Por Patrícia Valim*
A soberania popular, ainda que à revelia dos dirigentes cansados do partido, é a única vacina para combatermos o vírus e o verme.
Os dirigentes do PT envelheceram, é o que anuncia o Secretário de Comunicação do PT e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, nos jornais na manhã da Sexta-feira Santa ao afirmar que “o PT definiu que não é o momento de aderir ao Fora, Bolsonaro”, pois “o foco do partido continua na pandemia do coronavírus, com defesa do isolamento e cobranças para o governo federal aja na proteção dos mais vulneráveis” [1].
Os dirigentes do PT envelheceram justamente no momento em que o Partido comemora apenas 40 anos de história, pois demonstram publicamente que não entenderam a extensão mortífera para os trabalhadores do mundo inteiro, precarizados ou não, da maior crise mundial depois da “grande guerra do século XX”: a pandemia do coronavírus. E se entenderam é pior: serão coniventes com milhares de mortes no Brasil.
Os dirigentes do PT envelheceram no mesmo dia em que as Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular passaram a pedir a saída do presidente Jair Messias Bolsonaro, entendendo que não há como enfrentar o coronavírus sem derrotar Bolsonaro. Isto é: movimentos sociais, sindicatos e entidades não concordam e desautorizam esses dirigentes envelhecidos do partido dos trabalhadores, maior partido de esquerda da América Latina, porque seus dirigentes veem contradição onde não há.
Os dirigentes do PT envelheceram ao afirmarem que o Partido “tem o sentimento de apoiar manifestações do campo popular, se solidariza, entende por que as pessoas fazem panelaços”, mas, porém, contudo, entretanto e não obstante deslegitimam a força desse movimento crescente, espontâneo e sua natureza desruptiva ao afirmarem que “o povo não está na rua, porque não pode. O Congresso não está se reunindo”, apesar de este mesmo Congresso ter aprovado a renda mensal para os mais vulneráveis.
Os dirigentes do PT envelheceram ao não reconhecerem o papel político das redes sociais no mundo inteiro e afirmarem que não há condicionantes para um impeachment neste momento: “um crime de responsabilidade caracterizado por juristas, vontade e mobilização popular …”, fingindo desconhecer por cansaço político uma denúncia contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda) por crimes de lesa-humanidade, sobretudo por pedir que a população brasileira morra ao sair do isolamento social e voltar ao trabalho.
Os dirigentes do PT envelheceram ao anunciarem publicamente que estão renunciando do exercício da política e não irão construir a maioria do Congresso Nacional em um momento em que 17% dos eleitores de Jair Messias Bolsonaro estão arrependidos do voto em razão de milhares de pessoas que irão morrer por falta de políticas públicas para conter a pandemia do coronavírus: “populicídio” nos termos do editorial do jornal francês Libération para designar o Estado genocida e suicida de Jair Messias Bolsonaro ao qual estes dirigentes do PT serão cúmplices históricos.
Os dirigentes do PT envelheceram ao afirmarem que irão cobrar que o governo implante as propostas do Congresso, desconsiderando que Bolsonaro tem combatido publicamente o Ministro da Saúde do próprio governo em razão de seu negacionismo ortodoxo que coloca milhares de pessoas em risco de morte. Para tentar evitar essa tragédia sem paralelo, Bolsonaro precisou ser contido pela instauração de uma “presidência operacional” que, ao fim e ao cabo, é a tutela militar comandada pelo general Braga Netto, que os dirigentes petistas usaram como desculpa para não aderirem ao impeachment e que agora silenciam.
Os dirigentes do PT envelheceram, estão cansados e em descompasso histórico com a conjuntura e com o próprio Presidente de Honra do PT que, em 1 de abril do corrente, afirmou: “Ou esse cidadão (Jair Messias Bolsonaro) renuncia ou se faz o impeachment dele com base nos crimes de responsabilidade que ele já cometeu”. Lula sabe como poucos que a decisão de não aderir ao “Fora, Bolsonaro” é a terceirização do exercício político de oposição para o chamado “centrão”, como tem ocorrido na chamada “revolta dos governadores”, incluindo o governo do estado da Bahia que tem protagonizado esse movimento.
Os dirigentes do PT envelheceram, estão cansados e fazendo quarentena política enquanto a maioria da militância do PT tem construído maioria para aprovar a Renda Universal durante o isolamento social e o impeachment do presidente genocida. Porque a soberania popular, ainda que à revelia dos dirigentes cansados do partido, é a única vacina para combatermos o vírus e o verme. Que tenhamos a força necessária para a maior luta de nossas vidas.
Fora Bolsonaro!
*Patrícia Valim é professora de História na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Notas
[1] Nota pública do PT comunicando a decisão da reunião do Diretório Nacional no dia 09 de abril de 2020.
Artigo publicado originalmente no site Brasil 247.