Por LINCOLN SECCO*
Os “Ciompi” na leitura de Antonio Gramsci, Simone Weill e George Renard
O chamado Tumulto dos Ciompi[i] foi uma revolta proletária que ocorreu entre junho e agosto de 1378[ii]. O nome Ciompi era depreciativo. Possivelmente uma corruptela da expressão “companheiros, vamos beber”, típica da época do domínio do Duque de Atenas na cidade[iii].
Resgatar aquela revolta não é um exercício tão distante de um presente marcado por um imenso proletariado informal[iv], permanentemente disponível para o trabalho[v]. Os Ciompi representavam uma nova relação de trabalho ainda minoritária e que, depois, se ampliou.
Os três autores aqui resenhados foram mais ou menos contemporâneos e trataram de passagem da revolta dos Ciompi. George Renard (1841-1930) publicou sua Histoire du travail à Florence (2 volumes, Paris, Editions d’Art et de Littérature, 1913-1914) pouco antes da Primeira Guerra Mundial. Nela, abrange o caso dos Ciompi. Simone Weil (1909-1943) narrou a revolta proletária do século XIV num artigo em Critique Sociale n. 11 em março de 1934. Antonio Gramsci (1891-1937) não conheceu Simone Weil, mas possivelmente leu alguma obra de Renard. Ele dedicou um parágrafo dos seus Cadernos do Cárcere a ele por ocasião da sua morte em 17 de outubro de 1930. Além disso, ele estabeleceu uma comparação entre revoltas da antiguidade e as do medievo, citando o caso dos Ciompi. Todos os três tinham referência em Maquiavel.
George Renard não era marxista. Era um socialista da tradição blanquista francesa. Gramsci escreveu um pequeno obituário dele nos seus Cadernos do Cárcere:
“GeorgesRenard. Morreu em outubro de 1930. Foi professor de história do trabalho no Collège de France. Ele participou da Comuna e dirigiu estas coleções: Le Socialisme à l’œuvre, Historia Universelle du Travail, Bibliothèque Sociale des Métiers. Livro teórico: Le Régime Socialiste em que ele defende a tradição do socialismo francês contra Marx. Deve ter escrito um livro intitulado Les Cités Imaginaires, sobre literatura utópica (mas talvez tenha sido apenas o tema de seu curso universitário para o ano 30-31, que não houve devido a sua morte); mas certamente muitas dicas em seus livros. Será útil compilar uma bibliografia completa de Renard, identificando os trabalhos que têm importância científica e histórica”.
Renard no entanto conhecia muito bem a obra de Marx e parece se inspirar nela para historiar a revolta dos Ciompi, como veremos a seguir.
Análise Histórica
Renard começou por demonstrar a complexidade das corporações medievais. A corporação é uma “associação voluntária de pessoas que exercem o mesmo ofício e que se comprometem, por juramento, a defender seus interesses comuns”[vi]. Sua constituição é republicana, com um poder da assembleia e o executivo representado por quatro cônsules com mandato de seis meses.
Havia as de uma só profissão, as que eram federações de ofícios, as maiores, médias, menores etc. Elas eram uma contradição em movimento que combinava igualdade dos membros e hierarquia. Apenas as corporações simples apresentavam a hierarquia básica do aprendiz, companheiro e mestre. Mas em Florença a aprendizagem durava seis a sete anos e depois se saltava diretamente a mestre. No caminho do aprendiz havia apenas as taxas para associados e o pagamento do direito de entrada[vii].
Em Florença havia 21 corporações de ofício fixas e que se denominavam “as artes”. Elas eram em geral muito complexas com magistrados particulares e companhias armadas de mercenários. Entre as maiores (por exemplo de juízes, médicos, cambistas, grandes comerciantes etc) e as menores (comerciantes de vinhos, padeiros etc) havia as médias (açougueiros, sapateiros etc).
A Arte di Calimala é uma corporação, mas não de indivíduos e sim de sociedades e companhias comerciais; um truste capitalista, um sindicato patronal típico da Itália (que Engels considerou a “primeira nação capitalista”[viii]). Cada uma de suas unidades tinha um chefe e “um exército de subordinados perpétuos”[ix], os sottoposti.
Renard identifica que o poder urbano em Florença, muito tempo depois da derrota dos gibelinos, transitou lentamente para a Arte di Calimala que mantinha serviços públicos e a segurança. Curiosamente, ela sobreviveu até o século XVIII, mas apenas como congregação de caridade.
As artes maiores representavam o popolo grasso (os poderosos) e começaram a se considerar guelfas[x]: antifeudais, anti imperiais e defensoras do self government pela comuna[xi].
Como ela representava os banqueiros e o grande comércio de longa distância, desenvolveu inúmeras técnicas contábeis, letras de câmbio e maneiras de escapar à proibição da usura. Uma delas era o desconto para quem pagava adiantado. O preço a prazo não era apresentado como portador de juros e sim como o preço justo. Mas nele estava disfarçadamente calculado o juro.
No capítulo em que Renard trata da revolta dos Ciompi ele parte de Maquiavel, considerando, todavia, que ele escreve no século XVI para agradar os Medici e, portanto, aumenta o papel de Salvestro di Medici. Em seguida afirma: “Como acontece sempre, como ocorreu na França em 1848, fez-se uma revolução política que se converteu em social com grande assombro dos que a colocaram em marcha; foi uma mudança de regime começado pela pequena burguesia, mas levada a cabo pelo proletariado”[xii]. Em seguida Renard cita Maquiavel: depois de desencadeado, “não se detêm como se quer um levantamento popular”.
Esse foi o dilema do novo governo baseado numa milícia de cidadãos que surgiu da revolução dos ciompi. Ele foi chefiado por Michele Lando, um membro das artes menores, mas teve que conviver com a pressão popular.
Renard diz que os pequenos burgueses agiram como aprendizes de feiticeiro, que por meio de fórmulas mágicas desencadeiam gênios que não podem controlar (a alusão é seguramente ao Manifesto Comunista)[xiii]: “A pequena burguesia só desejava repartir o poder com a alta burguesia, que o monopolizava em proveito próprio. Mas o impulso foi além dos seus desejos. Elevou por alguns dias os trabalhadores, normalmente mantidos no mais baixo grau, acima da sociedade. O movimento, depois de alcançado o apogeu (…) continua em sentido inverso. São precipitados do alto os que o haviam ocupado por um instante. Depois deles, a pequena burguesia, que os havia impulsionado mas não sustentado, teve medo e desconfiança de sua vanguarda. A reação logra devolver o poder aos que o possuíam antes do abalo; ou seja: a burguesia rica. Tal é a curva ascendente e descendente que o movimento dos Ciompi descreveu”[xiv].
A curta vitória dos Ciompi e o seu efêmero governo são vistos por Renard como o ponto culminante de todas as revoltas proletárias da idade média. Lembremos que o século XIV foi marcado pela peste, a queda demográfica, as jacqueries (revoltas camponesas) e a Revolução de Avis, em Portugal.
Renard acentua que havia intelectuais entre os Ciompi (os notários) que puderam escrever o seu ponto de vista. Além disso, as tentativas do proletariado moderno permitiram uma nova interpretação da rebelião, o que permite dizer que não houve apenas mudança de pessoas, mas de classes no poder[xv].
No entanto, mesmo nas revoluções não há ruptura absoluta com o passado. Assim, os Ciompi quiseram entrar nos quadros da ordem existente e aceitaram compor uma corporação. Tanto quanto Simone Weil escreveria depois, Renard afirmou que o movimento não foi sanguinário, exceto pelo justiçamento de um certo Nuto, odiado pelos pobres e que foi descoberto e agarrado pela multidão.
Entre as medidas do novo governo foi decretada uma nova força armada popular; e as bolsas onde estavam os nomes dos cidadãos elegíveis foram queimadas e substituídas por outras onde ricos e pobres figuravam igualmente: “Mas nesse tempo de revolução essas explosões de alegria e de esperança eram breves como um belo dia de primavera. Um novo governo estabelecido por um golpe de força, encontra sempre depois da vitória numerosas dificuldades; e, se é um governo popular, a maior e comum é a financeira”[xvi].
Não há como ver aqui uma narrativa cujo modelo é a história da Comuna de Paris. Renard cita forasteiros que ameaçavam a cidade, gastos imprevistos para pagar besteiros[xvii], operários sem soldo, má colheita… O popolo grasso usava a força da inércia, a fuga, a abstenção. Partia ao campo e deixava operários desempregados. O governo ordenou que a Arte della Lana abrisse as oficinas, mas os patrões mantiveram o lockout.
Entre os Ciompi havia os que queriam levar a revolução ao extremo e tomar todos os ofícios. Talvez fossem franciscanos heréticos que proclamavam a comunidade de bens. Os mais radicais dos Ciompi designavam-se a si mesmos como o “santo populacho de Deus”[xviii]. Lando não é chamado de social democrata, como veremos no texto de Simone Weil, mas é considerado por Renard como “traidor e renegado”. A extrema esquerda dos Ciompi instituiu um poder paralelo para pressionar o governo legal e contrabalançar a pressão exercida pelo partido guelfo, mas “como uma acusação de aspirar à ditadura é sempre eficaz contra os chefes de um movimento popular”, os nobres e burgueses espalharam fake news de que os Ciompi travavam relações com um pequeno tirano do exterior. Inventaram ainda que os Ciompi queriam trocar os mestres pelos aprendizes e roubar as casas das pessoas.
Os Ciompi careciam de educação política, mas suas medidas revelavam um “espírito prático, uma ideia bem precisa das reformas necessárias e possíveis em matéria financeira e econômica”. Renard talvez evocasse Marx, quuando afirmou sobre a Comuna de Paris que as medidas financeiras do proletariado foram “notáveis pela sua sagacidade e moderação”[xix]. Erros dos líderes Ciompi contribuíram para a derrota e eles foram enganados pelos hábeis políticos burgueses acostumados ao poder. Ainda assim, a derrota se explica muito mais por questões objetivas.
Os Ciompi eram uma minoria social na cidade e mesmo no proletariado. Eram uma vanguarda econômica mas que só soube propor uma quimérica volta à pequena indústria. No sistema corporativo era menor a distância entre mestres e aprendizes, mas na fábrica onde labutavam os Ciompi a distância era abissal. Eles não tinham direitos, relações formais, moradia e regulamentos protetores. Na alvorada do capitalismo, eram o exemplo máximo do sistema que Marx denominou despotismo de fábrica. Numa situação de interesses econômicos irreconciliáveis era inviável estabelecer ali o sistema corporativo.
Para Renard, só a extrema esquerda compreendeu isso e buscou estabelecer um modus vivendi fora das corporações. Mas era pouco numerosa, muito pressionada pelos acontecimentos para ter tempo de propor um novo regime e estava cercada por uma sociedade em que as tradições hierárquicas eram muito fortes. Enfim, os Ciompi caíram porque buscaram soluções para os problemas do capitalismo nascente nas instituições de proteção social de um outro regime econômico em vias de terminar.
Depois de 1378 a burguesia reforçou a polícia e as torturas. A política evoluiu para a oligarquia e a economia para a plutocracia. Nos subterrâneos da política ainda vicejaram organizações secretas, a bandeira do anjo com a espada radiante e o lema “Vivam as vinte e quatro artes”.
Em vários pontos da narração ecoam tanto as leituras de Marx quanto a memória do Communard que Renard fora. Durante a Comuna de Paris, em 1871, ele integrou um breve governo proletário que, sem muita experiência administrativa, emitiu ordens de grande sabedoria prática. Renard foi secretário do Ministério da Guerra e, depois, exilou-se na Suíça.
A Estrutura da Revolta
Em 1928 Simone Weil estudava na Sorbonne. No Collège de France, George Renard dava aulas de História do Trabalho. Ela também apresenta em sua análise da revolta uma estrutura de classes em que servos, nobres e clero são marginais na história. Florença tem um sistema complexo com as supracitadas 21 artes. O poder político reside nas artes maiores de banqueiros, grandes comerciantes, fabricantes de panos etc. Dentro das artes maiores há os membros menores (os que trabalham a lã e a seda, por exemplo). No século XIV, a arte da lã é um pequeno Estado com impostos, emissões, armazéns, tabela de preços, limite máximo de produção etc[xx].
No seu relato há três movimentos estruturais: um no interior do proletariado, em que se demonstram suas contradições internas; outro é o da luta entre as classes; um terceiro, propriamente político, em que a revolução pode assumir um caráter ascendente, como em 1917, ou descendente, como em 1848.
Sigamos sua própria narrativa, aqui resumida segundo a ênfase nos aspectos que nos importam: entre eles o anacronismo necessário e militante que busca no passado os elementos da luta do presente. Deixemos de lado o quanto a pesquisa acadêmica pode ter modificado o significado da luta de classes no século XIV. Como Gramsci, a autora não consulta diretamente as fontes, apenas cita os ordinamenti di giustizia de 1239 e as Histórias Florentinas de Maquiavel.
Movimento Interno
Há uma projeção do conceito leninista de aristocracia operária no século XIV. Ao descrever a divisão do trabalho na corporação da lã (lavagem, limpeza, batedura, cardadura, cordagem) e a vigilância dos contramestres, ela define três polos no interior da classe: os proletários da lã (nada mais, nada menos do que os Ciompi) que trabalhavam na fábrica; os fiandeiros e tecelões que trabalhavam no próprio domicílio; e os tintureiros que eram altamente especializados.
A fábrica do século XIV já apresentava uma feição moderna, faltando-lhe apenas a maquinaria. Os tintureiros eram operários, mas não estavam submetidos diretamente a um patrão, como os operários das oficinas, porque o capital adiantado para criar as tinturarias era elevado e elas eram mantidas diretamente pela Arte della Lana, ou seja, pelo capital reunido a partir da contribuição obrigatória dos capitalistas do ramo.
Os Tintureiros eram membros menores da Arte della Lana e tinham direitos políticos. Subordinados pelos membros maiores e submetidos ao seu julgamento pelo direito corporativo, eles foram os primeiros a apoiar a luta da pequena burguesia.
Luta de Classes
Quando Salvestro di Médici, que era um dos chefes pequeno burgueses, torna-se magistrado de justiça em 1378 e propõe medidas contra o partido guelfo (que representava os interesses dos nobres e da grande burguesia) as artes superiores mandam suas companhias armadas para derrubar o magistrado. No entanto, os operários defendem-no, queimam casas ricas e libertam prisioneiros por dívidas. Como George Renard, Simone Weil se baseia em Maquiavel. Ela acrescenta ao final do seu artigo a descrição que ele faz da rebelião dos Ciompi e quase o sugere como precursor do materialismo histórico. Maquiavel comenta em suas Histórias Florentinas que não se deve estimular a sedição popular com a pretensão de controlá-la depois. Ou seja: ela recupera a mesma ideia citada por Renard.
O que ocorre é exatamente o “descontrole”: os operários permanecem nas ruas e as artes menores lhe dão apoio. Weil aponta ali os elementos espontâneos que aparecerão nas rebeliões proletárias futuras: pena de morte para saqueadores, um movimento que não é sanguinário (ela também registra que apenas um odiado policial chamado Nuto é executado) e uma lista de reivindicações, sobretudo a criação de três novas artes, uma delas para os Ciompi, que são os operários não especializados, como vimos. Simone Weil ainda adiciona um elemento objetivo: a grande peste de Florença dizimara a classe operária, aumentara os salários, mas também os impostos em benefício da Arte della Lana.
Diante do novo governo de Michele Lando, a grande burguesia reage com o lockout. Os operários retiram-se para Santa Maria Novella e organizam, nas palavras da autora, um soviet. Surge a dualidade de poderes.
A Revolução Traída
Simone Weill era uma comunista sem partido que debateu com Trotsky na casa dos seus pais, em Paris, em dezembro de 1933[xxi]. No seu relato, a “revolução de fevereiro” dos pequenos burgueses foi bem sucedida, mas a de “outubro” dos Ciompi não. Os proletários florentinos não conseguiram, em agosto de 1378, derrubar “o seu Kerenski”: “Michele Lando faz o que teria feito em seu lugar qualquer bom chefe social democrata: volta-se contra seus antigos companheiros de trabalho. Os proletários, tendo contra si o governo, a grande burguesia, as artes menores e, sem dúvida, também as duas novas artes não proletárias, são vencidos depois duma sangrenta batalha e ferozmente exterminados no começo de setembro”[xxii].
A vigésima-quarta arte e a força armada que tinha sido organizada em agosto são dissolvidas; os operários, desarmados; contratam-se tropas no campo, “como em Paris depois de junho de 1848”[xxiii]. Simone Weil também segue a leitura de Marx, quando este afirma que o partido proletário de 1848 (Blanqui e seus camaradas) é “traído e abandonado pelo partido pequeno burguês democrático”[xxiv].
Com a derrota do proletariado e sua vigésima quarta arte, obviamente a revolução se inverte e nos meses seguintes perdem suas prerrogativas primeiro os artesãos, os pequenos comerciantes, os tintureiros e as artes menores; depois, é executado Scali, líder da classe média e, por fim, Michele Lando é exilado; a vigésima terceira e a vigésima segunda artes são abolidas; o partido guelfo restabelecido.
Simone Weil termina peremptoriamente: “o poder dos empresários era agora absoluto”. Ora voltando-se à Primavera dos Povos, ora à Revolução Russa, Simone Weill está entre o Marx de o 18 Brumário e os artigos em que Trotsky analisa a derrota do proletariado alemão e a ascensão do nazismo.
Teoria e História
Gramsci cita os Ciompi em dois trechos nos quais estabelece um cotejo entre o Estado antigo e o medieval. Na Antiguidade ele era uma “federação de classes” e as classes subalternas tinham suas próprias instituições; “assim o fenômeno do duplo governo nos períodos de crise” assumia uma importância extrema. A única classe excluída do mundo clássico era a dos escravos.
Vemos como Gramsci, a exemplo dos outros dois autores, trata dos temas históricos com a linguagem comunista da sua época.
Ele identifica os escravos romanos aos proletários medievais que tinham as mesmas condições objetivas de exclusão da vida civil. No entanto, sua situação era diversa: Espártaco não poderia participar do governo com patrícios ou com a plebe[xxv]. Enquanto na Idade Média era possível uma aliança entre proletários e o povo e até o apoio à ditadura de um príncipe.
“Gramscianamente” poderíamos pensar muito além da experiência do Duque de Atenas[xxvi]. Talvez os Ciompi não tiveram na sua insurreição um príncipe para representá-los, ou seja, um partido.
Contudo, para George Renard e Simone Weil o que importa na experiência proletária é sua autonomia. Por isso invocam constantemente as análises de Marx sobre a Primavera dos Povos ou sobre a Comuna de Paris. Se eles tivessem lido Gramsci poderíamos dizer que acentuam o espírito soreliano de cisão. Mas como leram Marx, o seu “partido” é a vanguarda da rua simbolizada por Blanqui e os seus camaradas.
*Lincoln Secco é professor do Departamento de História da USP. Autor, entre outros livros, de Gramsci e a revolução (Alameda).
Notas:
[i] Uma primeira versão desse artigo foi publicada no Boletim 5, n. 2, da IGS Brasil, Rio de Janeiro, 30 de julho de 2020.
[ii] As incertezas e tumultos podem ter continuado até 1382, mas os ciompi já estavam derrotados.
[iii] Ele era um aventureiro que herdou o título do seu pai, mas a sua família jamais teve o domínio de fato daquela cidade. Em 1342, depois de uma guerra civil, os florentinos cederam o poder a um Podestà (o mais alto cargo civil de Florença) estrangeiro. Encontraram o pretenso duque, mas este parece ter acreditado em seu papel e distribuiu armas ao proletariado para contrabalançar o poder da alta burguesia sobre ele. Em pouco tempo ele desagradou os interesses da Burguesia e foi expulso como tirano.
[iv] Um mapa da informalidade e do seu sentido na historiografia brasileira em: Secco, L. “O sentido da informalidade”. Terra Redonda, 27/4/2020, in https://aterraeredonda.com.br/o-sentido-da-informalidade/ Acesso em 10 de agosto de 2020.
[v] Como demonstrou Ludmila Costhek Abilio, a uberização não é o reflexo do universo da economia digital, pois as “suas bases estão em formação há décadas no mundo do trabalho, mas hoje se materializam nesse campo”. Abílio, Ludmila Costhek. “Uberização do trabalho: subsunção real da viração”. Blog da Boitempo, 22/7/2017, in https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/22/uberizacao-do-trabalho-subsuncao-real-da-viracao/ Consulta em 26 de julho de 2020.
[vi] Renard, J. Historia del Trabajo em Florencia. Trad. Guillermo Cabanellas. Buenos Aires: Editorial Heliasta SRL, 1980, p. 82.
[vii] Id. ibid., p. 73.
[viii] Marx, K. H. e Engels, F. Manifiesto Comunista. Buenos Aires: Siglo XXI, 2017, p. 75
[ix] Renard, op. cit., p. 84
[x] Desde o século anterior havia guerras civis entre os Guelfos, partidários da autonomia da República e seguidores do papa (visto como garantidor desta autonomia) e os Gibelinos, seguidores do Império.
[xi] Id. ibid., p.93.
[xii] Id. Ibid., p.196.
[xiii] A frase é: “o mágico que já não pode controlar as potências infernais que desencadeou com seus feitiços”. Marx, K.H. e Engels, F. Manifiesto Comunista, cit., p. 85.
[xiv] Renard, op. cit., p.193.
[xv] Id. ibid. p.202.
[xvi] Id. ibid. p.203.
[xvii] Soldados que portavam bestas, um tipo de arco e flecha acionado por um gatilho.
[xviii] Id. ibid. p.205.
[xix] Marx, K. H. A guerra civil na França. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011, p. 64
[xx] Weil, Simone. A condição operária e outros estudos sobre a opressão. Seleção de Ecléa Bosi. Tradução de Therezinha Langlada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.209..
[xxi] Todavia, o livro “Revolução Traída” é posterior. Trotski, L. La revolution trahie. Traduit du russe par Victor Serge. Paris: B. Grasset. 1936.
[xxii] Simone Weill conhecia o exemplo de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht e a traição de Ebert e Noske.
[xxiii] Weill, op. cit., p. 213.
[xxiv] Marx, K. H. Le 18 Brumaire de Louis Bonaparte. Paris: Editions Sociales Internationales, 1928, p. 49.
[xxv] Gramsci, Antonio. Quaderni del Carcere. Torino: Riunitti, 1977. Vejam-se o Caderno 3 e o 25.
[xxvi] Vide supra (nota III).