Em destaque – XXII

Imagem: Ciro Saurius
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENICIO VIERO SCHMIDT*

Comentários sobre acontecimentos recentes

As eleições municipais estão encerradas. Cabe, primeiramente, um juízo assertivo sobre os resultados. Nem o PT, liderado por Lula e Fernando Haddad, nem as forças bolsonaristas obtiveram vitórias significativas neste pleito. Isso não significa, todavia, que essas forças estejam impregnadas pelos resultados negativos. Ao contrário, devido ao reposicionamento das posições dos líderes deverão estar firmes e fortes para os próximos embates. 2022 se avizinha.

O MDB, o DEM, o PSDB ressurgiram, após serem contestados em 2018, voltando a assumir papéis fundamentais. O MDB manteve-se como o detentor do maior número de prefeituras. O DEM ampliou seus domínios. O PSDB, que de certa forma se recupera por conta da eleição na cidade de São Paulo, é o partido que governa a maior parcela do eleitorado brasileiro, em torno de 23%.

É importante notar que algumas campanhas primaram por baixarias inacreditáveis. Porto Alegre e Recife são exemplos disso. Nas duas cidades os candidatos que perderam as eleições foram alvos de acusações em fake news disparados em massa, provocando a desestabilização de seus eleitorados. Esse mal-estar entre forças que, aparentemente, poderiam estar associadas deve se refletir nos próximos acontecimentos, na composição dos governos locais, nas orientações das bancadas nas câmaras de vereadores e também na montagem da frente anti-bolsonarista eventualmente presente em 2022. Porto Alegre e Recife não são bons sinais a serem seguidos em matéria de civilidade política.

O PSDB tornou-se vitorioso em São Paulo, fato que tende a impulsionar a candidatura de João Dória à sucessão de Jair Bolsonaro, apesar da rejeição ao governador na cidade ser superior a 60%.

A protagonista mais importante dessas eleições foi a abstenção. Ela vem crescendo desde o ano de 2000, atingindo a média de 29 a 30%. Quando somada aos votos nulos e brancos chegamos à incrível marca de 35% nas eleições do segundo turno. Qual é o significado disso? É uma recusa do voto obrigatório? Uma rejeição da política? Ou seria simplesmente o medo do coronavírus? O fato é que, crescentemente, desde 2000 o absenteísmo vem aumentando, o que indica que a pandemia não foi o fator principal. Alguns especialistas procuram explicar o fenômeno pelo esvaziamento da importância dos municípios, fator que levaria o eleitor a participar mais assiduamente das eleições majoritárias para os estados e para a União.

A administração pública municipal, especialmente nas grandes cidades, apesar de todos os flagelos com que terá de se defrontar, conta com um bônus de cerca de 24 bilhões de reais postos à disposição dos municípios pela política de emergência, por meio do decreto do estado de calamidade pública. Cabe acompanhar como os municípios irão utilizar esses recursos extraordinários.

Nesse sentido, cabe observar que, nos últimos dias, tem havido um ataque frontal aos recursos do FUNDEB por parte de membros do governo federal. O aumento do piso salarial de 5,9% previsto para vigorar em 2021 foi cancelado. Há uma resistência grande à essa medida por parte do Congresso. Os líderes do cancelamento são o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Do outro lado, emerge uma frente única dos professores de ensino básico contra essa medida que os prejudica sensivelmente.

O desmatamento da Amazônia acumula records sob records terminando no final de novembro com uma taxa de 9,5% a mais do que o ano passado inteiro. As atividades de prevenção, de vigilância, o apoio aos órgãos e aos agentes encarregados da aplicação de multas têm sido negligenciadas pelo governo da União. Continua a tragédia do meio ambiente, pois.

Por último, é notável verificar quase que num gossip, num alarme político, a trajetória do ex-ministro Sérgio Moro. O ex-ministro da Justiça, criador e líder do lava-jato, responsável direto pela destruição de empresas e carreiras, tornou-se membro sócio proprietário de uma empresa que administra judicialmente a Odebrecht.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

MAIS AUTORES

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Gilberto Maringoni Luís Fernando Vitagliano José Luís Fiori Marilia Pacheco Fiorillo Ricardo Antunes Bernardo Ricupero Eliziário Andrade Fábio Konder Comparato Antonino Infranca Jean Pierre Chauvin Daniel Afonso da Silva Luiz Bernardo Pericás Celso Frederico José Geraldo Couto Gabriel Cohn Leonardo Boff Salem Nasser Ronald León Núñez Marcos Silva Paulo Fernandes Silveira Carla Teixeira Everaldo de Oliveira Andrade Walnice Nogueira Galvão Eugênio Bucci Francisco de Oliveira Barros Júnior Fernão Pessoa Ramos André Singer Ari Marcelo Solon Matheus Silveira de Souza Marcelo Guimarães Lima Antonio Martins Mariarosaria Fabris Anselm Jappe Luiz Werneck Vianna João Carlos Salles Osvaldo Coggiola Thomas Piketty Paulo Capel Narvai José Micaelson Lacerda Morais Antônio Sales Rios Neto Luiz Roberto Alves Benicio Viero Schmidt Vanderlei Tenório André Márcio Neves Soares Ronald Rocha Vinício Carrilho Martinez Leonardo Sacramento Luis Felipe Miguel Ricardo Musse Priscila Figueiredo Igor Felippe Santos Ladislau Dowbor Rafael R. Ioris Paulo Martins Andrés del Río Henry Burnett Francisco Fernandes Ladeira Tales Ab'Sáber Sandra Bitencourt Airton Paschoa Eleonora Albano Gilberto Lopes Mário Maestri Luciano Nascimento Eduardo Borges Eugênio Trivinho Berenice Bento Ronaldo Tadeu de Souza Flávio Aguiar Marilena Chauí Dennis Oliveira Lincoln Secco Carlos Tautz Afrânio Catani Alysson Leandro Mascaro Sergio Amadeu da Silveira Kátia Gerab Baggio Samuel Kilsztajn Maria Rita Kehl Caio Bugiato Henri Acselrad Jean Marc Von Der Weid Érico Andrade Denilson Cordeiro Atilio A. Boron Juarez Guimarães Paulo Nogueira Batista Jr Lucas Fiaschetti Estevez Michael Löwy Yuri Martins-Fontes Daniel Costa Tadeu Valadares Renato Dagnino Alexandre de Lima Castro Tranjan Heraldo Campos Chico Whitaker João Sette Whitaker Ferreira Gerson Almeida Boaventura de Sousa Santos Marcelo Módolo Remy José Fontana Manchetômetro Manuel Domingos Neto Luiz Eduardo Soares Eleutério F. S. Prado Plínio de Arruda Sampaio Jr. Lorenzo Vitral Vladimir Safatle Michael Roberts Julian Rodrigues Slavoj Žižek Alexandre de Freitas Barbosa Alexandre Aragão de Albuquerque Leonardo Avritzer Luiz Renato Martins Armando Boito Celso Favaretto Chico Alencar Andrew Korybko José Machado Moita Neto João Carlos Loebens Fernando Nogueira da Costa Daniel Brazil Bento Prado Jr. Annateresa Fabris Luiz Marques Leda Maria Paulani José Raimundo Trindade Valerio Arcary José Dirceu João Adolfo Hansen Otaviano Helene Rodrigo de Faria Ricardo Abramovay Marjorie C. Marona Paulo Sérgio Pinheiro Luiz Carlos Bresser-Pereira Francisco Pereira de Farias Marcos Aurélio da Silva Dênis de Moraes Michel Goulart da Silva João Lanari Bo Ricardo Fabbrini Jorge Luiz Souto Maior João Feres Júnior José Costa Júnior Claudio Katz Liszt Vieira Valerio Arcary Bruno Fabricio Alcebino da Silva Elias Jabbour Jorge Branco Milton Pinheiro Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Bruno Machado Marcus Ianoni João Paulo Ayub Fonseca Tarso Genro Rubens Pinto Lyra Flávio R. Kothe

NOVAS PUBLICAÇÕES