Para onde vai a guerra na Ucrânia

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Por JOHN J. MEARSHEIMER*

A Rússia acabará vencendo a guerra, embora não derrotará a Ucrânia de forma decisiva

Este artigo analisa a trajetória provável da guerra na Ucrânia. Abordarei duas questões principais. Em primeiro lugar, é possível um acordo de paz relevante? Minha resposta é não. Atualmente estamos numa guerra em que ambos os lados – a Ucrânia e o Ocidente, de um lado, e a Rússia, do outro – se veem como uma ameaça existencial que deve ser derrotada. Tendo em vista os objetivos maximalistas de ambas as partes, é quase impossível chegar a um tratado de paz viável.

Além disso, os dois lados têm diferenças irreconciliáveis quanto ao território e à relação da Ucrânia com o Ocidente. O melhor resultado possível é um conflito congelado que pode facilmente transformar-se numa guerra quente. O pior resultado possível é uma guerra nuclear, que é improvável, mas não pode ser excluída.

Em segundo lugar, que lado provavelmente vencerá a guerra? A Rússia acabará vencendo a guerra, embora não derrotará a Ucrânia de forma decisiva. Em outras palavras, não conquistará toda a Ucrânia, o que é necessário para atingir três dos objetivos de Moscou: derrubar o regime, desmilitarizar o país e cortar os laços de segurança de Kiev com o Ocidente. Entretanto, terminará anexando uma grande parte do território ucraniano, transformando a Ucrânia num Estado falido disfuncional. Em outras palavras, a Rússia obterá uma vitória feia.

Antes de abordar diretamente estas questões, é necessário fazer três observações preliminares. Para começar, estou tentando prever o futuro, o que não é fácil de fazer, dado que vivemos num mundo incerto. Assim, não estou defendendo que possuo a verdade; de fato, algumas das minhas afirmações podem revelar-se erradas. Além disso, não estou dizendo o que eu gostaria que acontecesse. Não estou torcendo por um lado ou por outro. Estou simplesmente dizendo-lhes o que penso que acontecerá à medida que a guerra avança. Por último, não estou justificando o comportamento russo ou as ações de qualquer dos Estados envolvidos no conflito. Estou apenas explicando suas ações.

Passemos agora à questão de fundo. Para compreender para onde vai a guerra na Ucrânia, é necessário primeiro avaliar a situação atual. É importante saber como os três principais atores – Rússia, Ucrânia e o Ocidente – pensam sobre seu ambiente de ameaça e concebem seus objetivos. No entanto, quando falamos do Ocidente, estamos falando principalmente dos Estados Unidos, uma vez que seus aliados europeus recebem ordens de Washington no que diz respeito à Ucrânia. É também essencial compreender a situação atual no campo de batalha. Permitam-me que comece pelo ambiente de ameaça da Rússia e pelos seus objetivos.

 

O ambiente de ameaça da Rússia

Desde abril de 2008, tem ficado claro que os líderes russos de forma geral consideram os esforços do Ocidente para integrar a Ucrânia na OTAN e torná-la um baluarte ocidental nas fronteiras da Rússia como uma ameaça existencial. Na verdade, o presidente Vladimir Putin e seus comandantes afirmaram repetidamente este ponto nos meses que antecederam a invasão russa, quando se tornava claro para eles que a Ucrânia era quase um membro de fato da OTAN.

Desde que a guerra começou, em 24 de fevereiro de 2022, o Ocidente acrescentou outra camada a essa ameaça existencial, adotando um novo conjunto de objetivos que os líderes russos não podem deixar de considerar extremamente ameaçadores. Mais adiante, falarei mais sobre os objetivos ocidentais, mas basta dizer aqui que o Ocidente está determinado a derrotar a Rússia e a eliminá-la das fileiras das grandes potências, ou até mesmo promover uma mudança de regime, ou ainda provocar a desagregação da Rússia, como aconteceu com a União Soviética em 1991.

Num importante discurso, proferido em fevereiro último (2023), Vladimir Putin destacou que o Ocidente é uma ameaça mortal para a Rússia: “Durante os anos que se seguiram ao desmembramento da União Soviética”, afirmou, “o Ocidente nunca parou de tentar incendiar os Estados pós-soviéticos e, acima de tudo, acabar com a Rússia como a maior porção que restou dos limites históricos de nosso Estado. Eles encorajaram os terroristas internacionais a atacar-nos, provocaram conflitos regionais ao longo do perímetro de nossas fronteiras, ignoraram nossos interesses e tentaram conter e suprimir nossa economia”. E sublinhou ainda que “a elite ocidental não faz segredo de seu objetivo, que é, cito, ‘a derrota estratégica da Rússia’. O que isto significa para nós? Significa que planejam acabar conosco de uma vez por todas”. E Putin disse ainda: “Isto representa uma ameaça existencial para o nosso país”.

Os líderes russos também veem o regime de Kiev como uma ameaça para a Rússia, não só porque é um aliado próximo do Ocidente, mas também porque o veem como um descendente das forças fascistas ucranianas que lutaram ao lado da Alemanha nazista contra a União Soviética na Segunda Guerra Mundial.

 

Objetivos da Rússia

A Rússia deve ganhar esta guerra, pois acredita que está enfrentando uma ameaça à sua sobrevivência. Mas em que consiste a vitória? O resultado ideal antes do início da guerra, em fevereiro de 2022, era transformar a Ucrânia num Estado neutro e resolver a guerra civil no Donbass, que opunha o governo ucraniano aos russos étnicos e aos falantes de russo que queriam uma maior autonomia, ou mesmo a independência, para sua região. Parece que estes objetivos ainda eram realistas durante o primeiro mês da guerra e foram, de fato, a base das negociações em Istambul entre Kiev e Moscou em março de 2022. Se os russos tivessem atingido esses objetivos nessa altura, a atual guerra teria sido evitada ou terminado rapidamente.

Mas um acordo que satisfaça os objetivos da Rússia já não é possível. A Ucrânia e a OTAN são inseparáveis num futuro previsível e nenhuma delas está disposta a aceitar a neutralidade ucraniana. Além disso, o regime de Kiev é um anátema para os dirigentes russos, que o querem fora de cena. Não falam apenas em “desnazificar” a Ucrânia, mas também em “desmilitarizá-la”, dois objetivos que, presumivelmente, implicariam conquistar toda Ucrânia, obrigar suas forças militares a renderem-se e instalar um regime amigável em Kiev.

Uma vitória decisiva desse tipo não é provável por várias razões. O exército russo não é suficientemente grande para tal tarefa, que exigiria provavelmente ao menos dois milhões de homens. De fato, o exército russo atual está tendo dificuldade em conquistar todo Donbass. Além do mais, o Ocidente faria um enorme esforço para impedir que a Rússia dominasse toda Ucrânia. Por fim, os russos acabariam ocupando uma enorme quantidade de território que é densamente povoado por ucranianos étnicos que detestam os russos e resistiriam ferozmente à ocupação. A tentativa de conquistar toda a Ucrânia e de submetê-la à vontade de Moscou acabaria certamente em desastre.

Deixando de lado a retórica sobre a desnazificação e a desmilitarização da Ucrânia, os objetivos concretos da Rússia envolvem a conquista e a anexação de uma grande parte do território ucraniano, enquanto transforma simultaneamente a Ucrânia num Estado falido disfuncional. Como tal, a capacidade da Ucrânia para travar uma guerra contra a Rússia seria muito reduzida e seria improvável que se qualificasse para ser membro da União Europeia ou da OTAN. Ademais, uma Ucrânia desfeita seria especialmente vulnerável à interferência russa em sua política interna. Em suma, a Ucrânia não seria um bastião ocidental na fronteira com a Rússia.

Como seria esse Estado falido disfuncional? Moscou anexou oficialmente a Crimeia e quatro outros oblasts ucranianos – Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia – que, em conjunto, representam cerca de 23% do território total da Ucrânia antes do início da crise em fevereiro de 2014. Os dirigentes russos enfatizaram que não têm qualquer intenção de renunciar a esse território, parte do qual a Rússia ainda não controla. De fato, há razões para pensar que a Rússia anexará outros territórios ucranianos se tiver capacidade militar para fazê-lo a um custo razoável. No entanto, é difícil dizer que quantidade de território ucraniano adicional Moscou procurará anexar, como o próprio Vladimir Putin deixa claro.

É provável que o raciocínio russo seja influenciado por três cálculos. Moscou tem um forte incentivo para conquistar e anexar permanentemente o território ucraniano, que é densamente povoado por russos étnicos e falantes de russo. Buscará protegê-los do governo ucraniano – que se tornou hostil a tudo o que é russo – e garantir que não haverá uma guerra civil na Ucrânia como a que ocorreu no Donbass entre fevereiro de 2014 e fevereiro de 2022. Ao mesmo tempo, a Rússia evitará controlar um território largamente povoado por ucranianos étnicos hostis, o que impõe limites significativos a uma expansão russa mais ampla.

Por último, para transformar a Ucrânia num Estado falido disfuncional, será necessário que Moscou se apodere de quantidades substanciais de território ucraniano, de modo a estar bem posicionado para causar danos significativos à sua economia. O controle de toda a costa ucraniana ao longo do Mar Negro, por exemplo, daria a Moscou um trunfo econômico significativo sobre Kiev.

Estes três cálculos sugerem que é provável que a Rússia tente anexar os quatro oblasts – Dnipropetrovsk, Carcóvia, Mykolaiv e Odessa – que se situam imediatamente a oeste dos quatro oblasts que já anexou – Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia. Se isso acontecesse, a Rússia controlaria aproximadamente 43% do território ucraniano anterior a 2014. Dmitri Trenin, um importante estrategista russo, estima que os líderes russos procurariam conquistar ainda mais território ucraniano – avançando para oeste no norte da Ucrânia até o rio Dniepre e tomando a parte de Kiev que se situa na margem leste desse rio. Ele escreve que “um próximo passo lógico” depois de tomar toda a Ucrânia, de Carcóvia a Odessa, “seria expandir o controle russo para toda Ucrânia a leste do rio Dniepre, incluindo a parte de Kiev que fica na margem leste desse rio. Se isso acontecesse, o Estado ucraniano encolheria para incluir apenas as regiões central e ocidental do país”.

 

O ambiente de ameaças do Ocidente

Pode parecer difícil de acreditar agora, mas antes do início da crise na Ucrânia, em fevereiro de 2014, os líderes ocidentais não viam a Rússia como uma ameaça à segurança. Os líderes da OTAN, por exemplo, falaram com o presidente da Rússia sobre “uma nova fase de cooperação para uma verdadeira parceria estratégica” na Cúpula da aliança em Lisboa, em 2010. Sem surpresa, a expansão da OTAN antes de 2014 não era justificada em termos de contenção de uma Rússia perigosa.

Na verdade, foi a fraqueza russa que permitiu ao Ocidente empurrar goela abaixo de Moscou as duas primeiras parcelas da expansão da OTAN, em 1999 e 2004, e que permitiu à administração George W. Bush pensar, em 2008, que a Rússia poderia ser forçada a aceitar a adesão da Geórgia e da Ucrânia à aliança. Mas essa suposição revelou-se errada e, quando a crise da Ucrânia eclodiu em 2014, o Ocidente começou subitamente a retratar a Rússia como um inimigo perigoso que tinha que ser contido, ou mesmo enfraquecido.

Desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, a percepção que o Ocidente tem da Rússia aumentou de forma constante, ao ponto de Moscou ser agora visto como uma ameaça existencial. Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão profundamente envolvidos na guerra da Ucrânia contra a Rússia. Na verdade, estão fazendo tudo menos puxar os gatilhos e apertar os botões. Além disso, deixaram claro seu compromisso inequívoco de ganhar a guerra e manter a soberania da Ucrânia.

Assim, perder a guerra teria consequências extremamente negativas para Washington e para a OTAN. A reputação de competência e confiabilidade dos Estados Unidos seria gravemente prejudicada, o que afetaria a forma como seus aliados e adversários – especialmente a China – lidam com os Estados Unidos. Além disso, praticamente todos os países europeus da OTAN acreditam que a aliança é um guarda-chuva de segurança insubstituível. Assim, a possibilidade da OTAN ser gravemente prejudicada – talvez até mesmo arruinada – se a Rússia vencer na Ucrânia é motivo de profunda preocupação entre seus membros.

Ademais, os líderes ocidentais retratam frequentemente a guerra na Ucrânia como parte integral de uma luta global mais ampla entre autocracia e democracia, que é maniqueísta em sua essência. E mais, diz-se que o futuro da sacrossanta ordem internacional baseada em regras depende da vitória contra a Rússia. Como disse o rei Charles em março passado (2023), “a segurança da Europa e os nossos valores democráticos estão ameaçados”.

Da mesma forma, uma resolução introduzida no Congresso dos Estados Unidos em abril declara: “Os interesses dos Estados Unidos, a segurança europeia e a causa da paz internacional dependem da (…) vitória ucraniana”. Um artigo recente do The Washington Post ilustra a forma como o Ocidente trata a Rússia como uma ameaça existencial: “Os líderes dos mais de 50 países que apoiam a Ucrânia apresentaram seu apoio como parte de uma batalha apocalíptica pelo futuro da democracia e do direito internacional contra a autocracia e a agressão que o Ocidente não pode se dar ao luxo de perder”.

 

Objetivos do Ocidente

Como deve estar claro, o Ocidente está firmemente empenhado em derrotar a Rússia. O presidente Biden tem dito repetidamente que os Estados Unidos estão nesta guerra para ganhar. “A Ucrânia nunca será uma vitória para a Rússia”. Tem que acabar num “fracasso estratégico”. Washington, ele enfatiza, vai manter-se na luta “durante o tempo que for preciso”. Especificamente, o objetivo é derrotar o exército russo na Ucrânia – apagando seus ganhos territoriais – e paralisar sua economia com sanções letais. Se bem-sucedido, a Rússia seria eliminada das fileiras das grandes potências, enfraquecendo-a ao ponto de não poder ameaçar invadir novamente a Ucrânia. Os líderes ocidentais têm objetivos adicionais, que incluem a mudança de regime em Moscou, levar Putin a julgamento como criminoso de guerra e, possivelmente, dividir a Rússia em Estados menores.

Ao mesmo tempo, o Ocidente continua empenhado em trazer a Ucrânia para a OTAN, embora haja desacordo no interior da aliança sobre quando e como isso acontecerá. Jens Stoltenberg, secretário-geral da aliança, disse numa conferência de imprensa em Kiev, em abril de 2023, que “a posição da OTAN permanece inalterada e a Ucrânia se tornará membro da aliança”. Ao mesmo tempo, sublinhou que “o primeiro passo para qualquer adesão da Ucrânia à OTAN é garantir que a Ucrânia prevaleça, e é por isso que os EUA e seus parceiros têm dado um apoio sem precedentes à Ucrânia”. Tendo em conta estes objetivos, é evidente por que a Rússia vê o Ocidente como uma ameaça existencial.

 

Ambiente de ameaça e objetivos da Ucrânia

Não há dúvida de que a Ucrânia enfrenta uma ameaça existencial, uma vez que a Rússia está empenhada em desmembrá-la e em garantir que o Estado sobrevivente seja não apenas economicamente fraco, mas também não se torne um membro de fato ou de direito da OTAN. Também não há dúvida de que Kiev compartilha o objetivo do Ocidente de derrotar e enfraquecer seriamente a Rússia, para que possa recuperar seu território perdido e mantê-lo sob controle ucraniano para sempre. Como o presidente Volodymyr Zelensky disse recentemente ao presidente Xi Jinping, “não pode haver paz baseada em compromissos territoriais”. Os dirigentes ucranianos continuam, naturalmente, firmemente empenhados em aderir à União Europeia e à OTAN e em fazer da Ucrânia parte integral do Ocidente.

Em suma, todos os três principais atores na guerra da Ucrânia acreditam que enfrentam uma ameaça existencial, o que significa que cada um deles pensa que tem que ganhar a guerra ou então sofrerá consequências terríveis.

 

O campo de batalha atual

Passando aos acontecimentos no campo de batalha, a guerra evoluiu para uma guerra de atrito em que cada lado está principalmente preocupado em sangrar aos poucos o outro, levando-o à rendição. É claro que ambos os lados também estão preocupados com a captura de território, mas esse objetivo é de importância secundária em relação ao desgaste do outro lado.

As forças armadas ucranianas tiveram vantagem na segunda metade de 2022, o que lhes permitiu recuperar território da Rússia nas regiões de Carcóvia e Kherson. Mas a Rússia respondeu a essas derrotas mobilizando 300.000 soldados adicionais, reorganizando seu exército, encurtando suas linhas da frente e aprendendo com seus erros. O foco dos combates em 2023 tem sido o leste da Ucrânia, principalmente nas regiões de Donetsk e Zaporizhzhia. Os russos têm estado em vantagem este ano, principalmente porque têm uma vantagem substancial na artilharia, que é a arma mais importante na guerra de atrito.

A vantagem de Moscou foi evidente na batalha por Bakhmut, que terminou com a tomada da cidade pelos russos no final de maio (2023). Embora as forças russas tenham demorado dez meses para tomar o controle de Bakhmut, infligiram enormes baixas às forças ucranianas com sua artilharia. Pouco depois, em 4 de junho, a Ucrânia lançou sua contraofensiva há muito esperada em diferentes locais das regiões de Donetsk e Zaporizhzhia. O objetivo é penetrar nas linhas de frente da defesa russa, desferir um golpe surpreendente nas forças russas e recuperar uma parte substancial do território ucraniano que está agora sob controle russo. Essencialmente, o objetivo é duplicar os sucessos da Ucrânia em Carcóvia e Kherson em 2022.

Até agora, o exército ucraniano tem feito poucos progressos na realização desses objetivos e, em vez disso, está atolado em batalhas mortais de desgaste com as forças russas. Em 2022, a Ucrânia foi bem-sucedida nas campanhas de Carcóvia e Kherson, porque seu exército estava lutando contra forças russas em menor número e muito dispersas. Não é esse o caso atualmente: a Ucrânia está atacando frontalmente linhas de defesa russas bem preparadas. Mas mesmo que as forças ucranianas consigam ultrapassar essas linhas defensivas, as tropas russas estabilizarão rapidamente a frente e as batalhas de desgaste continuarão. Os ucranianos estão em desvantagem nestes confrontos porque os russos têm uma vantagem significativa em poder de fogo.

 

Para onde estamos indo

Permitam-me que mude de assunto e me afaste do presente para falar sobre o futuro, começando pela forma como os acontecimentos no campo de batalha provavelmente se desenvolverão no futuro. Como já observado, acredito que a Rússia ganhará a guerra, o que significa que acabará conquistando e anexando uma parte substancial do território ucraniano, o que deixará a Ucrânia como um Estado falido disfuncional. Se eu estiver correto, esta será uma grande derrota para a Ucrânia e para o Ocidente.

No entanto, há um lado positivo neste resultado: uma vitória russa reduz significativamente a ameaça de uma guerra nuclear, uma vez que é mais provável que ocorra uma escalada nuclear se as forças ucranianas obtiverem vitórias no campo de batalha e ameaçarem recuperar todos ou a maioria dos territórios que Kiev perdeu para Moscou. Por certo, os dirigentes russos pensariam seriamente em utilizar armas nucleares para salvar a situação. É claro que, se eu estiver errado quanto ao rumo da guerra e os militares ucranianos ganharem vantagem e começarem a empurrar as forças russas para leste, a probabilidade de utilização de armas nucleares aumentará significativamente, o que não quer dizer que seja uma certeza.

Em que se baseia a minha afirmação de que é provável que os russos ganhem a guerra?

A guerra da Ucrânia, como foi enfatizado, é uma guerra de atrito em que a captura e a manutenção do território são de importância secundária. O objetivo da guerra de atrito é desgastar as forças do outro lado até o ponto em que este desiste da luta ou fica tão enfraquecido que já não consegue defender o território contestado. Quem ganha uma guerra de atrito depende em grande medida de três fatores: o equilíbrio de determinação entre os dois lados; o equilíbrio populacional entre eles; e a razão de troca das baixas. Os russos têm uma vantagem decisiva na dimensão da população e uma vantagem acentuada na razão de troca das baixas; os dois lados estão empatados em termos de determinação.

Consideremos o equilíbrio da determinação. Como já foi indicado, tanto a Rússia como a Ucrânia acreditam que estão enfrentando uma ameaça existencial e, naturalmente, ambos os lados estão totalmente empenhados em ganhar a guerra. Assim, é difícil ver qualquer diferença significativa em sua determinação. Relativamente ao tamanho da população, a Rússia tinha uma vantagem de aproximadamente 3,5:1 antes do início da guerra, em fevereiro de 2022.

Desde então, a razão mudou visivelmente a favor da Rússia. Cerca de oito milhões de ucranianos abandonaram o país, diminuindo a população da Ucrânia. Cerca de três milhões desses emigrantes foram para a Rússia, aumentando sua população. Além disso, há provavelmente cerca de quatro milhões de outros cidadãos ucranianos vivendo nos territórios que a Rússia controla atualmente, o que faz aumentar ainda mais o desequilíbrio populacional a favor da Rússia. Se juntarmos estes números, a Rússia tem uma vantagem de aproximadamente 5:1 quanto ao tamanho da população.

Por último, há a razão de troca das baixas, que tem sido uma questão controversa desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. A informação convencional na Ucrânia e no Ocidente é que os níveis de baixas de ambos os lados são aproximadamente iguais ou que os russos sofreram mais baixas do que os ucranianos. O chefe do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, chega mesmo a afirmar que os russos perderam 7,5 soldados para cada soldado ucraniano na batalha de Bakhmut. Estas afirmações estão erradas. As forças ucranianas sofreram certamente muito mais baixas do que seus adversários russos por uma razão: a Rússia tem muito mais artilharia do que a Ucrânia.

Na guerra de atrito, a artilharia é a arma mais importante no campo de batalha. No Exército dos EUA, a artilharia é amplamente conhecida como o “rei da batalha”, porque é a principal responsável por matar e ferir os soldados que estão combatendo. Assim, o equilíbrio da artilharia é extremamente importante numa guerra de atrito. De acordo com quase todos os relatos, os russos têm uma vantagem entre 5:1 e 10:1 na artilharia, o que coloca o exército ucraniano numa desvantagem significativa no campo de batalha. Ceteris paribus, seria de esperar que a razão de troca das baixas se aproximasse do equilíbrio da artilharia. Por conseguinte, uma razão de troca das baixas da ordem de 2:1 a favor da Rússia é uma estimativa conservadora.

Um possível desafio à minha análise é argumentar que a Rússia é o agressor nesta guerra e que o agressor sofre invariavelmente níveis de baixas muito mais elevados do que o defensor, especialmente se as forças atacantes estiverem envolvidas em ataques frontais extensos, o que se diz frequentemente ser o modus operandi dos militares russos. Afinal de contas, o atacante está em campo aberto e em movimento, enquanto o defensor luta principalmente a partir de posições fixas que proporcionam uma cobertura substancial. Esta lógica está na base da famosa regra de ouro de 3:1, que diz que uma força atacante precisa de, pelo menos, três vezes mais soldados do que a defensora para ganhar uma batalha. Mas há problemas com esta linha de argumentação quando é aplicada à guerra da Ucrânia.

Em primeiro lugar, não foram apenas os russos que iniciaram campanhas ofensivas ao longo da guerra. De fato, os ucranianos lançaram duas grandes ofensivas no ano passado que conduziram a vitórias amplamente anunciadas: a ofensiva de Carcóvia em setembro de 2022 e a ofensiva de Kherson entre agosto e novembro de 2022. Embora os ucranianos tenham obtido ganhos territoriais substanciais em ambas as campanhas, a artilharia russa infligiu pesadas baixas às forças atacantes. Em 4 de junho, os ucranianos iniciaram outra grande ofensiva contra forças russas que são mais numerosas e estão muito mais bem preparadas do que aquelas contra as quais os ucranianos lutaram em Carcóvia e Kherson.

Em segundo lugar, a distinção entre atacantes e defensores numa grande batalha não é, normalmente, preto no branco. Quando um exército ataca outro exército, o defensor lança invariavelmente contra-ataques. Em outras palavras, o defensor passa para o ataque e o atacante passa para a defesa. No decurso de uma batalha prolongada, é provável que cada um dos lados acabe atacando e contra-atacando muito, assim como defendendo posições fixas. Este vaivém explica por que as razões de troca das baixas nas batalhas da Guerra Civil dos EUA e nas batalhas da I Guerra Mundial são muitas vezes aproximadamente iguais, não favorecendo o exército que começou na defensiva. De fato, o exército que dá o primeiro golpe sofre, por vezes, menos baixas do que o exército alvo. Em suma, a defesa envolve geralmente muito ataque.

Os relatos da imprensa ucraniana e ocidental mostram claramente que as forças ucranianas lançam frequentemente contra-ataques contra as forças russas. Considere-se este relato do The Washington Post sobre os combates no início deste ano em Bakhmut: “‘Há um movimento fluido acontecendo’, disse um tenente ucraniano… Os ataques russos ao longo da frente permitem que suas forças avancem algumas centenas de metros antes de serem empurradas para trás horas depois. ‘É difícil distinguir exatamente onde está a linha de frente porque ela se move como gelatina’, disse”. Dada a enorme vantagem da artilharia russa, parece razoável assumir que a razão de troca das baixas nestes contra-ataques ucranianos favorece os russos – provavelmente de uma forma desigual.

Em terceiro lugar, os russos não estão empregando – pelo menos não frequentemente – ataques frontais em larga escala que visam avançar rapidamente e capturar território, mas que exporiam as forças atacantes ao fogo cerrado dos defensores ucranianos. Como explicou o general Sergey Surovikin em outubro de 2022, quando comandava as forças russas na Ucrânia, “temos uma estratégia diferente… Poupamos cada soldado e estamos persistentemente esmagando o inimigo avançado”. Com efeito, as tropas russas adotaram táticas inteligentes que reduzem seus níveis de baixas.

Sua tática preferida é lançar ataques de sondagem contra as posições ucranianas fixas com pequenas unidades de infantaria, o que leva as forças ucranianas a atacá-las com morteiros e artilharia. Esta reação permite aos russos determinar onde se encontram os defensores ucranianos e sua artilharia. Os russos então utilizam sua grande vantagem em artilharia para atacar seus adversários. Posteriormente, os grupos de infantaria russa voltam a avançar e, quando encontram uma resistência ucraniana séria, repetem o processo. Estas táticas ajudam a explicar porque a Rússia está fazendo progressos lentos na captura de território ucraniano.

Poderíamos pensar que o Ocidente pode contribuir muito para equilibrar a razão de troca das baixas, fornecendo à Ucrânia muitos mais cartuchos e projéteis de artilharia, eliminando assim a vantagem significativa da Rússia com esta arma de importância crítica. No entanto, isso não acontecerá tão cedo, simplesmente porque nem os Estados Unidos nem seus aliados têm a capacidade industrial necessária para produzir em massa cartuchos e projéteis de artilharia para a Ucrânia. Nem podem desenvolver rapidamente essa capacidade. O melhor que o Ocidente pode fazer – pelo menos durante o próximo ano – é manter o atual desequilíbrio de artilharia entre Rússia e Ucrânia, mas mesmo isso será uma tarefa difícil.

A Ucrânia pouco pode fazer para ajudar a resolver o problema, porque sua capacidade de fabricação de armas é limitada. É quase completamente dependente do Ocidente, não só para a artilharia, mas para todo tipo de sistemas de armas importantes. A Rússia, por outro lado, tinha uma capacidade formidável de fabricação de armamento para a guerra, que foi incrementada desde o início dos combates. Putin afirmou recentemente: “nossa indústria de defesa está ganhando impulso todos os dias. Aumentamos a produção militar em 2,7 vezes no último ano. Nossa produção das armas mais importantes aumentou dez vezes e continua aumentando. As fábricas trabalham em dois ou três turnos e algumas estão ocupadas o tempo todo”. Em suma, dado o triste estado da base industrial da Ucrânia, este país não está em condições de travar sozinho uma guerra de atrito. Só pode fazê-lo com o apoio do Ocidente. Mas, mesmo assim, está condenada a perder.

