Trump presidente — apertem os cintos!

Imagem: Alexey Demidov
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Por FRANCISCO DOMINGUEZ*

Donald J. Trump, liderando um movimento de massa protofascista MAGA, eleito presidente dos EUA é sinal de que tempos turbulentos estão chegando à América Latina

O povo dos Estados Unidos e a maior parte do mundo acordaram nesta semana com as piores notícias. Donald J. Trump, presidindo um movimento de massa protofascista MAGA (Make America Great Again), não apenas foi eleito presidente dos Estados Unidos, como também desfrutará de uma confortável maioria republicana no Senado e também terá uma maioria republicana na Câmara dos Representantes.

Ele obteve quase o mesmo número de votos que em 2020, 74 milhões, e obteve uma vitória eleitoral porque a candidata democrata, Kamala Harris, obteve mais de 10 milhões de votos a menos que Joe Biden em 2020.

Se somarmos a forte identificação política da Suprema Corte dos EUA com as visões políticas gerais de Donald Trump, ele encontrará poucos obstáculos nas principais estruturas institucionais dos Estados Unidos para implantar seu acalentado objetivo, o estabelecimento de um governo fortemente autoritário que se esforçaria para transformar todas as instituições existentes em instrumentos de seu movimento político, sua ideologia e seus planos de governo.

Ao longo da campanha eleitoral e desde que perdeu a eleição de 2020, Donald Trump projetou um programa governamental de retaliação generalizada contra seus oponentes políticos, incluindo o que ele entende como uma mídia hostil, que rotulou de “inimigo interno”.

Ele também pretende expulsar milhões de imigrantes — principalmente latinos — que acusa de “envenenar o sangue do país”.

Seu plano estratégico para os EUA foi sistematizado em um documento de 900 páginas pela Heritage Foundation, o Projeto 2025, que, se totalmente implantado, extinguirá a maioria dos mecanismos e práticas existentes que, apesar de suas grandes imperfeições, qualificam amplamente os EUA como uma democracia.

Muitos exalaram um suspiro prematuro de alívio quando Donald Trump, em seu discurso de vitória, prometeu “não mais guerras” em sua próxima administração. No entanto, durante seu governo de 2016-20, ele conduziu uma “guerra comercial” mutuamente prejudicial contra a China, um país em relação ao qual ele nutre profunda hostilidade.

A hostilidade à China provavelmente se tornará o centro de suas preocupações em política externa, o que pode intensificar a intensa “Guerra Fria” e a enorme presença militar ao redor do Mar da China Meridional, incluindo o armamento de Taiwan, já implantado por Joe Biden.

A hostilidade aberta dos EUA à China começou com o “Pivot to East Asia” do presidente Barack Obama em 2011, que preparou a militarização da política dos EUA em relação ao gigante asiático. A crescente presença militar dos EUA a 8.000 milhas de distância dos EUA está causando problemas na região.

Deve haver pouco progresso a se esperar do próximo governo Trump no Oriente Médio e na Palestina-Gaza. Em dezembro de 2017, menos de um ano no cargo, revertendo quase sete décadas de política dos EUA sobre essa questão sensível, Donald Trump reconheceu formalmente Jerusalém como a capital de Israel e mudou a embaixada dos EUA para Jerusalém. Houve consternação mundial, incluindo seções substanciais das instituições dos EUA, porque isso “quebrou décadas de neutralidade inabalável dos EUA sobre Jerusalém”.

Sobre a América Latina, o governo Donald Trump de 2016-20 visou especificamente o que seu conselheiro de segurança nacional, John Bolton, chamou de “troika da tirania” — ou seja, Cuba, Venezuela e Nicarágua — que ele também se referiu como “um triângulo de terror”.

Ao delinear a política de Donald Trump, John Bolton acusou os três governos de serem “a causa de imenso sofrimento, o ímpeto de enorme instabilidade regional e a gênese de um sórdido berço do comunismo”.

Em 2018, o secretário de Estado de Trump, Rex Tillerson, endossou a Doutrina Monroe porque ela havia afirmado a “autoridade” dos EUA no hemisfério ocidental, declarando que a doutrina é “tão relevante hoje quanto era quando foi escrita”. A mensagem de Rex Tillerson para a América Latina foi forte, no sentido de que os EUA não permitiriam que a região se interessasse pela construção de vínculos com potências mundiais emergentes, como a China.

Foi durante a administração de Donald Trump de 2016-20 que, após vários anos de preparações cuidadosas e metódicas, os EUA orquestraram e financiaram a tentativa de golpe de 2018 contra a Nicarágua. Convulsionaram a pequena nação centro-americana por mais de seis meses sob níveis cruéis de violência, levando à destruição gratuita de propriedade, perdas econômicas massivas e quase 200 pessoas inocentes mortas. A administração de Joe Biden, sob pressão dos guerreiros de sangue-frio nos EUA, continuou sua política de agressão contra a Nicarágua aplicando uma série de sanções.

Donald Trump impôs centenas de sanções à Venezuela com consequências humanas horríveis, já que em 2017-18 cerca de 40.000 pessoas vulneráveis morreram desnecessariamente. A economia da Venezuela foi bloqueada até quase a asfixia. Sua indústria petrolífera foi paralisada com o duplo propósito de negar a principal fonte de renda do país e impedir o fornecimento de petróleo a Cuba. Trump ameaçou repetidamente a Venezuela com agressão militar; a Venezuela (2017) foi submetida a seis meses de violência de rua da oposição; uma tentativa de assassinato contra o presidente Nicolás Maduro (agosto de 2018); Juan Guaidó se autoproclamou “presidente interino” da Venezuela (janeiro de 2019, e foi reconhecido pelos EUA); a oposição tentou forçar a entrada de alimentos pela fronteira com a Venezuela por meios militares (fevereiro de 2019); o Departamento de Estado ofereceu uma recompensa de US$ 15 milhões por “informações que levassem à prisão do presidente Nicolás Maduro” (março de 2020); uma tentativa de golpe fracassada (maio de 2019); um ataque mercenário (maio de 2020); e em 2023 Trump admitiu publicamente que queria derrubar Nicolás Maduro para ter controle sobre os grandes depósitos de petróleo da Venezuela.

Embora Cuba tenha suportado o mais longo bloqueio abrangente de uma nação em tempo de paz (mais de seis décadas, até agora), sob Donald Trump a pressão foi substancialmente aumentada. Em 2019, Donald Trump acusou o governo de Cuba de “controlar a Venezuela” e exigiu que fossem embora, sob a ameaça de implementar um bloqueio “total e completo”, os 20.000 especialistas cubanos em saúde, cultura esportiva, educação, comunicações, agricultura, alimentação, indústria, ciência, energia e transporte — que Donald Trump falsamente descreveu como soldados.

Devido ao reforço do bloqueio dos EUA, entre abril de 2019 e março de 2020, pela primeira vez o custo anual para a ilha ultrapassou US$ 5 bilhões (um aumento de 20% em relação ao ano anterior).

Além disso, a política de “pressão máxima” de Donald Trump contra Cuba significou, entre outras coisas, que ações judiciais sob o Título III da Lei Helms-Burton foram permitidas; aumento da perseguição às transações financeiras e comerciais de Cuba; proibição de voos dos EUA para todas as províncias cubanas (exceto Havana); perseguição e intimidação de empresas que enviam suprimentos de combustível; uma campanha intensa para desacreditar os programas de cooperação médica cubana; a USAid emitiu uma doação de US$ 97.321 para um órgão sediado na Flórida com o objetivo de retratar o turismo cubano como explorador; Trump também reduziu drasticamente as remessas para a ilha e limitou severamente a capacidade dos cidadãos americanos de viajar para Cuba, deliberadamente fazendo com que empresas e países parceiros pensassem duas vezes antes de fazer negócios com Cuba; e 54 grupos receberam US$ 40 milhões em doações dos EUA para promover a agitação em Cuba.

Além disso, Cuba teve que lidar com sérias agitações em julho de 2021 e, mais recentemente, em março de 2024, alimentadas por grupos financiados pelos EUA em tantas cidades quanto puderam. O modelo de agitação é baseado no que foi perpetrado contra a Nicarágua e a Venezuela.

O ato final de sabotagem de Donald Trump, poucos dias antes da posse de Joe Biden, foi retornar Cuba à lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo (SSOT), acusando-a falsamente de ter laços com o terrorismo internacional. As consequências foram devastadoras: entre março de 2022 e fevereiro de 2023, 130 empresas, incluindo 75 da Europa, interromperam quaisquer negociações com Cuba, afetando transferências para a compra de alimentos, medicamentos, combustível, materiais, peças e outros bens.

Donald Trump, apesar de ser tão intemperante e substancialmente desacreditado mundialmente devido aos seus excessos retóricos, ameaças e vulgaridades, lidera um movimento extremista de massa, tem a presidência, o Senado e conta com a cumplicidade explícita da Suprema Corte, e está, portanto, em uma posição particularmente forte para perder a cabeça com a “troika da tirania”, especialmente sobre Cuba. Em suma, a eleição de Donald Trump como presidente tem um significado histórico no pior sentido possível do termo.

Pelos seus discursos, pode-se supor que ele gostaria de fazer história e pode alimentar a ideia de fazê-lo “concluindo o trabalho” com Cuba (mas também na Venezuela e na Nicarágua). Se ele empreender essa rota, ele já tem uma série de políticas agressivas que implantou durante 2016-20. Além disso, ele desfrutará do controle republicano de direita sobre o comitê de relações exteriores do Senado.

Pior, os senadores linha-dura pró-bloqueio Ted Cruz e Marco Rubio são os principais membros deste comitê e têm uma fixação por Cuba. Donald Trump obteve um apoio mais forte na Flórida, onde os republicanos anticubanos na Flórida reforçaram seu apoio e vitória eleitoral. Ele também tem uma rede global de comunicações de propriedade de seu aliado, o bilionário Elon Musk. Além disso, não importa quem seja o inquilino na Casa Branca, a máquina de “mudança de regime” está sempre tramando algo desagradável para Cuba.

Então, apertem os cintos! Tempos turbulentos estão chegando à América Latina. Nosso trabalho de solidariedade deve ser substancialmente intensificado, explicando a ameaça crescente que um segundo mandato de Trump representa para toda a América Latina, mas especialmente para Cuba.

*Francisco Dominguez é professor de ciência política na University of Middlesex (Inglaterra).

Tradução: Artur Scavone.

Publicado originalmente em Morning Star Online.


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