Por BENICIO VIERO SCHMIDT*
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O grande destaque do momento é o resultado das eleições municipais que ainda não terminaram porque haverá um segundo turno em 57 das 96 maiores cidades brasileiras. Os resultados apontam para uma grande fragmentação partidária na escolha já encerrada de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Os números indicam que tanto as forças apoiadas em Bolsonaro, sem partido, quanto as forças apoiadas em declarações explícitas do ex-presidente Lula não resultaram em efeitos positivos para os dois grupos.
A esquerda teve um desempenho muito fraco com exceção de Recife – onde disputam o segundo turno dois candidatos semelhantes em perfil ideológico –; de Porto Alegre, com a possibilidade de vitória de Manuela d’Ávila; de São Paulo, com Guilherme Boulos disputando a prefeitura com Bruno Covas e de Fortaleza onde o candidato do PDT, Sarto Nogueira deve vencer.
Juntos, o PSD, o PSDB, o PP, o DEM e o PL obtiveram 59% das prefeituras do país. Prevaleceu assim um nítido perfil conservador, moderado, ligado aos interesses políticos mais tradicionais dos municípios.
Apresentaram-se como candidatos a prefeito 69 parlamentares. Destes apenas 19 foram eleitos em primeiro turno. Uma taxa bem mais baixa que as das eleições precedentes de 2016 e 2012.
O MDB continua mantendo o maior número de prefeituras, embora recuando de 1028 em 2016 para 755 em 2020. Perdeu mais de 300 prefeituras, mas mantive a primeira posição. Em segundo lugar, o DEM, que foi o único a conseguir aumentar sua participação: de 272 prefeituras em 2016 para 450 prefeituras agora em primeiro turno. O PSDB perdeu mais de 30% das prefeituras, tinha 805 em 2016 e obteve 486 agora. O PT passou de 257 prefeituras para 174, o que ilustra a debilidade eleitoral do partido em todo o país.
A novidade maior foi o desempenho de Guilherme Boulos. Sua campanha inovadora ocupou um reduto que antes era quase todo bolsonarista, o das redes sociais, mobilizando sobretudo a juventude. Isso indica que mesmo que não vença as eleições ele permanecerá como uma força organizada muito forte em São Paulo, com a hegemonia na esquerda do Psol.
Outro destaque, esse internacional – afora a inapetência de Donald Trump para reconhecer o triunfo de Joe Biden –, foi a assinatura no dia 15 de novembro sob a liderança da China do maior acordo de livre comércio do mundo, englobando 15 países da região denominada Ásia-Pacífico, inclusive Japão, Austrália e Nova Zelândia. Nestes países residem um terço da população mundial.
*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M)