Houve um desenvolvimento recente que aumenta ainda mais a vantagem do poder de fogo da Rússia sobre a Ucrânia. Durante o primeiro ano da guerra, o poder aéreo russo teve pouca influência sobre o que aconteceu na guerra terrestre, principalmente porque as defesas aéreas da Ucrânia eram suficientemente eficazes para manter os aviões russos longe da maioria dos campos de batalha. Mas os russos enfraqueceram seriamente as defesas aéreas da Ucrânia, o que permite agora que a força aérea russa ataque as forças terrestres ucranianas nas linhas de frente ou diretamente atrás delas. Além disso, a Rússia desenvolveu a capacidade de equipar seu enorme arsenal de bombas de gravidade de 500 kg com kits de orientação que as tornam especialmente letais.

Em suma, a razão de troca das baixas continuará favorecendo os russos num futuro próximo, o que é extremamente importante numa guerra de atrito. Além disso, a Rússia está muito mais bem posicionada para travar uma guerra de atrito, porque sua população é muito maior do que a da Ucrânia. A única esperança de Kiev para ganhar a guerra é o colapso da determinação de Moscou, mas isso é improvável, dado que os líderes russos veem o Ocidente como um perigo existencial.

 

Perspectivas de um acordo de paz negociado

Há um coro crescente de vozes em todo o mundo que apelam a todas as partes envolvidas na guerra ucraniana para que adotem a diplomacia e negociem um acordo de paz duradouro. No entanto, isso não vai acontecer. Há inúmeros obstáculos formidáveis para acabar com a guerra em breve, e bem menos esforços para se chegar a um acordo que produza uma paz duradoura. O melhor resultado possível é um conflito congelado, em que ambos os lados continuam à procura de oportunidades para enfraquecer o outro lado e em que há um perigo sempre presente de novos combates.

De modo mais geral, a paz não é possível porque cada um dos lados vê o outro como uma ameaça mortal que deve ser derrotada no campo de batalha. Nestas circunstâncias, não há praticamente qualquer espaço para um compromisso com a outra parte. Há também dois pontos específicos de disputa entre as partes beligerantes que não têm solução. Um deles diz respeito ao território e o outro à neutralidade ucraniana. Quase todos os ucranianos estão profundamente empenhados em recuperar todo seu território perdido – incluindo a Crimeia. Quem pode culpá-los? Mas a Rússia anexou oficialmente a Crimeia, Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia, e está firmemente empenhada em manter esse território. De fato, há razões para pensar que Moscou anexará mais território ucraniano se puder.

O outro nó górdio diz respeito à relação da Ucrânia com o Ocidente. Por razões compreensíveis, a Ucrânia quer uma garantia de segurança após o fim da guerra, que só o Ocidente pode dar. Isso significa uma adesão de fato ou de direito à OTAN, uma vez que nenhum outro país pode proteger a Ucrânia. Praticamente todos os líderes russos, no entanto, exigem uma Ucrânia neutra, o que significa que não haverá laços militares com o Ocidente e, portanto, não há um guarda-chuva de segurança para Kiev. Não há forma de enquadrar este círculo.

Há dois outros obstáculos à paz: o nacionalismo, que agora se transformou em hipernacionalismo, e a total falta de confiança do lado russo.

O nacionalismo é uma força poderosa na Ucrânia há mais de um século e o antagonismo em relação à Rússia é, há muito tempo, um de seus elementos centrais. A eclosão do atual conflito, em 22 de fevereiro de 2014, alimentou essa hostilidade, levando o parlamento ucraniano a aprovar, no dia seguinte, um projeto de lei que restringia a utilização do russo e de outras línguas minoritárias, uma medida que ajudou a precipitar a guerra civil no Donbass. A anexação da Crimeia pela Rússia, pouco depois, veio agravar uma situação que já era ruim. Contrariamente ao que se pensa no Ocidente, Putin compreendeu que a Ucrânia era uma nação separada da Rússia e que o conflito entre os russos étnicos e os falantes de russo que viviam no Donbass e o governo ucraniano tinha a ver com a “questão nacional”.

A invasão russa da Ucrânia, que coloca diretamente os dois países um contra o outro numa guerra prolongada e sangrenta, transformou esse nacionalismo em hipernacionalismo de ambos os lados. O desprezo e o ódio pelo “outro” impregnam a sociedade russa e ucraniana, o que cria incentivos poderosos para eliminar essa ameaça – com violência, se necessário. Os exemplos são abundantes. Um proeminente semanário de Kiev afirma que autores russos famosos como Mikhail Lermontov, Fyodor Dostoyevsky, Leon Tolstoy e Boris Pasternak são “assassinos, saqueadores, ignorantes”. A cultura russa, diz um proeminente escritor ucraniano, representa “barbárie, assassínio e destruição… É esse o destino da cultura do inimigo”.

Previsivelmente, o governo ucraniano está empenhado na “desrussificação” ou “descolonização”, que envolve a eliminação de livros de autores russos das bibliotecas, a mudança de nomes de ruas ligadas à Rússia, a remoção de estátuas de figuras como Catarina, a Grande, a proibição da música russa produzida depois de 1991, a ruptura de laços entre a Igreja Ortodoxa Ucraniana e a Igreja Ortodoxa Russa e a minimização do uso da língua russa. Talvez a atitude da Ucrânia em relação à Rússia seja melhor resumida pelo comentário conciso de Volodymyr Zelensky: “Não perdoaremos. Não esqueceremos”.

No lado russo da colina, Anatol Lieven relata que “todos os dias, na televisão russa, se veem insultos étnicos cheios de ódio dirigidos aos ucranianos”. Sem surpresa, os russos estão trabalhando para russificar e apagar a cultura ucraniana nas áreas que Moscou anexou. Estas medidas incluem a emissão de passaportes russos, a alteração dos currículos escolares, a substituição da grívnia ucraniana pelo rublo russo, a criação de bibliotecas e museus e a mudança de nomes de cidades e vilas. Bakhmut, por exemplo, é agora Artemovsk e a língua ucraniana já não é ensinada nas escolas da região de Donetsk. Ao que parece, os russos também jamais perdoarão nem esquecerão.

A ascensão do hipernacionalismo é previsível em tempo de guerra, não só porque os governos dependem fortemente do nacionalismo para motivar seu povo a apoiar o seu país até o fim, mas também porque a morte e a destruição que vêm com a guerra – especialmente as guerras prolongadas – levam cada lado a desumanizar e a odiar o outro. No caso da Ucrânia, o conflito amargo em torno da identidade nacional adiciona combustível ao fogo.

O hipernacionalismo dificulta naturalmente a cooperação entre os dois lados e dá à Rússia uma razão para se apoderar de um território repleto de russos étnicos e de falantes de russo. Presumivelmente, muitos deles prefeririam viver sob controle russo, dada a animosidade do governo ucraniano em relação a tudo o que é russo. No processo de anexação destas terras, é provável que os russos expulsem um grande número de ucranianos étnicos, principalmente devido ao receio de que se revoltem contra o domínio russo se ficarem. Estes desenvolvimentos alimentarão ainda mais o ódio entre russos e ucranianos, tornando o compromisso sobre o território praticamente impossível.

Há uma última razão pela qual não é possível chegar a um acordo de paz duradouro. Os líderes russos não confiam nem na Ucrânia nem no Ocidente para negociar de boa fé, o que não quer dizer que os líderes ucranianos e ocidentais confiem em seus homólogos russos. A falta de confiança é evidente de todos os lados, mas é especialmente grave da parte de Moscou devido a um conjunto de revelações recentes.

A origem do problema é o que aconteceu nas negociações sobre o Acordo de Minsk II de 2015, que constituía um marco para pôr fim ao conflito no Donbass. O presidente francês François Hollande e a chanceler alemã Angela Merkel desempenharam o papel central na concepção desse marco, embora tenham consultado extensivamente tanto Putin como o presidente ucraniano Petro Poroshenko. Estes quatro indivíduos foram também os principais atores nas negociações subsequentes. Há poucas dúvidas de que Putin estava empenhado em fazer Minsk funcionar. Mas Hollande, Merkel e Poroshenko – bem como Zelensky – deixaram claro que não estavam interessados em implementar Minsk, mas sim em vê-lo como uma oportunidade de ganhar tempo para a Ucrânia reforçar suas forças armadas para poder lidar com a insurreição no Donbass. Como Merkel disse ao Die Zeit, foi “uma tentativa de dar tempo à Ucrânia (…) para se tornar mais forte”. Da mesma forma, Poroshenko disse: “Nosso objetivo era, em primeiro lugar, parar a ameaça, ou pelo menos atrasar a guerra – para garantir oito anos para restaurar o crescimento econômico e criar forças armadas poderosas”.

Pouco depois da entrevista de Merkel ao Die Zeit, em dezembro de 2022, Vladimir Putin disse numa conferência de imprensa: “Eu pensei que os outros participantes deste acordo fossem pelo menos honestos, mas não, afinal também estavam mentindo para nós e só queriam encher a Ucrânia de armas e prepará-la para um conflito militar”. Ele continuou dizendo que ser enganado pelo Ocidente o fez perder a oportunidade de resolver o problema da Ucrânia em circunstâncias mais favoráveis para a Russia: “Aparentemente, estabelecemos nossa posição tarde demais, para ser honesto. Talvez devêssemos ter começado tudo isso [a operação militar] antes, mas apenas esperávamos poder resolvê-lo no marco dos acordos de Minsk”. Ele então deixou claro que a duplicidade do Ocidente complicaria negociações futuras: “A confiança já está quase em zero, mas depois de tais declarações, como podemos negociar? Sobre o quê? Podemos fazer acordos com alguém e onde estão as garantias?”.

John J. Mearsheimer é professor de relações internacionais na Universidade de Chicago. Autor, entre outros livros, de How States Think: The Rationality of Foreign Policy (Yale University Press).

Tradução: Fernando Lima das Neves.

Publicado originalmente no portal News18.


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