Guilherme Boulos e Marta Suplicy

Imagem: Sergio Souza
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Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

O primeiro passo da construção da Frente Ampla em São Paulo

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e a ex-prefeita Marta Suplicy deram início a construção do acordo que resultará numa aliança para a disputa pela Prefeitura de São Paulo (SP). Os próximos passos desse acordo serão a filiação de Marta Suplicy ao PT e a confirmação de seu nome como vice de Boulos.

O diálogo entre Guilherme Boulos e Marta Suplicy inaugura a construção de uma Frente Ampla na capital paulista para derrotar o bolsonarismo, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoia o prefeito de SP e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB).

A aliança Boulos-Marta reedita a ideia da Frente Ampla que viabilizou a chapa vitoriosa entre o presidente Lula (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nas eleições de 2022. Apesar de Geraldo Alckmin estar mais ao centro do que Marta Suplicy, a composição com a ex-prefeita representa a amplitude possível para Guilherme Boulos, já que atrair partidos mais ao centro é improvável, pois a maioria dessas legendas integra a base de Ricardo Nunes e devem apoiá-lo em outubro.

Mesmo retornando ao PT, Marta Suplicy carrega em sua trajetória divergências com o partido. Vale recordar que ela se desfiliou da legenda em 2015. E votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Por mais paradoxal que possa parecer, Marta Suplicy funcionará como um contraponto aos setores mais ortodoxos da esquerda.

Mais do que isso, a chapa Boulos-Marta empurra Ricardo Nunes para a direita. Nas eleições de 2020, Marta Suplicy apoiou o então prefeito Bruno Covas (PSDB) na disputa contra Guilherme Boulos. Assim, ao atrair Marta Suplicy para o lado de Guilherme Boulos, uma peça importante, que antes era aliada de Ricardo Nunes, foi conquistada.

Além da experiência de já ter sido prefeita, Marta Suplicy conserva um importante capital eleitoral em São Paulo. Marta foi quatro vezes candidata à prefeitura de SP. Três pelo PT (2000, 2004 e 2008) e uma pelo PMDB (2016). Foi vitoriosa em 2000, quando derrotou Paulo Maluf (PPB). Naquela eleição, Marta teve 34,40% dos votos válidos no primeiro turno, e 58,51% no segundo turno. Nas outras três disputas, foi derrotada. Em 2004, quando tentava a reeleição, perdeu para José Serra (PSDB). Marta conquistou 35,82% dos votos válidos no primeiro turno, e 45,12% no segundo turno.

No pleito de 2008, Marta Suplicy perdeu novamente. Desafiou o então prefeito Gilberto Kassab (DEM), que tentava a reeleição. Marta Suplicy teve 32,79% dos votos válidos no primeiro turno, e 39,28% no segundo turno. Em 2016, Marta Suplicy foi novamente candidata, desta vez pelo PMDB. Marta Suplicy conquistou 10,14% dos votos válidos, ficando em quarto lugar no primeiro turno.

Nas eleições de 2020, Guilherme Boulos (PSOL) obteve 20,24% dos votos válidos, no primeiro turno, e, 40,62%, no segundo turno. Apesar da derrota para Bruno Covas naquele pleito, Guilherme Boulos conseguiu se credenciar como o principal nome de oposição a administração que comanda a capital paulista desde 2017.

Em 2016, João Doria, então filiado ao PSDB, se elegeu prefeito tendo Bruno Covas (PSDB) como seu vice. Com a renúncia de João Doria para concorrer a governador, em 2018, Bruno Covas assumiu a Prefeitura, sendo reeleito em 2020. No entanto, em 2021, por conta da precoce morte de Bruno Covas, quem herdou o comando da capital paulista foi Ricardo Nunes, hoje prefeito.

Em relação a 2020, Guilherme Boulos sinaliza uma ampliação da política de alianças. Na eleição anterior, sua parceira de chapa foi a ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL). Ou seja, Guilherme Boulos teve uma composição de “chapa-pura”. Para este ano, seu vice deverá ser Marta Suplicy. Além disso, em 2020, a coligação Boulos-Erundina era composta apenas por PSOL, PCB e UP. Em outubro, a futura composição Boulos-Marta deve unir PSOL, PT, PCdoB, PV, REDE, PDT e UP.

Embora a aliança com Marta Suplicy esteja no campo da centro-esquerda, ela cumpre um objetivo estratégico importante, pois empurra Ricardo Nunes para o campo bolsonarista, nacionalizando a disputa municipal. Nas eleições de 2022, na capital paulista, Lula venceu Jair Bolsonaro no segundo turno (53,54% a 46,46% dos votos válidos). E Fernando Haddad superou Tarcísio de Freitas entre os eleitores da capital (54,41% a 45,49%).

Como a chapa Boulos-Marta conta com uma ativa participação do presidente Lula, o debate eleitoral será, inevitavelmente, nacionalizado. Além da presença de Lula, o peso político de São Paulo e os interesses de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, que trabalharão para Ricardo Nunes, também contribuem para essa nacionalização. No entanto, o debate também será local, assim como ocorre em toda eleição municipal.

Como o embate com o bolsonarismo é favorável a Lula e existe um sentimento mudancista na capital após sete anos de comando do mesmo grupo político, há uma vantagem para Guilherme Boulos na disputa. Porém, também existem desafios pela frente como, por exemplo, a construção da Frente Ampla, simbolizada na clássica frase de Paulo Freire: “unir os divergentes para vencer os antagônicos”.

*Carlos Eduardo Bellini Borenstein.é cientista político e mestrando em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).


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