Tarcísio de Freitas

Imagem: Sergio Souza
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por LUIS FELIPE MIGUEL*

É bom relembrar quem é o capitão carioca que governa os paulistas

Tarcísio de Freitas apoiou a reforma da tributação do consumo e Jair Bolsonaro ficou zangado. Ótimo. Mas isso bastou para que ele fosse apresentado como messias de uma nova “direita moderada”.

É bom relembrar quem é o capitão carioca que governa os paulistas.

Tarcísio de Freitas está fazendo o movimento que todo apadrinhado político faz quando chega a um cargo político maior que o de seu padrinho: tentando ganhar alguma luz própria.

E não quer arriscar um conflito direto com o governo federal. Já é difícil governar um estado que você não conhece, imagina em rota de colisão com a União.

Mas o fato de ser esperto não o torna um democrata. Nem de longe. Tarcísio de Freitas é um bolsonarista de primeira hora, que foi cúmplice de todos os desmandos de seu chefe. Não mostra nenhum freio ético.

O assassinato de Felipe Silva de Lima ainda está para ser elucidado. Ele foi executado em Paraisópolis, quando Tarcísio de Freitas fazia campanha por lá. Depois do candidato anunciar falsamente que fora vítima de um “atentado”, a campanha do bolsonarista teve que se explicar – um áudio mostrou que eles exigiram que um cinegrafista apagasse as imagens do tiroteio.

A farsa do “atentado” já devia ser suficiente para ter impugnado a candidatura de Tarcísio de Freitas, se houvesse justiça eleitoral, ou para garantir sua derrota, se o eleitorado paulista tivesse um pingo de moralidade. A hipótese, real, de que seus seguranças matavam gente torna tudo pior ainda.

No governo, Tarcísio de Freitas não é muito diferente de um clone de Jair Bolsonaro – e não estou falando só da epiderme. Tem olavete na Cultura. Tem defesa de escola “cívico-militar”. Tem fim de exigência de vacina. Tem transferência de terras públicas para a grilagem. Tem o projeto privatista desvairado, que quer chegar à empresa estadual de águas, na contramão do consenso mundial: água não se privatiza.

Mas pouco importa, o negócio é fazer negócio. E Tarcísio de Freitas ainda desce a uma performance sob medida para agradar o bolsominion médio.

Tem oportunismo? Tem. Tarcísio de Freitas escolhe se adaptar, quer deslizar entre o bolsonarismo que o elegeu e o atavismo tucano de São Paulo.

Isso não significa que tenha dado algum passo para se converter em democrata. É uma ilusão julgar que todo fascista é uma pessoa de “princípios” intransigentes. Pode ser também um oportunista. A maioria é, eu arriscaria dizer. Mas o fascismo está lá, como uma predileção pessoal, pronto a ser colocado em prática quando as circunstâncias permitirem. E, como nós infelizmente sabemos, muitas vezes elas permitem.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica).

Publicado originalmente nas redes sociais do autor.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • A massificação do audiovisualcinema central 11/11/2024 Por MICHEL GOULART DA SILVA: O cinema é uma arte que possui uma base industrial, cujo desenvolvimento de produção e distribuição associa-se à dinâmica econômica internacional e sua expansão por meio das relações capitalistas
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • Ainda estou aqui — habeas corpus de Rubens Paivacultura ainda estou aqui 2 12/11/2024 Por RICARDO EVANDRO S. MARTINS: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • O porto de Chancayporto de chankay 14/11/2024 Por ZHOU QING: Quanto maior o ritmo das relações econômicas e comerciais da China com a América Latina e quanto maior a escala dos projetos dessas relações, maiores as preocupações e a vigilância dos EUA
  • Ainda estou aquicultura ainda estou aqui 09/11/2024 Por ERIK CHICONELLI GOMES: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES