Os ideólogos do tradicionalismo

Imagem: Frank Cone
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Por EDUARDO ELY MENDES RIBEIRO*

A extrema direita e a “crise do mundo moderno”

1.

Recentemente, o crescimento dos movimentos de extrema direita fez com que eles se tornassem possibilidades reais de governo em vários países do ocidente, algo impensável até então. No Brasil, isto fica claro quando observamos que um número cada vez maior de pessoas se assume “conservador”, ou “de direita”. Como entender este fenômeno?

Nas duas últimas eleições presidenciais brasileiras, mais de 50 milhões de pessoas votaram na extrema direita. Ora, não é razoável supor que todas elas assumam posições radicais, racistas, misóginas, homofóbicas, de apologia à violência e desprezo pela democracia. Há entre eles muitos negros, homossexuais, ex-eleitores do Partido dos Trabalhadores. Então, o que motivou seus votos? O que fez com que passassem a acreditar que o discurso de ódio bolsonarista seria a melhor opção para responder às suas insatisfações?

Obviamente, não há uma única resposta para estas questões, mas tudo indica que esta realidade se constituiu a partir de um processo de polarização, que tende a simplificar os entendimentos. Algo assim: você é contra ou a favor da forma como está o mundo em que vivemos, sendo que no “contra” cabe muita coisa: a ameaça comunista, a “ideologia de gênero”, o ateísmo, a intervenção excessiva do Estado, a corrupção governamental, etc. Não é difícil reunir indignações.

A extrema direita se apresenta e se define por suas posições reacionárias, geralmente interpretadas como uma rejeição das transformações sociais e um esforço para a manutenção de privilégios. Mas, é necessário dar um passo além, ou melhor, um passo para trás, e tentar entender como o atual fenômeno de seu rápido crescimento tem fundamentos teóricos muito antigos, que não se limitam a preconceitos morais e a interesses econômicos.

Retomar o percurso destas ideias pode ser importante para que possamos compreender suas motivações e seus equívocos, e talvez contribuir para a construção de estratégias capazes de denunciar seus desdobramentos mais perversos. Por esta via, é necessário recusar as polarizações maniqueístas, que opõe os progressistas aos reacionários, e buscar nos fundamentos de nossa modernidade os fatores responsáveis por muitos de nossos conflitos e mal-estares.

2.

A crise do mundo moderno é o título de um livro escrito por René Guénon, em 1927. Alguns anos depois, em 1934, Julius Évora lançou uma obra chamada de Revolta contra o mundo moderno. Era o início da escola espiritual e filosófica tradicionalista, formada por um conjunto de pensadores alternativos, ecléticos, e com relativamente poucos seguidores, que nunca obteve grande reconhecimento nas universidades, e também passa quase despercebida nos ensinos atuais de filosofia. O ponto central que eles defendem é a recusa das premissas fundadoras da modernidade, que seriam o racionalismo, o individualismo, o materialismo e o laicismo.[i]

Para os seguidores desta filosofia, a tradição é fundada em características opostas a estas: a identidade coletiva, a dimensão espiritual/afetiva e a religião, sendo que todos estes elementos seriam produtores de coesão social e identidade pessoal, algo que teria se perdido na modernidade.

Nesta direção, consideram que o racionalismo materialista, próprio da modernidade, produziu uma substituição do que era simbólico e transcendente por um mundo marcado pela literalidade, ou seja, um mundo desencantado, ou encantado somente pelas coisas e pelos corpos.

O que importa notar é que, apesar de serem pouco conhecidos pela maior parte da população, importantes “influencers” de grandes líderes mundiais, como Steve Bannon, de Donald Trump; Alexandr Dugin, de Vladimir Putin; e Olavo de Carvalho, da família Bolsonaro, beberam em suas fontes.

Mas, que importância tem isso? O que importa o que estes personagens sombrios pensam? Steve Bannon não é aquele da Cambridge Analytica, que manipulava metadados para influenciar eleitores em favor dos candidatos de direita? Alexandr Dugin não é aquele ultranacionalista excêntrico? Olavo de Carvalho não é o pseudo filósofo, astrólogo, que preenche com palavrões todas suas falas? Talvez eles sejam mais do que aparentam.

