Produtividade em serviços urbanos

Imagem: Jan van der Wolf
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Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA*

Embora a produtividade em muitos serviços possa ser comparativamente mais baixa diante a da indústria, isso não é uma regra fixa

De 1995 a 2023, as contribuições dos setores de atividade ao valor adicionado (acrescenta-se cerca de 14% para resultar no PIB), na economia brasileira, não se alteraram muito, oscilando em torno das seguintes médias: agropecuária 5,7%; total da indústria 25,3% e serviços 69%. A indústria extrativa oscilou em torno da média de 2,7%; a contribuição da indústria de transformação foi 14,5% com tendência de queda e, depois de 2022, recuperação; eletricidade e gás, água, esgoto etc. 2,8%; indústria de construção 5,4%.

A participação do consumo das famílias no PIB, no período 1995-2023, foi em média 62,7%. A participação média dos serviços no PIB (diferente da no valor adicionado), ficou em 59,2%, bastante próxima por atender à demanda das famílias por consumo de serviços, principalmente, urbanos.

Segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, “a população urbana passou de 18,8 milhões em 1950 para 177,5 milhões em 2022, um aumento de 9,5 vezes no período. Em direção contrária, a população rural era de 33,2 milhões de habitantes em 1950, caiu para 25,6 milhões em 2022, uma redução de 20% no período. Em termos percentuais, a população rural diminuiu de 63,8% em 1950 para 12,6% em 2022 e a população urbana cresceu de 36,2% em 1950 para 87,4% em 2022”.

Subentende-se a economia brasileira produzir, predominantemente, serviços urbanos. Não é tão diferente da economia norte-americana, de acordo com Martim Wolf, editor e principal comentarista econômico do Financial Times. “Em 1810, 81% da força de trabalho dos EUA estava na agricultura, 3% na indústria e 16% nos serviços. Em 1950, a participação da agricultura caiu para 12%, a da indústria atingiu seu pico em 24%, e a dos serviços chegou a 64%. Em 2020, a participação desses três setores no emprego estava em menos de 2%, em 8% e em 91%, respectivamente. A evolução dessas participações descreve o padrão de emprego do crescimento econômico moderno” (apud Valor, 13/11/24).

Pela PNADC-IBGE, pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas no 3º. trimestre de 2024, somaram 103 milhões. Com mais 7 milhões desocupadas alcança as 110 milhões na força de trabalho no Brasil, a quinta maior do mundo. Fica abaixo apenas da China (782 milhões), Índia (554 milhões), EUA (168 milhões) e Indonésia (138 milhões). A brasileira supera, na ordem, a do Paquistão (79 milhões), Bangladesh igual da Rússia (74 milhões), Nigéria (73 milhões), Japão (69 milhões).

No Brasil, pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas no grupamento de atividade agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, eram 8 milhões, na indústria geral 13,3 milhões, na construção 7,5 milhões. Por dedução dessas 28,8 milhões das pessoas ocupadas, em serviços eram 74,2 milhões (72%).

Considerando 39 milhões de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada (38%), 12,8 milhões (12%) de empregados no setor público (inclusive servidor estatutário e militar) e 4,3 milhões (4%) de empregadores, somavam 56,1 milhões (54%) pessoas com ocupações formais. Dedutivamente, eram quase 47 milhões informais, equivalente a 46% do total de ocupadas.

Os serviços são um setor de atividade econômica caracterizado pela produção de bens intangíveis ou atividades de prestação de assistência, suporte ou facilitação, em vez da criação de bens materiais. Incluem atividades como educação, saúde, comércio, transporte, turismo, tecnologia da informação, serviços financeiros etc.

Entre suas características principais, destacam-se a intangibilidade, porque não podem ser estocados ou tocados, diferentemente dos bens materiais. A inseparabilidade se dá porque a produção e o consumo ocorrem simultaneamente, por exemplo, em uma consulta médica. Há heterogeneidade, devido a qualidade variar dependendo do provedor ou das circunstâncias. Por fim, têm perecibilidade porque não podem ser armazenados para uso posterior.

Sendo assim, a produtividade no setor de serviços, por definição, não é necessariamente baixa. Porém, sua medição e incremento enfrentam problemas próprios e dão essa impressão “de um (produtor) para um (consumidor)”.

