Por ELTON CORBANEZI*
O produtivismo acadêmico instaurou uma sociabilidade e uma conduta de vida orientadas basicamente pela produtividade
O título do debate proposto é “Produtivismo e saúde mental na pós-graduação”, que se insere, por sua vez, na indagação, no mínimo dramática, que intitula o 7º Fórum do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Unicamp: “É possível atravessar precariedades?”
Considerando a proposta, nosso intuito é refletir sobre produtivismo acadêmico, precariedades e saúde mental ou sofrimento psíquico mediante a ideia de subjetivação. Mais especificamente, a partir do “modo de subjetivação” atual (por subjetivação entenda-se “sujeição” e “modo de produção de existências”), que envolve também a Universidade e, em particular, a pós-graduação.
Produtivismo acadêmico
Como se sabe, a origem da noção de “produtivismo acadêmico” remete ao contexto norte-americano dos anos 1950 e ao famoso dilema “publish or perish”. No Brasil, a ideia aparece inicialmente nos anos 1970 e se institucionaliza sobretudo nos anos 90, mediante diretrizes, regulações e processos avaliativos de agências de fomento, em particular a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Também na opinião pública há um movimento nessa direção: em 1988, a Folha de São Paulo havia publicado a chamada “lista dos improdutivos”, elaborada pela reitoria da USP[i]; depois, em 1995, o mesmo jornal publicou a “lista dos produtivos”, englobando 170 pesquisadores de diferentes áreas[ii].
Grosso modo, “produtivismo acadêmico” é a maneira como se convencionou chamar a atual cultura da pós-graduação e das práticas universitárias em geral. Em todo caso, trata-se do modus operandi sobretudo da pós-graduação (logo, de parte significativa da produção científica nacional), submetida a agências externas de controle e fomento.
No livro O trabalho intensificado nas Federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico, Valdemar Sguissardi e João dos Reis Silva Jr mostram que o produtivismo acadêmico se consolida mediante a articulação entre a prática universitária cotidiana e políticas institucionais relativas a projeto de país, de FHC a Lula (vale dizer que a 1ª edição do livro, que é um estudo quantitativo e qualitativo do tema prefaciado por Chico de Oliveira, é de 2009[iii]).
Submetidas às reformas do Estado brasileiro, que, por sua vez, articulam-se com o desenvolvimento do capitalismo em nível global, as políticas de controle e de fomento introduziram na vida acadêmica valores empresariais: eficiência, excelência, alta competitividade, desempenho, redução de custos, avaliação por produto, cumprimento de metas, resultados, e assim por diante.
Se ciência e tecnologia constituem forças produtivas fundamentais para o capitalismo, e o capitalismo contemporâneo se distingue pela centralidade do trabalho intelectual e imaterial superqualificado, não é de surpreender o projeto de captura da Universidade pela lógica empresarial.
O produtivismo acadêmico, essa forma atual de organizar a atividade universitária (pesquisa, ensino e extensão), é uma política que vai se tornar, pouco a pouco, uma cultura institucional – ou, melhor, uma cultura organizacional: passamos de instituição para organização, diz Paulo Arantes[iv], na esteira de Franklin Leopoldo e Silva e seu diagnóstico preciso a respeito do “projeto terminal” de Universidade que está em jogo.[v] Tomando como referência o argumento do sociólogo francês Alain Ehrenberg, poderíamos dizer que, nesta passagem de instituição para organização, o modelo freudiano da neurose (baseado no conflito, na lei, na interdição)é substituído pelo modelo janetiano da depressão, cujo princípio é a insuficiência, o déficit, segundo o qual o indivíduo se mostra aquém do esperado[vi].
Mas voltemos ao produtivismo acadêmico. Quantidade da produção, ranqueamentos etc. vão servir para hierarquizar tanto instituições quanto pesquisadores. Na gincana, está em jogo a disputa por capitais específicos, recursos econômicos, visibilidade, prestígio, poder.
Não é que o mercado adentre integralmente a Universidade ou a privatize: são seus critérios, sua lógica e sua temporalidade absolutamente acelerada e predatória que colonizam também o modo de fazer ciência. Nessa nova forma de fazer ciência, já não tão nova assim, tudo se passa como se o objetivo último fosse, no fim das contas, mais incrementar o currículo (“torná-lo competitivo”, diz o jargão) do que produzir algo propriamente significativo.
Os efeitos do produtivismo – lemos isso nos diversos trabalhos sobre o tema, assim como percebemos na prática cotidiana – são trabalhos fatiados, visando maior rendimento, e de qualidade muitas vezes prejudicada, desde a forma até o conteúdo (afinal, é preciso cumprir metas cujos prazos são cada vez mais exíguos).
Uma contradição patente destacada na literatura a respeito do tema é que a exigência de padrões de produtividade de primeiro mundo se dá em condições de precariedade e de subdesenvolvimento, desde a infraestrutura das Universidades públicas até a remuneração de docentes e pesquisadores (políticas de corte, congelamento de bolsas e salários, intensificação do trabalho, desvalorização social etc.).[vii]
Mas o que gostaríamos de sublinhar é que esse movimento do produtivismo acadêmico – que envolve o desenvolvimento global do capitalismo e políticas institucionais de reforma do Estado (a formulação do chamado “Estado gerencial” ou “Estado empresarial”) – se tornou, ao longo dos anos, uma cultura, uma ética, um ethos, modificando a própria concepção do que significa fazer ciência. Jovens pesquisadoras e pesquisadores, já formados no seio dessa cultura, tendem a internalizar, naturalizar e reproduzir os princípios vitais do produtivismo acadêmico, tais como individualismo, desempenho, competição, busca de reconhecimento individual, e assim por diante.
Racionalidade neoliberal e modo de subjetivação na academia
O produtivismo acadêmico se insere, dessa forma, no que uma série de autores vem chamando, já há algum tempo, de racionalidade neoliberal, desde Foucault, passando especialmente por Pierre Dardot e Christian Laval até Wendy Brown, entre outros.
Não vamos nos estender aqui sobre a história do neoliberalismo e sua política de flexibilização e de produção de precariedades e desigualdades. Definamos, antes, a racionalidade neoliberal: ela nada mais é do que um conjunto de valores que determinam o modo de vida atual – o modo de ser, de pensar, de agir, de sentir, de apreciar, em suma, a própria concepção de vida. Está para além, portanto, da noção do neoliberalismo como doutrina econômica e política específica, como ideologia ou mesmo regime de governo.
Os princípios dessa racionalidade são precisamente o desempenho e a competição. De maneira mais específica, o paradigma empresarial (velocidade, inovação, eficiência, metas, resultados, flexibilização, polivalência) que orienta não apenas empresas privadas e instituições públicas, mas a relação do indivíduo com os outros e consigo mesmo. Em outros termos, significa dizer que o neoliberalismo produz também relações sociais, maneiras de viver, subjetividades[viii].
Enquanto cultura, o produtivismo acadêmico prescinde de coerção externa: o autoengajamento constitui o habitus acadêmico e produz uma subjetividade não apenas dominante (já que ela tende a impedir outros modos de vida), mas também esgotada (a pressão interna é muitas vezes relatada como sufocante). Uma das lições mais contundentes de Michel Foucault em seu curso dedicado ao neoliberalismo é a explicitação da maneira sofisticada a partir da qual sua tecnologia de poder opera: nessa forma de gestão, trata-se de governar (em termos de conduzir condutas) a partir da racionalidade dos próprios governados.
O produtivismo acadêmico instaurou, nesse sentido, uma sociabilidade e uma conduta de vida orientadas basicamente pela produtividade (balizada sempre por métricas quantitativas), estabelecendo que os resultados devem ser devidamente registrados e divulgados (além de produzir, é preciso também saber gerenciar as relações públicas: marketing, divulgação, comunicação – e, como reza a doutrina, tudo por conta própria. Estar no topo é também uma questão de autogerenciamento bem-sucedido).
Apesar da diferença em relação aos capitais que estão em jogo, tudo se passa como se o homo academicus[ix] tivesse incorporado o modo operatório do homo oeconomicus contemporâneo[x]: o modo de subjetivação atual na academia é também o do autoempreendedorismo, de uma relação de si para consigo marcada pelo excesso, pela competitividade, pelo individualismo, pelas estratégias de investimento, pelo autoengajamento (a autoexploração pode figurar aí também como uma forma de servidão voluntária).
Vale lembrar que a competição e o individualismo funcionam também como estratégias para desmobilizar coletividades. Ou seja, assim como o neoliberalismo atua descoletivizando a sociedade (“não há sociedade, apenas indivíduos”, bradou Margareth Thatcher), o produtivismo acadêmico esvazia igualmente espaços coletivos (órgãos colegiados, assembleias, sindicatos etc.), afinal, é preciso não “perder tempo” em nome da “carreira”, submetida a métricas de produtividade. Como a literatura sobre o tema já mostrou, a mobilização integral para a produção implica, logicamente, a desmobilização política. Mesmo o reconhecimento via desempenho individual tende a inviabilizar projetos coletivos.
