A presença russa no sul da Ucrânia

Imagem: Anna Tis
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Por ANDREY DNEPROVSKY*

A vida na Kherson libertada foi gradualmente se reorientando para as referências russas

Durante a recente libertação de Kherson, na região etnicamente russa do sul da Ucrânia, pelas forças das repúblicas populares do Donbass, em aliança com as Forças Armadas russas, os confrontos sequer chegaram à escala da guerra urbana. A cidade permaneceu praticamente intocada, mas, ainda assim, demonstrou a dimensão da vulnerabilidade da civilização moderna, que, como se experimentou lá, pode ser “desligada” com o apertar de um botão.

Afortunadamente, para seus habitantes, as principais concessionárias de Kherson continuaram funcionando ininterruptamente. Eletricidade, gás e água continuaram a ser fornecidos. Mas a vida rotineira de um cidadão médio, em uma escala muito maior do que em tempos historicamente recentes, está conectada, por milhares de fios, ao “mundo grande”, para muito mais além dos limites de sua cidade e região.

Ele está usualmente habituado à mais vasta gama de produtos alimentícios, industriais e farmacêuticos, que são trazidos de todo o mundo para as suas lojas e drogarias, como também está continuamente conectado ao espaço virtual e a transações digitais. As empresas onde trabalha também são criticamente dependentes de matérias-primas e componentes de todo o mundo. E, por fim, em todos os cataclismos globais anteriores, muito menos pessoas dependiam tão crucialmente do bem-estar social provido pelo Estado.

Os cidadãos de Kherson viram-se isolados de tudo isso praticamente da noite para o dia, sobretudo porque as antigas autoridades ucranianas, ao abandonar a cidade, fizeram todo o possível para desorganizar a vida normal da cidade e da região: bancos de dados de todas as instituições estatais foram destruídos e todos os equipamentos foram desorganizados.

A grande maioria das empresas também parou, tanto por razões objetivas (falta de abastecimento de insumos produtivos e perda de acesso à maioria dos mercados tradicionais) como por razões subjetivas. Por exemplo, um pequeno empresário, a que este autor conhece, testemunhou que em 24 de fevereiro (data do início da operação militar russa) ele simplesmente desligou todos os equipamentos, deixando na empresa apenas os seguranças.

As novas autoridades viram-se confrontadas com a tarefa de recriar do zero toda a infraestrutura socioeconômica de décadas e, ao mesmo tempo, manter a vida cotidiana na região e atender às necessidades imediatas dos seus habitantes.

Ao mesmo tempo, os próprios órgãos administrativos tiveram que ser recriados a partir da base, recrutando novos funcionários, geralmente sem experiência suficiente, e procurando soluções para os problemas cotidianos, em paralelo com os problemas organizacionais.

A maioria dos ex-funcionários públicos deixou a cidade. Por algum tempo, as autoridades de Kiev continuaram a pagar os salários dos que permaneceram, desde que não cooperassem com as novas autoridades. A ideia por trás disso era a de intimidar alguns e “encorajar” aqueles ainda enganados por anos de propaganda ucraniana a que esperassem o retorno do regime.

Falou-se de hostilidades iminentes na região e na cidade, e as pessoas foram encorajadas a sair. Sugeriu-se deliberadamente (e de forma verossímil) que, com a futura chegada dos “libertadores” ucranianos, uma onda de repressões cairia sobre os “colaboracionistas”. E essa noção podia, a rigor, ser interpretada da maneira a mais ampla possível, para abranger não apenas funcionários dos novos órgãos públicos, como também ativistas cívicos pró-Rússia e até mesmo médicos que permanecem trabalhando nas instituições de saúde transferidas para o gerenciamento russo, aqueles que aceitaram um emprego em um banco russo, síndicos de condomínios ou então empresários que abrissem contas em um banco e se registrassem sob os novos controles fiscais. Até os funcionários dos serviços públicos foram pressionados a “não trabalhar para os ocupantes”, ou seja, a deixar os seus concidadãos sem gás, luz e água.

Atenção especial foi dada ao adiamento da retomada do ano letivo. Os pais receberam uma notificação online do governo ucraniano, informando que as escolas funcionariam de acordo com o quadro normativo e educacional até então estabelecido, mas em modo remoto.

No entanto, a despeito dessas pretensões ucranianas, a vida na Kherson libertada foi gradualmente se reorientando para as referências russas. A situação na questão-chave do fornecimento de alimentos e de atendimento das necessidades básicas dos moradores pode hoje ser considerada como bastante satisfatória.

Ocasionalmente há uma “evasão” de alguns itens, mas em geral não há escassez, ainda que, no princípio, os preços em hryvnias (a moeda ucraniana) tenham aumentado consideravelmente, até que finalmente se adotasse o rublo russo. O comércio espontâneo e as pequenas lojas floresceram. Em geral, os negócios privados, como sempre, agiram muito rápido. As mercearias também continuaram abertas, ainda que fechassem mais cedo por causa do toque de recolher.

As cadeias logísticas acabaram se recompondo com produtos vindos da Crimeia e das repúblicas do Donbass. As pessoas perceberam a melhor qualidade dos produtos russos, mesmo que, quando eles apareceram pela primeira vez, os comerciantes os fizessem passar por produtos ucranianos. Agora, há cada vez menos “patriotas” que preferem produtos ucranianos. Varejistas de territórios vizinhos também começaram a entrar, abrindo supermercados modernos.

As redes de farmácia oriundas daqueles territórios foram se expandindo rapidamente, de modo que a “crise de medicamentos”, em geral, foi resolvida, ainda que alguns itens ocasionalmente escasseiem.

As instituições médicas foram transferidas para a jurisdição do novo governo, os médicos começaram a receber salários em rublos e a ajuda humanitária em larga escala da Rússia tornou possível fornecer aos hospitais praticamente todos os medicamentos e materiais necessários.

A escassez de médicos – muitos foram embora, e outros, particularmente “zelosos”, se recusaram a trabalhar – está sendo superada com voluntários russos. Já vão longe as extorsões e os “fundos de caridade” por meio dos quais qualquer procedimento médico tinha que ser pago. A saúde pública tornou-se efetivamente gratuita.

O primeiro banco da Rússia, o Promsvyazbank, chegou e expandiu sua rede de agências com bastante rapidez. Terminais russos de pagamento com cartão começaram a aparecer nos supermercados.

As instituições culturais retomaram as atividades. Universidades e institutos superiores estão matriculando alunos e se preparando para o novo ano letivo. Escolas e jardins de infância devem abrir em 1º de setembro.

Em geral, todas as instituições características da sociedade moderna reiniciaram ou estão se preparando para reiniciar as operações. A nova administração russa começou a reconfigurar as principais empresas sob vários regimes de propriedade, e prepará-las para a reabertura. A disposição regulatória exarada em junho pelas novas autoridades, de introduzir uma administração externa nas empresas inoperantes ou cujos proprietários não se registraram, aparentemente está sendo implementada de maneira parcimoniosa.

Além disso tudo, existe o problema das aposentadorias e prestações sociais, que é particularmente sensível para os cidadãos. E aqui, literalmente, foi preciso começar do zero, pois não havia estrutura institucional, listas de aposentados, nada.

Os cidadãos precisaram se registrar no recém-criado (e às pressas) Fundo de Pensões, que tinha muitos problemas organizacionais e de pessoal a serem resolvidos. Depois iam receber os valores no caixa, num montante de 10 mil rublos para todos. Naturalmente, isso criou filas monstruosas. Assim, decidiu-se efetuar pagamentos posteriores através dos correios, que foram incorporados à nova empresa Posta Kherson. Os registros daqueles que antes recebiam pensões pelos correios foram preservados, e agora eles as estão recebendo em rublos. Para aqueles com restrições de movimento, as pensões são entregues em suas casas pelos agentes do Fundo de Pensões.

A demorada tarefa de elaborar novas listas está sendo concluída para todos os demais. Os pensionistas inscritos no Fundo de Pensões têm de ser ordenados por endereços postais e sucursais, por ordem de chegada. Aqueles que ainda não receberam pensões russas continuam se inscrevendo. Ao mesmo tempo, está-se buscando restaurar o sistema usual de recebimento de pensões por cartões bancários.

Decidiu-se por um caminho não convencional, até único: os pensionistas não precisarão ir a um banco para obter os cartões (isso só paralisaria a rede bancária recém-criada), eles os receberão diretamente do Fundo de Pensões ou dos correios, que acabaram se transformando em sucursais do Fundo de Pensões e agências de segurança social. Inicialmente, cinco mil pensionistas receberão cartões no âmbito do projeto piloto e, após o sistema ser “depurado”, todos os demais os receberão.

De um modo geral, o volume e o número de pagamentos diversos a título de assistência social que as novas autoridades passaram a prestar aos cidadãos, não só socialmente desprotegidos, como também às famílias com crianças (muitas em situação financeira difícil), é de fato impressionante. E isso contribuiu em grande parte para o fato de que a atmosfera geral da cidade está passando por uma mudança significativa.

Mas o ponto principal está em outro lugar. Sempre houve uma maioria pró-Rússia na cidade. A imagem de um sentimento pró-russo tênue em Kherson e no sul da Ucrânia foi produzida pelo fato de que, durante não apenas os últimos oito, mas durante os trinta anos de “independência” ucraniana, qualquer atividade pró-russa tenha sido duramente reprimida.

Muito antes de todos os Maidans, foram introduzidas leis que criminalizavam como “violação da soberania” qualquer discurso que mencionasse a possibilidade de uma reunificação com a Rússia, e esses dispositivos foram muito ativamente aplicados.

Qualquer publicação que mostrasse a vida na Rússia contemporânea de forma positiva era tacitamente tabu, enquanto qualquer divulgação de uma imagem negativa era objeto de amplo beneplácito. Rir de problemas reais ou fictícios da Rússia, regozijar-se com as catástrofes por lá, tornou-se um “hobby nacional” ucraniano. Ao mesmo tempo, a propaganda sobre o “paraíso” europeu, no qual a Ucrânia ingressaria se implementasse de forma cabal o slogan “afaste-se de Moscou”, foi injetada em doses cavalares.

Para aqueles que acreditavam que uma reunificação com a Rússia permitiria o retorno ao caminho do desenvolvimento sustentável e da prosperidade, implementar esse tipo de ideia assumia o contorno de uma possibilidade extremamente remota, senão inatingível. Eles tiveram que esconder seu ponto de vista ou seguir um “programa mínimo”, na medida do possível, tentando preservar a cultura russa e os laços econômicos com a Federação Russa, muitas vezes no âmbito de partidos que usavam a retórica antinacionalista para atrair eleitores pró-russos, como o Partido das Regiões.

Sob diversos aspectos, o ponto de virada foram as comemorações do Dia da Vitória, no último 9 de maio, para as quais cerca de quatro mil pessoas compareceram, apesar do terror psicológico dos esperançosos pelos “libertadores ucranianos” e do temor muito real de bombardeios e ataques terroristas promovidos pela Ucrânia. As pessoas então puderam ver quantos haviam estado escondidos, reconheceram vizinhos, colegas soldados e até amigos com quem há muitos anos evitaram discutir temas políticos, e que acabavam por estar entre “os seus”.

O processo de envolvimento dos cidadãos no despertar da Kherson russa foi muito mais rápido. As pessoas começaram a buscar empregos nas instituições “russas”. ONGs começaram a ser criadas para ajudar as autoridades nas áreas de cultura, educação, trabalho de associações de moradores etc. Em essência, essa é a sociedade civil russa de Kherson que finalmente pode se constituir.

Outro evento marcante foi o fórum “Estamos Juntos com a Rússia”, realizado no dia 30 de julho, que reuniu mais de mil participantes. Esse é um número consideravelmente grande, porque se trata realmente de um ativo de participação. Afinal, em termos efetivos, não há muitas pessoas com uma atitude verdadeiramente participativa nas sociedades atuais, e aqui, esses são os seus impulsionadores, os que apontam caminhos para o movimento e o desenvolvimento das ações.

Seria um absurdo afirmar que pessoas de tamanha diversidade de idade, profissão e status social teriam sido cooptadas pela expectativa de algum tipo de tratamento preferencial por parte das novas autoridades russas, por interesses de carreira. Sejamos honestos, todos eles tiveram que superar o medo mais cotidiano, a pressão psicológica e as ameaças muito reais de ataques por parte dos serviços de segurança ucranianos.

Eles simplesmente perceberam que eram muitos, que Kherson era, permanece e continuará sendo uma cidade russa, e que a ucranização russofóbica, desprovida de políticas sociais e na base da repressão direta, está derretendo rapidamente, “como orvalho ao sol”, no sul da Ucrânia.

Nos últimos dias, fóruns semelhantes foram realizados em cidades menores da região de Kherson, e cada um reuniu várias centenas de participantes. Eles não estão mais escondendo seus pontos de vista, como fizeram nas primeiras semanas após a libertação. Eles estão defendendo-os ativamente, e isso está tendo um efeito cada vez mais perceptível no humor das pessoas comuns, aquelas cujas opiniões são estimuladas pelas atitudes dos demais ao redor delas.

E, claro, há o impacto do trabalho de informação sobre o que é a Rússia contemporânea, que é reforçado pelo apoio humanitário e pelos esforços sociais em larga escala do novo governo, na busca de uma vida normal para a cidade, ainda que muito trabalho ainda precise ser feito.

Ironicamente, a propaganda ucraniana acaba ajudando a muitos (mesmo que não sejam todos) a perceber o outro lado da moeda, uma vez que suas falsificações acabam sendo por demais flagrantes e em total desacordo com a situação real na região. E, claro, à medida que a tão anunciada “libertação” por parte do regime ucraniano continua sendo adiada, cresce a percepção de que a nova situação agora é para sempre. Para alguns, isso significa percorrer o caminho da raiva à negação e, por fim, à aceitação.

A não ser o caso algumas pessoas bastante “loucas”, o khersoniano médio já não mais espera pelas Forças Armadas Ucranianas, e começa a se integrar à nova vida russa e aos benefícios bem mais tangíveis que ela aporta, e que muitos já sentiram. Sua lealdade a ela só tende a aumentar.

A ordem original das coisas, como sabemos, ilumina a consciência, mas é preciso acrescentar algo mais: na realidade de hoje, o ambiente midiático não é menos importante. No sul da Ucrânia ele já mudou drasticamente, e isso está dando frutos, mesmo que não tão rápido quanto se poderia desejar.

*Andrey Dneprovsky, jornalista ucraniano, colabora com a Alternative News Agency.

Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel.

Publicado originalmente no site News Front.

 

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