Bolsonarismo: investigar, julgar e punir

Imagem: Elyeser Szturm
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUCIANA GENRO*

Não se pode normalizar a barbárie, o autoritarismo, o discurso de ódio, os pedidos de golpe militar e as saudações nazistas

Jair Bolsonaro foi derrotado. Mesmo com toda a utilização da máquina pública a seu favor, cujo ápice foram os bloqueios da Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição. Mesmo com boa parte da patronal chantageando seus empregados. Mesmo com a enxurrada de fake news. Mesmo com os púlpitos das igrejas virando palanques bolsonaristas. Tudo isso não foi suficiente. Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente que concorreu à reeleição e perdeu.

Mas sua derrota eleitoral não significa o fim do bolsonarismo, como mostram as patéticas manifestações golpistas dos últimos dias. A ascensão da extrema direita é um fenômeno mundial cujas múltiplas razões vão além do objeto deste artigo. O fato é que o combate a esta vertente política que defende ditadura, discriminação a negros, LGBTs e mulheres, eliminação física da esquerda e de outros grupos divergentes precisará seguir. O resultado eleitoral nos deixa em melhores condições para essa luta. A vitória de Lula expressou um movimento democrático tão importante quando a unidade para enfrentar a ditadura imposta de 1964 a 1984.

Muitas lições para hoje podemos resgatar daquele processo. Uma das mais importantes é não repetir a impunidade. O Brasil não fez como deveria a persecução penal e a responsabilização dos políticos e agentes públicos que agiram criminosamente durante a ditadura. Este foi, sem dúvida, um dos elementos que permitiram prosperar uma extrema direita golpista, reacionária, violenta e autoritária.

A lista dos crimes de Jair Bolsonaro e seus seguidores é ampla: omissão deliberada e negacionista no combate à pandemia, violência política e eleitoral, escândalos de corrupção acobertados por sigilos de 100 anos, ataques ao trabalho da imprensa, a tentativa de voto de cabresto através da pressão empresarial sobre seus empregados e as mobilizações golpistas após a vitória de Lula.

Jair Bolsonaro é responsável direto pelo estado de delinquência política instalado no país. É preciso investigar seus crimes e garantir que ele responda por tudo que fez. Mas não apenas ele: todos os líderes nacionais e regionais que se envolveram em crimes devem ser investigados, da política à iniciativa privada, em um esforço que envolva o conjunto da sociedade e suas organizações.

Não se trata de revanchismo, muito menos de vingança. É sobre a defesa das liberdades democráticas e dos avanços civilizatórios que conquistamos até aqui e que são colocados em xeque pelos delinquentes políticos da extrema direita. Não se pode normalizar a barbárie, o autoritarismo, o discurso de ódio, os pedidos de golpe militar e as saudações nazistas. É preciso agir: investigar, julgar e punir. Verdade, Memória e Justiça, para que nunca mais aconteça!

*Luciana Genro é advogada, deputada estadual e presidente do PSOL-RS.

 

O site A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores. Ajude-nos a manter esta ideia.
Clique aqui e veja como

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • O veto à Venezuela nos BRICSMÁQUINAS FOTOGRÁFICAS 19/11/2024 Por GIOVANNI MESQUITA: Qual seria o maior desaforo ao imperialismo, colocar a Venezuela nos BRICS ou criar os BRICS?
  • Balanço da esquerda no final de 2024Renato Janine Ribeiro 19/11/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: A realidade impõe desde já entender que o campo da esquerda, especialmente o PT, não tem alternativa a não ser o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para 2026
  • Donald Trump e o sistema mundialJosé Luís Fiori 21/11/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Se houver um acordo de paz na Ucrânia, o mais provável é que ele seja ponto de partida de uma nova corrida armamentista dentro da própria Europa e entre os EUA e a Rússia
  • Notas sobre a disputa em São Paulogilberto maringoni 18/11/2024 Por GILBERTO MARINGONI: É preciso recuperar a rebeldia da esquerda. Se alguém chegasse de Marte e fosse acompanhar um debate de TV, seria difícil dizer quem seria o candidato de esquerda, ou de oposição

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES