Valerio Arcary

Barbara Hepworth, Vermelho em Tensão, 1941
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram
image_pdfimage_print

Por JULIAN RODRIGUES*

Homenagem ao intelectual e ativista na data de seu aniversário

“Não sou nada. \ Nunca serei nada. \ Não posso querer ser nada. \ À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo” (Fernando Pessoa)

Uberabense, filiei-me ao PT com 16 anos, na campanha Lula-89. Havia lá três tendências organizadas: Articulação, Democracia Socialista e O Trabalho. Ao começar a militar em nível estadual conheci a Convergência Socialista. Talvez a mais estigmatizada tendência no senso comum petista (ah, tinha os excêntricos da Causa Operária que logo foram expulsos).

Apesar desde sempre alinhar-me com a velha e boa Articulação, sempre mantive boas relações políticas e intelectuais com os mandelistas da Democracia Socialista e com os lambertistas de O Trabalho. E depois também com a Convergência Socialista.

No final dos anos 1990 fui um dos dirigentes a operar uma aproximação, no movimento estudantil universitário, da tendência petista Articulação de Esquerda (corrente na qual militava) com o PSTU. Um período rico onde conheci grandes quadros e fiz muitos amigos.

Intelectualmente curioso, lia o jornal da O Trabalho, adorava o maravilhoso Em tempo da Democracia Socialista e também as publicações da Convergência Socialista/PSTU.

Foi significativa no final dos anos 1990 a aproximação tática e política da Articulação de Esquerda no movimento estudantil universitário, que ajudei a operar. Foi na época que o meu amigo-irmão Linbergh Farias largou o PCdoB e aderiu ao PSTU.

Conto isso tudo para dizer que, embora sempre tenha combatido as posições morenistas, cultivei e cultivo boas relações políticas – e um profundo respeito pelos camaradas dessas organizações (CST também).

Obviamente sempre combati a lenda urbana de que a Convergência Socialista foi expulsa do PT. Não foram.

Eu gosto de usar um exemplo de relação trabalhista: quando um funcionário faz tudo para ser demitido e o patrão também não o quer mais. Para criar o PSTU era imprescindível o mito fundador dos perseguidos, expulsos, dos puros que se rebelaram contra a burocracia traidora do PT. Faz parte do DNA dessa corrente política desde sempre.

Ocorre que posição firme não é sinônimo de cara feia, sectarismo, mau humor, arrogância. É aí que entra o personagem desse artigo, Valerio Arcary. Desde sempre ouvido e querido, por todos. Justamente por fugir do estereótipo de trosco chato. Elegância, gentileza, humor, fina ironia.

Valerio cultiva certa eloquência própria de um encantador de serpentes, singular prosódia que soa lusitana, retidão argumentativa impecável, denso conteúdo político, paixão e combatividade. Quando fala, todos param para ouvir.

Ademais, respeita como poucos a última flor do Lácio, inculta e bela – crescentemente vilipendiada.

Paro por aqui, porque panegíricos de amigos deve ter sua credibilidade questionada, a priori. Mas é preciso celebrar os nossos, todavia. E todos os dias.

*Julian Rodrigues, Jornalista e professor, é militante do PT e ativista do movimento LGBTI e de Direitos Humanos.


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja todos artigos de

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

O anti-humanismo contemporâneo
Por MARCEL ALENTEJO DA BOA MORTE & LÁZARO VASCONCELOS OLIVEIRA: A escravidão moderna é basilar para a formação da identidade do sujeito na alteridade do escravizado
Desnacionalização do ensino superior privado
Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA: Quando a educação deixa de ser um direito para se tornar commodity financeira, 80% dos universitários brasileiros ficam reféns de decisões tomadas em Wall Street, não em salas de aula
Discurso filosófico da acumulação primitiva
Por NATÁLIA T. RODRIGUES: Comentário sobre o livro de Pedro Rocha de Oliveira
Cientistas que escreveram ficção
Por URARIANO MOTA: Cientistas-escritores esquecidos (Freud, Galileu, Primo Levi) e escritores-cientistas (Proust, Tolstói), num manifesto contra a separação artificial entre razão e sensibilidade
O sentido na história
Por KARL LÖWITH: Prefácio e trecho da Introdução do livro recém-editado
Carta aberta aos judeus e judias no Brasil
Por PETER PÁL PELBART: “Não em nosso nome”. O chamado urgente aos judeus e judias brasileiras contra o genocídio em Gaza
Guerra nuclear?
Por RUBEN BAUER NAVEIRA: Putin declarou os EUA "patrocinadores de terrorismo", e agora duas superpotências nucleares dançam na beira do abismo enquanto Trump ainda se vê como pacificador
Oposição frontal ao governo Lula é ultra-esquerdismo
Por VALERIO ARCARY: A oposição frontal ao governo Lula, neste momento, não é vanguarda — é miopia. Enquanto o PSol oscila abaixo dos 5% e o bolsonarismo mantém 30% do país, a esquerda anticapitalista não pode se dar ao luxo de ser 'a mais radical da sala'
Gaza - o intolerável
Por GEORGES DIDI-HUBERMAN: Quando Didi-Huberman afirma que a situação de Gaza constitui "o insulto supremo que o atual governo do Estado judaico inflige àquilo que deveria continuar sendo seu próprio fundamento", expõe a contradição central do sionismo contemporâneo
Poemas experimentais
Por MÁRCIO ALESSANDRO DE OLIVEIRA: Prefácio do autor
Escrevendo com a inteligência mundial
Por TALES AB’SÁBER: A morte do fragmento: como o Copilot da Microsoft reduziu minha crítica ao fascismo a clichês democráticos
Veja todos artigos de

PESQUISAR

Pesquisar

TEMAS

NOVAS PUBLICAÇÕES