Por ARI MARCELO SOLON*
Nota sobre o livro recém-publicado de Edoardo Raimondi
O Hegel de Alexandre Kojève é o Hegel russo. É a secularização da teologia do saber absoluto, da Sophia de que falava Soloviev.
No fim da história, o sábio enxerga o reconhecimento universal e homogêneo de todos. É a eliminação da dialética do senhor e do escravo na realização na Terra do reino dos céus, o comunismo.
No livro Hegel e o Estado, entretanto, Eric Weil também defende a visão kojeviana de que Hegel não é um pensador do totalitarismo, mas da liberação do homem da servidão.
Qual a diferença? A diferença se encontra no fim da história de Eric Weil, apesar das premissas hegeliano-marxistas, não chega à conclusão existencialista de Alexandre Kojève.
Eric Weil é ainda influenciado pelo neokantismo de Max Weber e pela Lebensphilosophie de Wilhelm Dilthey com a relativização de valores absolutos.
Enquanto Alexandre Kojève parte de Platão, o crente Eric Weil se espelha no realismo aristotélico.
O livro, no entanto, é bem mais minucioso e detalhista do que essas minhas teses gerais. Portanto, vale a pena ser lido como uma contribuição definitiva no embate de dois resistentes franceses.
Alexandre Kojève, em grupos que o levaram à linha de frente dentro do exército alemão tentando libertar prisioneiros franceses, enquanto Eric Weil, escondendo sua origem judaica, internado não em um campo de extermínio, mas em um campo de prisioneiros de soldados franceses.
Eles são, no pós-guerra, revolucionários, cada qual de sua respectiva maneira: um do saber absoluto, da Sophia, o outro de uma moral (neokantiana) revitalizada.
*Ari Marcelo Solon é professor da Faculdade de Direito da USP. Autor, entre outros, livros, de Caminhos da filosofia e da ciência do direito: conexão alemã no devir da justiça (Prismas).
Referência
Edoardo Raimondi. Hegel tra Alexandre Kojève ed Eric Weil: Storia, filosofia e politica all’ombra del Sapere Assoluto. Milano, Mimesis, 2023, 270 págs (https://amzn.to/45850YS).
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