Por AIRTON PASCHOA*
Seis peças curtas
Cauda séria
Ao Sérgio e à Gema
Causa palestina, causa africana, causa latina, causa indígena, causa sanitária, causa psiquiátrica, causa feminina, causa racial, causa sexual, causa social, causa ambiental, deus nos acuda! o que não falta é causa pública. Faltam drummonds, maiakóvskis? Quem sabe não migraram de plano, de planeta, de pelo, cansados da cauda cada vez mais comprida… Talvez o que falta mesmo seja público — será? O cidadão aqui todo mês não subscreve por cima dez abaixo-assinados? Estamos saturados, saciados, fartados? Alguns receio até com in… Por via das dúvidas vai, um a mais, um a menos, não se sai do lugar. Airton Paschoa, BR, SP, poeta, sem instituição, sem comentário.
Antropobsceno
Ameaças várias, comme il faut, concorrem para o fim do homo repelens… por cuja sobrevida, diga-se de passagem, não se dava dólar furado desde meados do finado século. Torcida à parte do que resta de fauna e flora do planeta azul — claro, visto do além, pessoalmente torço pela solução nuclear, mais iminente quiçá, e cujo inverno há de nos salvar (se deus quiser) do aquecimento global.
crianças palestinas
amputadas sem anestesia
mas graças a jeová não
falta faixa
(nem gaza)
Histórias da ironia
“Bons tempos em que era só lobo do homem!” (anônimo, c. 2024 d.C.)
Pária não é Israel. Pária é a Palestina. Elegeram os novos e pra tomar conta do cercadinho botaram os antigos judeus. Novidade? Repugna recorrer ao Eclesiastes e seu surrado nada de novo sob o sol… surrado e suado, a socorrer prontamente toda sorte de niilismo. A velha novidade é que, sem novidade, desponta o fim. Fim fim ou recomeço? eterno retorno? Na visão dos cronociclistas, pra quem a roda redime o mundo, não resta dúvida — mais uma razão, e definitiva, pra abraçar a extinção do homo pestiens.
Requintes de humanidade
O gênero degenerado já deu o que tinha que dar, com requintes de toda classe; a solução meteórica continua a ser o meteoro, mas temo que tampouco este queira contato; oxalá, com fissão ou fusão, a nuclear venha em breve em nosso socorro, senão permaneceremos inda por décadas arrastando nossa crueldade pela face envergonhada da terra.
Espera pra ver
Ao Valentim, in memoriam
Você nem esperou a visita. Era questão de dias. Deu no pé sem deixar bilhete. Muito bonito, seu Arnesto Facioli. Ia provar mais uma vez da culinária caipira cujo segredo cê não guardava a sete chaves, levar-lhe o livrinho a que me obrigou, lembra? Por via das dúvidas até registrei sua (ir)responsabilidade em dedicatória com letras garrafais que derrubamos com gosto. Por que tanta pressa, não entendi, te juro… ter logo com o Velho Bruxo? regalar-se na prosa largada de além-túmulo? ou andava já cansado de tomar um mundo de remédio e não ter nenhum pra mundo tão sem remédio? Talvez o entenda, sim, seu maganão, pensando bem, mas isso não quer dizer que te perdoo a grosseria inesperada, que fique bem claro. Só vou perdoá-lo quando me receber de novo, e vou logo avisando que não vai ser só visita.
*Airton Paschoa é escritor. Autor, entre outros livros, de Polir chinelo (e-galáxia). [https://amzn.to/4at8YgM]
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