Em suma, o modo de subjetivação socialmente dominante realizou a captura de um espaço potencialmente refratário como a Universidade. Uma “sociedade de empreendedores” é, no fim das contas, o objetivo de empresas, governos e instituições de ensino[xi]. O efeito desse modo de subjetivação – ou do que Dardot e Laval chamaram de “ultrassubjetivação”, que é a autossuperação constante, o além de si, o paradigma do atletismo de alta performance difuso no tecido social, “você na sua melhor versão”, dirá o discurso coaching motivacional – só pode ser a produção de uma subjetividade esgotada.
Tal realidade pesa ainda mais sobre os ombros de estudantes de pós-graduação, uma vez que suas condições de precariedade são não apenas subjetivas[xii] (o que já é muito!), mas também objetivas. Além da competição e da pressão para cumprir prazos, participar de congressos, publicar artigos, há, ainda, particularidades como a relação de orientação, a incerteza quanto ao futuro (intensificada com a escassez de concursos públicos e uma política sistemática de desvalorização da ciência e da docência), formas de assédio (moral e sexual), vulnerabilidades socioeconômicas, dificuldades para se obter bolsas e, mesmo quando obtidas, a situação é de precariedade econômica (como se sabe, desde 2013 não há reajuste do valor das bolsas Capes e CNPq; e a política de desvalorização delas é sistemática: se, em 2008, uma bolsa de doutorado equivalia a quatro salários mínimos, hoje ela equivale a apenas dois). É urgente pensar qual projeto de país está em jogo diante de tamanha falta de incentivo a jovens pesquisadoras e pesquisadores.
Considerando o modo de subjetivação atual na academia e tamanhas precariedades objetivas não é de espantar o tsunami de sofrimento psíquico também entre estudantes de pós-graduação. Estudos constatam índices alarmantes de transtornos de ansiedade, ataques de pânico, ideação suicida, insônia, estresse, transtornos depressivos, entre outros[xiii]. Assim como na sociedade em geral, tais transtornos e sofrimentos psíquicos são interpretados, muitas vezes, também na Universidade, como sinal de fracasso, incapacidade, inadaptação. Com efeito, a racionalidade neoliberal se baseia não apenas no princípio da ilimitação das capacidades individuais, mas também no da responsabilidade individual ilimitada, de sorte que o sucesso ou o fracasso depende exclusivamente do “cientista-empreendedor” e da gestão de sua própria saúde.
Não é de hoje que a civilização industrial está em crise. A transposição do modo de produção predatório do industrialismo também para a Universidade transforma desde a maneira de fazer ciência até a forma de se relacionar com os outros e consigo próprio. Estamos diante de um modo de vida cuja mobilização integral para a produção dá indícios de um esgotamento total: climático, ambiental, fisiológico e psíquico.
Tudo se passa como se estivéssemos, também na ciência, alienados na atividade produtiva à maneira industrial. O matemático Alexander Grothendieck já chamava a atenção para esse aspecto nos anos 1970, questionando a continuidade da pesquisa científica nesses termos, isto é, quando destituída de sentido social[xiv].
Com efeito, ainda hoje não podemos deixar de perguntar qual pode ser a relevância e a função social de um “paper” publicado em inglês, nos EUA, que nada se relaciona com questões nacionais e locais, as quais escapam a interesses editoriais internacionais. Ou então, de que vale, para a humanidade, o desenvolvimento científico-tecnológico na agricultura quando as pessoas ainda morrem de fome? Essa é uma contradição intrínseca ao capitalismo, como se sabe desde Marx, e a atividade científico-tecnológica que ocorre na Universidade não pode ignorá-la.
* * *
Sabemos que a ciência, por definição, é uma atividade coletiva, baseia-se no princípio da cooperação e da colaboração, um vetor diametralmente oposto ao da competição individual. Outra sociabilidade, diferente da produtivista, poderia emergir dessa concepção básica de comunidade.
As Universidades e a ciência que nelas se pratica ocupam um lugar privilegiado para fazer a crítica e a autocrítica da forma de subjetivação predominante, perguntando também a que e a quem a ciência deve servir. Não é de hoje que parte das ciências humanas e sociais já faz essa reflexão, pensando em alternativas possíveis. É difícil encontrar uma saída. Como afirmam os autores de A nova razão do mundo, é mais fácil fugir de uma prisão do que sair de uma racionalidade.
Por ora, as estratégias para aguentar o tranco têm sido individuais, nada estrutural: exercícios físicos, meditação, tentativas de desconexão, terapias diversas, para não mencionar a dupla ritalina e rivotril como recurso de compressão e descompressão. De todo modo, assim como a implementação da cultura produtivista se deu mediante a adesão e incorporação das políticas por parte dos atores em sua prática cotidiana, a reação ou recusa só pode ser também coletiva a partir das próprias Universidades e dos próprios atores (pensamos, especificamente, no papel das ciências humanas e sociais nesse sentido).
