O Brasil em Tóquio

Imagem: Evgeny Tchebotarev
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por SIMÃO PEDRO*

A emoção da superação de cada atleta ocupou o lugar do tédio obscurantista e nos inspira a superar também esses tempos de miséria

Como não se emocionar com a Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas que se deu neste domingo e com as conquistas dos nossos atletas, o esforço de superação para chegar ao pódio ou entre os primeiros, as entrevistas depois das provas? Também com os fracassos da maioria, o inconformismo por ter treinado tanto e lá ser superado por outros atletas até desconhecidos?

A gente é muito tocado também por uma espécie de espírito nacionalista a nos provar que, apesar da situação de retrocessos não economia, na política, no social e no meio ambiente, podemos através dos esportes resgatar o orgulho de sermos brasileiros. Os atletas mostraram um Brasil que Bolsonaro tenta sucumbir, a começar, inclusive, com a extinção do Ministério dos Esportes. Tantos atletas brasileiros orgulhosos das suas origens, crenças e orientações, marcaram os Jogos Olímpicos com diversidade humana, mostrando que a convivência fraterna e não o ódio e a violência, estimulados pelo atual mandatário e seus apoiadores, é a nossa principal riqueza nacional.

Das 7 medalhas de ouro conquistadas, 4 foram para atletas da Região Nordeste, lugar onde Lula transformou no “lugar de seca” para um lugar que se desenvolve e gera oportunidades em todas as áreas, inclusive nos esportes. A ginástica, esporte de altíssimo rendimento, teve na jovem Rebeca, oriunda das favelas do Rio, que ensinou que investir no esporte como fator transformação social é um excelente caminho.

Mas, vou confessar uma coisa que também me chamou a atenção: com excessão de alguns atletas do futebol e do vôlei, a maioria dos nossos que foram às Olimpíadas eu não conhecia. Passei a conhecê-los nas transmissões. Pensei: “pode ser um problema meu que não acompanho as notícias e a vida de outras modalidades esportivas que não o futebol”. Mas perguntei aqui em casa e todos confirmaram minha percepção: nossos heróis ou representantes só viram carinhas conhecidas quando se destacam. É o caso da Rebeca, do Alison, do Isaquias e outros brasileiros que nos emocionaram. A grande mídia é muito culpada disso, bem como as empresas patrocinadoras que só se interessam pelos esportes se for para explorar suas marcas e aumentar seus lucros… Também dos governos, como o atual, que não investem o suficiente em políticas públicas de esportes

Pode parecer, aos olhos dos desinformados, que nossos atletas são ultraprofissionalizados, mas 80% deles dependem do programa Bolsa Atleta criado pelo governo Lula para se manterem e treinarem. É estarrecedor saber que 42% dos nossos atletas que foram à Tokyo não tem nenhum patrocínio. Que 19% vivem com até R$ 2 mil mensais e 7% vivem com até R$ 1 mil por mês. Que 13% tiveram que fazer vaquinha para ir ao Japão e 10% sequer vivem do esporte dos quais 15% são motoristas de aplicativos. Peguei esses dados do twitter de Mateus Angel Borja Leal.

Tudo bem: sou adepto de uma visão mais humanista e por isso não estou defendendo aqui que todo esporte olímpico deva ser profissionalizado, pois isso não é consenso e o bom é que os esportistas amadores têm espaço ainda nos jogos olímpicos e em outras competições mundiais. Também – vejamos o exemplo da nossa Fadinha, Rayssa Leal, medalha de prata no skate – temos casos de esportes como a ginástica artística que parece ser mais apropriada para o físico de adolescentes e é menos longeva que outros e aqui é preciso cuidar de outros aspectos como os estudos, o lazer e necessidades próprias dessa fase da vida dos nossos jovens. A rebelião da jovem atleta norte-americana, Simone Biles, de denunciar a pressão que sofria e afetava sua saúde mental. Defendo que esse espírito, de espaço também para os amadores, deva prevalecer, como é o caso dos esportistas com deficiências físicas, denominados paraolímpicos. Chamo a atenção para o desconhecimento, a falta de informações, de destaque no dia-a-dia, para que o esporte seja inspiração e motivação para as pessoas comuns o praticarem, manterem a saúde e também se divertirem.

A emoção da superação de cada atleta ocupou o lugar do tédio obscurantista e nos inspira a superar também esses tempos de miséria, desprezo pela vida e a lutar por mudanças políticas!

*Simão Pedro foi deputado estadual (2003-2015) e secretário municipal de serviços no governo de Fernando Haddad.

 

 

Veja neste link todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

__________________
  • A colonização da filosofiamar estacas 14/11/2024 Por ÉRICO ANDRADE: A filosofia que não reconhece o terreno onde pisa corrobora o alcance colonial dos seus conceitos
  • A massificação do audiovisualcinema central 11/11/2024 Por MICHEL GOULART DA SILVA: O cinema é uma arte que possui uma base industrial, cujo desenvolvimento de produção e distribuição associa-se à dinâmica econômica internacional e sua expansão por meio das relações capitalistas
  • Ainda estou aqui — habeas corpus de Rubens Paivacultura ainda estou aqui 2 12/11/2024 Por RICARDO EVANDRO S. MARTINS: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • O entretenimento como religiãomóveis antigos máquina de escrever televisão 18/11/2024 Por EUGÊNIO BUCCI: Quando fala a língua do rádio, da TV ou da Internet, uma agremiação mística se converte à cosmogonia barata do rádio, da televisão e da internet
  • A execução extrajudicial de Sílvio Almeidaqueima de livros 11/11/2024 Por MÁRIO MAESTRI: A denúncia foi patrocinada por uma ONG de raiz estadunidense, o que é paradoxal, devido à autoridade e status oficial e público da ministra da Igualdade Racial
  • Os concursos na USPMúsica Arquitetura 17/11/2024 Por LINCOLN SECCO: A judicialização de concursos públicos de docentes na USP não é uma novidade, mas tende a crescer por uma série de razões que deveriam preocupar a comunidade universitária
  • O porto de Chancayporto de chankay 14/11/2024 Por ZHOU QING: Quanto maior o ritmo das relações econômicas e comerciais da China com a América Latina e quanto maior a escala dos projetos dessas relações, maiores as preocupações e a vigilância dos EUA
  • A falácia das “metodologias ativas”sala de aula 23/10/2024 Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: A pedagogia moderna, que é totalitária, não questiona nada, e trata com desdém e crueldade quem a questiona. Por isso mesmo deve ser combatida
  • Ainda estou aquicultura ainda estou aqui 09/11/2024 Por ERIK CHICONELLI GOMES: Comentário sobre o filme dirigido por Walter Salles
  • Antonio Candido, anotações subliminaresantonio candido 16/11/2024 Por VINÍCIUS MADUREIRA MAIA: Comentários sobre os mais de setenta cadernos de notas feitos por Antonio Candido

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES