Hoje vai, vai ter marmelada

Imagem: Elyeser Szturm
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por Tércio Redondo*

É pré-carnaval, mas a república já rasga a fantasia, ou a máscara, como se queira.

No Rio de Janeiro, o ministro da economia adotou o vocabulário de Goebbels para falar do servidor público. Como o judeu na Alemanha de Hitler, no Brasil de Guedes e Bolsonaro o servidor é o parasita que suga o sangue vital da nação. É possível que, numa próxima manifestação em defesa da pátria vitimada, o ministro apresente em didático power point os traços fisiognomônicos compartilhados por professores, médicos, enfermeiros e policiais, bem como pelos funcionários de carreira do ministério. O ministro há de fazer a lição de casa: primeiro o diagnóstico clínico, depois o tratamento para erradicar a doença.

O recém-saído secretário da cultura já esboçara um discurso goebbelsiano, com direito a cenário e figurino impecáveis. Apenas a interpretação ficou a desejar, e por isso foi substituído por uma atriz. Na Inglaterra achou-se estranho que uma atriz de soap opera tivesse assumido a tarefa, mas os jornalistas da ilha pensaram: a performance da própria família real não tem sido grande coisa. Na verdade, tem se revelado bastante constrangedora. Abstenhamo-nos por hora de criticar os bárbaros.

No Supremo Tribunal Federal, uma ministra decidiu que a ofensa pessoal é um direito constitucional do senhor Presidente da República. Não ficou claro se o direito se estende aos demais cidadãos. Seria possível, por exemplo, chamá-la de malandra e permanecer impune? Dificilmente. Ao ser chamada de malandra, num gesto de grandeza moral ela poderia até mesmo se basear na jurisprudência recém constituída e declarar: sejamos justos! Inocentei o Presidente, não posso agora pedir a punição de quem me chama de malandra. O problema é que, como acontece todos os dias, a decisão monocrática da ministra poderia ser revertida pela decisão monocrática de outro ministro. E então? A questão seria levada ao plenário da corte, e o incauto ficaria à mercê dos insondáveis humores de seus membros.

O carnaval está chegando. Terão os fascistas tempo e vontade de inventar uma nova fantasia ou decidiram que o rei ficará definitiva e despudoradamente nu? E o menino que aponta o dedo para o soberano? Em lugar do lança-perfume terá de se contentar com o gás de pimenta?

*Tércio Redondo é professor de literatura alemã na USP.

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
José Luís Fiori Otaviano Helene Luiz Werneck Vianna Luciano Nascimento Valerio Arcary Lucas Fiaschetti Estevez Alexandre Aragão de Albuquerque Caio Bugiato Milton Pinheiro Bernardo Ricupero Leonardo Sacramento Rafael R. Ioris Antonino Infranca Michael Roberts Ricardo Antunes Daniel Brazil Airton Paschoa Leonardo Avritzer Ladislau Dowbor Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Afrânio Catani Eduardo Borges Mariarosaria Fabris Michel Goulart da Silva Anselm Jappe Marcos Silva Henri Acselrad Carlos Tautz André Singer Boaventura de Sousa Santos Francisco de Oliveira Barros Júnior Alexandre de Lima Castro Tranjan Gilberto Maringoni Jorge Branco Daniel Afonso da Silva Slavoj Žižek Ronald Rocha Leda Maria Paulani Chico Whitaker João Adolfo Hansen Manuel Domingos Neto Ari Marcelo Solon Dênis de Moraes Vladimir Safatle José Raimundo Trindade Thomas Piketty José Dirceu Rodrigo de Faria Marcos Aurélio da Silva Flávio R. Kothe Walnice Nogueira Galvão Maria Rita Kehl Chico Alencar Heraldo Campos Luiz Renato Martins Alexandre de Freitas Barbosa Eleutério F. S. Prado Gerson Almeida Daniel Costa Luiz Marques Plínio de Arruda Sampaio Jr. Dennis Oliveira Gilberto Lopes Paulo Fernandes Silveira Claudio Katz Eliziário Andrade José Micaelson Lacerda Morais Andrew Korybko Jean Pierre Chauvin Berenice Bento Paulo Sérgio Pinheiro Bruno Machado Marcus Ianoni João Feres Júnior Marilena Chauí Salem Nasser Ronaldo Tadeu de Souza Leonardo Boff Tarso Genro João Carlos Salles Juarez Guimarães Yuri Martins-Fontes Mário Maestri Luiz Carlos Bresser-Pereira Paulo Capel Narvai Vanderlei Tenório Atilio A. Boron Francisco Pereira de Farias Celso Favaretto Sandra Bitencourt Renato Dagnino Érico Andrade Matheus Silveira de Souza Gabriel Cohn Luis Felipe Miguel Alysson Leandro Mascaro Elias Jabbour Denilson Cordeiro Kátia Gerab Baggio Marjorie C. Marona Ricardo Abramovay Lorenzo Vitral Lincoln Secco André Márcio Neves Soares João Lanari Bo Tales Ab'Sáber Marcelo Módolo Luiz Roberto Alves Everaldo de Oliveira Andrade Osvaldo Coggiola Igor Felippe Santos Bento Prado Jr. Priscila Figueiredo Francisco Fernandes Ladeira Ricardo Fabbrini Marcelo Guimarães Lima Rubens Pinto Lyra Henry Burnett Marilia Pacheco Fiorillo Remy José Fontana Jorge Luiz Souto Maior José Geraldo Couto Annateresa Fabris Paulo Martins Celso Frederico Vinício Carrilho Martinez Michael Löwy Antônio Sales Rios Neto Fernão Pessoa Ramos Antonio Martins José Machado Moita Neto Samuel Kilsztajn Andrés del Río Fábio Konder Comparato Carla Teixeira Flávio Aguiar Tadeu Valadares Armando Boito Liszt Vieira Fernando Nogueira da Costa Luiz Bernardo Pericás José Costa Júnior Eugênio Bucci Ricardo Musse Eugênio Trivinho João Carlos Loebens Julian Rodrigues Benicio Viero Schmidt Bruno Fabricio Alcebino da Silva Jean Marc Von Der Weid Sergio Amadeu da Silveira João Sette Whitaker Ferreira Paulo Nogueira Batista Jr Luís Fernando Vitagliano Manchetômetro Ronald León Núñez João Paulo Ayub Fonseca Eleonora Albano Valerio Arcary Luiz Eduardo Soares

NOVAS PUBLICAÇÕES