Apesar das inúmeras diferenças entre si, se quisermos entender melhor o processo de crescimento da extrema direita atualmente, é importante notar o que há de convergente em seus pensamentos, e reconhecer que isto é muito mais importante do que suas idiossincrasias.

É claro que a maior parte dos apoiadores dos movimentos de extrema direita não leu Renée Guénon, Julius Évola, Alexandr Gudin ou Olavo de Carvalho; como a maior parte dos democratas liberais não leu Adam Smith ou John Locke. Mas, de alguma forma, seus pensamentos constituem as narrativas a partir das quais são construídos os entendimentos, projetos e ações que transformam nossas sociedades.

Na verdade, não se trata de um processo linear, como se pensamentos criassem realidades, mas muito mais um processo dialético entre entendimentos e experiência social, onde as contradições vão produzindo os movimentos. Parece ser necessário um quadro de entendimento, uma grande narrativa, para reunir e dar consistência a uma variedade de sentimentos e percepções que buscam um meio para se manifestar.

Neste processo, frequentemente, ocorre um conflito entre os “gurus ideológicos”, muitas vezes autênticos em suas crenças, e os políticos pragmáticos e oportunistas, que se apegam mais ao poder do que às ideias. Estes tendem a recorrer a estas reflexões filosóficas, extraindo delas ideias e valores que lhes são úteis para acionar insatisfações e anseios de parte da população. O próximo passo é produzir narrativas, sintonizadas com certo senso comum, que contesta o “atual sistema”, e convocar o povo para um movimento de retorno às tradições.

3.

Mesmo considerando estes “desvios” em relação ao pensamento original tradicionalista, parece importante considerar que os atuais movimentos de extrema direita só se tornaram possíveis a partir da crítica direcionada a algumas consequências do liberalismo moderno, especialmente a radicalização do individualismo, a desconsideração da história cultural de cada grupo social, a dificuldade de produção de sentimentos de pertença coletiva e de proposição de projetos voltados ao bem comum.

Atualmente, excetuando-se os movimentos ecológicos, o que há de mais potente em termos de ações coletivas (fora do campo da extrema direita) são os movimentos identitários que, por mais importantes que sejam, ainda se limitam à defesa de grupos sociais específicos, e não à proposição de um projeto de sociedade.

Talvez esta seja a chave para o entendimento das razões pelas quais a extrema direita tem crescido tanto, enquanto a esquerda parece paralisada: a existência, ou não, de um projeto de sociedade. Como o futuro parece incerto para todos, o que gera insegurança, especialmente em uma sociedade com acentuado processo de transformação (globalização, acelerado desenvolvimento de tecnologias comunicacionais, etc.), a Extrema Direita mira no passado (make America great again, TFP – tradição, família e propriedade), enquanto a esquerda não sabe o que propor para o futuro.

Por outro lado, os tradicionalistas originários não se reconheciam conservadores, pois recusavam a noção moderna de tempo linear e sua crença no progresso. Para eles, seguindo tradições filosóficas orientais, o tempo é cíclico, o que os fazia acreditar que, em algum momento, voltaríamos a ter sociedades holísticas, hierarquizadas e com referência a algum princípio/entidade transcendente.

Mas, a apropriação contemporânea do tradicionalismo, em seu projeto de cooptação das massas, geralmente não faz esta distinção, adotando a estratégia de valorizar o passado, e lamentar a perda das referências que organizavam suas vidas, como a religião, a família e a pátria, ao menos da forma como elas eram concebidas e experimentadas antigamente.

Não é difícil entender que transformações sociais possam gerar reações e contrariedades. Imaginemos um cenário distópico, mas não de todo improvável: a Inteligência Artificial passou a dirigir nossas vidas. Cada escolha que fazemos – pessoas com quem nos relacionamos, direcionamentos profissionais, atividades de lazer, coisas que adquirimos, a visão de mundo que elaboramos – passou a ser orientada por algoritmos, afinal eles sabem mais sobre nós do que nós mesmos.

Além disso, nesta “nova sociedade”, relacionamentos exclusivos são condenados, pois representam uma forma inaceitável de cerceamento da liberdade; a educação de nossos filhos é conduzida por atividades e métodos com eficácia comprovada para a formação de jovens funcionais e bem adaptados a vida social; a produção artística é policiada, porque toda contestação desta nova forma de vivenciar as relações sociais é considerada “politicamente incorreta”, as principais mídias só tocam funk e sertanejo.

Frente a esta situação, seria razoável supor que muitos de nós assumíssemos posições saudosistas, no sentido de valorizar certos aspectos das antigas formas de viver. Afinal, todos precisamos de certa estabilidade em nossas visões de mundo e estilos de vida. E, mesmo quando promovemos eventuais mudanças em nossas vidas, gostamos de pensar que elas foram produto de nossas escolhas, e não impostas desde fora.

Mas, a sociedade moderno-contemporânea não espera. No tempo de duração de uma geração, têm ocorrido mudanças no âmbito, tanto das relações de trabalho, quanto das que envolvem família, afetos e sexualidade, mais radicais do que havia acontecido no último século. E o ritmo destas transformações é cada vez mais acelerado, atropelando as singularidades e o ritmo de todas as culturas.

Por outro lado, se é difícil para todos se ajustar às mudanças sociais, rever seus conceitos e lidar com saudosismos, o que se mostra essencial para a preservação de nossos laços sociais é a convivência de diferentes idéias, valores e formas de viver, ou seja, a adoção de posições não dogmáticas, e não autoritárias.

4.

Dificultando a adoção desta posição tolerante, percebemos que ainda se mantém hegemônica a perspectiva evolucionista, que tende a acreditar na linearidade do progresso, provocando uma equivocada sobreposição do avanço científico tecnológico à diversidade cultural. É como se a racionalidade liberal-democrática-capitalista constituísse o ápice da civilização, e que, sendo assim, os países mais desenvolvidos teriam o direito, e o dever moral, de exportar este modelo para toda a humanidade. Algo parecido com o afã evangelizador das potências coloniais.

Neste sentido, o cristianismo teria sido um precursor de universalismos na modernidade, na medida em que proclamava uma verdade única. Antes disso, era comum que os diversos povos que mantinham contato entre si assumissem uma posição de tolerância e respeito em relação às crenças uns dos outros.

Independentemente dos interesses econômicos de exploração, inerentes a esta “empreitada civilizatória”, trata-se também de uma recusa do relativismo cultural, ou seja, de aceitar que cada cultura, ou grupo social, tem uma forma própria de organizar suas relações e de lidar com suas tensões internas.

Por outro lado, sob a perspectiva de uma esquerda marxista, as posições conservadoras são associadas exclusivamente aos segmentos sociais detentores de privilégios, o que faz sentido, pois estes são os que mais teriam a perder com eventuais mudanças sociais. Entretanto, retorna o desafio de entender melhor as razões pelas quais, em sociedades democráticas, tem ocorrido um apoio massivo às plataformas da direita conservadora. Ora, não é crível que em países como Brasil e Argentina, que recentemente elegeram presidentes aliados à extrema direita, haja uma maioria de privilegiados capaz de eleger presidentes da república com estas plataformas, o que nos leva a crer que não são apenas privilégios, especialmente econômicos, que esta população pretende conservar.

Com referência aos movimentos políticos recentes no Brasil e na Argentina, chama a atenção a aliança que se construiu entre as forças conservadoras de direita, especialmente religiosas, e as propostas ultra liberais, afinal seus pressupostos parecem ser antagônicos. Tudo indica que, mais uma vez, os interesses pragmáticos se sobrepuseram aos posicionamentos ideológicos (e isto não é exclusividade da direita, evidentemente).

Os ultraliberais desconsideraram as plataformas moralistas dos conservadores, privilegiando a defesa do liberalismo econômico e criticando a “corrupção dos governos de esquerda”; enquanto os segmentos conservadores, muitos deles participantes das camadas mais pobres da população, desconsideraram, ou ignoraram, que as propostas ultraliberais tenderiam a produzir ainda mais desigualdade econômica. Eles querem mudanças que barrem as mudanças, ou seja, aderir a uma frente que combata certas transformações sociais que ameaçam suas visões de mundo.

Para fundamentar esta aliança improvável, foi necessário encontrar um inimigo comum, o comunismo, que deveria ser combatido. Pouco importa que alguém argumente que não existe nenhum projeto de revolução comunista no mundo contemporâneo, ou que os projetos comunistas nunca tenham dado muita importância para as reivindicações identitárias, que tanto incomodam os conservadores.

5.

Voltando aos filósofos tradicionalistas, não é difícil entender as razões pelas quais a perspectiva tradicionalista/conservadora pode ser sedutora no mundo de hoje. Analisemos algumas de suas teses.

Em primeiro lugar, acompanhemos o pensamento de Dugin quando ele afirma que o liberalismo só pode gerar individualismo, na medida em que propõe que nos libertemos de tudo que nos liga uns aos outros, como nossa classe social, o governo e nossas condições de nascimento. Um indivíduo assim liberto não poderia participar de qualquer identidade coletiva, afinal ele fala e age por si.

E não estará mesmo esta radicalização do individualismo na origem de muitos de nossos mal-estares? Não estará ela relacionada à produção de sentimentos de desamparo, angústia e desorientação? O ethos individualista entra em conflito com o que define nossa humanidade, na medida em que nos constituímos, nos sustentamos e nos movemos a partir de nossas inserções sociais. Atualmente estamos adoecendo de individualismo, pois, como dizia Lévi-Strauss, “a integridade física não resiste à dissolução da personalidade social”. (LÉVI-STRAUSS, 1958, p.194)

Frente a esta situação, não é difícil entender as razões pelas quais os movimentos de extrema direita levantem bandeiras enaltecendo Deus, Pátria e Família, ou seja, este conjunto de relações que tradicionalmente produzem alguma forma de identidade coletiva e, portanto, de coesão e inserção social.

Outra crítica dos tradicionalistas à sociedade moderna é dirigida à ideologia capitalista. “Ideologia”, porque se tornou mais do que um modelo econômico, na medida em que consolidou um sistema de ideias e valores em que o dinheiro e as mercadorias se tornaram os principais objetos de desejo de nossa sociedade.

Os ideólogos do tradicionalismo apresentam um argumento forte para fundamentar sua tese de que a modernidade se tornou eminentemente materialista, ao apontar que o principal movimento de oposição ao capitalismo se autodenomina de materialismo histórico, ou seja, permanece privilegiando as relações materiais de produção e consumo, em detrimento das dimensões espirituais e afetivas da existência.

Neste sentido, capitalismo e comunismo se equivaleriam, e muitos de nós, em algum momento, acabaríamos desconfiando que estamos sendo enganados, e que as “melhores coisas da vida não são coisas”.[ii]

O papel assumido pela ciência na modernidade também é apontado pelos tradicionalistas como equívoco produtor de frustrações e sofrimentos. Eles não desconhecem os benefícios advindos do progresso científico/tecnológico. Quanto a isto, não há discordâncias: a ciência vem cumprindo com o que dela se espera, desenvolvendo tecnologias capazes de acabar com a fome, prolongar a vida humana e criar condições para que todos os habitantes do planeta possam ter uma vida minimamente confortável.

O problema começa quando a expectativa em relação à racionalidade científica extrapola suas possibilidades de realização. A ciência é objetiva. Ela não vai nos esclarecer se Deus existe, ou não; nem se existe algo além da morte; nem quais são os motores de nossas paixões; nem qual a melhor forma de viver em sociedade, ou como acabar com as guerras. Ou seja, a ciência pouco tem a dizer acerca das grandes questões da existência.

É interessante que esta mesma consideração foi feita por René Descartes, considerado como um dos fundadores da ciência moderna. Na tentativa de conciliar as verdades da ciência com as da religião, e de explicar a natureza dos erros humanos, ele propôs uma das primeiras teorias psicológicas da modernidade, ao afirmar que Deus nos dotou de apenas duas faculdades, o entendimento (inteligência) e a vontade (desejo), sendo que a primeira é limitada (só Deus seria onisciente), enquanto a segunda seria potencialmente infinita. Assim, toda vez que os humanos assumem a pretensão de utilizar de sua racionalidade para dar conta de questões que extrapolam o seu domínio, eles incorrem em erro.

Os estrategistas da extrema direita se deram conta de que, mais do que a racionalidade, são os afetos que movem e engajam as pessoas, e tem se mostrado muito eficazes em sua manipulação. Eles se conectam com os ressentimentos, frustrações e anseios da população, criando narrativas onde legitimam estes afetos, identificam os responsáveis pelos mal-estares e se apresentam como “salvadores”.    

Eles partem das críticas tradicionalistas à modernidade, e lá encontram algumas fragilidades inerentes às democracias capitalistas liberais. Estas fragilidades realmente existem, e são geradoras de conflitos e injustiças. Por outro lado, não podemos esquecer que estes filósofos, em seu apego às tradições, muitas vezes defendiam pensamentos racistas e misógenos, a partir de determinadas concepções de ordem e hierarquia.

Assim, da mesma forma que a crítica de Marx ao capitalismo tem se mantido pertinente através dos tempos, enquanto suas propostas e profecias nunca se realizaram da forma por ele prevista, as críticas dos filósofos tradicionalistas à modernidade são capazes de revelar alguns dos fatores produtores de mal-estar na sociedade atual, mas, também têm sido apropriadas de forma perversa pela extrema direita, produzindo muito mais conflitos e polarizações do que harmonia social.

6.

Movimentos de massa recentes na sociedade ocidental, como os Indignados, na Espanha; a Primavera Árabe, no norte da África e no Oriente Médio; o Occupy Wall Street, em Nova York; e os movimentos de junho de 2013, no Brasil, demonstram um alto grau de insatisfação popular em relação às formas como se organizam as relações nas sociedades contemporâneas. Estas manifestações, organizadas principalmente pela internet, e sem a participação de partidos políticos, revelam uma contestação das modalidades de ação política tradicionais, e elencam uma diversidade de insatisfações.

Mas, por outro lado, dada a diversidade das reivindicações, muitas delas contraditórias entre si, e a pluralidade de posições e prioridades dos manifestantes, nada próximo de um projeto de reforma social foi esboçado. E, pior do que isso, em alguns casos as insatisfações foram apropriadas pela extrema direita, que conseguiu construir um discurso, e propostas, mais claros e objetivos.

É verdade que estes projetos da direita, que resultaram, por exemplo, nas eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro, tampouco se sustentaram, o que focou evidenciado nas suas não-reeleições.

Está claro para todos nós que o desafio que teremos que enfrentar enquanto sociedade será o de rever alguns dos pressupostos fundantes da modernidade, e encontrar formas de convivência entre diferentes visões de mundo e formas de viver.

Não se trata de algo novo, pelo contrário, o projeto comunista já se afirmava como uma alternativa de organização social mais justa e equitativa do que o modelo capitalista; da mesma forma, os movimentos contraculturais das décadas de 1960/70 igualmente denunciavam o caráter alienante dos valores e ideais que orientavam a sociedade da época; e atualmente as diversas variantes do movimento ecológico criticam os efeitos nocivos de nossa organização social hegemônica.

Todos estes movimentos de reação deixaram, e continuam deixando, marcas importantes em nosso imaginário social, contribuindo para a manutenção de utopias, que não precisam ser realizadas, mas são essenciais para nos apontar a direção de um caminho que vale a pena seguir.

Por mais improvável que possa parecer, resgatar o que há de comum nas motivações do pensamento tradicionalista, do comunismo, da contracultura e do movimento ecológico pode contribuir para a diluição das polarizações, e para uma melhor compreensão das origens de nossos sofrimentos e conflitos.

*Eduardo Ely Mendes Ribeiro é psicanalista e doutor em antropologia social pela UFRGS.

Referências


Evola, Julius. Revolta contra o Mundo Moderno. São Paulo, SP: Griffo Editora, 2023.

Guénon, René. A Crise do Mundo Moderno. Lisboa: Editorial Veja, 1977.

Lévi-Strauss, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1958.

Teitelbaum, Benjamim R.. Guerra pela Eternidade: o retorno do Tradicionalismo e a ascensão da direita populista. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2020.

Notas


[i] Para a história do Tradicionalismo, e sua influência junto aos “gurus” da extrema direita contemporânea, ver Teitelbaum, 2020.

[ii] Dito popular, de autoria desconhecida.


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