Eleições europeias

Imagem: Adam B.
image_pdf

Por NIRSAN GRILLO DAMBRÓS*

Hoje, teremos eleições para o Parlamento Europeu em todo o bloco da União Europeia. Portanto, há uma escolha crucial a ser feita

Vivemos em um tempo histórico marcado por duas guerras muito próximas ao continente europeu: a guerra entre Rússia e Ucrânia e o massacre do povo palestino em Gaza por Israel.

São evidentes as reações dos países europeus diante da guerra na Ucrânia, tanto por parte das forças governamentais quanto das populações. Em Portugal, bandeiras ucranianas e cartazes em apoio ao país foram espalhados por janelas, muros, postes, prédios públicos e por todos os cantos das cidades, além de manifestações e uma comovente sensibilização pelo sofrimento do povo ucraniano. Essas reações foram amplamente divulgadas em jornais por toda a Europa.

No âmbito político, houve um esforço em penalizar a Rússia com sanções, enquanto a Ucrânia recebeu ajuda financeira e, inclusive, iniciou negociações de adesão à União Europeia. O povo ucraniano refugiado foi bem-vindo, com facilitação de acesso a vistos de residência, algo que deveria ser garantido a qualquer povo que esteja sofrendo a violência de uma guerra. 

Mas o que aconteceu com a sensibilização europeia diante da barbárie em Gaza? O que a Europa tem feito diante da incessante e cruel ofensiva israelense contra os palestinos? 

Apesar da condenação por parte do Tribunal Internacional de Justiça à Israel pelo massacre que vem promovendo diariamente nos últimos meses em Gaza e do reconhecimento do Estado palestino por alguns países europeus, nada tem impedido que Israel continue violando direitos humanos e promovendo o extermínio de famílias palestinas indefesas, incluindo mulheres e crianças. Israel continua a ser suprido com armamentos de guerra e tecnologias de vigilância, e os acordos comerciais que permitem as exportações desses equipamentos de guerra não foram interrompidos. Seguem a pleno vapor, pois muitos lucram com a barbárie e a morte.

Na Europa, vimos manifestações sendo restritas em alguns países. Jovens que ostentavam os tradicionais keffiyeh, símbolo da Palestina, ou bandeiras e cartazes de apoio à Palestina enfrentaram a violência e a censura policial. Também vimos notícias de professores universitários e jornalistas sendo demitidos por levantarem a bandeira da causa palestina.

Apesar da cegueira voluntária diante da barbárie de muitos políticos europeus, há resistência e luta por grande parte do povo europeu. Desde o início da guerra, muitas manifestações têm ocorrido em toda a Europa. Estudantes têm se mobilizado para que suas universidades rompam relações com Israel. Artistas famosos têm se manifestado publicamente, políticos de esquerda têm se pronunciado e clamado ao povo que se junte às manifestações, e jornalistas têm denunciado os absurdos e exposto suas opiniões contra as atrocidades em Gaza. Atrocidades que incluem matar crianças com bombas ou pela fome. Já passou da hora de haver consequências concretas por esses crimes contra a humanidade.

Você deve estar se perguntando: “Mas o que o povo europeu pode fazer?”

Hoje, teremos eleições para o Parlamento Europeu em todo o bloco da União Europeia. Portanto, há uma escolha crucial a ser feita. A opção mais humana e ética é votar em políticos comprometidos com a humanidade. Isso significa, em grande parte, apoiar partidos mais à esquerda, que historicamente têm defendido os direitos das minorias e a justiça social.

Os partidos de direita e extrema direita têm ganhado força na Europa, e suas ideologias frequentemente desumanizam minorias étnicas e sociais, tanto de outros países quanto as suas próprias.

Diante da barbárie instalada em Gaza de tantas outras crises humanitárias, é essencial que os eleitores usem seu poder político de forma consciente e responsável.

Esperamos que, mesmo com a ascensão da extrema direita, a sociedade europeia escolha, através do voto, a humanidade sobre a barbárie. Esta eleição é uma oportunidade para influenciar positivamente os próximos passos em um cenário global cada vez mais desafiador. Escolher a humanidade é escolher a vida e a esperança de justiça social para todos.

*Nirsan Grillo Dambrós é doutoranda em sociologia pela Universidade de Lisboa.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja todos artigos de

MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

1
O segundo choque global da China
06 Dec 2025 Por RENILDO SOUZA: Quando a fábrica do mundo também se torna seu laboratório mais avançado, uma nova hierarquia global começa a se desenhar, deixando nações inteiras diante de um futuro colonial repaginado
2
Simulacros de universidade
09 Dec 2025 Por ALIPIO DESOUSA FILHO: A falsa dicotomia que assola o ensino superior: de um lado, a transformação em empresa; de outro, a descolonização que vira culto à ignorância seletiva
3
A guerra da Ucrânia em seu epílogo
11 Dec 2025 Por RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL: A arrogância ocidental, que acreditou poder derrotar a Rússia, esbarra agora na realidade geopolítica: a OTAN assiste ao colapso cumulativo da frente ucraniana
4
Uma nova revista marxista
11 Dec 2025 Por MICHAE LÖWY: A “Inprecor” chega ao Brasil como herdeira da Quarta Internacional de Trotsky, trazendo uma voz marxista internacionalista em meio a um cenário de revistas acadêmicas
5
Raymond Williams & educação
10 Dec 2025 Por DÉBORA MAZZA: Comentário sobre o livro recém-lançado de Alexandro Henrique Paixão
6
A riqueza como tempo do bem viver
15 Dec 2025 Por MARCIO POCHMANN: Da acumulação material de Aristóteles e Marx às capacidades humanas de Sen, a riqueza culmina em um novo paradigma: o tempo livre e qualificado para o bem viver, desafio que redireciona o desenvolvimento e a missão do IBGE no século XXI
7
A crise do combate ao trabalho análogo à escravidão
13 Dec 2025 Por CARLOS BAUER: A criação de uma terceira instância política para reverter autuações consolidadas, como nos casos Apaeb, JBS e Santa Colomba, esvazia a "Lista Suja", intimida auditores e abre um perigoso canal de impunidade, ameaçando décadas de avanços em direitos humanos
8
Norbert Elias comentado por Sergio Miceli
14 Dec 2025 Por SÉRGIO MICELI: Republicamos duas resenhas, em homenagem ao sociólogo falecido na última sexta-feira
9
Asad Haider
08 Dec 2025 Por ALEXANDRE LINARES: A militância de Asad Haider estava no gesto que entrelaça a dor do corpo racializado com a análise implacável das estruturas
10
A armadilha da austeridade permanente
10 Dec 2025 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Enquanto o Brasil se debate nos limites do arcabouço fiscal, a rivalidade sino-americana abre uma janela histórica para a reindustrialização – que não poderemos atravessar sem reformar as amarras da austeridade
11
Ken Loach: o cinema como espelho da devastação neoliberal
12 Dec 2025 Por RICARDO ANTUNES: Se em "Eu, Daniel Blake" a máquina burocrática mata, em "Você Não Estava Aqui" é o algoritmo que destrói a família: eis o retrato implacável do capitalismo contemporâneo
12
A anomalia brasileira
10 Dec 2025 Por VALERIO ARCARY: Entre o samba e a superexploração, a nação mais injusta do mundo segue buscando uma resposta para o seu abismo social — e a chave pode estar nas lutas históricas de sua imensa classe trabalhadora
13
Impactos sociais da pílula anticoncepcional
08 Dec 2025 Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA: A pílula anticoncepcional não foi apenas um medicamento, mas a chave que redefiniu a demografia, a economia e o próprio lugar da mulher na sociedade brasileira
14
Benjamim
13 Dec 2025 Por HOMERO VIZEU ARAÚJO: Comentário sobre o livro de Chico Buarque publicado em 1995
15
Violência de gênero: além do binarismo e das narrativas gastas
14 Dec 2025 Por PAULO GHIRALDELLI: Feminicídio e LGBTfobia não se explicam apenas por “machismo” ou “misoginia”: é preciso compreender como a ideia de normalidade e a metafísica médica alimentam a agressão
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES