Libération – 50 anos

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Por DÊNIS DE MORAES*

Considerações sobre o papel de Jean-Paul Sartre no processo de fundação do jornal

1.

Em 23 de maio de 2023, completa 50 anos o jornal que renovou a imprensa francesa com um estilo arrojado, crítico e irreverente, sintonizado – em intensidades distintas no passar das décadas – com o ideário de uma esquerda aberta a mudanças da vida social, de padrões culturais e práticas políticas.

Na verdade, o meio século do Libération tem datas móveis de celebração. Lançado numa entrevista coletiva em 3 de janeiro de 1973, chegou aos leitores em 18 de fevereiro com o número 0, destinado à divulgação dos princípios editoriais e à atração de assinantes e doações. Em 23 de maio saiu oficialmente o primeiro número, incluindo, logo abaixo do título, o nome do seu diretor, o filósofo Jean-Paul Sartre. Aos 68 anos, ele assumia o cargo com as credenciais de intelectual de esquerda mais influente da França desde o pós-guerra e diretor da mítica revista Les Temps Modernes desde outubro de 1947.

Figura aglutinadora e estelar do projeto, Sartre inspirou e imprimiu a marca indelével do Libération como “o defensor de todas as contestações”, na feliz definição do jornalista e filósofo Robert Maggiori.[1] De fato, o tabloide se projetou pela crítica implacável do sistema de poder, gerador de desigualdades, exclusões e discriminações, e pelo compromisso incontornável com a liberdade de expressão e a informação veraz.

No texto a seguir, traço um perfil da trajetória do Libération, entre a gestação do projeto e o término da gestão singular de Jean-Paul Sartre, ao longo de um ano. Um período de efervescência no país e no mundo, durante o qual, apesar das persistentes dificuldades financeiras, o jornal adotou uma visão contra-hegemônica do jornalismo, baseada na defesa de causas libertárias, mobilizações sociais e direitos da cidadania, com viés tendencialmente socialista, porém sem se atrelar a ortodoxias. 

2.

Quando adversários já propagavam a perda de influência de Jean-Paul Sartre na cena pública francesa, eis que a imprensa apareceu novamente como um facho de luz para o fundador de Les Temps Modernes e articulista de inúmeras publicações. Desta vez, foi o Libération. O tabloide, idealizado por maoístas e ex-maoístas da organização de extrema-esquerda Gauche Proletarienne (GP), introduziu um componente crítico radical no cenário de hegemonia conservadora.

No começo da década de 1970, a grande imprensa era formada basicamente pelos jornais das gerações da Resistência e da Libertação (Le Figaro, Le Monde, Combat, Le Matin, Le Parisien), pelos semanários políticos lançados na crise da Indochina e da Argélia (L’Express, Le Nouvel Observateur) e outros recentes (Le Point), pelas revistas ilustradas de variedades (Paris Match, Elle, Marie Claire). De modo geral, a cobertura dos problemas sociais era episódica, e o esforço mais visível nessa direção veio do Le Monde, que criou a coluna intitulada “Agitação”, voltada ao noticiário sindical e de entidades e movimentos da sociedade civil.

Por outro lado, assinalou o jornalista Serge July, “a imprensa de maio de 1968 era contracultural, sem sentido de organização operacional”.[2] Mas não é menos verdadeiro que, apesar da carência de recursos e da falta de estrutura interna e de esquemas de distribuição, o jornalismo alternativo, libertário e underground a partir de 1968 ajudou a renovar os padrões da imprensa francesa. O leque de opções traduziu a variedade de anseios das novas gerações que convergiram nas assembleias e protestos contra o establishment. Pelo menos uma dezena de periódicos retratou a efervescência criativa e contestatória, entre eles três com concepções editoriais e estéticas mais arrojadas: Charlie Hebdo (1969), de humor e sátira política radical; Tout! (1970), em defesa de minorias sexuais e valores antiburgueses, pró-maoista; Actuel (1970), que reunia coletivos de jovens autores de extrema-esquerda.[3]

No campo da imprensa revolucionária, os jornais de organizações semiclandestinas, maoístas ou não-maoístas, preconizavam a educação ideológica dos trabalhadores, a conscientização contra o poder opressor e métodos de ação direta e agressiva, desde greves e ocupações de fábricas a eventuais ações armadas. A difusão era restrita a militantes e simpatizantes, mas esbarrava na repressão governamental e nos processos judiciais para interditá-los – e ainda havia a concorrência do L’Humanité, porta-voz do Partido Comunista Francês (PCF) e órgão mais estruturado da esquerda desde o pós-guerra.

A cúpula da Gauche Proletarienne considerou que as inconsistências da assim chamada “imprensa livre” poderiam ser superadas por um jornal diário que tentasse refletir as sensibilidades e as expressões multifacetadas surgidas na convulsão ideológica de 1968. O projeto do Libération nasceu no início do ano letivo de 1972. As discussões em torno de um diário que propugnasse pelo desenvolvimento real da democracia política e incorporasse as reivindicações desde 1968 congregaram Jean-Paul Sartre, o filósofo Michel Foucault, o escritor Maurice Clavel e o cineasta e crítico de cinema Alexandre Astruc. Com o respaldo desses intelectuais, cresceu o número de interessados no jornal, e não demorou para que o acanhado escritório na Rue de Bretagne, 14, recebesse um número surpreendente de pessoas, a maioria jovens, para reuniões de três ou quatro horas de duração.

Na avaliação de Serge July, três impulsos convergiram para a criação do Libération.[4] O primeiro veio de Jean-Paul Sartre. No pós-1968, decepcionado com o refluxo das mobilizações insurgentes e inconformado com o que julgava ser a passividade da esquerda tradicional frente à hegemonia do capital, ele aproximou-se de maoístas egressos das rebeliões estudantis do maio francês. Embora existam certas convergências de seu pensamento da época com a linha esquerdista da Gauche Proletarienne, Sartre manteve no essencial a autonomia política e intelectual. Ele expressou várias vezes solidariedade à organização diante das medidas repressivas do governo do gaullista Georges Pompidou, inclusive na ofensiva policial para interditar os jornais J’Accuse e La Cause du Peuple.

No começo dos anos 1970, concordou em ceder seu nome para constar como diretor dos dois veículos, numa espécie de biombo de proteção simbólica, decorrente de sua reputação nacional e internacional, à liberdade de expressão ameaçada. Foi, inclusive, às ruas de Paris vender exemplares de La Cause du Peuple, em aberto desafio às ordens de apreensão.

Mas, segundo July, em meados de 1972, Sartre já estava cansado de desempenhar esse papel e motivou-se com a proposta do novo jornal: “Sartre foi um dos poucos intelectuais franceses da época que mergulhou na realidade, por ter pensado muito sobre a história que estava por ser feita. Isso pode ser lido nos dez volumes intitulados Situations e, naturalmente, em Les Temps Modernes. É, portanto, o papel teórico que Sartre é levado a exercer neste período em relação a situações concretas que naturalmente o convenceu a se engajar na loucura do Libération. Ele também jogou um papel unificador para muitas pessoas suscetíveis de trabalhar em um projeto desse tipo e que depositaram confiança na sua capacidade de resistir às tendências autoritárias e sectárias dos ex-maoístas”.[5]

O filósofo incentivou a equipe a adotar um estilo editorial diferente de tudo o que havia na imprensa convencional. “Lembro-me de reuniões sobre a linguagem que o jornal deveria ter.  Sartre queria encontrar uma nova linguagem ‘escrita-falada’, uma tradução escrita da fala popular, uma linguagem que assegurasse o fluxo de comunicação”, relembrou July.[6]

O segundo estímulo foi dado pelo grupo de jornalistas maoístas, ex-maoístas e simpatizantes, egressos da Agence de Presse Libération (APL), fundada em 18 de junho de 1971 e dirigida por Jean-Claude Vernier e Claude-Marie Vadrot. Sartre e Maurice Clavel aceitaram ser codiretores para sinalizar à repressão que se contava com apoiadores de peso. O propósito editorial da Agence de Presse Libération APL acentuava o contraste: queria “defender a verdade, fortalecer a informação livre e confrontar a informação submissa às ordens do poder”. Mesclava a radicalidade política da Gauche Prolétarienne com o desejo de conquistar leitores com um noticiário voltado às reivindicações sociais. O boletim diário da Agence de Presse Libération tornou-se uma fonte de informação confiável para sindicatos, movimentos sociais, comitês de fábricas, diretórios estudantis e grupos de esquerda.[7]

O terceiro impulso veio da própria Gauche Proletarienne. A partir das experiências de J’Accuse e La Cause du Peuple, ambos com tiragens baixas e penetração limitada, a organização passou a defender a tese de que a tomada do poder deveria ser gestada falando-se abertamente das questões populares, de modo a formar consciências críticas e denunciar a exploração dos trabalhadores. Para isso era necessária uma publicação arrojada, capaz de dar visibilidade às causas sociais ignoradas pela grande imprensa.

Na manhã de 6 de dezembro de 1972, uma reunião entre dirigentes da Gauche Proletarienne, intelectuais e jornalistas selou a unidade em torno da criação do jornal. Houve consenso de que o Libération não deveria identificar-se com o maoísmo, nem ser exclusivamente político. Com isso, teria credibilidade para apoiar variadas formas de luta (mobilizações, greves, movimentos por direitos humanos). Este foi um ponto enfatizado por Jean-Paul Sartre: era preciso evitar a “tentação de fazer um jornal esquerdista”, pois teria o duplo risco de organizar-se internamente como se fosse “uma família de militantes” e acabar sendo percebido externamente como mais um porta-voz de “grupúsculos” políticos.[8]

Em janeiro de 1973, Jean-Paul Sartre, Serge July, Jean-Claude Vernier, Jean-René Huleu, Philippe Gavi e Bernard Lallement fundaram o Libération, ou simplesmente Libé. O nome era idêntico ao do periódico criado em 1927 pelo jornalista e militante anarquista Jules Vigne, depois um dos aguerridos jornais da Resistência. Tornou-se diário no pós-guerra, com o subtítulo “O grande matutino da informação”. O título Libération foi cedido em 1973, por um franco simbólico, pela família de Emmanuel d’Astier de La Vigerie, criador do jornal que circulou de 1941 a 1964 e falecido após a guerra da Argélia.

O manifesto do jornal, redigido inicialmente por Pierre Victor (um dos líderes da Gauche Proletarienne), revisto por Philippe Gavi e finalizado por Sartre, define um princípio (“A informação vem do povo e retorna ao povo”) e um slogan (“Povo, tome a palavra e conserve-a”).[9] A meta era tornar-se o diário de leitores progressistas e de esquerda, não contemplados nas opções então existentes na imprensa francesa, o que incluía desde logo modificar práticas jornalísticas: “Enquanto a maioria dos redatores da grande imprensa recebe servilmente diretivas definidas nos restaurantes caros pelos formuladores da política oficial, o jornalista do Libération se informará nos bairros proletários, nas fábricas e nas comunidades”.

Do ponto de vista editorial, uma das prioridades seria a cobertura da vida cotidiana: “Libération não se limitará a informar sobre as greves, as ações diretas de todas as camadas populares, silenciadas pela grande imprensa. Abordará todos os fatos que contemplem as múltiplas facetas da vida social, da vida de um povo sujeito à injustiça e à violência”.

3.

Jean-Paul Sartre ocupava no Libé uma pequena sala quando havia reuniões, e não se envolvia com orientações editoriais, a cargo de Philippe Gavi e Serge July. O secretário de redação era Jean-René Huleu. Fora do expediente, existia um comitê consultivo chefiado por Pierre Victor. Atribuiu-se a Victor o veto à participação de outros intelectuais renomados, além de Sartre (“o diretor teórico”, como autodefiniu-se) na primeira fase do jornal. A cúpula obreirista da Gauche Proletarienne continuava a rotulá-los de “burgueses”.

Nessa fase, Sartre permaneceu à frente de Les Temps Modernes, comparecendo às reuniões de domingo do comitê editorial. Em tese, não havia conexões entre as duas publicações. A revista seguia sendo literária, cultural e política, não necessariamente nessa ordem; o Libération remetia ao jornalismo contra-hegemônico, com espírito iconoclasta e o vigor da rebeldia revolucionária.

Em entrevista a Nina Sutton, do The Guardian, de Londres, Sartre expôs os marcos gerais do jornalismo crítico que o Libération tentaria pôr em prática.[10] O jornal não compactuaria com “instituições que oprimem o povo”, nem se submeteria a hierarquias que tolhessem a liberdade de expressão. O eixo determinante era ouvir os trabalhadores sobre as condições de vida e tentar apresentar as suas manifestações da forma mais clara possível. “O que o jornalista deve fazer – ele não está lá para escrever a história ou interpretá-la – é ouvir o que as pessoas têm a dizer e transmitir suas palavras a todos que não se preocupam apenas com o acontecimento em si, mas com a situação como um todo.”

A questão seguinte tinha sido discutida pelo grupo fundador do jornal: haveria espaços para temas tabus? Para Sartre, como o Libé não apoiava oficialmente nenhum partido, estava desimpedido para tratar de problemas e contradições da sociedade, sem dogmatismos. A repórter quis saber se os maoístas concordavam com essa quebra de tabus, lembrando que algumas organizações de esquerda não costumavam aprofundar-se a respeito. “Os maoístas perceberam que a estratégia de colocar a política revolucionária acima de tudo os condenava a não ser nada além de um grupo de esquerda. Compreenderam que a melhor maneira de falar com as massas é conversar com elas sobre seus problemas”, ele esclareceu.

Nina Sutton perguntou se o apoio de militantes e leitores mais politizados seria suficiente para garantir a sobrevivência do jornal, mesmo produzido a baixo custo. Foi a resposta menos assertiva de Sartre: “Teremos que ver. Mas espero que sim. Veja, existe, emergindo por toda parte, uma anti-hierarquia, um fluxo libertário de consciência que ainda não se canalizou numa força. E o Libération espera ser o catalisador. Por exemplo, você tem cada vez mais jovens furtando nas grandes lojas dos subúrbios e, por outro lado, magistrados que os condenam a pagarem multas. Isso indica um enfraquecimento do conceito de propriedade. Eles não roubam porque querem; roubam porque estão com fome. Eles roubam porque a ideia de propriedade privada lhes parece um roubo. Se você entende isso, então Libération é o seu jornal. Não que defendamos roubos em lojas, mas porque esses roubos pertencem à mesma lógica da contestação. Algo que, na sua relação com a propriedade privada, se torna mais forte, mais violento, mais questionador”.

No esforço de divulgação do Libé, em 7 de fevereiro de 1973 Sartre compareceu ao estúdio da Radio France Culture para ser entrevistado por Jacques Chancel no programa de maior audiência da emissora, o Radioscopie. Denis Bertholet foi preciso ao dizer que, especialmente nesta entrevista, “Sartre se vê como jornalista: na vanguarda progressista da informação, dando forma ao futuro em um presente alienado”.[11] Durante 40 minutos, falou de sua vida, da obra, da recusa do Prêmio Nobel, da política francesa, do ofício de escrever e da evolução de seu pensamento. As partes mais demoradas foram sobre o jornalismo (“o jornalismo não se confunde nem com a literatura nem com a política; o compromisso maior é com a informação, pode ser a informação política, cultural, econômica, mas precisa ser a mais confiável possível para os leitores”) e o Libération (“há lugar para um outro tipo de jornal, como esse que aceitei dirigir, em que o trabalho dos jornalistas e a informação difundida não dependam do poder financeiro, do poder do dinheiro que a publicidade impõe, e que prevalece nos jornais conservadores”).

Chancel perguntou de onde vinha o dinheiro que sustentava o jornal. “Vem de doações de pessoas do povo, que dão seus endereços, seus nomes”. Sartre destacou a importância de um jornal popular, “que defenda a democracia direta e o direito do povo de falar para o povo”. Chancel alfinetou: “L’Humanité não é um jornal popular?”. Sartre respondeu que, por se tratar do órgão oficial do PCF, expressava a opinião do partido, diferentemente do Libération. “Nós não somos um jornal de partido. Eu me refiro a um jornal popular em que os jornalistas possam expressar o que pensam, mas que não falem pelo povo, e sim procurem dar ao povo o direito de falar”.

A prioridade ao projeto do Libé veio no encerramento do programa: “Não me cuido muito, você sabe, tenho muito que fazer. Esta manhã, foi Libération; esta tarde é Libération; amanhã de manhã, será Libération” Durante três meses praticamente parou de escrever o que não fosse para o jornal.

Sob a condução de Sartre, o Libé não aceitou publicidade comercial, patrocínios, subsídios estatais ou financiamento externo, sobrevivendo com dificuldades das vendas em bancas, assinaturas e eventuais doações. A única exceção eram os pequenos anúncios gratuitos publicados diariamente, desde aluguéis de imóveis a propostas de relacionamentos amorosos. Sartre rejeitava a mercantilização da informação e jamais se afastou da certeza de que “a imprensa livre existe onde o capital não prevalece”. No seu entender, as empresas jornalísticas são governadas pela publicidade e pelo egoísmo do lucro, cedem ao sensacionalismo para distrair os mais despossuídos de consciência e estão de braços dados com o poder burguês: “A informação não pode depender do poder financeiro, do poder do dinheiro que a publicidade impõe, e que é o que prevalece nos jornais conservadores”.

A empresa cooperativada responsável pelo jornal pagava salários iguais para todos: 1.500 francos mensais. Essa regra de ouro foi fixada após divergências internas, pois uma ala defendia remunerações de acordo com a experiência profissional. A seu pedido, Sartre nunca recebeu um centavo; pelo contrário, contribuiu financeiramente, algumas vezes. E cedeu os direitos autorais do livro Temos razão de nos revoltar, publicado pela Gallimard em janeiro de 1974 e fruto de suas conversações políticas com Pierre Victor e Philippe Gavi. Outros intelectuais fizeram doações, como Michel Foucault (quantia em espécie) e Maurice Clavel (direitos autorais do livro Os paroquianos de Palente).

A edição do Libé que circulou em 18 de abril de 1973, com quatro páginas, teve o propósito de deslanchar a campanha de assinaturas e doações, apoiada por nomes reconhecidos na intelectualidade e no meio artístico, como Foucault, Clavel, Jean Chesneaux, Jean-Marie Domenach, Philippe Sollers, Jean-François Bizot, Jean Rollin, Serge Gainsbourg, Jeanne Moreau e Georges Moustaki. A manchete: “Tome seu jornal nas mãos”. Junto ao slogan “Por um novo jornalismo”, um apelo aos leitores para que subscrevessem o jornal: “Desde maio de 68, a necessidade de um novo jornal diário é sentida por todo um movimento atravessado por divisões na esquerda, mas ainda assim reunido em torno da recusa a uma concepção autoritária da vida e de uma aspiração comum: uma democracia que rejeite a exploração do trabalho, a violência cotidiana em nome do lucro, a violência do homem contra a mulher, a sexualidade reprimida, o racismo, a poluição do meio ambiente… Esse movimento de ideias dificilmente encontra lugar na imprensa diária atual (…), onde prevalecem interesses poderosos. É necessário um jornal diário inteiramente livre; um jornal que não seja porta-voz de nenhum partido, no qual as ideias e os fatos se confrontem. Sem publicidade, sem banco por trás dele, somente uma assinatura pode permitir que ele exista.”

No alto da primeira página do número 1, o petardo inaugural do Libération de Sartre: “Renault: o ‘patrão secreto’”. A chamada denunciava a atuação de um comando antigreve dentro da fábrica de automóveis: “A Renault é uma empresa nacionalizada e uma das maiores anunciantes. Há poucas chances de encontrarmos na ‘grande’ imprensa um artigo revelando a existência, em sua administração, de uma tropa de choque organizada, que se confrontou violentamente com os grevistas da Renault”.

4.

O Libération saiu para valer em 23 de maio de 1973, com oito páginas, ambiciosa tiragem de 50 mil exemplares e circulação em cinco dias por semana. Os títulos eram chamativos e fotos bem distribuídas. Trazia notas políticas, reportagens, textos de análise, uma pioneira coluna sobre mídia, cartas de leitores e manifestações de cidadãos comuns, além da seção sobre justiça e direitos humanos. O coletivo de jornalistas participava das assembleias do jornal e gozava de maior liberdade de opinião na elaboração dos textos.

O jornal apoiava mobilizações sociais e greves; focalizava temas até então “escondidos” na imprensa, como a sexualidade, o feminismo, o aborto e o homossexualismo; denunciava o racismo, as condições de vida dos idosos, a desumanização nos presídios e manicômios, os aumentos de impostos, os desmandos de grandes empresas e as arbitrariedades governamentais. A cobertura internacional preenchia duas páginas, com análises sobre a política imperialista dos Estados Unidos e o caso Watergate que levou à renúncia do presidente Richard Nixon; a Guerra do Oriente Médio; o drama de exilados, refugiados e imigrantes pobres na França e na Europa; as lutas contra o colonialismo português na África; o regime do apartheid na África do Sul. A seção de cultura e artes era eclética, englobando mostras sobre cubismo e modernismo, turnês de Bob Dylan, entrevistas com escritores e artistas progressistas, resenhas de livros, histórias em quadrinhos, charges e a oposição permanente a qualquer tipo de censura.

“As crônicas de Sartre” abordavam problemas como o desemprego, o arrocho salarial e a exploração dos trabalhadores. Em 15/11/1973, Sartre quebrou o silêncio sobre um problema praticamente proibido na mídia francesa: o estupro. Não se limitou a condenar as violências sexuais contra as mulheres; pediu urgência nas medidas de proteção e bateu na tecla da emancipação feminina e da igualdade de gênero. Defendeu os imigrantes e os trabalhadores das minas no norte da França (onde passou um dia inteiro verificando as condições de trabalho e conversando com os operários).

A despeito da boa aceitação e da redução dos custos gráficos com a impressão em offset, bastou um mês para o Libé cair no vermelho com dívidas. O balanço negativo levou a direção a optar por um freio de arrumação, decidindo suspender a circulação durante o verão, de 29 de junho a 17 de setembro de 1973. O “Manifesto pela liberdade de um pequeno jornal que cospe na sopa dos magnatas da imprensa”, divulgado em 22 de junho de 1973, explicou que, sem publicidade e patrocínios, o diário não conseguia se manter apenas com assinaturas. “Não por acaso, os jornais que têm resistido são apoiados por financistas. O dinheiro dos negócios permite que a ‘grande imprensa’ intoxique um pouco mais a cada dia leitores tratados como ovelhas consumidoras”.

Três meses depois de voltar aos quiosques, dificuldades financeiras novamente ameaçaram a sobrevivência do diário. A alternativa foi lançar uma nova campanha de assinaturas e doações em 17 de dezembro de 1973. Sob o título “A existência do Libé depende de seus leitores”, o texto de Sartre acentuava que o jornal contrariava a regra da imprensa francesa, que visava ao lucro e se sujeitava a interesses econômicos. “Libération escapa a essas servidões e pode dizer a verdade (…). Todo leitor que nos apoiar contribuirá à salvaguarda da liberdade”. A acolhida foi acima das expectativas, com muitos cheques enviados à redação, acompanhados de mensagens de encorajamento. A maior parte das dívidas foi saldada.

No começo de 1974, ficou claro para os mais íntimos que Sartre não poderia continuar por muito tempo à frente do Libération. Os problemas de saúde se agravavam – crise hipertensiva, ataque cardíaco, distúrbio neurológico, insuficiências respiratórias e a visão bastante afetada. Há anos Sartre vinha acumulando estresses, hábitos desregrados, excesso de bebidas alcoólicas, dependência de anfetaminas e dois a três maços de cigarros por dia. Mas continuou escrevendo. Na edição de 13 de abril de 1974, aplaudiu a eficiência da autogestão operária na fábrica de relógios Lip em Besançon, abandonada à própria sorte pelos antigos donos.

Enquanto seu nome apareceu no expediente como diretor, o Libé conservou-se fiel ao projeto original. Quando se consolidou a vitória da Revolução dos Cravos em Portugal, deflagrada no 25 de abril de 1974, a manchete veio em português, quatro dias depois: “Liberdade!”. A chamada celebrou dois atos do governo revolucionário: o fechamento da “Gestapo”, numa alusão à extinção da PIDE (sigla da Polícia Internacional e de Defesa do Estado, a espúria polícia política da ditadura salazarista), e o fim da censura à imprensa. Já na edição de 8 de junho de 1974, o jornal fez jus ao qualificativo de defensor de todas as contestações. Além de denunciar o extermínio de doentes mentais, noticiou a mobilização de entidades feministas contra o machismo da sociedade francesa e promoveu o show no Olympia da canção chilena no exílio, em homenagem ao cantor e compositor Victor Jara, torturado e assassinado pela ditadura genocida do general Pinochet, durante o golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Em 24 de maio de 1974, Sartre encaminhou breve carta à redação do Libération comunicando a sua saída da direção, mas não do jornal. O texto foi editado quatro dias depois, na primeira página, sob o título “Libé e Sartre”: “Caros camaradas, vocês conhecem meu estado: sabem que estou doente e que não posso assumir minhas responsabilidades de diretor do nosso jornal. Mas sabem, também, que permaneço inteiramente com vocês, que eu assumo as posições que nosso jornal tomou e tomará no seu combate pelo triunfo da classe operária. Sempre que puder, escreverei artigos sobre a situação presente”.

O nome de Sartre saiu do cabeçalho em 20 de junho de 1974, substituído pelo de Serge July, que se impôs numa disputa interna que levou à saída de dois fundadores, Jean-Claude Vernier e Bernard Lallement. As mudanças editoriais introduzidas pelo tabloide no panorama da imprensa francesa eram visíveis e incontestáveis. Mas, para tentar reduzir o endividamento e mitigar os déficits mensais, a empresa decidiu aderir aos gabaritos de mercado, aceitando publicidade, patrocínios e participações acionárias. A política de isonomia salarial foi abandonada, passando a vigorar diferenciações por cargos e funções. A tiragem, porém, não evoluiu; no ranking da imprensa diária, fechou o ano de 1975 em posição secundária, com média de 18 mil exemplares. Dividida, a Gauche Prolétarienne autodissolveu-se em novembro de 1973.

Sartre prometeu colaborar na medida em que o estado de saúde e os compromissos assim permitissem. Um dos seus momentos culminantes no Libé aconteceu após deixar a direção, com a publicação da esplêndida reportagem, em primeira pessoa, sobre a visita feita a um dos fundadores da organização de extrema esquerda armada alemã Fração do Exército Vermelho, mais conhecida como grupo Baader-Meinhof, em 4 de dezembro de 1974. Andreas Baader, juntamente com Ulrike Meinhof, Gudrun Ensslin, Jan Carl Raspe e Irmgard Möller, estava encarcerado na penitenciária de segurança máxima de Stammheim, subúrbio de Stuttgart, cumprindo prisão preventiva em regime de confinamento.

Ao contrário do que consta em algumas biografias, não foi a primeira vez que Sartre se solidarizou com os presos políticos da Fração do Exército Vermelho. Em 1 de julho de 1973, Le Monde divulgara o apelo de dezenas de personalidades para que o governo alemão revogasse o isolamento forçado em Stammheim, entre elas Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Philippe Sollers e Marcellin Pleynet. No número 332 (março de 1974), Les Temps Modernes divulgou o dossiê especial “Os presos políticos alemães-ocidentais acusam”, denunciando as formas de torturas praticadas contra opositores radicais.

O primeiro pedido de permissão para visitar Baader foi negado pelo governo do chanceler social-democrata Helmut Schmidt. Em 21 de novembro de 1974, o Libération divulgou carta aberta de Sartre protestando contra a decisão. Em 2 de dezembro de 1974, a revista alemã Der Spiegel publicou entrevista do filósofo francês à jornalista e ativista feminista Alice Schwarzer, na qual tratou como “crime” e “erro político” o assassinato do presidente do Tribunal Superior de Berlim, Günter von Drenkmann, por militantes do Movimento 2 de Junho, aliado do Baader-Meinhof, ocorrido em 10 de novembro de 1974. Coincidência ou não, o Tribunal Superior de Stuttgart finalmente autorizou a ida a Stammheim. O encontro não foi dos mais cordiais, porque Baader, debilitado pela greve de fome contra o regime carcerário, talvez esperasse apoio à luta armada, mas Sartre lhe disse que não estava de acordo; ali se encontrava como “simpatizante” e gostaria de discutir os princípios defendidos pelo grupo.

Quando deixou a Alemanha, Sartre sabia que sua missão não terminara nos 60 minutos com o líder do Baader-Meinhof, nem na entrevista coletiva em Stuttgart, na qual classificou como método de tortura o isolamento imposto aos presos políticos: as celas eram à prova de som e com iluminação artificial permanente. A seu ver, as reclusões deploráveis, agravadas pela greve de fome prolongada, colocavam em risco as vidas dos detentos, pois pareciam concebidas para aniquilá-los física e mentalmente.

Sartre resolveu escrever a reportagem sobre a degradação humana na penitenciária de Stammheim, que saiu na edição do Libération de 7 de dezembro de 1974, com o título “A morte lenta de Andreas Baader”, sendo depois republicada na imprensa de vários países.[12] As duas laudas demonstravam invejável concisão estilística A observação direta sobrepõe-se ao voo imaginativo; os juízos guardam correspondência com a experiência verificável. O ritmo expositivo mantém-se imperturbável: sem tropeços, sem digressões, sem pausas inúteis. Enquanto entidades de direitos humanos e setores mais à esquerda enalteceram a denúncia das condições carcerárias, a mídia empresarial o censurou por se envolver com terroristas. Mas quem percebeu mais tarde o sentido da visita a Baader foi o jornalista Pierre Bocev, correspondente do Le Figaro em Berlim, para quem a iniciativa de Sartre fora “uma das ações de propaganda mais espetaculares”.[13]

5.

A partir dos anos 2000, duas décadas depois da morte de Sartre em 1980, a jornada do Libération enfrentou turbulências. Em 29 de junho de 2006, Serge July demitiu-se da direção de redação. Durou menos de um ano e meio a convivência com o banqueiro Édouard de Rothschild, acionista majoritário desde 20 de janeiro de 2005. Rothschild exigiu a saída de July para injetar mais capital na empresa. Libération teve que suportar a ironia: de Mao a Rothschild, ou de Sartre a Rothschild. As dívidas voltaram com a queda de receita diante da concorrência da internet e dos diários gratuitos.

Em agosto de 2017, o Altice Media Groupe, pertencente ao bilionário franco-israelense Patrick Drahi, adquiriu a maior parte das ações, mas depois deve ter concluído que não fez bom negócio. Por acordo com a associação dos funcionários, em 2 de setembro de 2020 o Altice transferiu 99,99% do controle acionário para uma entidade sem fins lucrativos. Não significou maior autonomia, pois, legalmente, a governança permaneceu sob controle de Drahi, que exerceu o direito de nomear os atuais diretor de redação e gerente-geral.[14] Em 23 de janeiro de 2023, Serge July retornou ao Libération assinando notas e artigos na página de editoriais.

O Libération segue influente entre os formadores de opinião, em particular em áreas de esquerda, sempre na contramão do conservadorismo que caracteriza grande parte da imprensa francesa. Em 2022, alcançou o quinto lugar entre os principais jornais de circulação nacional, com tiragem média diária em torno de 96.500 exemplares.[15] Mesmo salientando a sua resiliência no meio jornalístico, o perfil progressista e o lugar necessário que ocupa na produção informativa, não há como ignorar as diferenças da versão atual em relação ao DNA de rebeldia que distinguiu, como jornal libertário e crítico, o ultracombativo Libération de Sartre.[16]

*Dênis de Moraes, jornalista e escritor, é professor aposentado do Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Autor, entre outros livros, de Crítica da mídia e hegemonia cultural (Mauad).

Notas


[1] Robert Maggiori. Le métier de critique: journalisme et philosophie. Paris: Seuil, 2011, p. 32.

[2] Serge July, “Libération, journal d’opinion?”, Académie des Sciences Morales et Politiques, Paris, 26 de março de 2018

[3] Michaël Rolland. “La presse parallèle française des années 1968, entre transferts culturels et spécificités nationales”. In: Christophe Bourseiller; Olivier Penot-Lacassagne (orgs.). Contre-cultures! Paris: CNRS Éditions, 2013, p. 193-208.

[4] “Libération et la génération de 68: un entretien avec Serge July”, Esprit, n. 5, Paris, maio de 1978.

[5] Ibidem.

 [6] Ibidem.

[7] Ver Jean-Claude Vernier, “Tout dire à des gens qui veulent tout savoir: l’expérience de l’Agence de Presse Libération”, Médiamorphoses, 19-20 de novembro de 2007.

[8] Géraldine Muhlmann. Une histoire politique du journalisme, XIX-XX siècles. Paris: PUF, 2004, p. 311.

[9] Ver a íntegra do manifesto de fundação do Libération em François Samuelson. Il était une fois Libération: reportage historique agrémenté de cinq entretiens inédits (Jean-Paul Sartre, Michel Foucault, Maurice Clavel, Benny Lévy, Serge July). Paris: Flammarion, 2007, p. 139- 143. Sobre a trajetória do jornal, consultar também Alain Dugrand. Libération (1973-1981): un moment d’ivresse. Paris: Fayard, 2013; Bernard Lallement. Libé: l’oeuvre impossible de Sartre. Paris: Albin Michel, 2004; Jean Guisnel. Libération, la biographie. Paris: La Découverte, 2003; Pierre Rimbert. Libération, de Sartre à Rothschild. Paris: Raisons d’Agir, 2005.

[10] Nina Sutton, “Jean-Paul Sartre talks about the launch of Libération”, The Guardian, 10 de março de 1973.

[11] Denis Bertholet. Sartre. Paris: Perrin, 2005, p. 532.

[12] A tradução em português de “A morte lenta de Andreas Baader” pode ser lida em: https://www.marxists.org/portugues/sartre/1974/12/07.htm

[13] Pierre Bocev, “Andreas Baader, dandy rouge sang”, Le Figaro, 1 de agosto de 2008.

[14] Ver Sandrine Cassini, “Le transfert du quotidien Libération à une fondation suscite des réserves”, Le Monde, 15 de maio de 2020; Mélanie Volland, “Libération 2020-2021: une ‘indépendance‘ toujours sous l’étroit contrôle d’Altice“, La Lettre A, 11 de março de 2021. Disponível em: https://www.lalettrea.fr/medias_ presse-ecrite/2021/03/11/liberation–une-independance-toujours-sous-l-etroit- -controle-d-altice,109649694-evg.

[15] No relatório de 2022, auditado por L’Alliance pour les Chiffres de la Presse et des Médias (ACPM), órgão verificador de circulação da França, Libération ocupava o quinto lugar, em tiragem média diária, entre os jornais de circulação nacional. Eis os dados, acessados em 21 de maio de 2023: Le Monde, 472.767 exemplares; Le Figaro, 351.526; L’Équipe, 215.362; Les Echos, 138.421; Libération, 96.551; La Croix, 84.781; Aujourd’hui en France, 73.423. Consultar o portal da ACPM: https://www.acpm.fr/.

[16] Este texto baseia-se em questões abordadas no meu livro Sartre e a imprensa (Mauad), cuja pesquisa contou com o apoio da Capes e do CNPq.


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