Dia do professor

Christopher Wood, Zebra e Para-quedas, 1930
Whatsapp
Facebook
Twitter
Instagram
Telegram

Por JEAN PIERRE CHAUVIN*

O corte de 92% para a Ciência mostra que não há muito a comemorar

 “A agenda do neoliberalismo é guiada pela necessidade de uma adaptação permanente dos homens e das instituições a uma ordem econômica intrinsecamente variável, baseada numa concorrência generalizada e sem trégua” (Pierre Dardot e Christian Laval, A nova razão do mundo, p. 89-90).

Se você persiste em pesquisar, educar e orientar pesquisas neste país, meus parabéns. A esta altura, estará ciente de que o presentão antecipado pelo nosso dia foi o corte de 92% para a Ciência, como amplamente divulgado nos jornais em 8 de outubro.[i] O que causa mais indignação, ainda, é saber que o “pedido” partiu do Ministro da Economia – sim, sim, aquele mesmo: ex-banqueiro, e ainda especulador, adepto da Escola [neoliberal] de Chicago.

Poderíamos dedicar infindáveis linhas a discutir a discutir pressupostos e intenções do “governo”; mas quero me ater aos principais destinos do montante de 690 milhões de Reais: 150 para o Ministério do Desenvolvimento; outros 100 para Fundo de Arrendamento Residencial. Exatamente: no país estagnado, desde a era Temer, ainda se pode escutar falácias em defesa do desenvolvimento, a despeito de faltar todo o resto – de moradia a absorventes.

Que a “grande” mídia não tenha prestado a devida atenção ao escândalo das offshore em transações supostamente favoráveis ao Ministro da Economia, mas também ao Presidente do Banco Central e a vários apoiadores do desgoverno,[ii] era de se esperar: há muitos “globais” a alongar a fila de investidores em paraísos fiscais (e aqui, a rima em “ais” não é acidental).

O que realmente provoca espanto é, de um lado, a blindagem oportunista dos meios de comunicação e, de outro, a existência de adeptos messiânicos, por assim dizer.

Tenha (mais) paciência, pois a questão é antiga. Sabemos que a América Latina padece de neoliberalismo desde que o Chile foi utilizado como cobaia a partir de 1973.Por aqui, o experimento começou ao final do natimorto “governo” de José Sarney. De lá pra cá, o projeto foi aplicado com relativa eficiência. Digo “relativa”, porque nem mesmo a política monetária (um dos pilares da ideologia neoliberal) resiste à incompetência e a ao egoísmo do staff bolsonarista.

Que o atual mandatário discursa e age em prol da desigualdade e da morte, é matéria evidente e auto explicativa. A dúvida está em saber se teremos fôlego, não para contornar, mas para suportar esta longa era de hipocrisia, impostura e desfaçatez.

*Jean Pierre Chauvin é professor na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Notas


[i]https://ultimosegundo.ig.com.br/2021-10-08/congresso-corte-ciencia-pedido-ministerio-economia.html

[ii]https://www.pragmatismopolitico.com.br/2021/10/quem-brasileiros-aparecem-mega-vazamento-pandora-papers.html

Veja neste link todos artigos de

AUTORES

TEMAS

10 MAIS LIDOS NOS ÚLTIMOS 7 DIAS

Lista aleatória de 160 entre mais de 1.900 autores.
João Adolfo Hansen Ari Marcelo Solon João Feres Júnior João Lanari Bo José Micaelson Lacerda Morais Ricardo Musse Antônio Sales Rios Neto Valerio Arcary Antonio Martins Marilena Chauí João Carlos Salles José Luís Fiori Everaldo de Oliveira Andrade Andrew Korybko Bruno Machado João Sette Whitaker Ferreira Sandra Bitencourt Bernardo Ricupero Ronald León Núñez Flávio Aguiar Vinício Carrilho Martinez José Costa Júnior Michael Löwy Paulo Sérgio Pinheiro Claudio Katz Gilberto Maringoni Leonardo Sacramento Thomas Piketty Benicio Viero Schmidt Rodrigo de Faria Leonardo Boff Afrânio Catani Lincoln Secco Berenice Bento Milton Pinheiro Fernando Nogueira da Costa Annateresa Fabris Luis Felipe Miguel Luiz Bernardo Pericás Manuel Domingos Neto Jean Pierre Chauvin Denilson Cordeiro Osvaldo Coggiola Rubens Pinto Lyra Ricardo Abramovay Armando Boito Tales Ab'Sáber Ricardo Fabbrini Paulo Nogueira Batista Jr José Machado Moita Neto Leda Maria Paulani Boaventura de Sousa Santos Alysson Leandro Mascaro Manchetômetro Eduardo Borges João Carlos Loebens Fernão Pessoa Ramos Érico Andrade Slavoj Žižek Caio Bugiato Luciano Nascimento Marilia Pacheco Fiorillo Heraldo Campos Luiz Werneck Vianna Ronald Rocha Chico Alencar Eleutério F. S. Prado Airton Paschoa José Dirceu Marcelo Guimarães Lima Yuri Martins-Fontes Andrés del Río André Márcio Neves Soares Priscila Figueiredo Carla Teixeira Tarso Genro Henri Acselrad Leonardo Avritzer José Raimundo Trindade Jorge Luiz Souto Maior Mário Maestri Mariarosaria Fabris Walnice Nogueira Galvão Gerson Almeida Atilio A. Boron Flávio R. Kothe Daniel Brazil Alexandre de Lima Castro Tranjan Remy José Fontana Maria Rita Kehl Michael Roberts José Geraldo Couto Luiz Eduardo Soares João Paulo Ayub Fonseca Alexandre Aragão de Albuquerque Daniel Afonso da Silva Daniel Costa Dennis Oliveira Luiz Roberto Alves Eliziário Andrade Henry Burnett Francisco Pereira de Farias Ricardo Antunes Marcos Silva Salem Nasser Antonino Infranca Valerio Arcary Elias Jabbour Jean Marc Von Der Weid Bruno Fabricio Alcebino da Silva André Singer Alexandre de Oliveira Torres Carrasco Celso Frederico Renato Dagnino Vanderlei Tenório Vladimir Safatle Juarez Guimarães Michel Goulart da Silva Luiz Renato Martins Samuel Kilsztajn Ronaldo Tadeu de Souza Lorenzo Vitral Marcelo Módolo Luís Fernando Vitagliano Carlos Tautz Sergio Amadeu da Silveira Plínio de Arruda Sampaio Jr. Rafael R. Ioris Luiz Carlos Bresser-Pereira Bento Prado Jr. Otaviano Helene Igor Felippe Santos Eugênio Trivinho Francisco de Oliveira Barros Júnior Eugênio Bucci Lucas Fiaschetti Estevez Marcus Ianoni Gabriel Cohn Matheus Silveira de Souza Gilberto Lopes Paulo Martins Paulo Capel Narvai Liszt Vieira Anselm Jappe Kátia Gerab Baggio Julian Rodrigues Chico Whitaker Marjorie C. Marona Paulo Fernandes Silveira Tadeu Valadares Celso Favaretto Fábio Konder Comparato Alexandre de Freitas Barbosa Dênis de Moraes Marcos Aurélio da Silva Francisco Fernandes Ladeira Luiz Marques Jorge Branco Ladislau Dowbor Eleonora Albano

NOVAS PUBLICAÇÕES