Os interventores e seus cúmplices

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUIS FELIPE MIGUEL*

O combate a Andifes e a transformação, no governo Bolsonaro, das universidades federais em espaços conflagrados, atravessados por perseguições

Interventores nomeados por Bolsonaro criaram nova associação de “reitores”, para combater a “hegemonia esquerdista” na Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior].

Não é algo folclórico. A Andifes cumpre papel essencial no meio de campo com o Ministério da Educação, na definição da distribuição dos recursos entre as instituições federais de ensino superior.

Com o ministério nas mãos de um oportunista amoral, dedicado à destruição da educação brasileira, é fácil ver que a constituição da nova associação – autodenominada AFEBRAS – é uma jogada combinada, a fim de tumultuar o processo e ampliar a margem de manobra para retaliações contra as Universidades que permanecem sob gestão legítima.

Temos muito responsáveis por esta situação, começando pelos governos democráticos que não se preocuparam em abolir a lista tríplice, acreditando que ela ficaria para sempre como ritual desprovido de efetividade.

Somos responsáveis também todos nós, nas Universidades, que não fomos capazes de apresentar uma resistência forte a estes abusos. Às vezes, feridas dos processos eleitorais internos falaram mais alto. Às vezes, foi só covardia mesmo. De maneira geral, a solidariedade entre as instituições falhou, como se cada agressão dissesse respeito apenas à atingida.

É responsável o Supremo Tribunal Federal (STF), que – Gilmar Mendes à frente – preferiu entregar as Universidades como moeda de troca, num dos momentos em que buscava uma “acomodação”, ao arrepio da Constituição, da democracia e dos direitos, com o bolsonarismo.

Os interventores não são simplesmente pessoas com visão reacionária. Eles se dispuseram a participar de um processo deliberado de destruição de suas Universidades, transformadas em espaços conflagrados, atravessados por perseguições, o oposto daquilo que é necessário para o ensino, a aprendizagem e a pesquisa.

Imagino que boa parte de seus cúmplices, aqueles que aceitaram cargos e posições de poder, foram movidos não por convicção, mas por simples oportunismo. Logo, logo, se os ventos mudarem como espero que mudem, estarão se “reinventando” e aparecendo como democratas, até como progressistas. Convém lembrar de seus nomes.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

Publicado originalmente na página do Facebook do autor.

 

Veja todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Arquétipos e símbolos
Por MARCOS DE QUEIROZ GRILLO: Carl Jung combinou a literatura, a narração de histórias e a psicanálise para chegar às memórias inconscientes coletivas de certos arquétipos, promovendo a reconciliação das crenças com a ciência
Apelo à comunidade acadêmica da USP
Por PAULO SÉRGIO PINHEIRO: Carta para a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional – AUCANI
O marxismo neoliberal da USP
Por LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA: Fábio Mascaro Querido acaba de dar uma notável contribuição à história intelectual do Brasil ao publicar “Lugar periférico, ideias modernas”, no qual estuda o que ele denomina “marxismo acadêmico da USP
Fundamentos da análise social
Por FABIO DE OLIVEIRA MALDONADO: Apresentação à edição brasileira do livro recém-lançado de Jaime Osorio
O martírio da universidade brasileira
Por EUGÊNIO BUCCI: A nossa universidade precisa se preparar e reforçar suas alianças com suas irmãs do norte. O espírito universitário, no mundo todo, só sobrevive e se expande quando sabe que é um só
A biblioteca de Ignacio de Loyola Brandão
Por CARLOS EDUARDO ARAÚJO: Um território de encantamento, um santuário do verbo, onde o tempo se dobra sobre si mesmo, permitindo que vozes de séculos distintos conversem como velhos amigos
A ampliação do Museu de Arte de São Paulo
Por ADALBERTO DA SILVA RETTO JR.: O vão livre do MASP será um espaço inclusivo ou excludente de alguma forma? A comunidade ainda poderá ali se manifestar? O famoso “vazio” continuará sendo livre, no mais amplo sentido do termo?
Ideologias mobilizadoras
Por PERRY ANDERSON: Hoje ainda estamos em uma situação onde uma única ideologia dominante governa a maior parte do mundo. Resistência e dissidência estão longe de mortas, mas continuam a carecer de articulação sistemática e intransigente
O fenômeno Donald Trump
Por DANIEL AARÃO REIS: Donald Trump 2 e seus propósitos “iliberais” devem ser denunciados com a maior ênfase. Se a política de potência se afirmar como princípio nas relações internacionais será funesto para o mundo e para o Brasil em particular
Minha infância nos porões da Bela Vista
Por FLORESTAN FERNANDES: “Eu morava lá na casa dele e queria sair de lá, eu dizia que passava mal, que comia mal, dormia mal e tudo ia mal, e ela não acreditava”
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES