Por PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO JR.*
Apresentação do livro recém-lançado, reunião de entrevistas realizadas por Diana Assunção
Esquerda em debate reúne entrevistas feitas pelo portal Esquerda Diário com lideranças sociais, quadros políticos e intelectuais sobre os dilemas da luta pelo socialismo no Brasil. Organizado em plena campanha eleitoral, que polarizou o país entre Lula e Jair Bolsonaro, o livro apresenta, em linguagem coloquial, uma didática introdução ao pensamento de diferentes espectros da esquerda contra a ordem sobre os desafios do momento. Tratando de um amplo leque de questões, as entrevistas conduzidas por Diana Assunção discutem os problemas mais candentes da vida nacional e as tarefas teóricas, práticas e organizacionais que devem ser enfrentadas.
A iniciativa de abrir um debate franco entre forças políticas que não se renderam à miséria do possível não poderia ser mais oportuna. Ao exacerbar a contradição entre o capital e o trabalho, o aprofundamento da crise capitalista acirra a luta de classes. Movida pela necessidade de recrudescer os mecanismos de exploração do trabalho e pelo instinto de sobrevivência política, a burguesia organiza uma ofensiva avassaladora em escala global contra os direitos dos trabalhadores, as políticas sociais e o meio ambiente. Acumulação de capital e barbárie retroalimentam-se inextricavelmente, impondo ao capital a necessidade de organizar uma contrarrevolução preventiva em escala global que garanta a continuidade indefinida do capitalismo do caos.
Nas formações sociais de origem colonial, que permanecem presas às teias do subdesenvolvimento e da dependência, como é o caso evidente do Brasil, a barbárie capitalista assume a forma de um processo de reversão neocolonial, cuja essência consiste no rebaixamento progressivo do nível tradicional de vida dos trabalhadores e na galopante devastação da natureza. O caráter particularmente perverso do padrão de acumulação liberal-periférico solapa qualquer possibilidade de um padrão de dominação burguesa com algum conteúdo democrático e republicano. É o que condiciona, em última instância, a crise terminal da Nova República e suas consequências nefastas sobre a vida nacional – uma das questões discutidas no livro.
No momento em que os trabalhadores, traumatizados pela ameaça de uma crise civilizatória que coloca em questão a própria sobrevivência do Brasil como sociedade nacional, deparam-se com a chegada de um governo de salvação nacional, que procura soluções formais para problemas reais, as entrevistas realizadas por Diana Assunção ao longo de 2022 resgatam a importância da perspectiva de classe, fundada na tradição do marxismo revolucionário. É esse o único antídoto à ideologia do fim da história que reduz a política à administração da barbárie e limita as alternativas da sociedade ao horizonte claustrofóbico da escolha do “menos pior”. Dirigido à militância socialista convencida da urgência de se ir além do capital, Esquerda em debate é um convite ao diálogo entre os revolucionários brasileiros. Trata-se de uma iniciativa auspiciosa para que a esquerda contra a ordem saia da estaca zero e dê início a um processo de reorganização que, combinando luta e crítica, abra novos horizontes para a classe trabalhadora.
*Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp e editor do site Contrapoder. Autor, entre outros livros, de Entre a nação e a barbárie – dilemas do capitalismo dependente (Vozes).
Referência
Diana Assunção. Esquerda em Debate. São Paulo, Edições Iskra \ Esquerda Diário, 2023.
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