Por RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL*
A arrogância ocidental, que acreditou poder derrotar a Rússia, esbarra agora na realidade geopolítica: a OTAN assiste ao colapso cumulativo da frente ucraniana
1.
Comecemos com um sitrep (situation report) da frente militar na Ucrânia.

Ao centro-sul do teatro de operações, os últimos remanescentes militares ucranianos em Stepnogorsk, próxima à margem esquerda do Dnieper, foram inteiramente cercados, e as tropas russas já avançaram rumo ao norte, em direção à cidade de Zaporozhye (capital do oblast homônimo), faltando apenas 15 Km até seus limites.
Guliaypole, na outra ponta da parte sul dos territórios (ainda) ucranianos, começa a ser penetrada. E isso significa que as duas fortificações restantes ao sul (Guliaypole e Oryekhov) constituem a última linha de defesa antes do espaço operacional da retaguarda ocupada por Pavlograd e Dnipro. E isso, por fim, significa a potencial incorporação de mais um oblast ucraniano, o de Dnipropetrovsk, aos territórios conquistados pela Rússia, a não ser que as tropas russas simplesmente parem diante de uma avenida aberta à sua frente.
O mesmo destino já começa a acenar para o oblast de Kharkov, imediatamente ao norte, e também já sob penetração russa. Aqui as tintas assumem uma dimensão mais dramática. Kharkov, capital do oblast homônimo, é a segunda maior cidade da Ucrânia, mas considerada convencionalmente (ou “etnicamente”) uma cidade russa.
Suas dimensões tornam sua eventual conquista militar algo extremamente complicado e dispendioso. É provável que Kharkov venha a ser cercada, e uma nova contingência política se crie a partir daí.
As ações militares russas ao norte desse oblast, que há dez dias finalmente consolidaram a conquista de Volchansk (depois de um ano e meio de combates), pareciam ter por objetivo fixar a maior quantidade possível de recursos militares ucranianos nessa frente, impedindo-os de serem redistribuídos para a frente do Donbass.
Formalmente, a tarefa do Grupo de Forças Norte seria a de criar um buffer de contenção junto à fronteira russa de Belgorod e Kursk, mas o avanço das novas posições russas no extremo nordeste do oblast de Kharkov pode sugerir a retomada de territórios ocupados logo da primeira avançada russa em fevereiro de 2022 e, discretamente, apontar para uma ameaça à cidade de Kharkov, tal como se faz hoje frente a Sumy, capital do oblast vizinho, ainda mais ao norte.
2.
Pokrovsk, no ponto central da frente de Donyetsk, caiu simultaneamente a Volchansk, e agora volta a chamar-se Krasnoarmeisk. Apesar da ferocidade dos combates, mais de 200 civis permaneceram na cidade, esperando seus “libertadores”. Com ela, as forças russas controlam o mais importante hub logístico e de transporte da antiga Ucrânia oriental, e agora podem se deslocar rápida e facilmente, sem interrupções (sobretudo no inverno) ou necessidade de contornos, e ao abrigo dos drones, ao longo de toda a frente.
Metade de Mynorgrad (antes, e logo mais adiante, Dimitrov), no bolsão onde estava Pokrovsk, foi conquistada, restando apenas a metade norte, inteiramente cercada, onde se encontra o último milhar de homens (que 20 dias antes eram 5.500) da 68ª Brigada de Caçadores e da 79ª Brigada de Paraquedistas, duas das formações “de elite”, ou seja, das mais “motivadas” do exército ucraniano (leia-se “ideologicamente comprometidas” com as posições neonazistas), que foram deixadas em Mynorgrad para morrer.
Nessa mesma frente repete-se a situação do sul: ao alcançarem Dobropollia, 18 Km antes do limite do oblast de Donyetsk, as forças russas terão alcançado o último grande assentamento antes de penetrar pelo leste na retaguarda operacional do oblast de Dnipropetrovsk.
O regime de Volodymyr Zelenski, em estado de desespero, tenta fazer uso de qualquer blefe midiático para mascarar suas perdas territoriais de fato, recusa-se a reconhecer a perda de Pokrovsk e lança-se em uma contraofensiva agonística para recuperar parte de Kupyansk, ao norte, num ponto estratégico do curso do Rio Oskol, que havia sido perdido pelos russos em setembro de 2022, por ocasião da primeira grande cartada da OTAN para vencer a guerra.
Esse filme já foi visto antes. Depois da reconfiguração das forças russas naquele outono boreal de 2022, visando sustentar uma guerra de atrito contra os planos da Aliança Atlântica de lhe infligir uma derrota estratégica, as operações táticas ofensivas ucranianas, com fins midiáticos, são via de regra absorvidas e envolvidas pelas forças russas, resultando numa enorme perda de tropas e equipamentos, em desfavor da Ucrânia e da OTAN.
Para a lógica operacional (e estratégica) ucraniana, território é tudo. Para a lógica operacional russa, território é a consequência do desmantelamento das forças inimigas, o que pode eventualmente produzir um gambito territorial: territórios podem ser momentaneamente cedidos para fazer o inimigo perder muitos recursos. A história militar ensina que apenas forças notavelmente disciplinadas e preparadas movem com eficácia esse mecanismo.
3.
Essa, aliás, é a lógica da defesa em camadas, usada pelas tropas soviéticas desde a Segunda Guerra Mundial. O que se vê na Ucrânia é o uso ativo desse mecanismo, em diversas oportunidades, também nas operações ofensivas. E, com ele, o ritmo de avanço das forças russas acaba sendo compensado com a incorporação progressiva (e não momentânea) de cada vez mais territórios, que é o que está acontecendo agora.
Assim como Guliaypole, ao sul, Konstantinovka, na porção central da frente de Donyetsk (logo ao norte de Pokrovsk), começa a ser penetrada pelo sul e cercada ao norte, por Kalínova, a partir das alturas da conquistada Chasof Yar.
Syevers, ainda mais ao norte da frente de Donyetsk permaneceu por muito tempo a salvo, sob a proteção de um arco de fortalezas que se estendia a leste até Belogorovka. Esse foi, durante muito tempo, o enclave mais oriental do controle ucraniano do Donbass, servindo de cobertura para o coração logístico representado pelo par urbano Slaviansk-Kramatorsk.
No entanto, a partir da completa conquista russa da floresta de Serebryansky, ao norte, há dois meses, numa das mais ferozes e prolongadas batalhas dessa guerra, aquelas defesas começaram a ruir abruptamente e hoje as tropas russas já controlam dois terços da cidade de Syevers, que provavelmente cairá até meados de dezembro.
O resultado daquela aparente “guerra posicional” russa, em que o atrito se destina a produzir impacto, é que o movimento de colapso da frente inimiga é cumulativo e em escala não linear, mas geométrica. O desmoronamento da defesa de Syevers em não mais que 20 dias é uma demonstração empírica disso.
No ponto extremo da frente norte de Donyetsk, a terceira batalha de Lyman já teve início, com sua penetração pelo sul pelas tropas russas. Conquistada Lyman, no atual estado de colapso cumulativo da frente ucraniana, estarão quase que imediatamente abertas as portas para Slaviansk, o polo norte do arco de fortificações que se estendia desde Pokrovsk, e que agora se encontra quase inteiramente mutilado.
Slaviansk foi o nascedouro da rebelião do Donbass, após o golpe de Estado do Maidan, em fevereiro de 2014. E por isso foi onde mais se investiram esforços da OTAN em consolidar um centro logístico para as forças da Ucrânia. Sua queda muito provavelmente representará o ponto de virada moral em todo o esforço bélico do regime ucraniano. O próximo inverno na Ucrânia espreita, assim, com dois grandes fantasmas: o colapso energético e o simbólico fracasso definitivo no Donbass. Mas, claro, a essas alturas, e com todos os seus componentes, essa guerra não se resume mais tão apenas ao Donbass.
4.
Na parte sudoeste da frente de operações, os fustigamentos russos à porção do oblast de Kherson ainda controlada pela Ucrânia, à margem direita do Dnieper, servem, por enquanto, apenas para fixar contingentes militares ucranianos na região. Não se sabe, evidentemente, se a futura e quase previsível conquista de Odessa pelos russos se dará por uma avançada pelo sul, a partir da foz do Dnieper, ou se por uma avançada por nordeste, a partir da tomada de Zaporozhye.
É possível que Kherson e Mykolaiv estejam apenas esperando por Zaporozhye. Não obstante, a advertência feita pelo presidente russo Vladimir Putin no começo de dezembro, de que a Ucrânia pode vir a perder todo seu litoral, como resposta às suas táticas de caráter terrorista (contra a população civil russa e alvos alheios à logística militar), já parece ser suficiente para sinalizar uma disposição estratégica russa de levar a cabo tal empreitada, seja por ação militar direta (que pode se tornar consideravelmente onerosa) seja por operação militar combinada com plebiscito popular (como nos oblasts de Kherson e Zaporozhye).
Afinal, Odessa é oficialmente reconhecida como uma das doze cidades heroicas da Rússia. Assim, o recado de Vladimir Putin exala um outro sentido: o cachorro subiu no telhado.
Se este pequeno texto se atreve a falar de um “epílogo” para a Guerra da Ucrânia, isso não se deve, evidentemente, ao “plano de paz” do presidente americano Donald Trump. O que desenha esse epílogo são as condições militares no terreno, algo que tampouco quer dizer que o conflito se encerrará em algumas poucas semanas. Esse “epílogo” não é temporal; é, melhor dizendo, o último capítulo dessa história. É bastante provável que Donald Trump tenha percebido aquelas condições militares no terreno, já que agora até a imprensa corporativa ocidental as percebeu.
O que é muito característico desse quadro de disposições é que agora também é tarde para percebê-las. E daí advém todo o resto, tanto quanto a relutância que lhe diz respeito é também sintomática do quadro de percepções que a fomentou. A última versão do “plano de paz” de Donald Trump e as disputas em torno dele estão todas contaminadas por aquelas “percepções” — e hoje se as reconhece com bastante clareza — notavelmente delirantes.
A OTAN “achou” que podia incorporar a Ucrânia ao seu clube e plantar armas nucleares ali, a alguns minutos de Moscou. O Ocidente “achou” que a Rússia era apenas um grande posto de gasolina com armas nucleares. Também “achou” que seria capaz de produzir uma mudança de regime na Rússia por meio de uma guerra econômica que usaria a figura hipócrita da “agressão russa” como pretexto.
Todos eles “acharam” que essa “narrativa” seria automática e implacavelmente imposta pela mídia de cabresto. Já os estrategistas da OTAN “acharam” que as forças militares russas eram indigentes e incapazes. Os planejadores de “inteligência” (sic!) britânicos “acharam” que conseguiriam quebrar a disposição militar do povo russo com operações terroristas. E, por fim, o regime neonazista ucraniano, que define a nacionalidade do próprio país apenas em termos antirrusos, “achou” que derrotaria aqueles moscovitas inferiores com o bom dinheiro e as armas maravilhosas do Ocidente.
5.
O mais curioso é que muitos deles continuam achando tudo isso. E agora estão todos perdidos em suas certezas, diante de algo que tristemente começam a perceber. Claro, talvez jamais percebam o essencial: como todo e qualquer colonialista (ou excepcionalista), foram exacerbadamente arrogantes. Mas isso não importa. A derrota militar quase sempre é resultado da arrogância; a mesma que faz a Europa, obstinada com seus cinco séculos de colonialismo, solapar o “plano de paz” de Donald Trump.
E é também a mesma arrogância que faz o próprio “plano de paz” de Donald Trump insistir na ilusão de um cessar-fogo (para que a Ucrânia possa se rearmar), depois do fiasco planejado dos acordos de Minsk.
Como era previsível, o tal “plano de paz” já virou mera pantomima (que parece ser, além da grana, a única coisa na qual Donald Trump realmente acredita: a pantomima do blefe). O único problema para Donald Trump é que, mesmo que se mostrem muito polidos, os russos não parecem ter medo de careta. Então, no último dia 9, o presidente russo Vladimir Putin reafirmou categoricamente: “a Rússia levará a operação militar especial à sua conclusão lógica; as operações de combate só terminarão quando todos os seus objetivos forem alcançados”. Eis aí o epílogo da coisa.
Dito de outro modo, as condições militares no terreno desenham um epílogo para a Guerra da Ucrânia simplesmente porque são irreversíveis. O resto ou é ilusão ou é a escalada nuclear. Só que, no atual estado de percepções políticas, os Estados Unidos parecem ter por fim constatado (realized, como gostam de dizer) que, apesar da OTAN ser um poço de promessas bem-intencionadas, não vale a pena deixar Boston, Chicago ou Filadélfia serem incineradas em troca de Lyon, Leipzig ou Gdansk. Assim, a birra dos falcões europeus começa a se tornar notoriamente inconveniente.
Os desdobramentos indiretos da derrota do Ocidente a partir da Guerra na Ucrânia (afinal, Emmanuel Todd já diagnosticou essa derrota em bem mais largo espectro[I]) serão muitos, contrariando quase tudo o que intransigentemente se “achava” em muitos âmbitos, até chegarmos, inclusive, à moeda unit, dos BRICS, o sofisticado mecanismo de desdolarização desenhado pela Academia Russa de Ciências.
6.
No entanto, nos ateremos aqui a explorar sumariamente apenas algumas possíveis consequências diretas. Dentre elas, uma das mais imediatamente tangíveis no campo da geopolítica será a virtual perda das possibilidades de controle do Mar Negro pela OTAN, apesar do litoral da Romênia e da Bulgária e da presença nominal da Turquia na Aliança.
Há algum tempo a Ásia Central reemergiu como foco de cobiça do Ocidente, desdobrando um confronto de três polos de interesses: o Ocidente (representado sobretudo por Grã-Bretanha, Estados Unidos e França); o par aliado Rússia-China; e a agenda neo-otomanista da Turquia, com suas características ambiguidades.
O controle do Mar Negro seria o trampolim ideal para conter o programa de integração Cinturão e Estrada, da China, e instaurar o protagonismo econômico ocidental frente aos outros dois polos, garantindo-lhe acesso otimizado a recursos energéticos do Cáucaso e ao surpreendente mercado consumidor ascendente do Cazaquistão. Essa alternativa agora pode começar a sair do mapa.
Outra das prováveis consequências diretas da derrota do Ocidente na Ucrânia será uma crise financeira (mais que tudo europeia) motivada pelo default ucraniano dos compromissos assumidos sob o guarda-chuva das apostas irracionais no financiamento desta guerra. Também se poderá assistir até que ponto uma megaholding de investimentos como a BlackRock assimilará os riscos temerários assumidos nos seus contratos futuros firmados com o governo de Volodymyr Zelensky.
Permanecendo ainda no campo das consequências diretas do conflito ucraniano, é de se supor que um dos seus fenômenos sociais mais significativas possa ser o do não retorno da considerável massa de “refugiados” ucranianos na Europa, quando não seu incremento, com uma nova onda de migração pós-conflito. Esses refugiados parecem ter dado origem a uma “comunidade moral” peculiar.
Eles não se sentem necessariamente agradecidos pelo acolhimento europeu e seus razoáveis benefícios financeiros e, assim sendo, sequer buscam correntemente se integrar na vida produtiva e social dos países onde foram recebidos (na Alemanha, após 3 anos, apenas 32% dos refugiados ucranianos possuíam uma ocupação laboral qualquer; na Suíça, apenas 20%).
Notícias reiteradas a propósito deles — que podem estar equivocadas em termos de tendência geral, mas ao menos insinuam algum indício — sugerem que os ucranianos chegados à União Europeia e Grã-Bretanha tendem a assumir que as sociedades que os receberam na verdade estão em dívida para com eles.
7.
Não deixa de haver um certo lastro de razão (ou de racionalização) nisso (o que é a parte mais problemática da história), mas o argumento do privilégio e a predisposição à não incorporação social, aliados a uma sociabilidade que privilegia relações clientelares (como em ambientes de corrupção endêmica), aliados ainda a uma situação de precariedade e baixos salários, sem as ajudas oficiais europeias a partir do fim do conflito, podem vir a conformar a receita para a constituição de problemáticas máfias ucranianas na Europa, que, por um lado, poderiam não ser mais que extensões das prestupnyye organizatsii e das soobshckestva locais da Ucrânia, e que, por outro lado, a seguir o exemplo de sua análoga nos Estados Unidos, podem se tornar organizações de alto nível de violência e periculosidade.[II]
É um tanto especulativo supor que a derrota ocidental na Guerra da Ucrânia acabará por produzir, por si só, uma fragmentação da unidade da OTAN e mesmo da União Europeia. Na OTAN, as discrepâncias entre Estados Unidos e Europa já começam a se fazer notar, mas as maiores pressões podem vir, curiosamente, da incomodidade (frustração, dissonância, percepção de ociosidade), com relação à Aliança, por parte dos países do Leste Europeu, os mais recentemente arregimentados, bem como da resistência dos países mediterrâneos em aumentar seus orçamentos militares.
Assim, enquanto a Alemanha triplicou em 2025 sua contribuição militar à Ucrânia, e França e Grã-Bretanha a duplicaram, em comparação com os períodos orçamentários entre 2022 e 2024, a Itália a reduziu em 15% e a Espanha simplesmente a zerou.
Esse tipo de movimento intrabloco (seja na OTAN seja na União Europeia) parece estar, antes, condicionado por desdobramentos colaterais, mas oriundos de um mesmo quadro de confrontação. O caso ucraniano serviu de pretexto para a ruptura de laços da Europa com a Rússia, no contexto de uma disputa de visões de mundo e de hegemonia política entre a ordem (neo)colonial globalista e o emergente bloco eurasiático com sua agenda soberanista multipolar (que acabou conquistando a simpatia — pelo menos ela, mas com muitas reverberações — do Sul Global). Economicamente, essa ruptura de laços mostrou-se funesta para a Europa.
Nos últimos três anos, sobretudo por conta da perda das fontes baratas de energia russas, o crescimento econômico europeu permaneceu praticamente estagnado. Enquanto isso, o crescimento russo no mesmo período foi da ordem de 10%. O realinhamento de relações comerciais fez com que, apenas nos primeiros nove meses de 2025, as exportações manufatureiras russas aumentassem 18% frente ao ano anterior. Já a Europa sequer conta com os favores de Donald Trump na sua insana guerra de tarifas.
A malfadada aventura militar ocidental na Ucrânia exacerbou tanto disposições quanto indisposições políticas e belicistas. Para ficarmos apenas no caso europeu, evitando higienicamente aquele hospício (nem tão) dourado (assim) chamado “America”, as disposições políticas dizem respeito a como a burocracia da União Europeia agarrou no horizonte da guerra uma razão para se reproduzir num poder não representativo.
As disposições belicistas parecem dizer respeito a como políticos nacionais medíocres sonham com sublimar seus personagens condenados à repugnância histórica. Já as indisposições da elite europeia hoje encastelada no poder dizem respeito, não apenas à ameaça (moral e ontológica) “Putin” — esta (indisposição), de caráter belicista —, mas também — e esta, de caráter político — ao personagem Donald Trump e sua agenda disruptiva frente ao business as usual dos globalistas neoliberais.
De qualquer maneira, esses dispostos e indispostos serão os maiores perdedores desta guerra. Não os primeiros. Os primeiros serão as pessoas comuns da Ucrânia. Donald Trump, de seu lado, tem a intenção malsã de salvar a cara, menoscabando os europeus e tentando vender a seu público uma vitória que ele não tem como comprar. Já Vladimir Putin simplesmente está mandando dispostos e indispostos às favas. Assim como as brigadas ucranianas altamente motivadas, hoje encurraladas em Mynorgrad, as arrogantes elites europeias, já agora, parecem ter sido deixadas nesta guerra para morrer.
*Ricardo Cavalcanti-Schiel é professor de antropologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Notas
[I] Todd, Emmanuel. 2024. La défaite de l’Occident. Paris: Gallimard.
[II] Makarenko, Tamara. 2002. “Ukrainian Mafia Moves into the International Crime Arena”. Jane’s Intelligence Review 14(2): 26-29.
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