Paris, 1871-2023, ao tempo das cerejas

Imagem: Chris Molloy
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Por MÁRIO MAESTRI*

Paris na vanguarda das mobilizações

“Mais il est bien court le temps des cerises”, verso da canção “Les temps das Cerises”, de 1866, de Jean Baptiste Clément, communard condenado à morte em contumácia.

Paris, domingo, 28 de maio de 1871. Entre as 14:00 e as 18:00, teriam se escutado os últimos canhões e fuzis disparando desde as derradeiras e já isoladas barricadas da Comuna. Em algumas delas, apenas quatro ou cinco populares resistem não raro até a morte ao assalto das tropas do governo de Versalhes. Impossível saber onde se concluiu a resistência. Os communards mortos em combate e fuzilados foram lançados em fossas comuns; as centenas de barricadas comumente formadas de grossos paralelepípedos foram desmontadas; as bandeiras vermelhas, arriadas e espezinhadas. [“La Dernière Barricade.”]

Enquanto eram sufocados os últimos focos de resistência, iniciavam o massacre e a perseguição aos já desarmados defensores e apoiadores da Comuna. Dez mil communards – ou tidos como tal – teriam sido fuzilados pelas tropas do governo de Versalhes, que saquearam a fundo sobretudo os bairros populares da capital. Foram assassinados funcionários administrativos, combatentes, jornalistas, operários, homens e mulheres, velhos communards que haviam lutado nas barricadas de 1848, os alfaiates, costureiras e sapateiros que haviam cometido o crime de confeccionar os uniformes da aguerrida Guarda Nacional parisiense. [DOMMANGET, 1971; LISSAGARAY 1962.]

A sanha dos monarquistas e burgueses republicanos assumiu a dimensão do temor que sentiram ao verem os trabalhadores governando o coração da nação. Tudo fizeram para erradicar em um enorme banho de sangue a lembrança das bandeiras vermelhas que flamulavam sobre a prefeitura e a cidade Paris sublevada por 72 longos dias. Entretanto, por longas décadas, aquelas jornadas ficaram marcadas, a ferro e fogo, na recordação sobretudo das famílias trabalhadoras parisienses, que raramente não tiveram um membro morto combatendo, fuzilado ou encarcerado pelo governo republicano contra-revolucionário. Uns 13 mil federados foram condenados a duras penas e enviados, em grande número, para as terríveis prisões nas colônias francesas de além-mar. [MOLLIER, 2014; ROUGERIE, 1964.]

Os lugares de culto da memória fixam os sentidos essenciais de sucessos que o tempo tende a dissipar a lembrança. No sábado, 27 de maio, alguns dos últimos defensores da Comuna postaram seus canhões e levantaram defesas nos planos mais elevados do belíssimo cemitério Père Lachaise, no coração de Paris. Ali, ao esgotarem as munições, travaram combate corpo a corpo, por entre as tumbas e monumentos funerários, que guardam ainda alguns vestígios daquele confronto. Por volta do meio-dia, 147 communards aprisionados foram impiedosamente fuzilados contra um muro do cemitério e enterrado no local em fossa comum, na qual foram lançados a seguir os corpos de combatentes ou executados nas cercanias do cemitério. [“La Commune de Paris”; GUERIN, 1966.]

O muro dos federados, templo da revolução

Em 23 de maio de 1878, dois anos antes da anistia dos communards condenados, 25 mil trabalhadores parisienses e familiares, desafiando as forças policiais, desfilam silenciosamente diante do Muro dos Federados, portando uma rosa vermelha à lapela. Em 25 de maio de 1936, 500 mil manifestantes marcharam em homenagem à Comuna, chamados pelos partidos comunista e socialista, quando dos sucessos da Frente Popular, que prometia realizar, sem um governo dos trabalhadores, muitas das reivindicações dos communards. [L’Humanité, 25 mai 1936.]

O cemitério Père Lachaise, tradicional local de sepultamento da grande intelectualidade francesa, passou a acolher os restos mortais de ex-combatentes da Comuna, de veteranos das Brigadas Internacionais de Espanha, de militantes socialistas, revolucionários, comunistas, anarquistas, trotskistas, etc. franceses e não franceses, como Laura Marx e seu companheiro, Paulo Lafargue, representante francês na I Internacional, falecidos em novembro de 1911. Ali repousam as cinzas de militantes trotskistas mortos nas últimas décadas como Ernest Mandel, Pierre Frank, Pierre Lambert, Daniel Bensait.

A celebração e a lembrança da Comuna mantiveram-se forte em Paris e na França, passando a decair nas últimas décadas, possivelmente por duas grandes razões. A vitória da Revolução Russa, em 1917, por um lato, e, mais tarde, o crescente viés reformista e colaboracionista do Partido Comunista Francês, por outro, exacerbado pela contra-revolução mundial vitoriosa nos anos 1989-91, quando da restauração capitalista na URSS e nos Estados de economia nacionalizada e planifica. [LARRÈRE, 2021.]

Até o advento do stalinismo, os bolcheviques celebraram a Comuna de Paris, vendo a vitoria de 1917 como sua continuação e conclusão vitoriosa, em outra região de um mundo que propunham sem fronteiras, ao igual que os internacionalistas de 1871. Nas semanas seguintes ao assalto ao poder, durante uma reunião do comitê central do Partido Bolchevique, alguém lembrou que haviam superado os 72 dias do governo da Comuna. Os membros do comitê central abandonaram a reunião para sair ao céu aberto e disparar seus revólveres para o alto, celebrando que, mesmo se derrotados, haviam avançado alguns passos na obra dos communards.

Entretanto, devido à sua descomunal dimensão geográfica, temporal e programática em relação à Comuna de Paris, Outubro de 1917 tornou-se inevitavelmente referência maior que as jornadas de março-maio de 1871. Por sua vez, o viés colaboracionista do socialismo e do comunismo estalinista e pós-estalinista recomendavam pôr em surdina a celebração da conquista, em 1871, do poder pelos trabalhadores através das armas, em outra região do mundo que no Império Tzarista.

Atacar, para defender-se

Entre as causas propostas da derrota da Comuna está o seu caráter defensivo, tendo sido literalmente empurrada para o controle do poder em Paris. Efetivamente, em 1870, o imperador francês Napoleão III, desprestigiado, aceitou o repto envenenado lançado pelo chanceler prussiano Otto von Bismarck, que via em uma guerra, com uma França despreparada para tal, o caminho mais rápido para a unificação alemã. Iniciado o conflito, as tropas alemãs avançaram rapidamente através da França em direção de Paris.

Capturado pelos prussianos em 2 de dezembro de 1870, Napoleão III assinou a rendição da França, sendo deposto, dois dias mais tarde, após violentas manifestações populares sobretudo parisienses. A monarquia deu, então, lugar à III República e a um governo provisório, dito de Defesa Nacional, incompetente e venal, incapaz de defender a França e a capital cercada, mais preocupado em estrangular o crescente ativismo operário e socialista. Durante todo o inverno, as tropas alemãs cercaram e bombardearam Paris, obrigando as classes populares não raro a alimentar-se com a carne de cachorros, gatos e ratos, que praticamente desapareceram da capital.

Em 28 de janeiro de 1871, Bismarck concedeu o armistício pedido pelo governo, por três semanas, para que uma Assembleia Nacional eleita votasse a rendição. Em maioria, foram eleitos, a toque de caixa, com o voto das regiões rurais da França, deputados monarquistas, bonapartista, ultramontanos, favoráveis a “paz a qualquer custo”. Em Paris, que resistia ao cerco prussiano, triunfaram os candidatos pela resistência, em boa parte de orientação socialista, anarquista, republicana radical ou moderada, etc.

Adolphe Thiers (1797-1877), destacado historiador e republicano conservador e transformista, mandado ao exílio por Napoleão III, foi designado chefe do executivo do governo republicano pela assembleia conservadora recém-eleita. Ele aceitou as condições de paz vergonhosas impostas pela Alemanha, ratificadas em 1º de março, para a indignação sobretudo da população trabalhadora parisiense, que vivia e resistia havia meses tenazmente ao cerco alemão. Thiers aceitou conceder ao agora império alemão, sob o cetro de Guilherme I, uma indenização exorbitante, a entrega de importantes territórios nacionais e um humilhante desfile das tropas vencedoras no Champs-Élysées!

Em 10 de março de 1871, a Assembléia Nacional conservadora decide se estabelecer na aristocrática Versalhes e não em Paris, que define como “capital da ideia revolucionária”. Deste então, o governo de Thiers passa a avançar todo tipo de medidas para enfraquecer e desarmar a população parisiense e, sobretudo, o coração da resistência da capital, formado por 70 mil pequenos artesãos e 450 mil trabalhadores, em uma população, antes da guerra, de quase 1.800.000 habitantes.

Versalhes contra Paris

Em 17 de março, Thiers determina que se retirem de Paris seus mais de duzentos canhões, pagos em grande maioria pela população da cidade. As tropas se negam a disparar sobre os parisienses que se opõem à entrega dos canhões, dois generais que comandam a expedição são executados. Com o abandono geral da capital pelo governo de Thiers, que se refugia também em Versalhes, a população parisiense, nesse momento dominantemente trabalhadora, defrontam-se com a necessidade de formar um governo seu. Então, a França se divide em dois poderes, um, popular e revolucionário, no interior dos muros de Paris, representado pela Comuna, e outro, conservador e contra-revolucionário, sediado em Versalhes, dominando o resto da França não ocupada pelos prussianos. Inevitavelmente, um deles se deve sobrepor ao outro, para subsistir.

Em 26 de março, são eleitos 92 membros do conselho da Comuna, por 52% do eleitorado parisiense, em uma cidade fortemente desertada pelas classes endinheiradas, devido ao cerco e à agitação popular e revolucionária da capital. Mesmo assim, são eleitos em torno de 20 deputados claramente conservadores, que também abandonam precaucionalmente Paris. O parlamento communard funcionará com 70 deputados, sobretudo republicanos moderados e radicais, jacobinos, blanquisas, anarquistas, maçons, internacionalistas, ou seja, marxistas. Ele jamais alcançará a constituir a direção firme e segura exigida pelo momento e pelas classes populares.

O Conselho Geral da Comuna se divide em uma minoria, que propõe uma república claramente social, e uma maioria, que defende uma república política, com sensibilidade social. Ele inicialmente vai tentar negociar com o governo de Versalhes, que se mobiliza para esmagar a revolução dos trabalhadores. Entretanto, as deliberações do Conselho da Comuna se dão sob o calor da mobilização permanente dos trabalhadores e trabalhadoras, que publicam jornais e pasquins revolucionários e organizam clubes, assembleias e manifestações nos bairros populares.

As medidas tomadas pela Comissão Executiva da Comuna tinham um teor fortemente plebeu e popular: decreta-se a nulidade dos alugueis não pagos durante o cerco; suspende-se a venda de objetos penhorados; votam-se medidas em defesa dos endividados; decreta-se pensão aos familiares dos mortos na defesa de Paris; decide-se pela ocupação de residências vazias em favor dos bombardeados; tabela-se o preço do pão e se estabelece a venda pelo governo de alimentos.

São tomadas medidas políticas, econômicas e simbólicas importantes. Determinam-se a possibilidade de revogação permanente e o mandato imperativo dos parlamentares e funcionários eleitos, entre eles os juizes e os servidores da Justiça, todos pagos, ao máximo, com o salário de um operário especializado. Concede-se a nacionalidade para os estrangeiros que defendem a Comuna; impõem-se a separação da Igreja e do Estado e a nacionalização dos bens eclesiásticos.

A guerra dos símbolos

No terreno simbólico, adotam-se a bandeira vermelha como símbolo do novo governo, renegando a tricolor, e o calendário republicano e laico da Revolução de 1789. São destruídas a casa de Thiers, a coluna de Vendrome, a igreja de Brea, o confessionário de Louis XVI. Durante os combates, são incendiados outros símbolos do poder conservador, como os palácios das Tulherias e da Justiça e a prefeitura de Paris, sem o mimimi da nossa dita esquerda, contrária a qualquer ataque ao acervo arquitetônico histórico conservador brasileiro. Mesmo a pena de morte tendo sido abolida, são executados diversos reféns, sobretudo altos membros da odiada Igreja aristocrática, quando da Semana Sangrenta, após a execução de communards pelas tropas de Versalhes.

No plano econômico, entregam-se as manufaturas abandonadas a cooperativas de trabalhadores; decreta-se a jornada de trabalho de dez horas; substituem-se as agências privadas de emprego por empresas públicas; determina-se o fim das multas patronais dos trabalhadores; se institui salário mínimo para certas atividades; se proíbe o trabalho noturno aos padeiros. São aprovadas a educação pública, laica e gratuita e escolas noturnas mistas, medidas que a breve vida da Comuna impede de serem realizadas. Institui-se o casamento simplificado e gratuito. Determina-se a plena liberdade de imprensa. Os jornais claramente contra-revolucionários, quando fechados, aparecem sob outros títulos.

O voto e os cargos públicos permanecem restritos aos homens, realidade defendida pelos anarquistas seguidores de Pierre-Joseph Proudhon (1809–1865), misógino e machista, e combatida duramente pelos internacionalistas e internacionalistas (marxistas). Entretanto, como na Revolução Francesa, em 1789, foi enorme a participação das mulheres trabalhadoras e populares, que, desta vez, em 1871, lutaram também nas barricadas. Em 11 de abril, Nathalie Lemel (1827-1921), encadernadora e sindicalista, e Elisabeth Dmitrieff (1851-1918), intelectual russa, ambas internacionalistas, fundaram a “União das Mulheres pela defesa de Paris e o cuidado dos feridos”, no café da rua do Templo. Uma e outra teriam combatido, durante a Semana Sangrenta, em barricada, à frente de um pelotão de cinquenta mulheres. Nathalie, presa, foi deportada para a colônia francesa da Nova Caledônia. Elisabeth alcançou a escapar da repressão. Duas praças do coração da capital francesa portam hoje o nome dessas incansáveis communardes e internacionalistas.

A associação, que teria reunido trezentas mulheres, reclamava-se do feminismo e defendia reivindicações das mulheres operárias, propondo retomar a tradição de 1848, sufocada pelo II Império. A Associação e mulheres trabalhadoras e populares que participaram ativamente da Comuna, nos clubes dos bairros populares, alguns deles exclusivamente femininos, exigiam a igualdade dos salários, a formação de creches, o reconhecimento do casamento livre. Elas foram destemidas enfermeiras, padioleiras e combatentes quando da Semana Vermelha, portanto fuzis e acionando canhões, com tal destemor que foram denominadas pejorativamente por Versalhes de “pétroleuses” – incendiárias. Após a derrota, a tradição e relatos se referem às outras mulheres, da aristocracia e da burguesia, que, elegantemente vestidas, chegaram ao extremo de furarem os olhos de prisioneiros e rendidos acorrentados e feridos com as pontas de suas sombrinhas elegantes. [VALAT, 2019.]

A Comuna teve igualmente pouco tempo para se estabilizar e consolidar, sem jamais se decidir a construir um exército profissional e defesas pertinente de Paris, para caso de uma invasão, dominando as defesas estáticas e pouco articuladas das barricadas. Thiers obteve de Bismarck que fossem libertadas importantes tropas franceses, o que permitiu lançar contra Paris 130 mil soldados bem armados e treinados.

Em dois de abril, iniciam-se os combates, substituindo-se as tropas de Versalhes às prussianas no ataque das defesas de Paris. Apenas em 21 de maio, após superarem as muralhas da capital, as tropas de Versalhes ingressaram na capital pelos bairros das classes proprietárias. Possivelmente, as tropas communards não contaram com mais de 20 mil soldados disciplinados e decididamente comprometidos com a resistência, com destaque para a Guarda Nacional. A resistência communard foi vergada apenas em 28 de maio, quando se encerra a Semana Sangrenta e se inicia execução em massa dos derrotados. Dificultou a defesa da Comuna o princípio da autonomia e do voluntarismo dos combatentes e da improvisação da defesa de Paris. Uma realidade que certamente contribuiu para a rejeição de León Trotsky da proposta de milícias autônomas de voluntários, para enfrentar a Guerra Civil de 1918-1922. Ao contrário, ele construiu o Exército Vermelho vitorioso apoiado na centralização, disciplina, profissionalização e conscrição universal. [TROTSKY, 1968.]

Paris e as Províncias

Propõe-se corretamente que Paris dificilmente se sobreporia aos exércitos profissionais de Versalhes sem o apoio das demais grandes cidades, às quais propôs a federação livre das comunas da França. Uma proposta que percorreu o país, com indiscutível recepção, mais do que comumente proposto, sem porém conseguir incendiar as grandes cidades das províncias.

Antes mesmo da Comuna, em Lyon, em 4 de setembro de 1870, proclamou-se a república e ocupou-se a prefeitura, substituindo-se a bandeira tricolor pela vermelha. Com a queda de Napoleão III e a instalação da III República, aquela comuna foi dissolvida, sendo que seus setores de esquerda tentam restabelecê-la, duas vezes, terminado por levantar barricadas e enfrentar militarmente as tropas republicanas conservadoras, em 30 de abril. [“Les Communes en Province”, 1 e 2.]

Entre setembro e outubro, a república foi proclamada em Lille, Dijon, Bordeaux e em onze outras cidades. Em Marselha, em 1º de novembro, a prefeitura foi ocupada por um comitê revolucionário, expulso após alguns dias. Em 5 do mês seguinte, uma tentativa insurrecional foi reprimida em Rouen.

A proclamação da Comuna, em Paris, em 18 de março de 1871, repercutiu igualmente na província. Em 25 a 27 de março, a guarda nacional proclamou a comuna de Toulouse. O que foi feito, igualmente, em Lyon, Marselha, Toulouse e no mínimo em outras dez cidades, em março, abril e maio, em forma fulgaz, sem continuação. [“Les Communes en province”, 1 e 2.]

Calcanhar de Aquiles

O grande calcanhar de Aquiles da Comuna foi o amplo apoio que a reação republicana, clerical, monarquista e bonapartista contou por parte da população rural, sobretudo dos camponeses ricos e remediados, admiradores de Napoleão e de seu sobrinho, a quem creditam, ao primeiro, a conquista e, ao segundo, a garantia de suas propriedades fundiárias. Esses setores votaram e apoiaram maciçamente a política da rendição diante da Alemanha unificada e a repressão aos trabalhadores sublevados.

A população trabalhadora de Paris, os “braços nus”, fora responsável pelo impulso e sustentação das primeiras e grandes jornadas populares revolucionárias da Revolução de 1789. [GUÉRIN, 1973.] Nela se apoiara o primeiro movimento revolucionário moderno do proletariado, quando da Conspiração dos Iguais, de 1796, dirigida por Graco Babeuf, que agitou os bairros pobres de Paris exigindo o fim da propriedade privada, com a coletivização das terras e manufaturas. [WALTER, 1980] A Comuna de Paris foi uma superação quantitativa e qualitativa das mobilizações dos trabalhadores e artesãos de 1789, de 1796, de 1830, de 1848. Ela sustentou, por 72 dias, o primeiro governo operário da história da humanidade.

Nesses tempos obscuros de contra-revolução em que vivemos, as classes trabalhadoras europeias e mundiais sofrem a ofensiva ininterrupta do grande capital internacional, apoiada não raro por partidos, organizações e sindicatos que no passado foram seus. Nesse contexto, em que se propõe o fim do protagonismo dos trabalhadores e a morte da revolução e do socialismo, o mundo do trabalho se levanta majestosamente em Paris, em defesa de seus direitos, precisamente nos meses em que se cumprem os 152 anos das jornadas da Comuna.

Mais ainda, ao contrário de 1871, Paris vanguardeia a mobilização poderosa de praticamente todas as grandes, médias e pequenas municipalidades francesas. Essa mobilização portentosa das classes trabalhadoras e populares francesas mostram, à Europa e ao mundo, a universalização das relações assalariadas e a indiscutível condição dos trabalhadores de completar e avançar no caminho aberto pela Comuna, em 1871, e aprofundado por Outubro, em 1917, em direção de um tempo que será sempre das cerejas.

*Mário Maestri é historiador. Autor, entre outros livros, de Filhos de Cã, filhos do cão. O trabalhador escravizado na historiografia brasileira (FCM Editora).

Referências


[La] Commune de Paris, Les communards au Père Lachaise. https://parcours.commune1871.org/les-communards-au-pere-lachaise/le-site-des-derniers-combats-tombeau-de-charles-nodier

[Les] Communes en province. Les Amies e Amis de la Commune de Paris 1871. https://www.commune1871.org/la-commune-de-paris/histoire-de-la-commune/dossier-thematique/les-communes-en-province [1]

[Les] Communes en province. Force Ouvrière. https://www.force-ouvriere.fr/les-communes-en-province?lang=fr [2]

[La] dernière barricade de la Commune de Paris, Les Amies et Amis de la Commune de Paris 1871. https://www.commune1871.org/la-commune-de-paris/histoire-de-la-commune/chronologie-au-jour-le-jour/1362-la-derniere-barricade-de-la-commune-de-paris

DOMMANGET, Maurice. La commune. Bruxellas: La Taupe, 1971.

GUERIN, André. 1871: la Commune. Paris: Hachette, 1966.

GUÉRIN, Daniel. Bourgeois et bras nus: 1793-1795. France: Gallimard, 1973.

LISSAGARAY, H. Prosper-Olivier. Storia della Comune. Roma: Ed Riuniti, 1962.

LARRÈRE, Mathilde. La Commune prend les murs. Le Monde Diplomatique, Paris, Mars 2021.

MOLLIER, Jean-Yves. «Belle-Île-en-Mer, prison politique après la Commune (1871-1880)», Criminocorpus, Justice et détention politique, 31 janvier 2014, consulté le 23 mars 2023. URL: http:/ journals.openedition.org/criminocorpus

ROSSEL, Cluseret. La Commune et la question militaire, 1871. Paris: 1018, 1971.

ROUGERIE, Jacques. [Org]. Procés des communards. France: Julliard, 1964.

TROTSKY, Léon. I. Comment la revolución s’est armée. Écrits militaires. Paris: L’Herne, 1968.

VALAT, ELOI. Femmes de la Commune de Paris. Le Monde Diplomatique, France, juillet 2019). https://www.monde-diplomatique.fr/60037

WALTER, G. Babeuf et la Conjuration des Egaux: 1760-1797. Paris: Payot, 1980.


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