É verdade que é difícil enfrentar tal questão hoje, em meio ao negacionismo e à guerra cultural nacional e planetária, quando a defesa da Universidade, da ciência, da pesquisa, do conhecimento, da docência é urgente, por mais infantil que pareça. Em todo caso, ainda que a atual luta pela sobrevivência inviabilize a luta pela autonomia intelectual, a questão da subjetivação também na ciência – isto é, o modo de produção de existências de pesquisadores a partir da lógica empresarial – não deve fugir do horizonte mediante a normalização e a simples adaptação. Do contrário, debandadas expressivas podem avizinhar-se como outro perigo.
*Elton Corbanezi é professor de sociologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Autor de Saúde mental, depressão e capitalismo (Unesp).
Texto desenvolvido a partir de apresentação na mesa-redonda “Produtivismo e saúde mental na pós-graduação”, no 7º Fórum do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Unicamp, em 22 de novembro de 2021
Notas
[i] Cf. https://acervo.folha.com.br/leitor.do?numero=10150&keyword=USP&anchor=4285568&origem=busca&originURL=&pd=c600d39a852e71cfdabe19e3a5e13603&_mather=9fcca21e82a82019&_ga=2.250570563.432474975.1637762755-503118117.1636465580.
[ii] Cf. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/5/21/mais!/5.html.
[iii] Cf. SGUISSARDI, Valdemar; SILVA JR., João dos Reis. O trabalho intensificado nas Federais: pós-graduação e produtivismo acadêmico. 2ª Ed. Uberlândia: Navegando Publicações, 2018.
[iv]Cf ARANTES, Paulo. “O capitalismo acadêmico”, disponível em https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5773980/mod_resource/content/1/Fala%20do%20Paulo%20Arantes_Capitalismo%20acad%C3%AAmico%20-%20revis%C3%A3o%20final.pdf.
[v] Cf. SILVA, Franklin Leopoldo. “A experiência universitária entre dois liberalismos”. Tempo Social (USP), v. 11, n. 1, 1999, p. 1-47.
[vi] Cf. EHRENBERG, Alain. La fatigue d’êtresoi: dépression et société. Paris: ÉditionsOdile Jacob, 1998.
[vii]Vale sublinhar que tais condições podem não implicar necessariamente produção científica periférica, mas, antes, um processo de subjetivação que Fabrício Neves designa como “periferização”. Tal processo é o efeito de uma ordem científica autodepreciada em relação aos processos de “centralização” que atribuem legitimidade e validade ao conhecimento científico proveniente de locais centrais na geopolítica da produção do conhecimento. Cf. NEVES, Fabrício. “A periferização da ciência e os elementos do regime deadministração da irrelevância”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 35, n. 104, 2020.
[viii] Cf. DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Trad. Mariana Echalar. São Paulo: Boitempo, 2016.
[ix] Cf. BOURDIEU, Pierre. Homo academicus. Paris: Les Éditions de Minuit, 1984.
[x] Cf. FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
[xi]Cf. LAVAL, Christian.“Precariedade como ‘estilo de vida’ na era neoliberal”. Trad. GiselyHime. Parágrafo, v. 5, n. 1, 2017, p. 101-108.
[xii]Cf.LINHART, Danièlle. “Modernisation et précarisation de la vie au travail”. Papelesdel CEIC, n. 43, CEIC (Centro de Estudios sobre la Identidad Colectiva), Universidaddel País Vasco. Disponível em: http://www.identidadcolectiva.es/pdf/43.pdf.
[xiii]Cf. COSTA, Everton Garcia da; NEBEL, Letícia. “O quanto vale a dor? Estudo sobre saúde mental de estudantes de pós-graduação no Brasil”. Polis, Revista Latinoamericana, n. 50, 2018, p. 207-227. Ver também, por exemplo, as seguintes matérias publicadas na Folha de São Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1930625-suicidio-de-doutorando-da-usp-levanta-questoes-sobre-saude-mental-na-pos.shtml; https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/12/1943862-estudantes-de-mestrado-e-doutorado-relatam-suas-dores-na-pos-graduacao.shtml.
[xiv]Cf.GROTHENDIECK, Alexander.“Allons-nouscontinuerlarecherchescientifique?”, conferência realizada no Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), em 1972. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ZW9JpZXwGXc&ab_channel=norecess. Acesso em 24 nov. 2021. A transcrição da conferência encontra-se em https://sniadecki.wordpress.com/2012/05/20/grothendieck-recherche/..