MBL – método de ação e combate

Imagem: Juan Pablo Serrano Arenas
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Por ARTHUR MOURA*

O movimento assumiu o papel de agitação e propaganda da extrema direita, tendo função pedagógica nas lutas sociais a partir de um projeto conservador de sociedade

O MBL já existe há quase dez anos. Por isso, não adianta ficarmos aqui chovendo no molhado. Há, sem dúvida, setores da direita muito mais perigosos que o MBL e com atuações mais longevas. De uma forma geral, podemos definir a extrema direita como uma força social ultrarreacionária que tem como função histórica desestabilizar as sociedades capitalistas com o objetivo de implantar o seu projeto fascista de sociedade sem, no entanto, eliminar a forma-mercadoria, radicalizando as relações de exploração e dominação contra os trabalhadores.

O MBL, até mesmo como condição de sua existência, assumiu o papel de agitação e propaganda da extrema direita, tendo função pedagógica nas lutas sociais a partir de um projeto conservador de sociedade. O MBL funciona como mecanismo interno do amplo espectro da direita tendo como função atualizar os métodos de atuação política dos setores dominantes. Por isso, são conhecidos como os “meninos do MBL”, pois sua identificação principal é com os jovens e aqueles que buscam algum tipo de informação sobre o panorama político do Brasil.

O caráter pedagógico está relacionado em formar politicamente esses jovens cooptando-os subjetiva e objetivamente para as fileiras da extrema direita. Não há qualquer possibilidade de mudar a orientação teórica e política que norteiam a prática do MBL. Acreditar nessa mudança é desconsiderar a natureza desse movimento.

Os métodos do MBL também já são bastante conhecidos. Na comunicação o que se usa comumente é o: (i) choque – tem como função causar algum tipo de impacto; (ii) a revelação – está-se sempre revelando algo oculto que precisa ser traduzido e mostrado ao público em tom de urgência; (iii) a ironia e o deboche – torna o discurso mais palatável, haja vista a real rejeição que boa parte da sociedade tem para com a política. O discurso jocoso é ininterrupto e tem como função principal transformar a política em entretenimento cativando um público fiel.

Outra característica é o método de embate bastante ofensivo (apresentado como intervenção despretensiosa) que tem como função desestabilizar emocionalmente o oponente gerando algum tipo de reação violenta contra os integrantes do MBL, que utilizam essas imagens como prova, revelando a essência violenta dos seus adversários políticos. Tudo isso é feito justamente para que essas ações sejam registradas e viralizadas na internet.

Mesmo às vezes sofrendo algum tipo de retaliação, os integrantes do MBL mantêm a postura provocativa, irônica e cínica, sendo a polícia o seu último refúgio. Nesse caso é necessário ressaltar que a polícia sempre protege o MBL. Quando são agredidos como parte da reação legítima de quem é exposto em suas abordagens capciosas, insistem na postura do deboche, mas dessa vez em tom de agradecimento deixando claro que o objetivo do debate foi alcançado sendo os desdobramentos dessas ações também parte substancial do lucro. Pode parecer um comportamento sádico, mas não se trata disso. É o risco que se corre para propagar um ideal e interesses dos setores dominantes da sociedade brasileira. O MBL, como bem ressaltou a professora Virgínia Fontes, é a tropa de choque da burguesia.

Com isso, quer-se também provar as teses do campo conservador, desde questões morais, culturais, políticas ou econômicas. Faz parte desse método, sobretudo, o diálogo. Nos embates diretos promovidos pelo MBL (que são vendidos como “fiscalização”), há uma busca por interlocutores no campo da esquerda que por meio do debate em torno de algumas questões são ridicularizados sempre de forma infantil e grotesca.

Essa armadilha é perfeita por colocar o adversário em situação vulnerável, já que a montagem do material filmado e o tom do debate são sempre instituídos de forma capciosa e falsa. As falas absurdas fazem parte da intenção de chocar, prendendo a atenção do público.

Outro elemento bastante eficaz é a blindagem moral, política e econômica em torno dos integrantes do MBL. Sua eficácia se comprova em casos como o escândalo sobre as mulheres ucranianas envolvendo o então deputado Arthur do Val. Como os escândalos são algo quase que corriqueiro, ele também foi transformado em espetáculo e entretenimento sendo convertido em propaganda, ao passo que esses episódios trágicos caem rapidamente no esquecimento. A máquina ideológica do MBL se mostra funcional numa sociedade regida já por essa lógica, da repressão, do crime e da impunidade.

O MBL, portanto, aprimora cada vez mais os seus métodos de ação estando fora de cogitação disputar a sua estrutura. Os setores que buscam dialogar com o MBL são aqueles que optam por não combater frontalmente essa política ofensiva da extrema-direita. Os parlamentares, por exemplo, são afeitos a tal associação sem que isso represente qualquer contradição em suas práticas. Marcelo Freixo é um exemplo icônico e caricato, associando-se a todo lixo da extrema direita como foi o caso daquele ridículo vídeo com Janaina Paschoal.

Na cultura, temos o caso de Mano Brown que entrevistou Fernando Holliday em seu podcast no Spotify. Há também youtubers de esquerda como o caso do canal do Humberto Matos, que deixa claro o seu desejo em debater com Arthur do Val. Recentemente Humberto Matos também implorou para debater com Eduardo Marinho, outro ícone irracionalista do nosso tempo.

Nesses últimos dois exemplos o que temos é tão somente a insaciável busca por aumentar os seus respectivos públicos numa disputa vil por mais audiência, o que significa mercado. É uma espécie de estrelato do chorume, onde a instrumentalização das relações é a regra. É nesse momento (no debate entre esses dois campos aparentemente antagônicos – mas que na verdade não são), que o espetáculo toma a sua forma mais acabada e sedutora. Quanto mais calorosos são esses debates, mais eles repercutem, pois na internet há infinitos multiplicadores que vão buscar reverberar esses vídeos.

A partir desse breve panorama, devemos nos perguntar: qual é o método mais eficaz no combate ao MBL? Como o MBL já é uma tendência estabelecida, é necessário o trabalho de formação; isso se dá de maneira efetiva no campo da educação e militância, que inclui a comunicação. Mas isso tudo não vai agir incisivamente contra o núcleo duro do MBL. E mesmo eliminando o MBL, isso não garante a possibilidade de outras frentes dessa natureza surgirem.

Superar a extrema direita só é possível num processo revolucionário. Para agir nessa direção é necessário construir um ambiente político de intolerância contra a presença física de militantes do MBL em espaços onde a convivência esteja sendo criada contra as noções e valores fascistóides do Movimento Brasil Livre. Isso vai ser usado por eles para dizer que a esquerda não é civilizada, autoritária e antidemocrática.

Há, no entanto, nesse processo uma melhor definição do campo social e das forças dispostas na sociedade, o que nos obriga a pensar na manutenção da luta no rompimento com a lógica burguesa em definir o que é, por exemplo, democracia, justiça, liberdade, autoritarismo, barbárie, entre outros. Isso também faz com que o fascismo assuma a sua verdadeira face, aumentando a dimensão do conflito. Esse ponto então se torna decisivo para os setores subalternos por haver a necessidade de uma organização ampla como forma de garantir a sua própria sobrevivência.

*Arthur Moura é cineasta e doutorando em História Social pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ.


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