Liev Davidovitch Bronstein

Imagem: Plato Terentev
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Por HECTOR BENOIT*

Considerações sobre a guerra na Ucrânia e o Brasil atual

Liev Davidovitch Bronstein ficou mais conhecido, mundialmente, como Leon Trótski, o Comissário da Guerra que, heroicamente, tomou o palácio de Inverno, defendeu a vitória da Revolução Russa e criou o célebre e glorioso Exército Vermelho!

Paradoxalmente, Liev ou se preferirem Trótski, nasceu em Óblast de Kherson, pequena cidade da atual Ucrânia! Sim, Trótski é mais “ucraniano”, certamente, muito e muito mais ucraniano do que esse farsante chamado Volodymyr Zelenski!

Será que o farsante do Volodymyr Zelenski nasceu na Ucrânia? Talvez nem isso seja verdade! É verdade, ele nasceu na Ucrânia. Era de origem judaica, ora, Trótski também o era. Ser de origem judaica pode ser tanto nazista como comunista.

Eu próprio nasci uruguaio e minha mãe, lá pelos meus quatro anos, fugiu do Uruguai, com um alemão judeu para o Brasil. Ela, com o seu colonialismo, dizia que ele parecia com Garry Cooper, o galã de Hollywood. Só que o meu pai, Hector Pichuaga Rodriguez Benoit, era muito violento, e o alemão tinha medo dele. Daí ele e a minha mãe fugiram para o Brasil. No fim da vida da minha mãe, ela morreu com 98 anos, conversamos calmante e sinceramente. Afinal, que nós tínhamos para esconder?

Eu fiz uma pergunta muito difícil para ela: quem foi o maior homem da tua vida e o melhor na cama? Ela me disse: “sem dúvida, o teu pai”.

Aprendi o nazismo nas mãos do alemão, Ernst Toller! Ele me dizia que os alemães eram a “elite do judaísmo”. Os “polacos, russos, tchecos e outros judeus são camponeses grosseiros…”.

Eu, uruguaio, com toda a honra do mundo, aos três ou quatro anos, era chamado pelo alemão de “criollo”, para ele os brasileiros eram “índios”!

Aprendi aos quatro anos a ser antinazista e comunista, além disso: anti-imperialista radical!

 

Leon Trótski!

Ele fundou o heroico Exército Vermelho? Sim, ele nasceu no Óblast de Kherson, numa pequena cidade da Ucrânia, seus pais eram relativamente pobres camponeses, ainda que explorassem trabalho. Sabemos bem que, quando já no poder, Trótski recebeu o pai e este lhe pediu ajuda financeira; Trótski, como bolchevique irredutível, disse ao próprio pai: “Nada a fazer, adeus”.

Mas, comparemos o histórico de ambos, Trótski e o farsante do Zelenski. Não há dúvida! Volodymyr Zelenski se tornou famoso como ator, e, ganhando o concurso popular de TV “dança dos famosos” versão ucraniana do “Faustão”!

Depois, o comediante Zelenski se lançou como candidato-piada para a presidência da república Ucrânia e venceu. Como um Tiririca que foi o deputado mais votado numa eleição, similar ao antigo “Cacareco”…

Bem, como ator, Volodymyr Zelenski depois discursou em todos os parlamentos corruptos da Europa e EUA, sob aplausos hipócritas. De quebra, a guerra da Ucrânia salvou o grotesco do Boris Johnson das suas festinhas “muito particulares”, que quase o levaram à queda, já que na época recomendava austeridade à comunidade extremamente “pura” da Inglaterra, a começar pela “puríssima” família real, que entre coisas, tem no seu “histórico” a suspeita do assassinato da princesa Diana!

 

O Brasil e Lula

Tudo bem votar nele, é melhor do que o pior. Entretanto, suas limitações são tristes. Saiu na capa da Times, 04/05/22. Como sempre, fala besteiras! Diz que “Putin não deveria ter invadido a Ucrânia”!

Ora, Putin estava, ao contrário, “não invadindo a Ucrânia”. Na verdade, Putin estava defendendo a Rússia do imperialismo da OTAN, EUA etc. Estava apenas defendo a Rússia de uma agressão dos EUA, e do mísero imperialismo britânico-francês que ainda mantém colônias na América Latina, tais como a Ilhas Malvinas na Argentina e as Guianas Francesas no norte da nossa América, para não falar do escândalo das décadas da base Norte-Americana em Guantánamo, na ilha de Cuba.

Eu não sou “criollo” e nós brasileiros não somos “índios”, ainda que os que temos, de tantas etnias indígenas, sejam etnias nobres, são muitos melhores dos que os “gringos”. Tive um aluno ouvinte, por vários anos, índio, aprendi mais com ele do que eu que o ensinei.

 

A questão nacional

Sem dúvida, Lênin teve razão contra Rosa Luxemburgo. Ela, apesar de polonesa, achava que a questão nacional da Polônia não tinha a menor importância. Que respondeu Lênin? Não podemos entregar a questão nacional para a direita! Por onde começou a cair a URSS? Pela Polônia, pelo Solidariedade de Walesa, que todos os “trotskistas” diziam que era a “revolução política”. Qual foi a “revolução política” que ocorreu na Polônia? Na verdade, foi o começo da queda da URSS.

Escrevo estas linhas com tanta emoção, camaradas. Mas, são sinceras como las palabras de Paco Ibañez. Um basco como eu, como o futebol de Arrascaeta, basco, uruguaio, o maior jogador da América Latina.

Na questão nacional o próprio Lênin supervisionou e revisou um livro de Stálin sobre a Geórgia. Claro, Lênin defendeu a liberdade da Geórgia. Da mesma forma, defendeu a liberdade da Ucrânia. Qual seria o motivo de Lênin? Liberdade à Ucrânia, à Geórgia e à Polônia, para não entregar a questão nacional para a direita!

Putin, com a derrubada mundial do dólar, com o crescimento do rublo, como moeda mundial, talvez possa ser uma grande esperança política e econômica, não só para o Brasil, mas também para toda a América Latina, Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela, Colômbia, Peru e Cuba. Será que o sonho meu e de Che não se apagou?

Não aceito ser chamado por “criollo’. Nem um negro brasileiro deve aceitar ser ofendido por racismo! Nenhum índio brasileiro deve ser humilhado! Chega de sanções!

EUA: vocês não possuem mais o comando da economia mundial! O Rublo sobe como moeda mundial!

*Hector Benoit é professor do Departamento de filosofia da Unicamp. Autor, entre outros livros, de A odisseia de Platão: as aventuras e desventuras da dialética (Annablume).

 

Referência


EICHENGREEN, Barry. The Rise and Fall of the Dollar and the Future of the International Monetary System.

 

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