A cena brasileira – XVII

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Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

Comentários sobre acontecimentos recentes

A atual conjuntura segue fundamentalmente marcada pelos acontecimentos no âmbito da CPI da COVID no Senado Federal. Daí emerge uma complicada teia de interesses, colocando lado a lado militares, pastores evangélicos e comissionados do governo federal, que tem determinado a postergação da compra de vacinas em favor de tempo ganho para suspeitas intermediações comerciais com aumento significativo de preços de companhias internacionais.

Neste sentido, o presidente da CPI, num raro arroubo de valentia cívica, denunciou o “lado podre” das Forças Armadas; provocando imediata reação dos ministros da área militar e que contou com o apoio do presidente da república.

Este quadro afeta a moralidade assumida como princípio orientador da propaganda bolsonarista. A isto são agregadas novas revelações sobre a obtenção das “rachadinhas” pela família presidencial, colocando no centro o próprio Jair Bolsonaro. Fatos que serão agregados ao ambiente crítico afetando a condução da presidência da república ; podendo ser trazidos para atual CPI do Senado, ou mesmo alimentar a criação de uma nova comissão com finalidade específica.

A reforma tributária apresentada por Paulo Guedes tem sofrido acerbas críticas de especialistas, como Everardo Maciel que a classificam como “pior impossível”, pois aumenta a carga tributária das empresas e de muitas pessoas físicas, torna o sistema tributário ainda mais complexo do que já é, além de erigir obstáculos ao setor imobiliário e o de prestação de serviços. O momento do lançamento do projeto, em plena pandemia, seria também um problema a ser considerado pela sua inerente oportunidade. Também destacam-se a falta de apoio às empresas prejudicadas pela pandemia e às pessoas vulneráveis.

Os empresários já vão, rapidamente, compondo grupos de pressão com vistas à negociação de patamares mais baixos para o imposto de renda de pessoas jurídicas, bem como oposição à cobrança de lucros e dividendos da atividade empresarial. Estamos no começo de uma cruenta batalha tributária, e muitas novidades poderão surgir.

O quadro sucessório vai adquirindo maior nitidez advinda da divulgação de pesquisas eleitorais, nos últimos dias. Em várias fontes, Lula lidera o pleito simulado, tanto em um primeiro turno, bem como no segundo turno imaginado contra outros potenciais candidatos. Lula também tem conseguido baixar sua rejeição; com apenas 36% dos eleitores afirmando que não votariam nele em hipótese nenhuma (PoderData, 5-7 de julho de 2021). Uma queda de 12 pontos percentuais sobre a pesquisa anterior.

Talvez devido à essa dramática situação para as hostes governamentais se devam as manifestações escatológicas do presidente da república, nos últimos dias. Curiosamente, o Patriota, partido que presumivelmente abrigará sua candidatura à reeleição, se manifesta contrário a seu ingresso sob as condições de controle total da legenda, como pretende Bolsonaro.

Finalmente, cabe registrar que o senador Alexandre Vieira (Cidadania-SE) efetivamente apresentou (5 de julho de 2021) requerimento para criar uma CPI sobre a prática da “rachadinha” contra a atuação de Jair Bolsonaro como deputado federal (1991-2018). Mais um ingrediente a alimentar a conjuntura: pois, mesmo que não seja instalada, conserva uma função de denunciar práticas ilegais cometidas por Bolsonaro junto a seus assessores.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB e consultor da Empower Consult. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

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