Os Reis Magos e as crianças palestinas

Imagem: Hurrah suhail
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ADALBERTO SANTANA*

Os novos Herodes devastam as comunidades de Gaza e sua premissa de contrainsurgente é expulsar o povo da Faixa de Gaza e da Cisjordânia da Grande Palestina

No imaginário popular latino-americano, os Reis Magos são figuras emblemáticas dos sonhos das crianças, sobretudo nos setores populares, pois trazem a alegria dos brinquedos na madrugada de 6 de janeiro. Em alguns países latino-americanos, como Porto Rico, esta data é a festa principal do ano. Em outros, os Reis Magos buscam no mercado popular os presentes para dar imensa alegria aos filhos com os brinquedos que anseiam ou com os recursos que tenham para dar esse gosto aos pequenos.

Os Reis Magos também são, nesse imaginário popular e religioso, as figuras emblemáticas daqueles personagens do Oriente Médio que viajaram em seus camelos procurando o menino Jesus até um portal em Belém. Em outras palavras, no início de nossa era, lá na grande Palestina, onde tinha nascido o filho de dois humildes peregrinos, que eram perseguidos por ordem do rei da Judeia, Herodes. Personagem semelhante ao atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que tinha ordenado a execução das crianças com menos de dois anos para fazer desaparecer o enviado de Deus. Hoje Benjamin Netanyahu faz isso com seus bombardeios sobre a Faixa de Gaza a mais de 23 mil palestinos, 70% dos quais são crianças e mulheres.

Segundo o Evangelho de Mateus, estes Reis Magos do Oriente deslocaram-se até Belém para prestar homenagem ao filho de Maria e do humilde carpinteiro José, para oferecer-lhe presentes de riqueza simbólica: ouro, incenso e mirra.

Esta tradição simbólica está enraizada no sentimento dos povos latino-americanos, especialmente dos mais humildes, de oferecer às crianças da nossa América presentes que humildemente lhes trazem todos os dias 6 de janeiro: Belchior, Gaspar e Baltazar. Personagens que, neste imaginário popular, viajam em seus camelos vindos de diferentes reinos do Oriente Médio e que, pela cor de sua tez, simbolizam três grupos étnico-culturais. Baltasar representa as comunidades africanas, Gaspar as asiáticas e Belchior as europeias. São personagens dessa diversidade cultural que se enraizou no imaginário coletivo dos setores populares hispano-americanos.

As crianças palestinas sofrem atualmente as piores atrocidades do sionismo israelense. Os novos Herodes devastam as comunidades de Gaza e sua premissa de contrainsurgente é expulsar o povo da Faixa de Gaza e da Cisjordânia da Grande Palestina. Em sua estratégia, procuram converter crianças, mulheres e homens palestinos nos novos peregrinos do século XXI. Inúmeros testemunhos atestam as atrocidades do sionismo israelense:

“O exército israelense deteve centenas de palestinos em todo o norte da Faixa de Gaza, separando famílias e obrigando os homens a despir-se até ficarem de roupa íntima, antes de colocá-los em caminhões e transportá-los para um campo de detenção localizado na praia, onde passaram horas – e, em alguns casos, dias – expostos à fome e ao frio, segundo informaram defensores dos direitos humanos, familiares e alguns dos próprios prisioneiros libertados. Os palestinos detidos na cidade devastada de Beit Lahia, no campo de refugiados urbano de Jabaliya e nas vizinhanças da cidade de Gaza, disseram que foram amarrados, vendados e amontoados nas traseiras de caminhões. Alguns disseram que foram transportados praticamente nus e com pouca água para o campo de detenção, situado num lugar desconhecido” (El Financiero, 17/Dez./23).

A melhor esperança é que, na crua realidade de nosso tempo, os Reis Magos cheguem neste 6 de janeiro de 2024 e tragam ao povo palestino a paz desejada diante das atrocidades geradas pela guerra do sionismo israelense. Que os palestinos não se tornem os novos peregrinos que, como Maria e José, terão que fugir para o Egito para escapar dos novos Herodes que hoje encarna Benjamin Netanyahu. Sem dúvida, esse seria o melhor presente dos Reis Magos que clamam, em diversas partes do mundo, os povos que se opõem à guerra de extermínio e ao genocídio que está sendo semeado em Gaza com o sangue do povo palestino.

*Adalberto Santana é professor do curso de Relações Internacionais na Universidad Autónoma de México (UNAM). Autor, entre outros livros, de El narcotráfico em América Latina (Siglo XXI).

Tradução: Fernando Lima das Neves.


Veja todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Visitando Cubahavana cuba 07/12/2024 Por JOSÉ ALBERTO ROZA: Como transformar a ilha comunista em um lugar turístico, em um mundo capitalista onde o desejo de consumir está imenso, mas nela a escassez se presentifica?
  • O ofício da poesiacultura seis graus de separação 07/12/2024 Por SERAPHIM PIETROFORTE: Porquanto a literatura se faz mediante a língua, revela-se indispensável conhecer gramática, linguística, semiótica, enfim, a metalinguagem
  • O Irã pode fabricar armas nuclearesatômica 06/12/2024 Por SCOTT RITTER: Palestra na 71ª reunião semanal da Coalizão Internacional para a Paz
  • O pobre de direitapexels-photospublic-33041 05/12/2024 Por EVERALDO FERNANDEZ: Comentário sobre o livro recém lançado de Jessé Souza.
  • O mito do desenvolvimento econômico – 50 anos depoisledapaulani 03/12/2024 Por LEDA PAULANI: Introdução à nova edição do livro “O mito do desenvolvimento econômico”, de Celso Furtado
  • Abner Landimspala 03/12/2024 Por RUBENS RUSSOMANNO RICCIARDI: Desagravo a um spalla digno, injustamente demitido da Orquestra Filarmônica de Goiás
  • A retórica da intransigênciaescada luz e sombra 2 08/12/2024 Por CARLOS VAINER: A escala 6x1 desnuda o estado democrático de direita (ou deveríamos dizer da direita?), tolerante com as ilegalidades contra o trabalhador, intolerante frente a qualquer tentativa de submeter os capitalistas a regras e normas
  • A dialética revolucionáriaNildo Viana 07/12/2024 Por NILDO VIANA: Trechos, selecionado pelo autor, do primeiro capítulo do livro recém-lançado
  • Anos de chumbosalete-almeida-cara 08/12/2024 Por SALETE DE ALMEIDA CARA: Considerações sobre o livro de contos de Chico Buarque
  • Ainda estou aqui – humanismo eficiente e despolitizadocultura digital arte 04/12/2024 Por RODRIGO DE ABREU PINTO: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles.

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES