A cena brasileira – XVIII

Imagem: C. Cagnin
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por BENÍCIO VIERO SCHMIDT*

Comentários sobre acontecimentos recentes

O ambiente criado pela CPI da Covid do Senado Federal tem sido local de recolhimento de documentos e informações dispersas que estão muito acima de sua capacidade de processamento. Todavia, a prorrogação do seu prazo de funcionamento por mais 90 dias, bem como o ativismo do Ministério Público Federal e do STF, trazem esperanças para a apuração das devidas responsabilidades e de prováveis crimes de responsabilidade por parte das autoridades civis, religiosas e militares nos processos de compra e administração das vacinas em território nacional.

Corroborando hipóteses que sustentam a militarização crescente do governo federal, cada dia da CPI da pandemia revela novas suspeitas de participação de altas patentes militares nas negociações para a compra de vacinas. No caso em tela, ações que vão da intermediação para a compra de vacinas, bem como seu transporte. Sendo parte do estamento burocrático mais amplo, as Forças Armadas vão se projetando pela atividade efetiva de oficiais como grupo de pressão, apto a garantir vantagens pecuniárias na intermediação para compras do Estado. Um caso grave e que certamente traz apreensão, insegurança e incertezas ao sistema político representativo.

Quanto à reforma tributária, o relatório parcial do deputado Celso Sabino (PSDB-PA), relativamente ao imposto de renda, segundo o ministro Paulo Guedes, não eleva a carga tributária, como alega ter sido a posição do governo desde a campanha eleitoral. Pois, na medida em que se aumentam os impostos sobre lucros e dividendos diminuem-se os tributos sobre empresas e assalariados.

Mas, a pressão de interesses empresariais de modo especial, deve render ainda muitas mudanças no projeto original de reforma tributária apresentado pelo governo. As mudanças no projeto ainda incluem corte de 15% para 2,5% no imposto de renda para Pessoa Jurídica e a retirada de taxação dos Fundos Imobiliários. Isto aponta para a redução da carga tributária e da arrecadação na faixa de R$ 30 bilhões. É provável, ainda, que a taxação de dividendos passe de 20% para 15%, seguindo-se uma lógica internacional de cobrança sobre as operações ligadas aos lucros e distribuição de dividendos.

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta-feira (15/julho) o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022, com a previsão de um déficit de R$ 107,47 bilhões para o Orçamento Fiscal e de Seguridade Social da União, além de um fundo partidário elevado a R$ 5,7 bilhões; cujos beneficiários maiores serão o PSL e o PT. Foram mantidas as emendas do relator, origem do chamado orçamento secreto”, ora sob crivo do STF.

Destaque-se que estes recursos diretamente aos partidos políticos irão se acoplar ao fundo eleitoral, dedicado exclusivamente aos gastos dos candidatos nas eleições  Em 2020, nas eleições municipais, foram destinados R$ 2 bilhões aos 33 partidos registrados no Brasil.

Integrante da pauta conservadora, a Câmara Federal aprovou (14/7) a Lei do Mandante: a possibilidade dos clubes mandantes do jogo terem a prerrogativa de negociar seus direitos de transmissão, independentemente de contratos assinados pelos visitantes. Aprovado (432 x 17 votos); vai para a apreciação do Senado Federal.

No mais, a opinião pública aguarda o desenrolar midiático da internação de Bolsonaro em hospital de São Paulo, bem como o desenrolar da cada vez mais complicada teia de interesses no Ministério da Saúde, envolvendo figuras da intimidade presidencial, pastores e militares.

*Benicio Viero Schmidt é professor aposentado de sociologia na UnB e consultor da Empower Consult. Autor, entre outros livros, de O Estado e a política urbana no Brasil (LP&M).

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Mísseis sobre Israelmíssel 07/10/2024 Por MÁRIO MAESTRI: Uma chuva de cintilantes mísseis iranianos cortando os céus de Israel, passando pelo mítico Domo de Ferro, como a farinha por peneira
  • A felicidade negadapexels-enginakyurt-2174627 10/10/2024 Por MARCIO SALES SARAIVA: Comentário sobre o livro de Domenico De Masi
  • A poesia no tempo dos incêndios no céucultura quadro branco 04/10/2024 Por GUILHERME RODRIGUES: Considerações sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade
  • Israel: que futuro?luminoso 09/10/2024 Por CARLOS HENRIQUE VIANNA: Não há dúvida que Israel, seus cidadãos e seus governos, consideram-se um país especial no concerto nas nações. Um Estado com mais direitos que os demais
  • Ultrapassando os limites constitucionaissouto-maior_edited 06/10/2024 Por JORGE LUIZ SOUTO MAIOR: Luís Roberto Barroso leva adiante a sua verdadeira Cruzada, destinada a atender a eterna demanda do setor empresarial de eliminação do custo social da exploração do trabalho
  • A queda de Israelpexels-nemanja-ciric-241845546-12301311 10/10/2024 Por SCOTT RITTER: Mesmo alguns sobreviventes do Holocausto reconhecem que o Israel moderno se tornou a manifestação viva do próprio mal que serviu de justificação para sua criação – a ideologia brutalmente racista da Alemanha nazista
  • Annie Ernaux e a fotografiaannateresa fabris 2024 04/10/2024 Por ANNATERESA FABRIS: Tal como os fotógrafos atentos ao espetáculo do cotidiano, a escritora demonstra a capacidade de lidar com aspectos da civilização de massa de maneira distanciada, mas nem por isso menos crítica
  • Coach — política neofascista e traumaturgiaTales-Ab 01/10/2024 Por TALES AB´SÁBER: Um povo que deseja o fascista brand new, o espírito vazio do capitalismo como golpe e como crime, e seu grande líder, a vida pública da política como sonho de um coach
  • Pablo Marçal na mente de um jovem negroMente 04/10/2024 Por SERGIO GODOY: Crônica de uma corrida de Uber
  • A vingança do bom selvagemRenato Janine Ribeiro 10/10/2024 Por RENATO JANINE RIBEIRO: Posfácio do livro recém-lançado de Gérard Lebrun.

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES