A guerra entre Ocidente e Oriente

Imagem: Aksonsat Uanthoeng
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Por MANOLO MONEREO*

As placas tectónicas da geopolítica estão se movendo por todo o mundo

Este é um momento histórico crucial em que devemos começar a discutir não apenas a guerra em si, mas as mudanças que estão ocorrendo na economia mundial após o início da guerra na Ucrânia. Sob o título geral de Eurásia, é muito importante ver porque certamente estamos vivendo a maior reorganização espaço-temporal da Eurásia desde Genghis Khan, nem mais nem menos. Isso vai obrigar-nos a considerar coisas de alto nível.

Gostaria de começar com uma frase, com uma citação, de Halford MacKinder: “Quando nossos estadistas estão conversando com o inimigo derrotado, algum querubim alado deve sussurrar para ele de vez em quando o seguinte: aquele que domina a Europa Oriental controla o coração continental, aquele que domina o coração continental controla a Ilha Mundial, quem domina a Ilha Mundial controla o mundo”. Esta é uma citação antiga que tem muito a ver com os problemas que estamos a viver no mundo atual, em específico na Europa. Trata-se da relação concreta entre a Europa, a península europeia da Eurásia e a Eurásia, e a sua relação, que no final é a relação entre a Alemanha e a Rússia.

Este é precisamente o grande problema estratégico do mundo anglo-saxônico herdado pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos, que era impedir – a todo o custo – uma aliança entre a Rússia e a Alemanha. Esse é um dos velhos problemas da geopolítica não resolvidos: o debate entre as potências talassocráticas e as potências telurocráticas e vê-lo de uma forma um pouco além do mítico e entrando no que podemos chamar de correlações de força e geopolítica como uma luta pelo poder do ponto de vista geográfico. É isso o que está em causa.

Estamos realmente diante de uma terceira guerra mundial? Esta é a posição que Emmanuel Todd tem defendido com muita força. Não creio que estejamos perante o início da Terceira Guerra Mundial. Agora, o que eu acredito é que as possibilidades que se abrem para isso estão crescendo exponencialmente. Estamos cada vez mais próximos, por uma razão muito fácil de entender, que é esta: para a Rússia a questão da Ucrânia, esta guerra, é existencial, a sua vida futura está nela, não só como Estado, mas como cultura e civilização. Para os Estados Unidos não é assim, não é existencial, mas é decisivo para manter sua hegemonia. A guerra na Ucrânia, a guerra da OTAN contra a Rússia e a guerra, afinal, entre Ocidente e Oriente, é muito importante. Porque se os Estados Unidos perderem, seria a confirmação definitiva de sua perda de hegemonia mundial.

Como disse o Secretário-Geral da OTAN, há pouco tempo, a chave é que o maior risco que corremos é que a Rússia ganhe; eis que os outros riscos são secundários. Nessa perspectiva, estamos vivendo no fio da navalha. Trata-se de uma situação que pode levar algumas pessoas a pensar que estamos muito perto da terceira guerra mundial. Agora, estamos em conflito e a guerra na Ucrânia já dura mais de um ano. E as coisas têm mudado muito rapidamente.

A primeira coisa a notar é que as medidas de emergência econômica contra a Rússia implementadas pela OTAN e pelo Ocidente falharam. Não é que não tenham surtido efeito, mas sim que tenham falhado no seu elemento fundamental. Penso que se trata de um fato extremamente significativo. Ou seja, pela primeira vez uma estratégia bem pensada da hegemonia, dos Estados Unidos, para acabar com a Rússia e prostrá-la praticamente diante da derrota está fracassando.

A segunda questão intimamente ligada a isso é que o processo de desdolarização avançou muito. Ou seja, impõe-se cada vez mais medidas contra a Rússia ou contra a China, contra as suas moedas, as suas taxas de câmbio e a livre circulação de capitais e mercadorias. Isso está significando um processo de crise da hegemonia do dólar que tem grande importância para os Estados Unidos. A hegemonia do dólar e sua expansão militar são a mesma coisa, uma financia a outra. O enorme poder militar dos Estados Unidos baseia-se no poder econômico do dólar e, sem ele, o seu enorme poder militar não é possível.

A terceira questão é muito séria, é que estamos diante da centralidade da China. Agora parece que Pequim surge com uma Meca. Você não é importante se não entrevistar Xi Xinping e todo mundo vai lá para ver o que ele quer e como ele quer.

Há uma quarta questão relacionada com a Eurásia que é o acordo entre a Arábia Saudita e o Irã, algo que tem uma enorme dimensão geopolítica. Por quê? Porque a ilha do mundo tem muito a ver com uma Eurásia alargada; este é um dos três parafusos que se está a reconstruir. China, Rússia e Irã estão reorganizando a Eurásia e chegando a novas relações com ninguém menos que a Arábia Saudita. E o mundo inteiro tem a ver com o Oriente Médio, que é um dos núcleos fundamentais do poder econômico e militar dos Estados Unidos.

Há também um elemento novo que tem a ver com as coisas que Lula está começando a fazer ou que Alberto Fernández fez na Argentina – e, note-se, não há dois sem três. Quando aparece essa polarização entre Estados Unidos, China, Rússia e Otan, rapidamente surge uma terceira via. Esse caminho pertence a quem o deseja, mas não pode segui-lo. Eles percebem a janela de oportunidade que isso representa para os países latino-americanos, africanos, asiáticos, porque essa polarização lhes dá maior capacidade de manobra, maior autonomia. Para quê? Deixar de lado a interferência, a presença constante e sistemática dos Estados Unidos, das instituições econômicas e políticas internacionais em sua fronteira.

Há um novo ar nas relações internacionais, onde todos percebem que a multipolaridade está a emergir e isso significa maior autonomia e possibilidade de defesa dos interesses estratégicos de cada um dos países e, em última análise, maior soberania. Claro, a peça-chave é a Índia, que já este ano certamente será o maior país demograficamente do mundo. Ela desempenhará um papel decisivo nesta mudança; mas também a Indonésia, o maior país muçulmano do mundo; ademais, também, de certa forma, o Paquistão, assim como de uma forma ou de outra a Malásia. Ou seja, o mundo do Oriente emerge com grande força. Os países dentro deles estão mudando, os atores estão mudando e a correlação interna também está mudando.

Nisso vale a pena discutir dois países, China e Rússia. A Rússia está saindo de um “capitalismo” mais ou menos de oligarcas, como se diz no Ocidente – como se nossos capitalistas monopolistas não fossem oligarcas, mas homens santos e empresários elegantes. Uma das muitas coisas positivas que este conflito tem para a Rússia é que os oligarcas estão saindo do caminho e não é só isso, pois algo está sendo construído. Ou seja, está nascendo um novo tipo de país, no que podemos chamar de capitalismo de Estado ampliado e desenvolvido.

A Rússia está se desenvolvendo industrialmente enormemente nesses anos. Está se tornando uma grande potência produtiva, produz coisas, enquanto o Ocidente produz papelada. E isso é relevante na relação interna das forças na Rússia, nas suas capacidades operacionais e na demonstração de que, no final, as sanções não estão a significar para elas o custo que os Estados Unidos e a OTAN vinham programando.

O outro polo, obviamente, é a China, com a sua nova centralidade também no interior. De uma economia que se reinsere novamente e, paradoxalmente, que defende uma globalização que tem lhe sido benéfica. Contra os Estados Unidos, que estão rompendo com a própria globalização que criaram como o grande projeto do novo século americano (PNAC). Muitas coisas decisivas estão acontecendo, entre elas, uma transição muito complicada para um mundo multipolar, que está apenas começando, mas já está ocorrendo rapidamente. Se virmos o que Lula está defendendo para a Europa e a recente entrevista entre Volodymyr Zelensky e a China, percebemos que a China tenta cumprir um papel de pacificador e líder de um novo tipo de relação internacional não marcada como Império, como foi o caso dos Estados Unidos.

Agora vem a questão: Como as mudanças na relação entre a China e a Rússia, a sua aliança, assim como a criação, em 2001, da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), modificam a geopolítica do mundo.

Neste momento, 19 países querem aderir aos BRICS. Vão acabar se tornando um polo econômico-político de grandes dimensões. Na minha opinião, isso é de enorme importância, a que chamei a nova centralidade da China como potência pacificadora que traz segurança e estabilidade às relações internacionais. Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos aparecem como uma espécie de valentão de bairro, como uma força que continuamente causa guerras, derrota, gera monstros, os quais não é capaz de controlar.

Ora, esse processo, de certa forma, está se acelerando; trata-se para os Estados Unidos de lutar por algo fundamental que é não perder a hegemonia no mundo. É muito importante ter este fato em conta, porque as relações internas e externas naquele país são muito claras neste momento – sempre foram.  Vivem uma guerra civil latente, um conflito interno extremamente grave, que foi visto ao longo do mandato de Donald Trump e que se tornou muito mais evidente com o mandato de Joe Biden. E, por outro lado, nos Estados Unidos a elite dominante vive a situação com grande drama. É o que podemos chamar de enorme poder do tempo.

Os Estados Unidos têm um problema muito sério, sabem que chegou a sua hora, que a sua hegemonia no mundo está a terminar. Teria várias possibilidades, para negociar esse fim, para chegar a um novo acordo internacional. Mas o que ele vai fazer neste momento é evitar que sua hegemonia entre em declínio e para isso ele vai usar todo o poder que tem (e até mesmo o poder que não tem) nessa batalha política central. Foi por isso que falei há pouco sobre a possibilidade de uma terceira guerra mundial, porque a potência americana considera que, se de uma forma ou de outra a aliança China, Irã e Rússia for reforçada, se desenvolver e se chegar a um cessar-fogo na Ucrânia.

Se isso significar, pura e simplesmente, que uma parte do que é hoje a Ucrânia se torne parte da Rússia, representa não apenas uma tragédia mais ou menos forte para a elite ucraniana, mas é uma espécie de elemento decisivo, para dizer ao mundo inteiro que os Estados Unidos não são mais o que eram. Ele agora se torna mais um, em um mundo que muda rapidamente. Essa possibilidade vai afetá-lo, mas também coloca todos nós em perigo; trata-se de uma potência em declínio que não quer deixar de ser uma e de ter os privilégios que teve graças a esse enorme poder que acumulou durante décadas. É isso que está por detrás destes problemas anteriormente referidos e que têm a ver com o novo quadro de aliança geopolítica internacional.

Se olharmos com um olhar histórico para como eles podem se sentar para discutir o fim da guerra no Iêmen entre Irã e Arábia Saudita… Isso é uma coisa incrível. Ou seja, o conflito interno que Israel já vive tem muito a ver com tudo isso. Com a forma como os países do Golfo durante anos mantiveram o poder dos EUA na área, e foram capazes de reciclar dólares e transformá-los em petrodólares para financiar o enorme déficit comercial dos EUA. Esses países hoje chegam a um acordo e, acima de tudo, o que para mim é decisivo, eles concordam com um tipo de troca em uma moeda e em um bloco econômico que não depende mais dos Estados Unidos, de suas instituições e de sua emissão de papel-moeda.

Estamos em um mundo que muda rapidamente; ora, isso está ocorrendo em seus pontos nodais. Então, se se olha para o que está acontecendo na Ucrânia, com o nascimento do Órgão de Cooperação de Xangai, com o novo impulso para os Brics, a presença de Dilma Rousseff em seu Banco de Desenvolvimento, a presença econômica ativa da Rússia e da China na África, tudo isso está dando um sinal de que as coisas estão mudando muito rapidamente. E para as elites dominantes africanas, latino-americanas, asiáticas que ainda não têm poder suficiente para enfrentar os Estados Unidos, o que elas fazem é aproveitar essa disputa, essa contradição entre Rússia e China, de um lado, e os Estados Unidos, de outro, para se posicionar e tentar tirar proveito e se beneficiar de um mundo que está mudando definitivamente sua base.

Dentro desses cenários de alguma pressão, Ucrânia-Europa, Taiwan-China, Mar de Sahel-África, propostos pelos Estados Unidos e pelo imperialismo coletivo do Ocidente, nessa disputa, como comparar a dinâmica da China em relação à dos Estados Unidos na questão entre a Ásia Ocidental (paz entre Irã e Arábia Saudita) e a África?

Quando trato desse assunto, aponto sempre que três linhas de frente haviam sido construídas. Três cenários muito complexos, quatro talvez. A primeira linha de frente na Europa e na Ucrânia, em segundo lugar, o Mar do Sul da China com Taiwan e a terceira para mim é a defesa avançada do Ocidente e da Europa na África, que passa a ser novamente um espaço de disputa entre as grandes potências. Sempre foi de uma forma ou de outra, mas agora volta com muita força.

Há um quarto cenário, a mídia cognitiva. É o que podemos chamar de imenso controle da mídia, manipulação e construção do imaginário social que os Estados Unidos e o Ocidente colocaram em movimento nesse processo que não é apenas contra a Rússia, mas também claramente contra a China. Está se tornando um discurso disciplinar onde vozes críticas são marginalizadas, aquelas que discordam da narrativa que os Estados Unidos e o Império Coletivo do Ocidente estão impondo.

Os Estados Unidos têm uma clara superioridade (que é sempre bom levar em conta) no campo político-militar. Nenhum país do mundo pode competir militarmente. Suas 800 bases militares, sua presença em todos os mares, seus enormes porta-aviões, sua capacidade de mobilizar uma força expedicionária de 200.000 ou 300.000 soldados em qualquer lugar do mundo, tudo isso só pode ser feito pelos Estados Unidos. Tem, por enquanto, força para criar cenários de conflito. Os Estados Unidos voltam e quando voltam, como disse Joe Biden, é para pressionar os países que estão questionando o que chamam de valores do Ocidente e a hegemonia da ordem internacional e suas regras, é o que eles vêm impondo.

Isso leva ao estabelecimento de três grandes cenários criados pelos Estados Unidos que tenta governá-los. Por exemplo, chamo de termostato o que rege o conflito entre os Estados Unidos e a China. Quando interessa ao poder americano, ele vai pressionar esse termostato para que o conflito ocorra, mas quando não estiver interessado, vai moderá-lo. Mas já começa a trabalhar nessa perspectiva de criar um bloco alternativo à China a partir do conjunto de bases militares que tem em toda a área que a China praticamente encurrala e assedia permanentemente e que está montando. E recentemente de uma forma muito forte nas Filipinas e especialmente na Coreia do Sul, onde pela primeira vez há submarinos nucleares que estão atuando ativa e permanentemente nessa área.

Taiwan também não é algo pequeno. Sabe-se que os Estados Unidos já têm várias centenas de conselheiros militares nessa área e que também estão sistematicamente e mais firmemente rearmando-a, quebrando todos os acordos internacionais que reconhecem que Taiwan faz parte da China. Então, nessa perspectiva, os conflitos estão todos abertos e o país norte-americano os governa de acordo com sua própria capacidade de gerenciá-los. O que a China aprendeu e está aprendendo, é o que no Peru é chamado de “pisar no pau”. Há um ditado: “o que ele quer é que eu pise no pau”; ora, o que os Estados Unidos querem é que a China pise no pau de Taiwan.  Depois da experiência da Ucrânia, se o fizerem, será porque sabem que vão ganhar e que vão agir de forma decisiva para mudar a situação.

O que a China está fazendo agora é o retorno como uma grande potência pacificadora e capaz de consertar os erros, os conflitos de uma potência em declínio, que cria desordem e crise permanentemente e põe em risco a paz mundial. Está a pôr em marcha, sob a sua orientação, uma nova ordem econômica e política internacional.

Isso é cada vez mais bem visto pelos países asiáticos, africanos e latino-americanos que veem nessa nova ordem uma possibilidade de construir um mundo onde o imperialismo coletivo do Ocidente não se imponha permanentemente. E assim permitir aos povos um novo Bandung e uma nova orientação socioeconômica, que, de uma forma ou de outra, ponha fim à miséria, à pobreza e ao desenvolvimento econômico sustentável e, acima de tudo, lhes permita superar uma situação neocolonial que pesa decisivamente sobre as condições de vida das populações do chamado Sul Global.

A China está tentando construir a infraestrutura da Nova Rota da Seda da China, enquanto, ao mesmo tempo, os EUA estão tentando miná-la? Também levando em conta outro foco de conflito que às vezes vem de décadas, como a Ásia Central e o espaço pós-soviético, onde os Estados Unidos tentam exercer coerção. Olhando para toda essa interconexão euroasiática e as bases militares em torno da China, Irã e Rússia, como é esse papel contraditório entre Estados Unidos, China e Rússia?

Esse é um conflito que eu diria existencial. Para os Estados Unidos, a Rússia não é um conflito existencial. Mas a China sim; para os norte-americanos o desenvolvimento e crescimento do gigante asiático é incompatível com o futuro da hegemonia norte-americana e, portanto, vão combatê-lo sistematicamente. Ele devolve o que as pessoas interessadas em geopolítica sempre estudaram, que é a centralidade da Eurásia. Sem isso, não se consegue entender o que está acontecendo, que é uma reorganização espaço-temporal da Eurásia em torno de uma aliança estratégica entre Irã, Rússia e China.

Essa aliança vai ser enorme porque vai ser não só uma série de mecanismos de infraestrutura tecnológica de alto nível, de ferrovias, mas todo um conjunto de dispositivos que, por um lado, buscam contornar a influência que os Estados Unidos têm, por exemplo, no Canal de Suez e em toda a área do Mar Vermelho. Além disso, buscam articular a Eurásia como um espaço autossuficiente, capaz de gerar dinâmicas próprias e transformá-la na centralidade do planeta Terra. Isso está sendo feito em uma aliança tripartite que não será fácil, significará todo um conjunto de medidas econômicas, tecnológicas, de transporte, também relacionadas à energia, que transformarão a Eurásia em um espaço econômico autossuficiente com capacidade de desafiar todo o planeta Terra a partir de sua própria centralidade.

Obviamente, os Estados Unidos vão tentar opor-se à isso com tudo o que têm, não só no espaço da Ásia Central, ou promovendo os conflitos existentes, mobilizando novamente a Geórgia ou a Moldávia, mas tentando intervir nas antigas ex-repúblicas soviéticas, já que algumas delas não têm pequenas dificuldades. Mas não podemos esquecer que nesse mundo há outra presença ativa, que vai ser muito específica, é a Índia, que vai ser o outro grande ator nessa área. Até agora a Índia está navegando entre diferentes posições e se beneficiando dessa intermediação, equidistância ou boa relação entre um e outro. E fará isso fortalecendo sua tecnologia, sua indústria militar, também sua própria industrialização substituta de importações, e terá um papel fundamental.

O que a China está basicamente fazendo é tentar gerar um bloco com vários conteúdos. Eu diria que, de geometria variável, onde você não vai renunciar a nenhum país, por exemplo, Japão, Coreia do Sul ou Filipinas sabendo que eles fazem parte de um bloco que está sendo reorganizado pelos Estados Unidos, nenhuma das peças fundamentais da geopolítica da Ásia. Continuará a reforçar as relações com países que o desejem, como a Indonésia ou a Malásia, e criará condições para um futuro de cooperação econômica com os países da América Latina e da África.

A China busca construir um bloco de oposição às políticas ruins, belicistas, eu diria irresponsáveis dos Estados Unidos para criar desordem permanente. E assim aparece como uma força ordenadora, pacificadora, buscando múltiplas alianças, algumas de interesse econômico mútuo no curto prazo; outros com formulações de médio prazo cada vez mais fortes em torno do homem; e, em seguida, um núcleo estratégico que o leva a se relacionar ativamente com a Rússia e o Irã.

Tanto os Estados Unidos quanto a China estão construindo ou redefinindo blocos de geometria variável, com diferentes sotaques. E tentando, no caso da China, dar uma imagem de moderação, pacificação e cooperação. Deixando para os Estados Unidos o triste papel de valentão de vizinhança que só sabe resolver problemas, criando problemas cada vez maiores: o caso da Líbia, Iraque, Afeganistão, tantos países, inclusive a própria Ucrânia.

Quando os Estados Unidos intervêm com toda a sua força, geram consequências que não são capazes de governar e que, no final, levam a uma situação de estratégia planejada de derrota. É um pouco o que os Estados Unidos estão vivendo até agora e é o grande medo das elites americanas hoje. Ou seja, esse teste se torna uma arma onde o poder hegemônico perde seus três grandes componentes de poder: o primeiro, seu enorme poder econômico; o segundo, seu controle sobre as principais instituições econômicas internacionais; e, em terceiro lugar, seu enorme potencial econômico-militar que praticamente o torna um império em todo o mundo.

Como fica, então, os dois fatores-chave da questão geopolítica que são a energia e a alimentação. Há uma virada asiática na economia global, um retorno do poder ao continente euroasiático. As duas potências estão atuando em outros países, tais como os da África e da América Latina. Será que isso pode beneficiá-los?

Vale lembrar que Michael Hudson e Sergei Glazyev, um economista russo, escreveram muito sobre isso. Nesse contraste entre dois blocos, dois tipos de economia também se confrontam. Em uma delas está a economia do G7, uma economia de nostalgia, de financeirização, de esgotamento, são as dessas grandes potências. O que Braudel disse sobre isso é o seguinte: a financeirização é algo como o outono de uma grande potência. De fato, o G7 reflete a velha nostalgia do Ocidente coletivo que governou o mundo por 500 anos e que vem construindo uma economia financeirizada onde se produz papel, predação, uma gigantesca “acumulação por espoliação”, como disse David Harvey.

E, por outro lado, há a China, a Rússia, a Bielorrússia, a Índia, todo um conjunto de países que produzem coisas, que são máquinas para a produção de bens de uso para a sociedade como um todo. E esse maquinário produtor de valores de uso, por exemplo, está na mesa da questão alimentar. Um problema antigo que vem se arrastando este ano, a questão do trigo da Ucrânia, do trigo russo… E aqui eles fizeram algo incrível. Os países estão mudando muito desde que a guerra na Ucrânia começou e um dos países que mais fez isso foi a Rússia. Hoje tem uma estrutura produtiva muito diversificada e uma agricultura extraordinariamente eficiente que o torna o grande país exportador de trigo do mundo, juntamente com a Ucrânia. Aproveitou as sanções dos EUA para deixar de lado a velha economia capitalista herdada de Boris Yelstin e avançar para um novo tipo de economia muito mais eficiente e, acima de tudo, produtiva, com uma base agrícola industrial muito avançada.

Por sua vez, a Rússia está construindo mecanismos industriais muito fortes sobre uma velha política de substituição de importações, o que também a está forçando a mudar a relação e a forma de sua inserção no mercado mundial. Está tentando suprir um mercado interno mais profundo e desenvolvido e redistribuir melhor a renda da riqueza no país. Estamos vivendo uma certa, não direi revolução, mas uma mudança profunda na relação entre economia e sociedade e no papel das classes trabalhadoras.

Isso tem muito a ver com a China também, porque todos esses países, a Indonésia, os velhos tigres asiáticos, são todas economias produtivas, produzem coisas, são capazes de gerar e produzir bens de uso em todo o mundo. Enquanto o Ocidente é uma máquina de predação baseada na especulação e no domínio do capital financeiro internacionalmente. O que não seria possível sem o papel do dólar e o controle dos Estados Unidos sobre a instituição econômica internacional.

O outro aspecto antes indicado tinha muito mais a ver com a possibilidade que um mundo multipolar vá levantar velhas questões que foram enterradas com a queda da URSS e com o triunfo do neoliberalismo, por volta do novo século americano (o que Bill Clinton basicamente fez). Esse mundo liquidou Bandung, assim como a possibilidade de um novo tipo de desenvolvimento, uma nova relação de crescimento e, por outro lado, de renda e riqueza nos países.

O problema da justiça social, de um outro modelo de desenvolvimento e de uma democracia produtiva, capaz de garantir as expectativas da maioria, foi novamente levantado. Acredito que o mundo de hoje vê nessa transição para um mundo multipolar, como uma possibilidade de redescobrir o que o neoliberalismo imperial dos Estados Unidos dividiu, dividiu, que é a questão social da democracia e soberania dos povos.

A questão de uma democracia produtiva e a questão da soberania continuam a ser uma questão pendente que – com esta transição multipolar – os povos começam a vislumbrar que há possibilidades de que o neoliberalismo não seja imposto unilateralmente como até agora, devido à pressão tanto do Ocidente coletivo como especificamente dos Estados Unidos e das instituições que controlam.

E, sobretudo, com a possibilidade de encontrar uma nova relação que faça da política como ética coletiva também implantada nos povos que até agora a única coisa que conheciam era a miséria, a pobreza e a armadilha da dívida. E neste caso, como falamos sobre a questão alimentar, a máquina quase perfeita da grande contradição entre a Covid, a crise alimentar e uma crise da dívida que literalmente esmagou os povos africanos e os povos latino-americanos.

A partir da geopolítica, assim como de uma análise de baixo para cima (bottom-up) que mudanças podem ser geradas através da multipolaridade devido ao importante papel da ação de outras potências emergentes e que mudanças você percebe a partir da análise do que aconteceu entre Irã e Arábia?

Já se mencionou a questão da energia. Estamos diante, como foi dito, da maior reorganização espaço-temporal da Eurásia desde Genghis Khan. Nessa infraestrutura que está a ser posta em prática, relacionada com as novas rotas da seda, com os acordos econômicos euroasiáticos da Rússia, com a aliança cada vez mais forte com o Irã, nesse mundo que está a emergir muito fortemente, tenho a impressão de que uma peça decisiva será a questão da Arábia Saudita.

Sobre essa questão, para os Estados Unidos, o que aconteceu foi uma derrota estratégica de enorme importância, não só porque dois países tradicionalmente em desacordo e com conflitos, não só latentes como explícitos, voltam a encontrar-se, mas ao mesmo tempo vão tornar-se atores decisivos num mundo multipolar, onde têm um grande potencial econômico, um potencial tecnológico crescente e uma grande base de poder energético.

O fato de estes países estarem hoje chegando em um acordo é uma boa notícia; criam-se condições para resolver velhos problemas no Médio Oriente, o que tem muito a ver com a crise em Israel e também com a velha questão palestiniana. Toda a região vai ser modificada, transformada por essa aliança que é feita sob a presença da China. E, por sua vez, isso terá enormes consequências do ponto de vista da energia e da produção de valores de uso, que são fundamentais para os povos nesta fase.

Ponho agora ênfase numa questão fundamental, pois não se falou ainda de um ator que é a Europa, ou seja, a Europa acaba por ser o grande apagão, tudo se move, mas a Europa está cada vez mais subalterna aos Estados Unidos. E, acima de tudo, o que está movendo são países grandes, demograficamente enormes, com culturas antigas, sofisticadas, diversas, que já são atores ativos em um mundo que não consente mais com a dominação do Ocidente. E que querem ser e ter voz própria, ser consultados, ser reconhecidos e ser atores de um mundo do qual inevitavelmente, goste-se ou não o Ocidente, serão protagonistas essenciais.

Embora em geral a maioria dos povos tenha sido colonizada por outros, as últimas grandes colonizações partiram nos séculos XVI a XVIII para a América e no século XIX e parte do XX para a África e Ásia pela Europa (mais Japão, EUA e Rússia em alguns casos) e agora está sendo visto especialmente nestas últimas três décadas, (poderíamos dizer também desde a Segunda Guerra Mundial) que os Estados Unidos o mantiveram como protetorado. Então, qual é a situação na Europa hoje?

Penso que disse bem, a primeira coisa a compreender é que a Europa é um protetorado militar dos Estados Unidos. O europeu não quer ouvir estas coisas, fica furioso ao ouvir essa verdade. Mas hoje a Europa não é mais do que um aliado subordinado dos Estados Unidos, que o governa e o gere à vontade. O mais grave não é que dinamitaram o Nord Stream I e II, mas que a Alemanha tenha escondido o fato escandaloso e se comporta como se nada tivesse acontecido. Faz mesmo algo terrível, que é apagar as provas; intervém ativamente para que não condene aqueles que todos sabemos que estão por detrás dele, os Estados Unidos direta ou indiretamente.

Mas o que isso significa? Que a Europa agora está comprando petróleo e gás dos Estados Unidos a um preço mais alto e de modo insuficiente. Por outras palavras, o paradoxo é que hoje a Europa continua a importar muito mais petróleo do que antes da Rússia, através de mecanismos indiretos, incluindo Espanha. Todos enganam a todos permanentemente. Portanto, o que acontece é que esta guerra transformou a Europa numa potência de segundo escalão que é obrigada a seguir as orientações dos Estados Unidos.

A OTAN não é uma simples aliança defensiva como dizem. Ao pertencer a ela, primeiro, assume-se e se aceita que os interesses estratégicos americanos são seus interesses. Ou seja, você se torna um instrumento de uma estratégia, no caso imperial, dos Estados Unidos. A segunda questão fundamental é que imediatamente também (e este é um conflito que tem sido travado com a Alemanha, mas especialmente com a França) faz de você um usuário e tecnologicamente dependente da estratégia político-militar-tecnológica dos Estados Unidos. E você é um ator também porque acaba sendo dependente de interesses nesse caso do complexo militar-industrial americano.

E há um terceiro elemento que é esquecido; quando um país pertence à OTAN, o seu exército, suas forças armadas são reorganizadas, em cada um dos países, de acordo com os interesses estratégicos dos Estados Unidos. Você não tem mais soberania político-militar. Isso significa que seu exército é formado pelos Estados Unidos, tem uma tecnologia militar quase sempre americana. Por sua vez, o ensino e a doutrina militar são cada vez mais influenciados pelos Estados Unidos. Ser membro da OTAN não é um simples acordo entre Estados para uma política de defesa comum. Isso, a meu ver, é de importância decisiva no que está a acontecer.

A Europa tentou em algum momento uma certa autonomia. Contudo, uma das razões para esta guerra – e isso foi dito por Emmanuel Todd e Oskar Lafontaine –, o que está por trás dela, é impedir qualquer desejo de uma autonomia da Alemanha. Esta é também uma guerra contra a Alemanha e contra uma parte da Europa.

O problema parece muito simples: por que isso é aceito? Ora, a Alemanha não só tem mais de 30 bases militares norte-americanas, com a presença de armas nucleares – que, aliás, os alemães nem sabem quanto montam –, como se transformou numa base protegida, num instrumento meramente de apoio às políticas que os Estados Unidos estão a levar a cabo.

Trata-se de uma parte fundamental da Europa da União Europeia construída pelos Estados Unidos após a derrota da Segunda Guerra Mundial. E, em parte, também algo que é esquecido e ao qual dou cada vez mais importância. É que suprimindo de fato a soberania nacional, ficando sem moeda, sem poder militar, deixando de ser um Estado em sentido estrito é muito bom para as elites dominantes, as grandes potências econômicas, porque a soberania popular fica impedida de questionar quem governa e não se candidata a eleição. É isso que está por detrás desta subordinação estrutural à estratégia americana da União Europeia através e através da OTAN.

Embora alguns também caracterizem essa situação como uma guerra híbrida em diferentes planos, seria como uma terceira derrota da Alemanha sem uma terceira guerra mundial. Para finalizar é preciso pensa na a situação atual na África e, finalmente, na América Latina.

Bem, a importância da África cresce exponencialmente após o conflito na Ucrânia. A terceira grande frente existe, onde as placas tectônicas do conflito entre China e Rússia, de um lado, e Estados Unidos e OTAN, de outro, colidem, explodem e explodem. Se olharmos bem, nos países do chamado Sahel há uma crescente insubordinação contra as potências coloniais e especificamente contra a França; eis o que acontece no Mali, ocorre também no Burkina Faso. Por um lado, há uma presença ativa do jihadismo e, por outro, uma justificação da presença de militares europeus e franceses para o combater, e um problema que não aparece, mas que é decisivo, que é a questão da emigração.

O Sahel é uma defesa avançada do Ocidente. Trata-se de colocar ali a linha de frente para evitar a emigração em massa e controlar ativamente os países que questionam o poder do Ocidente, há muitos anos. O jihadismo tem seus próprios componentes, mas não há dúvida de que os Estados Unidos e o jihadismo são primos de primeiro grau, pelo menos bem conhecidos um do outro. E que, de uma forma ou de outra, os Estados Unidos foram capazes de manipulá-la desde a sua criação, quantas vezes quiseram. Há governos que pensam que os países ocidentais estão a ser cúmplices no desenvolvimento deste jihadismo, porque é funcional manter a presença militar na área. O que estou a dizer é que estes países são a linha da frente, que os Estados Unidos e a Europa controlam muito fortemente.

E eu acho que mais uma vez surge uma possibilidade aqui, que papel vai ter a África subsaariana, a África negra. Que papel desempenhará no futuro do mundo. Até aqui é evidente que os sinais são enormes, um espaço de confronto entre as grandes potências. É também uma possibilidade de aproveitar e desenvolver a autonomia coletiva. Para as elites dominantes da África subsaariana, essa disparidade e esse conflito podem ser acionados, podem ser explorados para buscar fórmulas de desenvolvimento coletivo que aprofundem a cooperação e a colaboração mutuamente vantajosa entre o que podemos chamar de potências emergentes e o Velho Mundo africano. Há a possibilidade de um novo Bandung, isto é, de reposicionar o desenvolvimento de África no centro de uma perspectiva que estava praticamente em tendência descendente, em fracassos coletivos como nas últimas décadas.

Na América Latina, a situação é um pouco mais complexa. Essa segunda onda de governos progressistas, conhece-se muito bem a situação da Argentina. Menos claro que o primeiro, menos definidor, mais complicado. Parece que, por um lado, em todo o lado, a direita aprendeu a lição da fase anterior e tornou-se cada vez mais dura. Promovem políticas claramente liberais e subalternas dos Estados Unidos e questionam a democracia, a lei e as liberdades.

E, por outro lado, esquerdas mais fracas, agora se diz que mais pragmáticas, que buscariam algo como criar uma frente democrática sem questionar a hegemonia dos EUA. Essa tarefa é o que Lula vai realizar, algo que, neste momento já o levou a ter um certo confronto com os Estados Unidos. Porque Lula não vai perder – nem as forças da direita o fariam – a possibilidade de uma aliança com os Brics para melhorar a situação econômica do Brasil, que faz muita falta. E aproveitar a presença dos BRICS na América Latina para aprofundar a unidade e convergência entre as economias e aproveitar a nova situação que está sendo criada no mundo.

O que acontece é que o ambiente mudou e os Estados Unidos já dão sinais de que não estão dispostos a ter problemas no seu quintal. Porque parece que em todos os lugares há uma esquerda muito moderada e uma direita extremista que beira o fascismo ou simplesmente um autoritarismo conservador quase neo-oligárquico em muitos países. Parece que a esquerda está voltando, mas sem um projeto alternativo, sem um programa e esperando que sobretudo Lula ilumine a possibilidade de encontrar um novo caminho inserindo a América Latina nesse novo mundo que vem surgindo há anos e que agora se torna muito atual e presente e que, de uma forma ou de outra, estará nos governando nos próximos anos.

*Manolo Monereo é advogado. Foi deputado pelo PCE e pelo Podemos. Autor, entre outros libros, de De la crisis a la revolución democrática (El Viejo Topo).

Tradução: Eleutério F. S. Prado.

Publicado originalmente no blog da editora El viejo topo.


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