O ofício da escrita historiográfica

Terry Winters, Renderização paralela 2, 1997
image_pdf

Por MARCUS REDIKER*

Oito sugestões práticas práticas de escrita para historiadores

Quarenta anos pensando sobre o ofício da escrita histórica devem valer alguma coisa, então aqui estão as oito dicas que dei nos últimos dez dias – sugestões práticas que achei úteis sobre o negócio vexatório de colocar palavras indisciplinadas na página.

(1) Enquanto escrevo um livro, me enterro em uma brilhante obra de ficção sobre o mesmo período, para encher minha mente com seu poder literário. Exemplo: quando escrevi The Fearless Benjamin Lay, li Sacred Hunger de Barry Unsworth (pela quinta ou sexta vez).

(2) A meu ver, a unidade essencial de uma boa redação é o parágrafo. Se você está travado, girando suas rodas, escreva um parágrafo forte, apenas um, sobre qualquer assunto em que você esteja trabalhando. Na minha experiência, isso quebra o impasse e permite que os pensamentos fluam para a página.

(3) Quando sei sobre o que quero escrever na manhã seguinte, releio atentamente minhas fontes primárias na noite anterior. Isso torna mais fácil começar no dia seguinte e, às vezes, a mente inconsciente faz um trabalho impressionante para resolver as coisas.

(4) Encontre um fragmento de um poema do período que você está estudando, um que incorpore um ou dois temas de sua investigação, e escreva um parágrafo, uma seção ou um capítulo em torno dele. Faça esse poema cantar seu significado histórico.

(5) Sempre que você puder fazer uma ideia ou um conceito ganhar vida por meio de uma pessoa ou evento, faça-o. Fazer seu leitor ver seu argumento por meio de pensamento e ação humanos vívidos e concretos é muito mais poderoso, convincente e memorável do que uma abstração seca.

(6) Economia de expressão. Strunk e White disseram: “Omita palavras desnecessárias”. Blaise Pascal escreveu a um correspondente: “Lamento ter escrito uma carta tão longa; Não tive tempo de escrever uma curta.” Use três palavras em vez de quatro; seja implacável. Mais curto é mais poderoso.

(7) Continue lendo suas fontes até ouvir vozes e então escreva uma história profundamente humana sobre seus assuntos históricos. Os leitores querem aprender sobre pessoas reais, fazendo escolhas reais, em circunstâncias reais. Torne seus atores complexos e multidimensionais.

(8) Três coisas que os estudiosos precisam fazer para escrever para um público mais amplo. Primeiro, você tem que querer. (A maioria não quer.) Em segundo lugar, você precisa ler estilistas de prosa talentosos e aprender com eles. Terceiro, você deve trabalhar duro na arte e no ofício de escrever.

É tudo muito simples, na verdade.

*Marcus Rediker é professor de história na Universidade de Pittsburgh. É co-autor, com Peter Linebaugh, de A hidra de muitas cabeças (Companhia de Letras).

Tradução: Sean Purdy.

 

Veja todos artigos de

MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

1
O segundo choque global da China
06 Dec 2025 Por RENILDO SOUZA: Quando a fábrica do mundo também se torna seu laboratório mais avançado, uma nova hierarquia global começa a se desenhar, deixando nações inteiras diante de um futuro colonial repaginado
2
Simulacros de universidade
09 Dec 2025 Por ALIPIO DESOUSA FILHO: A falsa dicotomia que assola o ensino superior: de um lado, a transformação em empresa; de outro, a descolonização que vira culto à ignorância seletiva
3
A guerra da Ucrânia em seu epílogo
11 Dec 2025 Por RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL: A arrogância ocidental, que acreditou poder derrotar a Rússia, esbarra agora na realidade geopolítica: a OTAN assiste ao colapso cumulativo da frente ucraniana
4
Uma nova revista marxista
11 Dec 2025 Por MICHAE LÖWY: A “Inprecor” chega ao Brasil como herdeira da Quarta Internacional de Trotsky, trazendo uma voz marxista internacionalista em meio a um cenário de revistas acadêmicas
5
Raymond Williams & educação
10 Dec 2025 Por DÉBORA MAZZA: Comentário sobre o livro recém-lançado de Alexandro Henrique Paixão
6
A riqueza como tempo do bem viver
15 Dec 2025 Por MARCIO POCHMANN: Da acumulação material de Aristóteles e Marx às capacidades humanas de Sen, a riqueza culmina em um novo paradigma: o tempo livre e qualificado para o bem viver, desafio que redireciona o desenvolvimento e a missão do IBGE no século XXI
7
A crise do combate ao trabalho análogo à escravidão
13 Dec 2025 Por CARLOS BAUER: A criação de uma terceira instância política para reverter autuações consolidadas, como nos casos Apaeb, JBS e Santa Colomba, esvazia a "Lista Suja", intimida auditores e abre um perigoso canal de impunidade, ameaçando décadas de avanços em direitos humanos
8
Norbert Elias comentado por Sergio Miceli
14 Dec 2025 Por SÉRGIO MICELI: Republicamos duas resenhas, em homenagem ao sociólogo falecido na última sexta-feira
9
Asad Haider
08 Dec 2025 Por ALEXANDRE LINARES: A militância de Asad Haider estava no gesto que entrelaça a dor do corpo racializado com a análise implacável das estruturas
10
A armadilha da austeridade permanente
10 Dec 2025 Por PEDRO PAULO ZAHLUTH BASTOS: Enquanto o Brasil se debate nos limites do arcabouço fiscal, a rivalidade sino-americana abre uma janela histórica para a reindustrialização – que não poderemos atravessar sem reformar as amarras da austeridade
11
Ken Loach: o cinema como espelho da devastação neoliberal
12 Dec 2025 Por RICARDO ANTUNES: Se em "Eu, Daniel Blake" a máquina burocrática mata, em "Você Não Estava Aqui" é o algoritmo que destrói a família: eis o retrato implacável do capitalismo contemporâneo
12
A anomalia brasileira
10 Dec 2025 Por VALERIO ARCARY: Entre o samba e a superexploração, a nação mais injusta do mundo segue buscando uma resposta para o seu abismo social — e a chave pode estar nas lutas históricas de sua imensa classe trabalhadora
13
Impactos sociais da pílula anticoncepcional
08 Dec 2025 Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA: A pílula anticoncepcional não foi apenas um medicamento, mas a chave que redefiniu a demografia, a economia e o próprio lugar da mulher na sociedade brasileira
14
Benjamim
13 Dec 2025 Por HOMERO VIZEU ARAÚJO: Comentário sobre o livro de Chico Buarque publicado em 1995
15
Violência de gênero: além do binarismo e das narrativas gastas
14 Dec 2025 Por PAULO GHIRALDELLI: Feminicídio e LGBTfobia não se explicam apenas por “machismo” ou “misoginia”: é preciso compreender como a ideia de normalidade e a metafísica médica alimentam a agressão
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES