Haicais

Yutaka Takanashi, Tóquio-jin, 1974, impresso em 2012
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Por JOHNY GUIMARÃES DA SILVA*

pobre e pardo
papel de pão:
guarda um haicai

a pressão de urubus
não assusta a criança
que disputa a carniça

a janela aberta
para a amante:
do sonho da noite

ela se incita
com o gesto facista:
da mão esquerda erguida

crianças vão à guerra
em barcos de papel:
que não moram neles!

na borda do vaso
perfurando o ânus
mijo mal educado

lua cheia da Ucrânia:
clareia o choro, os mortos
e as ruas inconformadas

glutão da tua vulva,
na hora da Santa Ceia.
quero o Inferno comigo

Latrina:
pista de bunda
velocidade e merda

cocô boiando
pérolas do cu
enfeitando o mar

peixinho no aquário
que nunca viu o mar
” – quem sabe, nas férias”

gatos em apuros:
no meio da água
e for de si

manual de trepada:
flores carnívoras
abrindo a primavera

corpo no esquife –
mulheres rezando
para o morto ateu

pregúntale a la niebla
donde se esconde
los bombarderos nocturnos

dia dos namorados:
com a carta e a flor
a bomba acionada

*Johny Guimarães da Silva é documentarista, poeta e historiador.

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