Inteligência altamente artificial

Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por VINÍCIO CARRILHO MARTINEZ*

Reflexões sobre o caso do metafísico-autômato

Na era da Inteligência artificial, que assombra os que têm inteligência social, há indivíduos que desenvolvem comorbidades sociais, morais, das mais diversas, severas e íntimas. Chamaremos esses indivíduos de “portadores de inteligência altamente artificial” (PITA). Comumente assujeitados, são bem pouco sujeitos de fato e de si (e, por óbvio, desconhecedores da autonomia, do seu próprio significado), acabam envolvidos em seitas fetichistas e maquínicas.

Fetiche para esses indivíduos (que também vamos chamar de “esse-ser-aí”) é algo que se resume a atos libidinosos. Porém, como é muito raro que saibam o que é libido, então, são apenas seguidores de desejos inconfessáveis, impublicáveis e inelegíveis. Esses seres pouco dialogam com outros seres, efetivamente sociais. Portanto, seu fetiche se resume a liquidar todo mundo como mercadorias – ele próprio (“sendo-esse-ser-aí”) aceitaria ser manipulado (abduzido) porque já não é autônomo. São seres tão robotizados que veem máquinas autônomas, ou seja, como se as máquinas fossem (ou pudessem ser, efetivamente) autônomas. Esses indivíduos, em suma, confundem autômatos com autônomos.

Por isso tanto idolatram e confirmam mitos, às vezes, transferindo o fetiche do líder para a acompanhante feminina do mito inelegível. O fetiche é pelo líder, disso não há dúvidas – seja o fetiche “desse-ser-aí” ou maquínico (dele como mercadoria do mito), seja o fetiche sexualizado pela acompanhante do mito. Neste caso, trata-se do mito já caído, inelegível e desprezível. Se é que possa existir algo assim, digamos que seja um inelegível “fetiche reverso”.

Esse é o autômato que nos acompanha nesta série d’O metafísico. Quase inesgotável, tantas são as caricaturas possíveis, “esse-ser-aí-metafísico” é o mesmo já retratado como “admirável gado novo”, à espera da sua hora no abatedouro.

O destaque de hoje vai para a qualidade ou, melhor dizendo, tipo de inteligência que possui – pode-se dizer assim. Trata-se da manifestação que esboçamos no título: a Inteligência altamente artificial. Isso se comprova pelo fato de que o “metafísico-autômato-sendo-assim” ignora os fatos concretos. Alude-se pelas redes sociais, crê piamente em mentiras, nas piores distorções que o juízo desprovido de valor humano possa conferir. Quanto mais mentiroso, compulsivamente mentiroso, mais o metafísico-autômato irá querer para si.

O metafísico-autômato é o indivíduo desprovido de autonomia (portanto, nulo em inteligência social) que vive para receber e multiplicar as mentiras, na prática, como efetivo não-ser, mas sempre como curador e militante da Inteligência altamente artificial.

Por fim, hoje, queremos concluir reforçando sua transferência fetichista, do mito, para sua acompanhante, igualmente impronunciável. Porém, esta é uma tese a ser aprofundada por psicanalistas e psiquiatras: o fetiche pelo mito inelegível transforma-se em fetiche reverso pela acompanhante impronunciável. Nosso argumento é apenas o de que o metafísico-autômato é adorador do fetiche maquínico (sobre si) e replicante da Inteligência altamente artificial.

O metafísico-autômato é a própria sina da sua Inteligência altamente artificial, é o indivíduo que reproduz todo tipo de desinteligência social, pois, é portador de um bastante incomum senso comum. Ainda que seja o único da espécie que não saiba disso. Também seria interessante pensar como seria a vitimologia metafísica do mito caído, inelegível e fetichizado pela desinteligência do metafísico-autômato.

Mas isso já é outra história, e essas histórias fazem mal a quem tenha inteligência social.

*Vinício Carrilho Martinez é professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • Um estudo do caso Ailton Krenak1974__Identidade ignorada 21/07/2024 Por MARIA SILVIA CINTRA MARTINS: Prefiro sonhar com Krenak o parentesco com a natureza e com as pedras do que embarcar na naturalização do genocídio
  • Clarice Lispector no cinemacultura a paixão segundo g.h. 22/07/2024 Por LUCIANA MOLINA: Comentário sobre três adaptações cinematográficas da obra de Clarice Lispector
  • O princípio de autodestruiçãoLeonardo Boff 25/07/2024 Por LEONARDO BOFF: Qual ciência é boa para a transformação mundial?
  • Filosofia da práxis como poiésiscultura lenora de barros 24/07/2024 Por GENILDO FERREIRA DA SILVA & JOSÉ CRISÓSTOMO DE SOUZA: Fazer filosofia é, para o Poética, fazer filosofia contemporânea, crítica e temática
  • Que horas são no relógio de guerra da OTAN?José Luís Fiori 17/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: Os ponteiros do “relógio da guerra mundial” estão se movendo de forma cada vez mais acelerada
  • Apagão digitalSergio Amadeu da Silveira 22/07/2024 Por SÉRGIO AMADEU DA SILVEIRA: A catástrofe algorítmica e a nuvem do “apagão”
  • A disputa de Taiwan e a inovação tecnológica na ChinaChina Flag 20/07/2024 Por JOSÉ LUÍS FIORI: A China já é hoje a líder mundial em 37 das 44 tecnologias consideradas mais importantes para o desenvolvimento econômico e militar do futuro
  • A produção ensaística de Ailton Krenakcultura gotas transp 11/07/2024 Por FILIPE DE FREITAS GONÇALVES: Ao radicalizar sua crítica ao capitalismo, Krenak esquece de que o que está levando o mundo a seu fim é o sistema econômico e social em que vivemos e não nossa separação da natureza
  • A radicalidade da vida estéticacultura 04 20/07/2024 Por AMANDA DE ALMEIDA ROMÃO: O sentido da vida para Contardo Calligaris
  • A questão agrária no Brasil — segundo Octávio IanniJose-Raimundo-Trindade2 19/07/2024 Por JOSÉ RAIMUNDO TRINDADE: As contribuições de Ianni podem auxiliar a reformular o debate agrário brasileiro, sendo que as obras do autor nos apontam os eixos para se repensar a estrutura fundiária brasileira

PESQUISAR

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES