Por LUIS VARESE*
Propostas sobre acordos possíveis que podem levar ao fim do conflito
Somos acusados de ser belicistas e de não sentir o sofrimento do povo ucraniano. Somos até ridicularizados em redes e artigos, dizendo que acreditamos que a Rússia vai reconstruir a União Soviética, dizendo que somos comunistas antiquados. Isto é totalmente falso. E falo no plural porque essas acusações vão contra todos nós que escrevemos contra o racismo, a russofobia, a xenofobia e o ressurgimento do nazismo-fascismo que domina o coração de milhares ou milhões de europeus, que pensávamos serem democráticos e estarem curados desses males.
Escrevemos muito claramente que este é um conflito intercapitalista, fruto da crise de hegemonia dos EUA e da submissão da União Europeia aos interesses do grande capital e à política internacional dos EUA. É por isso que faço essa proposta concreta. É possível parar a guerra: ela requer decisão política, ousadia, negociação e coragem daqueles que governam (ou fingem governar) o mundo.
Portanto, em vista do aprofundamento do conflito, do sofrimento do povo da Ucrânia e do sofrimento que se seguirá para os povos do mundo, é essencial opor-se à continuação da guerra e que as organizações e forças representativas que ainda têm voz possam liderar uma mesa de negociação eficaz, antes de cairmos em um confronto nuclear que levará a um desastre humanitário. A ONU deve assumir um papel ousado, proativo e forte em uma situação que pode levar a um desastre nuclear inimaginável
Propostas
1. Uma mesa de negociação de alto nível chefiada pelo Secretário Geral da ONU; altos representantes da Igreja Russa, Ucraniana e Católica (e eu os proponho porque todos eles invocam o nome de Deus); os Ministros das Relações Exteriores da Rússia, dos Estados Unidos e da Ucrânia; Garantes do Governo da Índia, China, África do Sul, Argentina, Brasil, México.
Um cessar-fogo por 96 horas, a partir da instalação da mesa de negociações, ou seja, imediatamente. Isso garante corredores humanitários e uma presença substantiva, no terreno, de observadores das Nações Unidas. Provavelmente Forças de Manutenção da Paz, que não pertencem a nenhum dos países envolvidos no conflito. Em outras palavras, nem os Estados Unidos, nem a Rússia, nem a União Europeia, nem a Ucrânia.
Suspensão das entregas de armas ou financiamento de mercenários para o território ucraniano ou seu acúmulo nas fronteiras.
Acordos básicos a serem discutidos
A Ucrânia será declarada território de paz, livre de armas nucleares, e não fará parte da OTAN (que é uma aliança militar ofensiva). O fornecimento de armas e mercenários ao governo ucraniano será suspenso (os mercenários estão na vanguarda das redes de tráfico infantil, tráfico e escravidão, entre outras coisas).
A Rússia retirará suas tropas do território ucraniano. As decisões tomadas pelo povo da Crimeia e Donbass de pertencer à Federação Russa serão respeitadas.
O fornecimento de gás, petróleo, trigo e milho para a União Europeia e países compradores será mantido nos termos e condições acordados antes do início do conflito, garantindo o bem-estar dos povos da União Europeia e outros.
As brigadas paramilitares nazistas em solo ucraniano devem ser desarmadas. Suspensão da campanha da russofobia na mídia, sob sanção, em todos os países onde ela ocorre. O direito à liberdade de expressão na União Europeia será restaurado.
Todos aqueles presos por participarem de protestos anti-guerra serão libertados e os movimentos feministas e pró-guerra serão fortalecidos para defender os direitos de liberdade de escolha de gênero e outros direitos violados nos países da União Europeia e na Rússia.
As sanções econômicas devem ser convertidas em recursos para a reconstrução da infra-estrutura civil na Ucrânia, incluindo casas e edifícios que tenham sido destruídos. Somente empresas de países que não estiveram envolvidas no conflito devem participar da reconstrução.
A proposta de condenar na Assembleia Geral da ONU todas as expressões de nazismo deve ser aprovada.
A repatriação voluntária para a Ucrânia será promovida para todos aqueles que desejarem retornar. As mesmas condições de refúgio serão concedidas a qualquer requerente, de qualquer parte do mundo, mesmo que ele não seja da Ucrânia.
Os acordos sobre a proteção do meio ambiente e a redução substancial dos gases que produzem o aquecimento global, assim como os acordos sobre o desarmamento nuclear e contra a corrida armamentista, serão retomados.
Como latino-americanos, lutadores pela paz, lançamos esta proposta, melhorada quando necessário, para ser compartilhada com os partidos políticos, organizações e movimentos sociais da América Latina.
*Luis Varese é jornalista e antropólogo.