O desemprego assola a economia

Marina Gusmão, Espiral branca.
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por ALDO PAVIANI*

Ao se observar o horizonte, nada surge que aponte planos, programas e medidas que façam a economia voltar a crescer e, com isso, gerar postos de trabalho

Acompanho a eliminação de empregos nas atividades econômicas, indústrias, comércio e atividades sociais durante algumas décadas. Por todo esse tempo, o desemprego é tido como continuado. São quase 15 milhões de desempregados no Brasil (ou 14,7% a PEA, no primeiro trimestre de 2021, segundo o IBGE) e não há indícios que a economia do país se aqueça para ultrapassar ou mesmo evitar a continuidade desse processo. A tragédia só não é maior porque o que se chama de “informal”, faz aumentar o número de biscateiros, “faz tudo” ou dos que aguardam na esquina ser chamado para alguma tarefa remunerada. Todavia, com o crescimento dos que estão assim classificados faz com que se estabeleça concorrência entre esses personagens sendo, portanto, conduzidos a não terem o que fazer e obter algum ganho (vulgarmente denominada de “renda” – que é do capital e não do trabalho).

No caso de Brasília, a Pesquisa de Emprego e Desemprego de abril de 2021 (Codeplan/DF) estima em 322.000 desempregados, de uma PEA de 1.641.000 pessoas, o que indica um percentual de quase 20% de desempregados, um pouco menos do que há um ano atrás, quando foi divulgado haver 333.000 desempregados. Apesar da redução, é de se calcular que a pandemia da covid-19 possa agravar o quadro, pois muitas empresas estão fechando as portas e, com isso, demitindo empregados. A próxima pesquisa poderá confirmar ou não essa situação preocupante.

Estabeleci o terno “lacunas de trabalho” para aqueles postos eliminados ao longo do processo.

Na lacuna não mais haverá qualquer possibilidade de retorno ao status quo ante, e, em resumo, é o pior tipo de desemprego numa economia. Ele é identificado como um “buraco negro” que devora a atividade que poderia acontecer. No entanto, não vejo como transformar as lacunas de trabalho em estatísticas que possam colaborar com a tomada de decisões de como reduzi-las. Assim, fica o conceito inovador em aberto para futuras possibilidade de utilização.

Jornalista da Folha de São Paulo, Vinicius Torres Freire, escreve – em matéria de 30 de maio passado, a respeito de “O erro do Pessimismo exagerado”, que “A adaptação técnica à recessão da covid deve acelerar a crise estrutural do trabalho”. E prossegue, criticando o governo Bolsonaro. O ministro da

Economia refere que “vai para o ataque”, que irá baixar um “pacotezinho social de favores para as falanges bolsonaristas, como a dos caminhoneiros”. Prossegue Torres Freire: ainda “Haverá grande perdão de impostos para pequenas empresas em particular. Guedes articula agrados à indústria. Haverá favores até privatização, na da Eletrobras, por exemplo. Há um esquema azeitado para adquirir apoio de parlamentares. Tudo isto, a meu ver tem ligações fortes com todas as estratégias visando a eleição de 2022. Joga-se todas as cartadas e o apoio do chamado “Centrão” será fundamental para ir em frente com essa desesperada forma de se manter no poder, inclusive mantendo o presidente da Arthur Lira (PP/Alagoas) como aliado, debaixo de generosas verbas alimentando as emendas parlamentares – este ano somando mais de R$ 48 bilhões – um recorde na história política do país.

Enquanto isso, não se percebe nenhum resquício de atitudes que levem a baixar medidas que minorem o drama dos desempregados. Não há incentivo para igualmente atenuar os efeitos da pandemia sobre pequenas e médias empresas em dificuldades. Muitas já fecharam as portas, levadas à falência por não possuírem capital de reserva para suportar meses em que as vendas deixaram de ser efetivas, pois o consumo foi reduzido em muito, devido às incertezas das famílias de “como será o dia de amanhã”, como a mídia considera as dificuldades dos brasileiros em geral. Por falta de consumo que aportem receitas as empresas demitem, o que eleva o desemprego. Assim, no Caderno Economia, o Correio Braziliense, edição de 28 de maio de 2021, estampa a manchete “Desemprego cresce e bate novo recorde”, ou seja, chega a quase 15 milhões de pessoas, como referido.

Ao se observar o horizonte, nada surge que aponte planos, programas e medidas que façam a economia voltar a crescer e, com isso, gerar postos de trabalho e renda para as empresas. Por isso, neste contexto, pergunta-se quais as políticas públicas desejáveis para estancar o desemprego e viabilizar políticas públicas necessárias e desejáveis?

*Aldo Paviani, geógrafo, é Professor Emérito da Universidade de Brasília (UnB).

 

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Bernardo Ricupero Vinício Carrilho Martinez Valerio Arcary Mariarosaria Fabris Lorenzo Vitral Marilia Pacheco Fiorillo André Márcio Neves Soares Antônio Sales Rios Neto Luiz Roberto Alves Atilio A. Boron Chico Alencar João Carlos Loebens Rodrigo de Faria Francisco Pereira de Farias Eliziário Andrade Afrânio Catani Salem Nasser Annateresa Fabris Vladimir Safatle Lincoln Secco João Feres Júnior Jorge Branco Plínio de Arruda Sampaio Jr. Tadeu Valadares Leonardo Avritzer Ricardo Fabbrini Yuri Martins-Fontes Ricardo Abramovay Walnice Nogueira Galvão Ladislau Dowbor Ronald León Núñez José Costa Júnior João Carlos Salles Paulo Nogueira Batista Jr Manuel Domingos Neto Everaldo de Oliveira Andrade Vanderlei Tenório José Micaelson Lacerda Morais Osvaldo Coggiola Boaventura de Sousa Santos Sandra Bitencourt Priscila Figueiredo Flávio Aguiar Renato Dagnino Jean Marc Von Der Weid Slavoj Žižek Luiz Eduardo Soares Michael Roberts Luís Fernando Vitagliano Milton Pinheiro Flávio R. Kothe Denilson Cordeiro Liszt Vieira Carlos Tautz Tales Ab'Sáber Thomas Piketty Elias Jabbour Daniel Costa Chico Whitaker Alexandre de Freitas Barbosa Ricardo Antunes Daniel Brazil Gerson Almeida Matheus Silveira de Souza Airton Paschoa Gabriel Cohn Eduardo Borges Fernão Pessoa Ramos Antonino Infranca Alysson Leandro Mascaro Luciano Nascimento André Singer Marcos Aurélio da Silva Marcelo Módolo Jean Pierre Chauvin Ari Marcelo Solon Claudio Katz Valerio Arcary Érico Andrade Celso Frederico Jorge Luiz Souto Maior Gilberto Lopes Paulo Fernandes Silveira Celso Favaretto Francisco Fernandes Ladeira Juarez Guimarães Francisco de Oliveira Barros Júnior Igor Felippe Santos Eleutério F. S. Prado Armando Boito João Paulo Ayub Fonseca Manchetômetro Leda Maria Paulani Henri Acselrad Paulo Martins Henry Burnett Eleonora Albano Luis Felipe Miguel Marcos Silva Ricardo Musse Marcelo Guimarães Lima Anselm Jappe Fábio Konder Comparato Dennis Oliveira Andrew Korybko Luiz Bernardo Pericás Rafael R. Ioris José Geraldo Couto Marjorie C. Marona Bruno Machado Berenice Bento Dênis de Moraes João Adolfo Hansen José Raimundo Trindade Andrés del Río Ronald Rocha Luiz Werneck Vianna Alexandre de Lima Castro Tranjan Luiz Renato Martins Michel Goulart da Silva Sergio Amadeu da Silveira Luiz Carlos Bresser-Pereira Julian Rodrigues Eugênio Bucci Michael Löwy Bruno Fabricio Alcebino da Silva Alexandre Aragão de Albuquerque Paulo Capel Narvai Heraldo Campos Samuel Kilsztajn Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Antonio Martins Benicio Viero Schmidt José Machado Moita Neto Marcus Ianoni Marilena Chauí Bento Prado Jr. Leonardo Boff Remy José Fontana Daniel Afonso da Silva Tarso Genro Caio Bugiato João Lanari Bo Rubens Pinto Lyra João Sette Whitaker Ferreira Paulo Sérgio Pinheiro Mário Maestri Leonardo Sacramento Eugênio Trivinho Otaviano Helene Lucas Fiaschetti Estevez Fernando Nogueira da Costa Ronaldo Tadeu de Souza Kátia Gerab Baggio José Dirceu Luiz Marques José Luís Fiori Maria Rita Kehl Gilberto Maringoni Carla Teixeira

NOVAS PUBLICAÇÕES