Dona Teresinha

Imagem: James Ensor, Pierrot and Skeletons
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por EDUARDO SINKEVISQUE*

“Teresinhaaaaaa, huhu” (Chacrinha).

Ela era moça, reconheço. Ela era magra, esbelta. Ela cuidava dos gatos do campus, não deixava que o gaticídio fosse feito, nem que a esterilização os operasse. Ela era a mãe dos gatos abandonados, dos cachorros também. Depois, perdeu a força de mulher, a força de gente.

Desculpe te contar essa história. Contar a história. Prefiro que continues admirando e amando a Dona Teresinha.

Ela, antes de ser dona, quero só pra mim.

Talvez daria ela aos hipopótamos. Mas acho que eles já vieram buscá-la. Eles, os hipopótamos mortos.

Por isso, hoje, só se vê a Dona Teresinha avozinha, vovozinha.

Sim, o cheiro da morte ronda a grande Dama. Há um beijo quase encostando-se ao cangote dela. Já há patas na cacunda. Quanto a isso: compaixão. Catarse.

Dona Teresinha fez os hipopótamos muito lidos, muito estudados. É amplíssima nas pesquisas sobre hipopótamos, mas reducionista no principal. Só enxerga os seus em seu quintal.

Sei que essa história é difícil. Perdoa-me.

Sou um narrador pobrezinho. Um contador de histórias. Eu amo os hipopótamos.

Não aguento apagamentos históricos, as histórias dirigidas, digeridas fácil, fáceis, facécias, burlas que enganam o povo, a ignara plebe do séquito das Donas Teresinhas.

Não quero persuadir você a deixar de amar quem você ama, nem de admirar quem admira. Quero mirar o mar e a montanha.

Eu amo hipopótamos. Eu não amo críticos literários, estudiosos de hipopótamos. Eu tiro meu chapéu para gente dedicada, estudiosa, esclarecida. Sou ovelha desgarrada. Mas penso que minhas verdades, de ovelha desgarrada, podem ter sido também histórias mal contadas, más contadas.

Posso ter me deixado levar por outro mito. Quem sabe? Posso dizer que minto, ao me valer do mito.

Cada um que fique em paz com os hipopótamos, com a Dona Teresinha. Eu fico com os hipopótamos que amo, que não são os mesmos da Dona Teresinha.

Fico sem Dona Teresinha. Cansei de fazer epidítico de variante elogiosa a pioneiros. Cansei do vitupério aos tiranos. A história se finda na digressão que acaba.

*Eduardo Sinkevisque é pós-doutor em teoria literária pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


A Terra é Redonda existe graças aos nossos leitores e apoiadores.
Ajude-nos a manter esta ideia.
CONTRIBUA

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
Jean Pierre Chauvin Claudio Katz Celso Frederico Andrew Korybko Kátia Gerab Baggio Walnice Nogueira Galvão Milton Pinheiro Rafael R. Ioris Antonio Martins João Sette Whitaker Ferreira José Raimundo Trindade Jorge Branco Chico Whitaker José Geraldo Couto Paulo Nogueira Batista Jr André Singer Ari Marcelo Solon Michel Goulart da Silva João Lanari Bo Salem Nasser Francisco Pereira de Farias Luiz Werneck Vianna Eugênio Trivinho Everaldo de Oliveira Andrade Fábio Konder Comparato Francisco Fernandes Ladeira Érico Andrade Antônio Sales Rios Neto Antonino Infranca Mariarosaria Fabris Fernão Pessoa Ramos Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Carlos Tautz Boaventura de Sousa Santos Luiz Bernardo Pericás Gabriel Cohn Matheus Silveira de Souza Daniel Costa Luis Felipe Miguel Tadeu Valadares Jean Marc Von Der Weid Gilberto Lopes Osvaldo Coggiola Anselm Jappe Daniel Afonso da Silva Marcus Ianoni Dênis de Moraes João Paulo Ayub Fonseca Caio Bugiato Daniel Brazil Tales Ab'Sáber João Carlos Loebens Vladimir Safatle Lucas Fiaschetti Estevez José Costa Júnior Eleonora Albano Marilia Pacheco Fiorillo Lorenzo Vitral Rubens Pinto Lyra Ricardo Antunes Luís Fernando Vitagliano Flávio Aguiar Bruno Fabricio Alcebino da Silva Dennis Oliveira Fernando Nogueira da Costa Renato Dagnino Jorge Luiz Souto Maior Marjorie C. Marona Gerson Almeida Vinício Carrilho Martinez Paulo Martins Luciano Nascimento Otaviano Helene Andrés del Río Bento Prado Jr. Manuel Domingos Neto Heraldo Campos Sergio Amadeu da Silveira Leonardo Boff Alexandre Aragão de Albuquerque Rodrigo de Faria Luiz Renato Martins Igor Felippe Santos Berenice Bento Luiz Roberto Alves André Márcio Neves Soares Mário Maestri Alexandre de Freitas Barbosa Vanderlei Tenório Alexandre de Lima Castro Tranjan Alexandre Juliete Rosa Liszt Vieira Ladislau Dowbor Afrânio Catani Leonardo Avritzer Airton Paschoa Marcelo Módolo José Luís Fiori Manchetômetro Slavoj Žižek Flávio R. Kothe Priscila Figueiredo Marcelo Guimarães Lima Henry Burnett Alysson Leandro Mascaro Marcos Aurélio da Silva Paulo Fernandes Silveira Ricardo Fabbrini Luiz Carlos Bresser-Pereira Luiz Marques Eliziário Andrade Eleutério F. S. Prado Annateresa Fabris Henri Acselrad Tarso Genro Bruno Machado Valerio Arcary Juarez Guimarães Atilio A. Boron Bernardo Ricupero Ronald Rocha Julian Rodrigues Carla Teixeira Sandra Bitencourt Leda Maria Paulani João Feres Júnior Ricardo Abramovay Ronaldo Tadeu de Souza Michael Löwy Maria Rita Kehl Michael Roberts Leonardo Sacramento Yuri Martins-Fontes Denilson Cordeiro Plínio de Arruda Sampaio Jr. Marilena Chauí Celso Favaretto Samuel Kilsztajn Remy José Fontana Elias Jabbour Ricardo Musse Gilberto Maringoni Paulo Sérgio Pinheiro Paulo Capel Narvai Thomas Piketty João Carlos Salles José Machado Moita Neto Lincoln Secco José Micaelson Lacerda Morais Eugênio Bucci Ronald León Núñez Francisco de Oliveira Barros Júnior Marcos Silva Armando Boito Luiz Eduardo Soares José Dirceu Chico Alencar Benicio Viero Schmidt Eduardo Borges João Adolfo Hansen

NOVAS PUBLICAÇÕES