Uma breve história da peste – IV

Imagem_Oto Vale
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por YURI ULBRICHT*

O significado da peste no século XVII

1.

Já em inícios do século XVII, o bruxelense Joan Baptista van Helmont, tendo praticado em Antuérpia durante a peste de 1605, quando a experiência demonstrou inválidos e débeis e vãos os seletíssimos remédios prescritos pelos livros e compêndios que tinha à mão, concebe, entre seus Opuscula medica, o Túmulo da peste, publicado tardiamente em 1707, Frankfurt, opúsculo em que compreende a natureza, o progresso e as propriedades da peste de modo muito diferente de como então as escolas a entendiam:

“Nos escritos dos antigos, aparece não pouca consolação à alma ávida de saber ou às tormentosas e agrestes aflições. Antes de tudo, é da fé que as estrelas concordam com sinais, tempos, dias & anos, e de modo nenhum pode o homem alienar os ofícios das estrelas, ou desviá-los a outros escopos. Como sejam os céus obras das mãos do senhor, e como deus não criou a morte, por isso, tampouco o céu contenha morte, doença, veneno, discórdias, corrupções ou causa efetiva disso. Já que não se destinam à causa, mas aos sinais dos futuros, e tão somente quanto à mudança dos tempos ou dos meteoros, sucessão dos dias & dos anos; logo, o ofício dos céus não é gerar o mal, causar venenos, espargi-los ou influi-los, semear guerras e suscitar mortes; porquanto não possa o céu exceder os limites de sua destinação, os céus narram a glória de deus, em cuja honra foi criado, & para os usos da ingrata humanidade. E, por isso, antes contém vida, lume, gáudio, paz e sanidade; com movimento ordenado e continuado, nenhuma maldição, desde a transgressão de Adão, se lê ter-se pelo céu comunicado, nem execração infundido, nem de algum modo espalhado desastre. Já a terra produz tríbulos e espinhos. Porquanto seja debaixo da lua o feudo (porquanto de pecadores) da infelicidade e da morte, o império das discórdias e das vicissitudes. A terra se nos tornou madrasta; por isso, vale de misérias, prenhe de desastre & embaraço de pecadores. (…) Creio no verbo de Deus, de nenhum modo, porém, nas vanidades dos áugures do céu; e penso os que escrevem ser a peste oriunda do céu estiveram até agora enganados, topam nos erros dos gentios. Os céus narram a glória de deus, & as obras das mãos do senhor o firmamento as anuncia. Logo, os céus anunciam a doce e a amarga ventura; não, porém, a causam. E decerto não nos é lícito chamar o amargo mau, pois que deus tudo tenha dito a fim bom. Logo, o céu anuncia os futuros; não, porém, os causa; e as estrelas nos são somente sinais dos futuros, e, por isso, haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. As estrelas causam tão somente, para o nativo preguiçoso, as vicissitudes dos tempos no ar, nas águas, na terra. De onde consequentemente dependem as mutações e maturações tanto dos frutos, quanto do corpo humano, que muitíssimo mais se aflige”.[i]

O sol como arqueiro apolíneo a despedir os dardos venenosos da peste infecciosa, como homericamente propõe Paracelso, a van Helmont parece ridícula suposição, pois constitui deus em magistrado injusto, que mata cruelmente bons, não compreendendo a peste os nefastos. A matança dos que sequer cogitam delitos cancela a peste divina, pois as obras de deus vivificam, de modo que a causa da peste transpareça na natureza, isto é, debaixo da lua, ou sobre terra onde se vive. O céu bíblico fundamenta a explicação natural da peste e das revoluções meteóricas; o apego à experiência contemplativa prepondera à consideração especulativa: fundada embora por dogma divino, a conjectura projeta fisicamente as operações pestíferas:

“Afinal, se a peste fosse ela prole da luz celeste, certamente sempre surgiria no instante; uma vez que os aspectos dos astros durem diminutíssimos momentos. Pelo que, nascido alhures o veneno, antes que a peste chegasse a nós, pelo primeiro vento se dispersasse, pela primeira enxurrada da chuva se dissipasse e pelas friagens das noites e das nuvens se amanhasse, ainda antes teria chegado a nós, & puniria urbes que minimamente pecaram. (…) Precipuamente quando ocorre disputa acerca da peste natural, & não da divinal, há que se inquirir dos remédios, causas & obstáculos. Pois, antes de tudo, não raro a peste se inicia a partir de um único indivíduo, decerto menino inocente, e, por isso, pela expiação desse menino, haveriam os céus de ferir a família inteira, o ópido &, por fim, a província, isto é, o inofensivo em vez do facinoroso, à maneira da Seplásia[ii], substituindo um pelo outro. Depois, então, a peste serpeia com seu contágio de um a outro, a um segundo, terceiro e décimo: não será pelo céu propinado veneno, ou pelo céu vulneração infligida mais amplos: é como se se concitasse toda ira ou vingança do céu por culpa do primeiro inocente, em suma, a peste é concebida como terror solitário do apavorado, uma vez que quanto à espécie ela não se difira especialíssima – pois nenhuma outra existe em ato nos indivíduos – do que quer que fosse do céu enviado com veneno dos astros. Logo, nem sequer uma única será natural do céu, se se conceber alhures por uma imagem nua de erro, nem se lhe for indigna do céu a origem, pois, do contrário, não se constitui um único indivíduo de pais em todo predicamento diversos. Ora, se o Altíssimo criou da terra o médico & a medicina; se se forma a peste a partir dos astros; temo que mesmo toda a medicina haja de ser impotente ante tanto veneno. Mas ao menos o Senhor não pôde estar errado, pois que tenha enviado da terra a medicina, & não do céu”.[iii]

A geração celeste da peste não explica o modo natural de sua dissipação, pois não pode ser que províncias vizinhas não se sujeitem semelhantemente ao movimento ordenado dos astros, estando igualmente sujeitas aos mesmos raios incidentes, o que propõe explicação física que cancela a luz celeste como via instantânea de sua proliferação, distinguindo, pelo movimento pestilento experimentado, a peste natural. Eventos naturais, como os ventos, as chuvas, as friagens e a confluência das nuvens, agem dissipando naturalmente peste pelos ópidos; esta capta um que arrasta muitos, e, arrebanhando inocentes, faz-se indigna da prole celestial. O céu observa moral bíblica; moralizado, ele esplandece bondade divina digna do Pai, de modo que a peste divinal, de lá provinda, se manifestasse amara embora justa. Mas a natural, não sendo corretiva, não se justifica, é cálice venenoso que passa de beiço em beiço, vulnerando quem quer que da propina prove, é padecimento estranho cuja só imagem já assombra, mesmo que a doença no doente não exista. Afetado, porém, o indivíduo, tratam da pestilência natural a medicina e o médico terrenos, que contra a divinal não podem, pois não lhes cumpre a correção senão do que é da terra, não lhes concernindo a cura de vícios e pecados mais elevados. Como a medicina torne à terra as causas, os remédios e os óbices à peste natural, o natural se faz terreno, a peste praga, sob divino céu, porém.

2.

Já desde o século XVI, mas sobremaneira no XVII, à proporção em que a peste progredia, dilatando-se por desvairadas regiões, proliferavam os textos que a diziam e as línguas em que aparecia, de modo que o avanço da coisa lhe modelasse o léxico. Tendo ela tocado Londres no ano de 1665, Daniel Defoe escreve, como cidadão londrino que lá permaneceu e a viu, A journal of the plague year, relato que supre os jornais impressos, que então não se tinha, e que fosse oportuno aos que depois dele viessem[iv]. Por ouvir dizer, sabia-se do retorno da peste à Holanda no começo de setembro de 1664, não se sabendo ao certo de onde a trouxeram e onde parava, mas que provavelmente acompanhara as esquadras navais. Sua vinda silenciosa vinha acompanhada do silêncio em torno de sua chegada, pois os rumores sobre tais coisas eram colhidos apenas nas cartas dos mercadores e nas correspondências estrangeiras, e da boca de alguns lhes voava a fama, não se divulgavam instantaneamente, e logo dos rumores se esquecia: o governo, embora sabendo-o, mantinha-a em privado[v]. A circulação assim da peste como da notícia dela se mantinha restrita às vias historicamente estruturadas para a comunicação: a nave, a carta, a voz.

A peste e a fama assemelham-se nos males que a cada passo cobra novas forças. Como o evento pestífero se não evidencie por si, mas na existência dos doentes, que se acumulam, o que acerca deles se diz modela o modo como a vinda dela se concebe. O dito do que se passa aparece como contraparte evidente da subsistência latente da peste, cuja grande fama, que assim como a peste só vive na mobilidade, vai pela cidade, provocando incessantemente a proficiência dos ditos pestíferos, que, sendo incorporais, envolvem mais.

Inicialmente estrangeira, a primeira aparição, dizia-se, deu-se no extremo norte da rua Drury Lane no começo de dezembro daquele mesmo ano, entrou pela hospitalidade de uma família londrina, levando dois homens franceses que lá viviam, o que indicava de onde provinha[vi]. Segue-se a tentativa familiar de abafar o evento, mas pelas frestas da casa a nova escapa à vizinhança. O rumor corre aos secretários do Estado, que então age enviando comitiva médica para inspeção local. Os sinais nos corpos a evidenciam. Procede-se parecer público da causa mortis, que assim se imprime no obituário semanal[vii]:

“Peste, 2. Paróquias infectadas, 1”.

Alarma-se a cidade. A peste se faz familiar, quando na última semana de dezembro mata na mesmíssima casa o primeiro londrino. Seis semanas sem marcas da infecção. Em fevereiro morre um, em casa próxima, na mesma paróquia: os mesmos sinais. Suspeita-se de que a peste já está entre o povo, no extremo da cidade, por onde entra. Tenta-se-lhe conter a fama veloz, que, avançando, cresce, possuindo as cabeças do povo. Evita-se a rua Drury Lane, mas negócios extraordinários obrigam alguns a ir lá. Cresce consideravelmente o número ordinário de enterros em St. Giles, distrito paroquial, parish, onde a peste começou, e nas adjacências[viii]. Esboça-se o percurso da peste londrina desde as primeiras mortes francesas. Antes, porém, não se sabe se do Chipre, Cândia[ix], Itália, ou do Levante, se entre outros bens fora por esquadra turca trazida; a distribuição costeira e insular e a via naval geram o evento mercantil da peste, que antecede sua circulação urbana. Desembarca nas cidades portuárias de Roterdã e Amsterdã em 1663, no ano anterior viera à luz o novo mapa mundi Nova orbis tabula, do cartógrafo holandês Frederick de Wit, demonstração do século de ouro dos Países Baixos pelo intenso tráfego marítimo que os ligava às Índias Orientais Neerlandesas. Por terra ou por mar, ruma à França, onde embarca para a Grã-Bretanha, por lá chegando em finais de 64, mais de um ano depois da aparição holandesa. A peregrinação pestífera singra os mares, toca as orlas, espraiando-se pedestre pelo interior, adentra as cidades pelos arrabaldes, parando semanas em uma só casa, meses sem ir além da rua por onde entrou.

A expansão progride por curso incerto, por onde acha passagem; oscilante, alternam-se-lhe os períodos e os locais de contenção e distensão. Evento reincidente, a peste vem e vai, e volta: aparece, parece desaparecer, reaparece. Rumores anunciam-lhe o retorno, variam segundo os locais em que os apareceres dela são mais iminentes. Como circule no conjunto do corpo social, seus aparecimentos se geram a partir da vária circunstância material em que se manifestam, sendo muitas as fantasias da peste que a um só tempo a muitos toma.

Se a peste homérica envolve poeticamente a honra e os comandantes de povos, pois a desonra cometida por quem comanda perde o exército inteiro; se latinamente a peste médica infecta a família, em seguida o ópido, a província, atravessando regiões; a peste londrina, reportada por cidadão dividido entre prosseguir com seu negócio, uma selaria, a sadler, ou preservar a própria vida, perfaz rota comercial, envolvendo a circum-navegação, inicia-se na casa em que há presença estrangeira, inicia-a o hóspede, alastra-se pelas paróquias, pelas vizinhanças, não toma instantaneamente a cidade toda, nem a um só tempo as 97 paróquias, mantém-se principalmente nas paróquias externas, mais populosas e abundantes em pobres, os mais expostos[x]. O encontro com o estranho gerador da estranha doença, o qual, entre os gregos, ocorre no combate corporal e na carnificina da guerra, de penetração adstrita ao ritmo das marchas e das trirremes, já na Londres do XVII decorre do negócio comercial e da distribuição naval das mercâncias, que mais ligeiro envolvem a população, pois demandam os mercados as cidades.

Acrescentavam-se às mortes da peste as da febre maculosa, spotted-fever, que pareciam ser o mesmo destempero, distemper, das primeiras, sendo, porém o número das segundas ainda mais alarmante[xi]. A apreensão do povo voltava-se especialmente à mudança do clima, que então esquentava com a vinda do verão, pois o povo depositava alguma esperança no temperado, variável e fresco[xii]. Atrela-se a peste ao clima, wheather: peste climática.

O destempero se expande, spread, de paróquia em paróquia, St. Andrew’s, St. Clement Danes, mas, quando morre o primeiro dentro dos muros, within the walls, próximo à bolsa, Stocks Market, em St. Mary Woolchruch, aflige-se a cidade inteira[xiii]. A urbanização, tendo o mercado como foco de disseminação, pois todos aí confluem, surge como a marca da peste mercantil.

A infecção se expande inicialmente trôpega, de modo que não raro pareça, extenuada, regredir em seu progresso, enganando e iludindo, e aparecendo rapidamente bastante expandida com fôlego em muitas partes. A controvérsia quanto à contagem dos mortos contribui para a ilusão, revelando velhacaria e conluio, knavery and collusion, dos que governam as contas ou relatórios públicos semanais, weekly bill, encobrindo com outros destemperos as mortes pestilentas:

O relatório seguinte foi o de 23 a 30 de maio, quando o número das por peste foi dezessete. Mas foram cinquenta e três os sepultamentos em St. Gile’s – um número assustador! – dos quais não se contabilizou senão nove por peste; mas, a partir de um exame mais rigoroso dos juízes de paz, e por requisição do Lord Mayor, achou-se serem vinte a mais os que realmente morreram de peste naquela paróquia, mas haviam sido contabilizados no das por febre maculosa ou outros destemperos, além de outras acobertadas.

Mas estas eram coisas triviais perto do que se seguiu imediatamente depois; pois começa o clima quente e desde a primeira semana de junho a infecção se expande de modo terrível, e as contas aumentam muitíssimo; as cláusulas de febre, febre maculosa e dentes começaram a crescer; pois todos os que podiam encobrir seus destemperos o faziam, para se prevenir de que seus vizinhos os evitassem e se recusassem a conversar com eles, como ainda para se prevenir de que a autoridade os trancafiasse em suas casas, o que, embora ainda não praticado, já se ameaçara, e as pessoas ficaram extremamente terrificadas só de pensar nisso[xiv].

As contas públicas e os infectados acobertam a peste, ambos, procurando deter a infâmia que a acompanha, cuidando do seu, descuram do comum: contribuem à infecção. Contrastam a consternação do lado da cidade já tomado com o em que o destempero ainda não alcança, onde a vizinhança se não preocupa. Os mais ricos debandam com suas famílias, com ou sem suas fazendas, com seus servos, precavendo-se da miséria que se aproxima e da triste condição dos que ficam. O Lord Mayor emite certificados de saúde, certificates of health, aos que vivem nas paróquias, autorizando-lhes viajar[xv]. Todos partem. Os cavalos desaparecem, viaja-se a pé. Os rumores afligem e apressam as decisões, fundadas na imaginação. Cada um tenta preservar-se do cerco do perigo e da morte. Na Londres do XVII, vejam vocês, recorre-se à bíblia ao decidir: salmo 91, segundo os protestantes, seguindo a numeração dos livros e a autoridade hebraica, aqui proposto segundo o psalterium iuxta hebraeos, de Jerônimo:

Quihabitat in abscondito Excelsi
in umbraculo Domini commorabitur
dicens Domino spes mea et fortitudo mea
Deus meus confidam in eum

quia ipse liberabit te de laqueo venantium
de morte insidiarum
in scapulis suis obumbrabit tibi
et sub alis eius sperabis
scutum et protectio veritas eius
non timebis a timore nocturno
a sagitta volante per diem
a peste in tenebris ambulante
a morsu insanientis meridie
cadent a latere tuo mille et decem
milia a dextris tuis
ad te autem non adpropinquabit
verumtamen oculis tuis videbis
et ultionem impiorum cernes
tu enim es Domine spes mea

Excelsum posuisti habitaculum
tuum
non accedet ad te malum
et lepra non adpropinquabit
tebernaculo tuo
quia angelis suis mandabit de te ut
custodiant te in omnibus viis tuis
in manibus portabunt te ne forte
offendat ad lapidem pes tuus
super aspidem et basiliscum calcabis
conculcabis leonem et draconem

quoniam mihi adhesit et liberabo
eum
exaltabo eum quoniam cognovit
nomen meum
invocabit me et exaudiam eum
cum ipso ero in tribulatione eruam
eum et glorificabo
longitudine dierum implebo illum
et ostendam ei salutare meum.

Biblia sacra iuxta vulgatam versionem – tomus I, Genesis – Psalmi. Recensuit Robertus Weber Osb.[xvi]

Quem habita no esconderijo do Excelso,
na umbrela do Senhor demorará,
dizendo ao Senhor: minha esperança e minha fortaleza,
o meu Deus, nele confiarei.

Porque ele há de liberar-te do laço dos caçadores,
da morte das insídias;
na sombra de suas escápulas abrigar-te-á,
e sob as asas dele esperarás:
escudo e proteção, a verdade dele.
Não temerás o temor noturno,
a seta volante de dia,
a peste ambulante nas trevas,
a mordida meridiana do insano;
cairão ao teu lado mil, e dez
mil à destra tua,
de ti, porém, não se aproximará,
entretanto com teus olhos verás
o castigo dos ímpios, e discernirás;
pois tu és, Senhor, a esperança minha.

Puseste o Excelso por tua morada,
não acontecerá mal a ti,
e a lepra não se aproximará
da tua tenda,
porque, quanto a ti, aos anjos dele mandará que
te custodiem em todas as tuas vias,
nas mãos portar-te-ão, para que porventura
não tropece na pedra o teu pé,
sobre áspide e basilisco pisarás,
pisotearás leão e serpente.

Porquanto aderiu a mim, liberá-
lo-ei;
hei de exaltá-lo, porquanto conheceu
meu nome;
invocar-me-á, e hei de atendê-lo,
com ele estarei na tribulação, tirá-
lo-ei e o glorificarei,
e com a longevidade dos dias hei de fartá-lo
e ostenderei, a esse, a minha salvação.   

 

 

A excelsa morada subsiste na confiança, na esperança, na adesão, na invocação ao Senhor, de modo que ela seja sem todavia existir, pois circunstância dos subsistentes em torno ao fiel, de modo que o acompanhem onde quer que o corpo vá. Em contraste, o local onde se recolhe o corpo, a sombra sob a qual descansa e mora, fortalecem-no antes o incorporal de que se cerca do que o circuito dos muros do edifício, envolvendo antes os corpos e os eventos que aí habitam do que os tijolos e os ferrolhos que o fortificam. Incorporal, a habitação subsiste no local de proteção contra as tribulações da vida, insistência e confluência dos eventos de que se vive, os quais, alterados os movimentos dos corpos cotidianos, se alteram, concentrando-se no local mesmo onde se vê protegida a vida.

Articulam-se no salmo três modos distintos por que os ímpios temem, segundo os turnos: a seta volante à luz do dia, o insano e seus golpes ao cair da tarde, a peste invisível ambulante à noite. Quanto a este temor noturno, a transmissão autorizada do verbo divino o torna três, pois identifica peste, negócio e ação. No transladar em latim o texto hebreu, vale-se Jerônimo do nome pestis, recorrendo, todavia, a negotium, quando segue a lição grega da Septuaguinta, em que se lê pragma, de modo que, excetuada a referência hebraica, se ache a seguinte variação do referido passo:

iuxta hebr:

non timebis a timore nocturno
a sagitta volante per diem
a peste in tenebris ambulante

iuxta LXX:

non timebis a timore nocturno
a sagitta volante in die
a negotio perambulante in tenebris

e∆bdomh√konta

ouj fobhqh√sh≥ ajpo; fo√bou nukterinou:,
ajpo; be√louß petome√nou hÔme√raß,
ajpo; pra√gmatoß diaporeuome√nou e∆n sko√tei

consoante o hebreu:

não temerás o temor noturno
a seta que voa pelo dia
a peste que nas trevas anda

consoante a Septuaguinta:

não temerás o temor noturno
a seta que voa no dia
o negócio perambulante nas trevas

Septuaginta

não se amedrontará pelo medo noturno,
pelas seta que voa durante o dia,
pela ação que transita na treva

A correlação dos três termos, peste, negócio, ação, mostra não ser intercâmbio fortuito a variação lexical ocorrida na transmissão do texto sagrado, antes propõe modos distintos de consideração do mesmo, de modo que pelo verbo de deus se revele a trindade da peste. Unidade trina em que a apreensão de um compreende os mais, articulando-os: a ação do negócio, indissociável do temor e da treva, insiste obscura nas práticas que presidem empreendimentos furtivos e nocivos, sendo igualmente obscuras as ações da peste, subsistentes no negócio da ação, o que implica a prática do negócio no negócio da peste, que transita pelas ações pestilentas dos negócios que não se podem perder.

A céu bíblico que o Excelso Senhor habita confunde a proveniência da peste com o abrigo contra ela, a sombra espantosa, com a sob a qual se está resguardado, pois no mesmíssimo céu se acha tanto a salvação, quanto o castigo divinos; naquela, fartura e elevação; neste, carência e queda. O medo do castigo e da justificação divinamente concebidos pela aparição da peste toma o povo aos poucos, começa jovem, crescendo com os sucessos da doença, até que todo o corpo do povo se mova como um só homem inteiramente tomado de medo[xvii]. Muda a face da cidade, a face das coisas como um todo se altera muitíssimo, pesar e tristeza estampadas em tudo e em todos e, ainda que nem todos tenham sido abatidos pela doença, todos parecem ver extremo perigo em si mesmos e nos seus[xviii]. Recuperam-se acidentes anteriores que expliquem os eventos presentes, ou retrospectivamente se os toma para achar a razão do que se passou:

Em primeiro lugar, uma estrela fulgente ou cometa apareceu alguns meses antes da peste, assim como ocorreu dois anos depois, pouco antes do fogo. As mulheres velhas e a parte fleumática hipocondríaca do outro sexo, a que eu quase poderia também chamar mulheres velhas, repararam (especialmente mais tarde, mesmo que não antes de que se encerrassem esses dois justiçamentos) que esses dois cometas passaram diretamente sobre a cidade, e tão perto das casas que era óbvio que eles traziam algo peculiar a esta cidade apenas; que o cometa anterior à pestilência era de cor pálida, fátua, lânguida, e seu movimento muito pesado, solene e lento; mas que o cometa anterior ao fogo era brilhante e cintilante, ou, como outros disseram, flamejante, e seu movimento veloz e furioso; e que, consequentemente, um prenunciava um justiçamento pesado, lento, mas severo, terrível e assustador, tal como a peste; já o outro prenunciava um golpe, súbito, veloz e ardente, tal como o incêndio. Ademais, algumas pessoas eram tão minuciosas que, tendo olhado para aquele cometa que precedeu o fogo, elas fantasiavam que elas não apenas o viram passar veloz e ardentemente e puderam perceber o movimento com seus olhos, mas que elas até o ouviram, que ele fez um barulho impetuoso, imenso, feroz e terrível, ainda que distante e apenas perceptível.

Eu vi essas duas estrelas e, devo confessar, fiquei com tanta impressão comum acerca de tais coisas em minha cabeça, que eu estava prestes a olhar para elas como precursores e avisos dos justiçamentos de Deus; e, especialmente, quando, depois de ter a peste se seguido à primeira, eu vi ainda outra, de igual gênero, eu não pude senão dizer que Deus ainda não havia castigado suficientemente a cidade.

Mas ao mesmo tempo não pude levar essas coisas tão longe quanto outros o fizeram, sabendo, também, que causas naturais são assinaladas pelos astrônomos para tais coisas, e que seus movimentos e até mesmo suas revoluções eram calculados, ou pretendia-se fossem calculados, de modo que elas não poderiam ser tão perfeitamente chamadas de precursores ou prenunciadores, muito menos de provocadores, de tais eventos como peste, guerra, fogo, e que tais[xix].

O aparecimento de astros extraordinários alerta os que neles reparam da iminência de eventos extraordinários, tais como a peste e o fogo, mas esses corpos celestes não respondem pelos eventos mesmos, efeitos da justa providência divina, segundo a noção comum. O cometa que antecede a peste não a causa, mas a anuncia, de modo que no céu comumente se percebam sinais do porvir, o que é próprio da adivinhação. Implica-se o celeste no terreno. O céu ordinário indica o sustento das coisas cotidianas; quando, porém, se lhe quebra o ordenamento por evento extraordinário, sabe-se, no futuro próximo, alterar-se-lhes-á a disposição. A passagem significante do cometa significa aos que o captam o sentido do que sobrevém, reportando-lhes as semelhanças: a peste é de cor pálida, fátua, lânguida, pois esse o semblante dos corpos e das cidades que ela adoece e assombra; seu movimento é pesado, porque se movendo ela se adensa; solene, porque sempre chega o ano em que ela só é por todos celebrada; lento, porque, tendo-lhe chegado o tempo, este dura. O evento pestilento e o sinal que o antecipa se assemelham aliás à justiça severa, terrível e assustadora que distingue tanto castigo de Deus. Contrapõe-se, porém, a essas semelhanças imaginadas o cálculo astronômico verificado pela observação, que demonstra regularidades celestes no evento extraordinário, assinalando causas naturais em vez das sobrenaturais ou divinas; naturaliza-se enfim o céu, desatam-se os laços que atavam a revolução dos astros aos sucessos da terra; não se justifica o evento, mas não se tramam significações e provocações que invoquem como justificação o templo do firmamento.

*Yuri Ulbricht é mestre em filosofia pela USP.

Para ler a primeira parte acesse https://aterraeredonda.com.br/uma-breve-historia-da-peste-i/

Para ler a segunda parte acesse https://aterraeredonda.com.br/uma-breve-historia-da-peste-ii/

Para ler a terceira parte acesse https://aterraeredonda.com.br/uma-breve-historia-da-peste-iii/

Notas:


[i] Joannis Baptistae van Helmont, Opuscula medica inaudita. Tumulus pestis. A labe nostra immune, ut & innocuum cœlum.
Ab Antiquorum scriptis, ne minima animæ, sciendi avidæ, consolatio, aut ærumnosis, desertisque apparuit ægris. In primis fidei est, Stellas, esse in signa, tempora, dies & annos, nec hominem posse ullatenus officia stellarum alienare, aut ad alios scopos declinare. Quòd opera manuum Domini, sint coœli; Quòd Deus non creavit mortem. Ideoque nec coelum contineat mortem, morbum, venenum, discordias, corruptiones, aut causam effectivam horum. Siquidem non ad causam; sed ad signa futurorum: ac duntaxat in temporum, sive meteororum mutationem, dierum & annorum successionem destinantur. Officium ergo cœlorum, non est malum generare, causare venena, spargere, aut influere, bella serere, ac mortes suscitare. Quia cœlum nequit excedere limites suæ destinationis, cœli enarrant gloriam DEI, in cujus honorem, & humanitatis ingratae usus, creatum est. Ideoque in se potius continet vitam, lumen, gaudium, pacem, sanitatemque, cum ordinato continuatoque motu, Cœlo nulla, à transgressu Adami, legitur communicata maledictio, nec infusa exsecratio, ut nec labes inspersa. Terra quidem profert tribulos, & spinas. Quia subter Lunam, est cacodæmonis, mortisque (quia peccatorum) feudum, imperium discordiarum, atque vicissitudinum. Terra nobis evasit noverca; vallis ideò miseriarum, peccatorum labe & sarcinâ prægnans. (…) Credo verbo Dei, nequaquam autem vanitatibus Augurum cœli: reorque, qui Pestem à cœlo oriundam scribunt, adhuc deceptos, gentilium erroribus cespitare. Cœli enarrant gloriam Dei, & opera manuum Domini, annunciat firmamentum. Coeli ergò annunciant dulce, ac amarum venturum; non autem causant illud. Imò nec amara nobis licet vocare mala: nam Deus omnia ad bonum finem dixerit. Ergo cœlum futura annunciat; non autem causat: & stelæ sunt nobis ad signa futurorum duntaxat, eruntque ideo signa in Sole, Luna ac stellis. Causant etiam duntaxat stellae, per nativum Blas, vicissitudines temporum, in aëre, aquis, terrâ. Unde consequenter pendent mutationes, ac maturationes, tam in fructibus, quam in corpore humano, potissimum aegrotante.

[ii] Praça de Cápua, em que se vendiam perfumes, drogas, especiarias.
Demum, si Pestis, cœlestis lucis proles ea certe in instanti semper exsurgeret: cum astrorum aspectus sint per minuta momentanei. Quare Pestis, antequam veneno aliunde nato ad nos deveniret, primo vento dispergeretur, primà pluviae irroratione ablueretur, noctisque ac nubium frigoribus pacaretur, priusquam ad nos devenerit: & punirent urbes, quae minimè peccâssent. (…) Præcipuè ubi de Peste naturali, & non Deali disputatio occurrit, deque remediis, causis & obstaculis est inquirendum. Nam inprimis, non rarò, Pestis unico ab individuo incipit, puero nempe insonte, adeoque cœli, piaculo hujus pueri, integram familiam, oppidum, & provinciam tandem, innocuum nempe pro facinoroso, feriissent, per modum Seplasiæ, quid pro quo substituentis. Denique dum Pestis serpit suo contagio ab uno in alium, saltem in secundo, tertio ac decimo, non erit amplius venenum à cœlo propinatum, aut vulnus à cœlo inflictum: quasi tota ira, aut vindicta cœli, concitaretur culpa primi insontis, denique Pestis, solo terrore pavidi concepta, cum in specie specialissima (etenim nulla alia exsistit actu in individuis) non differat à qualibet alia, quae è cœlo mitteretur veneno astrorum. Ergo neque ulla prorsus erit naturalis à cœlo, si aliunde nuda erroris imagine concipiatur, nec cœli sit indigna sui origo. Nam alioquin unum individuum non constituitur à parentibus, toto prædicamento diversis. Etenim si Medicum, & medicinam de terra creaverit Altissimus; & Pestis ab astris formetur: vereor saltem, ne tanto veneno impar omnis sit futura medicina. At saltem Dominus non potuit errasse, quod medicinam terra, & non de cœlo miserit

[iii] Joannis Baptistae van Helmont, Opuscula medica inaudita. Tumulus pestis. A labe nostra immune, ut & innocuum cœlum.

[iv] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 9.

[v] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 1.

[vi] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 2.

[vii] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 2.

[viii] Defoe, D. A journal of the plague year. pp. 2-4.

[ix] Ducado de Cândia, nome da ilha de Creta durante o período em que foi colônia ultramarina da República de Veneza.

[x] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 16.

[xi] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 5.

[xii] Defoe, D. A journal of the plague year, p. 5.

[xiii] Deofe, D. A journal of the plague year. p. 5.

[xiv] Defoe, D. A journal of the plague year. pp. 6-7: “The next bill was from the 23rd of May to the 30th, when the number of the plague was seventeen. But the burials in St. Gile’s were fifty-three – a frightful number! – of whom they set down but nine of the plague; but on an examination more strictly by the justices of the peace, and at the Lord Mayor’s request, it was found there were twenty more who were really dead of the plague in that parish, but had been set down of the spotted-fever or other distempers, besides others concealed.

But those were trifling things to what followed immediately after; for now the weather set in hot, and from the first week in June the infection spread in a dreadful manner, and the bills rose high; the articles of the fever, spotted-fever, and teeth began to swell; for all that could conceal their distempers did it, to prevent their neighbours shunning and refusing to converse with them, and also to prevent authority shutting up their houses, which though it was not yet practised, yet was threatened, and people were, extremely terrified at the thoughts of it”. 

[xv] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 8.

[xvi] Biblia sacra iuxta vulgatam versionem – tomus I, Genesis – Psalmi. Recensuit Robertus Weber Osb.

[xvii] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 22.

[xviii] Defoe, D. A journal of the plague year. p. 18.

[xix] Defoe, D. A journal of the plague year. pp. 22-23: “in the first place, a blazing star or comet appeared for several months before the plague, as there did the year after another, a little before the fire. The old women and the phlegmatic hypochondriac part of the other sex, whom I could almost call old women too, remarked (especially afterward, though not till both those judgments were over) that those two comets passed directly over the city, and that so very near the houses that it was plain they imported something peculiar to the city alone; that the comet before the pestilence was of a faint, dull, languid colour, and its motion very heavy, solemn, and slow; but that the comet before the fire was bright and sparkling, or, as others said, flaming, and its motion swift and furious; and that accordingly one foretold a heavy judgment, slow but severe, terrible and frightful, as was the plague; but the other foretold a stroke, sudden, swift, and fiery as the conflagration. Nay, so particular some people were, that as they looked upon that comet preceding the fire, they fancied that they not only saw it pass swiftly and fiercely, and could perceive the motion with their eye, but even they heard it; that it made a rushing, mighty noise, fierce and terrible, though at a distance, and but just perceivable.

I saw both these stars, and, I must confess, had so much of the common notion of such things in my head, that I was apt to look upon them as the forerunners and warnings of God’s judgments; and especially when, after the plague had followed the first, I yet saw another of the like kind, I could not but say God had not yet sufficiently scourged the city.

But I could not at the same time carry these things to the height that others did, knowing, too, that natural causes are assigned by the astronomers for such things, and that their motions and even their revolutions are calculated, or pretended to be calculated, so that they cannot be so perfectly called the forerunners or foretellers, much less the procurers, of such events as pestilence, war, fire, and the like”.

Outros artigos de

AUTORES

TEMAS

MAIS AUTORES

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Anderson Alves Esteves Ladislau Dowbor Paulo Martins Paulo Sérgio Pinheiro Luis Felipe Miguel Slavoj Žižek Ronald Rocha Samuel Kilsztajn Dênis de Moraes Daniel Afonso da Silva Francisco Fernandes Ladeira Luís Fernando Vitagliano Juarez Guimarães Paulo Capel Narvai Marilia Pacheco Fiorillo Ricardo Antunes Marcus Ianoni Marcelo Módolo Luiz Werneck Vianna Kátia Gerab Baggio Tales Ab'Sáber Luiz Eduardo Soares Jorge Branco Francisco de Oliveira Barros Júnior Matheus Silveira de Souza Claudio Katz Bruno Fabricio Alcebino da Silva Daniel Brazil Everaldo de Oliveira Andrade Vanderlei Tenório Vladimir Safatle Antônio Sales Rios Neto Gilberto Maringoni Roberto Bueno Benicio Viero Schmidt Thomas Piketty José Micaelson Lacerda Morais Renato Dagnino Boaventura de Sousa Santos Remy José Fontana Lorenzo Vitral Bento Prado Jr. Yuri Martins-Fontes Alexandre de Lima Castro Tranjan Rodrigo de Faria Marcos Aurélio da Silva Julian Rodrigues Celso Favaretto Otaviano Helene Osvaldo Coggiola Jorge Luiz Souto Maior Henry Burnett Rafael R. Ioris Vinício Carrilho Martinez Fernando Nogueira da Costa Ari Marcelo Solon Milton Pinheiro Berenice Bento Leonardo Avritzer Priscila Figueiredo Eugênio Trivinho Daniel Costa Marilena Chauí Chico Whitaker Ronaldo Tadeu de Souza Atilio A. Boron Eliziário Andrade Igor Felippe Santos Alexandre Aragão de Albuquerque Dennis Oliveira Luiz Renato Martins Gerson Almeida Paulo Fernandes Silveira Chico Alencar Eugênio Bucci Annateresa Fabris Celso Frederico Érico Andrade André Márcio Neves Soares Tadeu Valadares Maria Rita Kehl Antonio Martins José Dirceu Fernão Pessoa Ramos Andrew Korybko Alexandre de Freitas Barbosa Anselm Jappe Eleonora Albano Flávio Aguiar Valerio Arcary Rubens Pinto Lyra Ricardo Musse Michael Löwy Luiz Carlos Bresser-Pereira Salem Nasser Manchetômetro Henri Acselrad Luiz Bernardo Pericás Ronald León Núñez João Feres Júnior João Adolfo Hansen Sergio Amadeu da Silveira Alysson Leandro Mascaro Mário Maestri Michael Roberts Bernardo Ricupero Fábio Konder Comparato Eleutério F. S. Prado Airton Paschoa Leda Maria Paulani Valerio Arcary Carla Teixeira Luiz Roberto Alves Marcelo Guimarães Lima João Carlos Loebens Armando Boito José Geraldo Couto José Costa Júnior Gilberto Lopes Carlos Tautz João Sette Whitaker Ferreira Paulo Nogueira Batista Jr Bruno Machado Jean Pierre Chauvin Marcos Silva Marjorie C. Marona Lucas Fiaschetti Estevez Elias Jabbour José Luís Fiori Roberto Noritomi Ricardo Fabbrini Luciano Nascimento André Singer Francisco Pereira de Farias João Paulo Ayub Fonseca Lincoln Secco Leonardo Boff Mariarosaria Fabris Gabriel Cohn Walnice Nogueira Galvão Heraldo Campos João Lanari Bo Caio Bugiato Afrânio Catani Leonardo Sacramento Luiz Marques Ricardo Abramovay Jean Marc Von Der Weid Manuel Domingos Neto José Machado Moita Neto Eduardo Borges Tarso Genro Plínio de Arruda Sampaio Jr. Antonino Infranca Liszt Vieira Sandra Bitencourt Flávio R. Kothe João Carlos Salles Denilson Cordeiro José Raimundo Trindade

NOVAS PUBLICAÇÕES

Pesquisa detalhada