A produtividade é geralmente medida como o output por unidade de input como horas trabalhadas. No caso dos serviços, o output muitas vezes é difícil de quantificar, especialmente em serviços não diretamente ligados à produção tangível como saúde ou educação. Como medir a produtividade de um professor? Apenas pelo número de alunos atendidos ou pela qualidade da aprendizagem?

Serviços dependentes de empatia em interações humanas diretas (como saúde, educação e serviços sociais) oferecem menos oportunidade para automação em comparação à indústria. Isso limita os ganhos rápidos de produtividade.

Economistas conhecem a Lei de Baumol ou “Doença dos Custos”, formulada por William Baumol. Setores de serviços enfrentam dificuldades para aumentar a produtividade porque certas tarefas humanas são essenciais e não podem ser aceleradas, por exemplo, uma apresentação ao vivo ou um exame clínico.

Há grande variedade dentro do setor de serviços. Enquanto alguns serviços, como os baseados em tecnologia (TI e telecomunicações), apresentam altas taxas de crescimento de produtividade, outros (como serviços pessoais ou domésticos) permanecem relativamente estagnados.

Embora a produtividade em muitos serviços possa ser comparativamente mais baixa diante a da indústria, isso não é uma regra fixa. Alguns serviços (como os financeiros ou os tecnológicos) apresentam alta produtividade, especialmente, com o uso intensivo de tecnologia.

A informalidade agrava os problemas de medir e melhorar a produtividade nos serviços por várias razões. Sem registro formal de produção, é difícil calcular a produtividade real (output por hora trabalhada). Isso gera subestimação da produtividade e dificulta análises precisas. Por exemplo, um prestador de serviços informal (como um mecânico ou vendedor ambulante) não tem registros claros de quantos serviços realiza ou do tempo necessário.

Trabalhadores informais têm acesso limitado a tecnologia ou capacitação profissional. Aumentariam a eficiência em vez de ter baixos níveis de produtividade.

A informalidade está associada a empregos menos qualificados, com menor investimento em educação ou treinamento. Impacta diretamente a produtividade.

Trabalhadores informais geralmente têm menos acesso a crédito, equipamentos ou infraestrutura. Aumentariam sua produção e eficiência.

A precarização das condições de trabalho significa ausência de proteção social, direitos trabalhistas e estabilidade no emprego. Reduz incentivos para o aumento de eficiência ou para o investimento em capacitação.

Em países em desenvolvimento com grandes populações, o setor de serviços informal é grande e concentra atividades de baixa produtividade como comércio ambulante ou serviços pessoais. Reduz a produtividade média do setor de serviços como um todo. O próprio setor formal sofre com o excesso de informalidade ao limitar o potencial de dinamismo, inovação e profissionalização do trabalho.

Por definição, os serviços não têm produtividade necessariamente baixa, mas enfrentam problemas particulares para seu aumento e mensuração. Isto ocorre principalmente em subsetores onde a interação humana é essencial.

A informalidade intensifica esses problemas ao dificultar a medição precisa, limitar o acesso a recursos e perpetuar práticas de baixa eficiência. Investir na formalização e na modernização do setor de serviços é essencial para melhorar sua contribuição à economia como um todo.

Por exemplo, um país da OCDE entre aqueles com as semanas de trabalho mais curtas do mundo é a Dinamarca. Também está classificada como um dos países mais felizes do mundo. Um relatório do governo recente declarou a Dinamarca estar buscando resolver a escassez de trabalhadores em áreas como Educação, Saúde, TI, Ciência da Computação e Engenharia, bem como outros cargos qualificados, incluindo profissionais de negócios, contadores, maquinistas, trabalhadores da construção civil e profissionais de serviços de alimentação.

Embora a Alemanha tenha muito menos escassez de trabalhadores em comparação a seus vizinhos europeus, certos profissionais, incluindo desenvolvedores de software, engenheiros elétricos e instaladores, engenheiros mecânicos, profissionais médicos, profissionais de TI e economistas têm boa chance de encontrar trabalho. Paradoxalmente, apesar população europeia envelhecida, o nativismo xenófobo emerge contra imigrantes prestadores de serviços, inclusive dos necessários cuidadores de idosos…

*Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de Brasil dos bancos (EDUSP). [https://amzn.to/4dvKtBb]


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