto Fernando Nogueira da Costa Luiz Marques Julian Rodrigues André Singer Igor Felippe Santos Ricardo Abramovay Eduardo Borges Lorenzo Vitral

NOVAS PUBLICAÇÕES