Por BRUNO MACHADO*
As características da Indústria 4.0 podem aprofundar a crise sistemática do capitalismo periférico
Os recentes parques industriais de pequeno porte que utilizam automação e internet das coisas em seus modelos de produção demonstram que a nova revolução industrial já está se aproximando do Brasil. Porém, com a globalização e a divisão internacional do trabalho já em pleno curso no mundo, restará ao Brasil o papel de receber a indústria 4.0 por intermédio de empresas estrangeiras.
Uma das características da indústria 4.0 é a menor necessidade de empregados qualificados, o que a coloca na contramão do desenvolvimento da indústria até o atual estágio de desenvolvimento tecnológico do mundo. Com a redução da qualificação exigida dos funcionários, a tendência é haver uma queda nos salários do setor produtivo da economia. A consequência imediata desse problema é a queda dos salários também no comércio e serviços, pois é o aumento da produtividade do trabalhador do setor produtivo da economia que possibilita a negociação coletiva de salários mais altos. Como o comércio e os serviços precisam de trabalhadores tanto quanto o setor produtivo da economia, haverá uma equalização relativa de salários no mercado de trabalho como um todo.
Uma menor renda total da classe trabalhadora leva a uma menor demanda na economia, que tem como consequência uma retração econômica. Essa crise de demanda pela redução dos salários acompanhada de um aumento na produtividade geral da produção pode ser amenizada via impostos sobre lucros acompanhada de distribuição de renda por programas governamentais.
Acontece que, apenas nos países centrais do capitalismo tal medida corretiva é possível, visto que esses países são as sedes das empresas que estão na fronteira tecnológica do mundo. Nos países periféricos a indústria 4.0 e sua regressão na qualificação dos trabalhadores levará a uma migração dos parques industriais existentes em países como o Brasil para países mais pobres e mais atrasados tecnologicamente.
A chamada indústria 4.0 também tem como característica a verticalização do processo produtivo, sendo também uma contratendência ao movimento de especialização e horizontalização da produção da indústria que vinha ocorrendo nas últimas décadas. Tal característica reduz a necessidade de grande infraestrutura local para a implantação de parques industriais e favorece essa nova etapa da globalização levando as indústrias dos países pobres e de renda média para países ainda mais atrasados economicamente no mundo.
Se esse processo ocorrer, haverá no Brasil uma queda da renda do trabalho e consequentemente uma crise de demanda. Entretanto, diferentemente do centro do capitalismo, no Brasil e nos países periféricos a perda de suas indústrias tradicionais reduzirá não somente os salários, mas também a produtividade geral da economia nacional, o que impossibilita uma correção da crise de demanda pela via de substituição dos salários por renda de programas sociais que se financiam de impostos sobre lucros.
A taxa de lucro aumentada pela indústria 4.0 só será adquirida pelas empresas de países centrais, que detém as patentes e o know how tecnológico e pela classe proprietária dos países mais pobres que serão introduzidos no capitalismo industrial com essa provável mudança dos parques industriais que hoje estão em países periféricos e de renda média como o Brasil.
A única solução que surgirá nos países periféricos será a reindustrialização via empresas nacionais. Os países periféricos que detém um parque industrial como o Brasil, terão que adotar estratégias desenvolvimentistas para retomarem a produtividade do trabalho na economia nacional como era antes da perda dos seus parques industriais. Esse processo político certamente não ocorrerá através dos partidos neoliberais e social-liberais que dominam a maior parte da política parlamentar dos países periféricos. Já que a elite nacional jamais abandonará seu modelo lucrativo de economia fundado no agro e nos bancos. Além disso, a crise social advinda dessa nova desindustrialização levará ao poder programas políticos mais extremos e radicais, dando espaço tanto para o fascismo como para o socialismo.
No caso brasileiro, a reduzida consciência de classe da população acompanhada de sua baixa politização, em grande medida proveniente das propagandas ideológicas nas mídias de massa que dominam o país a décadas, coloca em xeque a possibilidade do crescimento do socialismo no Brasil, e abre as portas para um novo governo neofascista brasileiro. Entretanto, diferente do último, tal suposto governo fascista colocará o desenvolvimento produtivo da economia a frente das finanças, e com isso, poderá conseguir forte apoio popular. Contudo, vale lembrar que um governo fascista que governe de forma contrária aos interesses econômicos da atrasada elite nacional só poderá se manter no poder com forte adesão popular nas ruas e o apoio declarado das Forças Armadas.
Por outro lado, uma crise sistemática do capitalismo brasileiro certamente seria um forte impulso ao movimento socialista no Brasil. Não somente a defesa da indústria, mas a pauta da defesa da classe trabalhadora frente a elite econômica nacional e, principalmente, a pauta do combate às desigualdades e a exploração do trabalho podem levar a uma adesão dos brasileiros às ideias socialistas. Entretanto, é necessário ter-se em mente que hoje em dia estamos mais pertos de elegermos outro governo neofascista do que um governo socialista.
*Bruno Machado é engenheiro.
A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA