As narrações ditas “trotskistas” da guerra na Ucrânia

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram
image_pdfimage_print

Por HECTOR BENOIT*

Considerações sobre as análises dos supostos trotskystas

Escrevo este texto diante de muitos outros textos que li no site A Terra é Redonda e na rede da internet, comentando as chamadas “narrações sobre as questões da Ucrânia-Rússia”. Particularmente, me preocupam as “narrações” ditas “trotskystas”.

Conheci durante meus mais de 40 anos de militância, praticamente, pessoalmente, todas as principais lideranças ditas “troskystas” internacionais do pós-guerra: Gerry Healy, Dave North, Bill Auken, Löwy, Mandel, Altamira, Cogiolla, Lora, Lambert, e todo o ‘morenismo’ latino-americano, entre outros, lembro os membros do atual PSTU, brasileiro, tais como Cerdeira, e outros mais inexpressivos, que hoje são do Psol, tais como Valério Arcary.

Tristes lembranças teóricas, via neles, o dogmatismo, e erros básicos, fundamentalmente, na leitura de Das Kapital. Obra que a maioria só conhece muito mal lida. Moreno, por exemplo, misturava com Piaget a dialética de Marx! Healy, ‘grande ortodoxo’ misturava com uma leitura totalmente superficial da Lógica de Hegel, suas superficiais leituras de Hegel e de Marx.  Mandel, por outro lado, tinha uma leitura economicista, e não compreendia a teoria marxista da história como um programa revolucionário, expresso, particularmente, no chamado Programa de Transição, o verdadeiro programa da IV Internacional.

Passados mais de 70 anos da redação desse programa, O Programa da IV Internacional, ouso dizer, como já expressei em artigos publicados na revista Crítica Marxista, nunca esse programa foi compreendido como o ‘programa que sintetiza Das Kapital”, sintetiza, pois o compreende dialeticamente.

Retorno a essas já velhas questões, pois, os meus artigos são amplamente conhecidos, e muitos dizem os seguir. Mas, infelizmente, quando vejo as aplicações práticas dos meus ensinamentos: tenho vergonha! Parece que não compreenderam nada, absolutamente nada do que eu escrevi com tanto esmero!

Bem, basta dizer, que o grupo que fundei, o último deles, chamava-se, precisamente, Negação da Negação. Fui, praticamente, excluído desse grupo, que agora chama-se Transição Socialista,org. Quando leio os seus textos, fico escandalizado! Em 02/03/2022, o site do referido grupo escreve como manchete: (observo que como recursos pós-modernos, não usam, às vezes, distinção entre maiúsculas e letras minúsculas). Tudo bem! Mas, escrevem eles em manchete: “pela derrota de putin na ucrânia”

E continuam: “Qualquer um que queira ver – para além das análises simplistas dos órfãos do stalinismo – notará a agressão imperialista a uma nação frágil [sim, tão frágil que é apoiada pelos EUA, pela OTAN, pela União Eeuropeia, país que recebe bilhões de dólares para financiar as brigadas de neonazistas que atuam na guerra – acréscimos meus – HB] A ação russa deve ser completamente condenada. Mais do que isso: deve se defender a derrota de Putin na invasão ucraniana.

Ora, podemos dizer que, a Transição socialista foi tomada totalmente, pelas análises enganosas do dito ‘trotskysmo pós-guerra’. Suas análises são cópias grosseira das análise não-dialéticas da LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) e outros dos setores não-dialéticos do pós-guerra!

Claro que os EUA, a OTAN, a União Europeia são os maiores inimigos e agressores da Ucrânia! Já perderam a guerra! Mas, não só militarmente!

Perderam a guerra economicamente! Se militarmente, não há aquilo há discutir! Ora, vamos discutir economicamente!

Deste ponto de vista, os dados são mais claros ainda! Estudos publicados em jornais internacionais, como o Finantial Times, traduzidos, em grande parte, mesmo por organismos econômicos brasileiros, tais como os estudos do economista Barry Etchegreen, mostram, claramente, a “evolução” ou “transformação” da chamada “economia mundial’. O dólar, há algum tempo, deixou de ser a chamada ‘moeda mundial’.

Ou seja, o dólar não é mais o lastro da economia mundial! Seu papel, nesse sentido, foi reduzido drasticamente, desde 1999! A participação do dólar nas reservas mundiais dos bancos centrais do mundo inteiro caiu violentamente. Em 1999, a participação do dólar nos bancos mundiais era de 71 %. Em 2021, o dólar apenas representava 59 % das reservas internacionais dos diversos bancos centrais do mundo.

Ora, essa queda do dólar, com a guerra da Ucrânia, somente aprofundou essa derrocada. Claro que há a subida do yuan chinês, que já em 2021 chegava a 23% das reservas internacionais dos bancos de todo o mundo! Com a guerra da Ucrânia, agora, em 2022, é imprevisível a subida do rublo como do yuan! Como disse Putin; “paguem em rublos!”

Vejam o exemplo nosso do Real, há um ano, o dólar valia 5.50 em média, hoje está, quase um real abaixo, a 4.60! O dólar, pós-Ucrânia é a moeda mais desvalorizado ou entre as mais desvalorizadas do mundo.

Bem, resumindo: nesta mobilização das tropas russas sobre a Ucrânia, a derrota militar da Ucrânia e seus aliados EUA, OTAN, etc. foi arrasadora. Apesar das narrações ridículas que as tropas da Ucrânia ainda resistem heroicamente! Economicamente, muito mais! A derrota é muito maior dos EUA, Otan, para não falar da Ucrânia.

Agora, para terminar, pergunto: onde restaram as análises desses supostos trotskystas, pós-guerra? Na lata do lixo!

Quem é o verdadeiro assassino? Sem dúvida, Zelenky, um aventureiro, mas, responsável direto da maior migração pós-segunda Guerra Mundial! Mais de 5 milhões de mulheres e crianças. Claro com apoio dos EUA e da OTAN! Além de obrigar por lei marcial aos ucranianos homens defenderem o seu governo fantoche, apoiado no humanismo burguês dos Direitos Humanos, violados por ele próprio diariamente para se conservar no poder!

Quem, para ficar no poder, decretou lei marcial e obrigou todos os ucranianos homens, aqueles de 16 anos aos 60 a lutar para defender a sua “pátria”? Qual era o seu ‘programa’? Defesa da “Pátria” aliada e apoiada pelos batalhões neonazistas, aliados e financiados, com armas e milhões de dólares dos EUA e da OTAN! Ou seria para defender o seu governo fantoche, grotesca paródia de uma liderança que não é liderança de ninguém, apenas usa essa porcaria do mundo virtual e como ator de vídeos vai ficando no poder.

O pior é os que se intitulam “trotskistas” caírem em simulacros tão grotescos!

*Hector Benoit é professor do Departamento de filosofia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de A odisseia de Platão: as aventuras e desventuras da dialética (Annablume).

 

Referências


BENOIT, H. “Sobre a crítica (dialética) de O capital“. In: Crítica Marxista, no. 3, São Paulo, Brasiliense, 1996.

BENOIT, H. “Da lógica com um grande ‘L’ à lógica de O capital”. In: Boito et alle (orgs). Marxismo e Ciências Humanas. FAPESP/Cemarx, São Paulo 2003.

BENOIT, H. “O Programa de Transição e a América”. In: Critica Marxista, v. 18, Revan, 2004.

EICHENGRENN, Barry. The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System

 

 

 

Veja todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

O prêmio Machado de Assis 2025
Por DANIEL AFONSO DA SILVA: Diplomata, professor, historiador, intérprete e construtor do Brasil, polímata, homem de Letras, escritor. Como não se sabe quem vem à frente. Rubens, Ricupero ou Rubens Ricupero
A redução sociológica
Por BRUNO GALVÃO: Comentário sobre o livro de Alberto Guerreiro Ramos
Distopia como instrumento de contenção
Por GUSTAVO GABRIEL GARCIA: A indústria cultural utiliza narrativas distópicas para promover o medo e a paralisia crítica, sugerindo que é melhor manter o status quo do que arriscar mudanças. Assim, apesar da opressão global, ainda não emergiu um movimento de contestação ao modelo de gestão da vida baseado do capital
Aura e estética da guerra em Walter Benjamin
Por FERNÃO PESSOA RAMOS: A "estética da guerra" em Benjamin não é apenas um diagnóstico sombrio do fascismo, mas um espelho inquietante de nossa própria era, onde a reprodutibilidade técnica da violência se normaliza em fluxos digitais. Se a aura outrora emanava a distância do sagrado, hoje ela se esvai na instantaneidade do espetáculo bélico, onde a contemplação da destruição se confunde com o consumo
Na próxima vez em que encontrar um poeta
Por URARIANO MOTA: Na próxima vez em que encontrar um poeta, lembre-se: ele não é um monumento, mas um incêndio. Suas chamas não iluminam salões — consomem-se no ar, deixando apenas o cheiro de enxofre e mel. E quando ele se for, você sentirá falta até de suas cinzas
Conferência sobre James Joyce
Por JORGE LUIS BORGES: A genialidade irlandesa na cultura ocidental não deriva de pureza racial celta, mas de uma condição paradoxal: lidar esplendidamente com uma tradição à qual não devem fidelidade especial. Joyce encarna essa revolução literária ao transformar um dia comum de Leopold Bloom numa odisseia infinita
As origens da língua portuguesa
Por HENRIQUE SANTOS BRAGA & MARCELO MÓDOLO: Em tempos de fronteiras tão rígidas e identidades tão disputadas, lembrar que o português nasceu no vaivém entre margens – geográficas, históricas e linguísticas – é, no mínimo, um belo exercício de humildade intelectual
Economia da felicidade versus economia do bom viver
Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA: Diante do fetichismo das métricas globais, o “buen vivir” propõe um pluriverso de saberes. Se a felicidade ocidental cabe em planilhas, a vida em plenitude exige ruptura epistêmica — e a natureza como sujeito, não como recurso
Tecnofeudalismo
Por EMILIO CAFASSI: Considerações sobre o livro recém-traduzido de Yanis Varoufakis
Não existe alternativa?
Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Austeridade, política e ideologia do novo arcabouço fiscal
Mulheres matemáticas no Brasil
Por CHRISTINA BRECH & MANUELA DA SILVA SOUZA: Revisitar as lutas, contribuições e avanços promovidos por mulheres na Matemática no Brasil ao longo dos últimos 10 anos nos dá uma compreensão do quão longa e desafiadora é a nossa jornada na direção de uma comunidade matemática verdadeiramente justa
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES